Deixem-me dar um pitaco. Por sinal é um aspecto curioso na vida do homem.
O mundo, exceto uma minoria, é triste e cruel para uma massa imensa de criaturas. Todo o tipo de sofrimento e miséria, medos e incertezas, as enfermidades mais assustadoras.
Nem todos, naturalmente, creem numa vida após a morte.
Mas este contingente de desesperados e sofredores não põe fim à vida, já que podem ficar de um instante para outro livres e se entregarem ao sono eterno. Por quê?
Eu, por volta dos meus 15 anos já havia planejado meu suicídio. A velhice e a doença me causavam horror. Ou seja, antes mesmo de enfrentar os fatos inevitáveis da vida eu já pensava em fugir deles. Então, estes que se encontram nestas tristes condições muito mais razão teriam e no entanto isto não acontece.
Por quê?
Alguém gostaria de tentar uma explicação?
Se você está tentando demonstrar que isso é prova da existência de Deus ou da fé mesmo dos céticos, eu devolvo a seguinte pergunta:
Se no céu ou pós-vida viveríamos num paraíso eternamente, por que os crentes não se suicidam?
Por duas razões: para quem acredita em um paraíso eterno haverá também um inferno eterno... para que arriscar? Inda mais sabendo que o suicídio o afasta da lista dos bem-aventurados.
Já os espíritas "sabem" que não existe céu e inferno eternos.
O gesto extremo, praticado conscientemente, o conduziria a tormentos inenarráveis nas regiões umbralinas.
Há um livro espírita muito interessante sobre essas regiões: Memórias de um Suicida, que narra o caso de Camilo Castelo Branco, por ele mesmo, psicografia de Ivone Pereira.
O fato desta vida ser a única faz com que os céticos tentem tirar o máximo delas, talvez por isso não se matam.
Mas meu caro Lorentz, eu idealizei uma situação de grande dor e sofrimento, logo os céticos não quereriam prolongar aquele estado de coisas.
Mas a explicação é mais simples: instinto de preservação e sobrevivência. Quem se preserva mais passa esses genes mais vezes.
Sim, acertou quase em cheio.
Neste caso, o instinto de preservação é individual e vem num processo de
struggle for life da evolução, por milhões de anos.
Crentes ou não, a evolução fala mais alto.
Os que praticam aquele gesto e, agora sim,
talvez os céticos devam pontuar mais nas estatística, o fazem em condições de forte compulsão ou desequilíbrio.
Já os crentes pensariam duas vezes... mas nem sempre isto basta.