[...] Uma curiosidade e dúvida minha é se muitas pessoas procuram a homeopatia pq há carência de investimento em medicina preventiva, ou outra forma de procedimentos médicos "menos invasivos", traduzindo, menos efeitos colaterais e de administração contínuada.
Ou seja, será que se tivesse mais incentivo e investimento em medicina preventiva, medicina "familiar" (médico de família), etc, as pessoas que tem necessidade de atendimento mais pessoal e menos "hard" (como aparenta ser a prática médica para muitas pessoas), que atualmente recorrem a homeopatia e afins, não poderiam ter as suas vontades de tratamento mais "amigável" atendidas sem serem vítimas da picaretagem?[...]
Em parte sim, com certeza uma medicina mais preventiva, de qualidade, mas também mais acessível - "satisfatória" - por assim dizer, no conceito popular, aumentaria a confiança no sistema de saúde, nos médicos e nos métodos da medicina, diminuindo a busca por métodos alternativos, não apenas a homeopatia, mas também outras vendas de "cura milagrosa".
Mas existem outros fatores que, ao meu ver, pesam mais. A homeopatia propaga alegações de que "a doença é só um desequilíbrio das energias do indivíduo", de que "ao reequilibrar as energias sutis, a doença desaparece" e de que "ao absorver a energia potencializada dos princípios ativos na água, a causa da doença e não apenas os sintomas são combatidos", sendo portanto uma medicina sem agressividade e efeitos colaterais.
Para quem tem um pingo de ceticismo, essas afirmações não fazem o mínimo sentido, mas para os 99% restantes da população, exercem um enorme atrativo e fascínio místico, praticamente impossível de ser combatido pela razão. Basta ver que muitos dos que usam e defendem a homeopatia são de classes mais abastadas, teoricamente mais bem informados e com maior acesso a medicina de qualidade.
Some-se isso ao fato de que, realmente, os homeopatas costumam por dar uma atenção bem maior ao paciente do que um médico (uma pessoa fragilizada tanto fisicamente quanto emocionalmente vai criar um vínculo de confiança muito maior com alguém que conversa amigavelmente com ela e lhe dá atenção, mesmo que não saiba nada de medicina, do que com alguém que a vê apenas como resultados de exames), um paradigma da visão do paciente que só recentemente tem começado a mudar nas melhores faculdades de medina (aliás, o próprio termo paciente vem da noção de que ele é o agente passivo da ação médica), mas dado o ritmo da "produção em linha" que é exigido atualmente, ainda vai demorar para ser posto em prática totalmente.