Não, o termo tem o significado mais abrangente e relativamente neutro, embora seja comumente usado para denunciar como malignas narrativas com que se tenha antipatia ideológica.
O colonialismo é que foi maligno, e não a narrativa. Imoral sob qualquer padrão moral razoável que você queira utilizar.
Pelo contrário, a criação de uma ideologia etnocêntrica se faz pela necessidade de construir uma narrativa que possa harmonizar o colonialismo com os valores morais da própria cultura europeia.
Tem sim, as definições não são necessariamente "pejorativas", da mesma forma que "sexismo" não é necessariamente apenas sinônimo de "machismo", havendo inclusive o "sexismo benevolente". São temas similarmente ideologicamente contaminados e com esses mesmos problemas de definições. "Eurocentrismo" acaba sendo uma forma fácil de rotular algo como maligna, condenando-a por uma associação que pode ser forçada, sem necessariamente lidar diretamente com o que está se falando.
Tipo como "nazismo" seria uma forma de rotular o extermínio de milhões de pessoas como maligno?
The adjective Eurocentric, or Europe-centric, has been in use, in various contexts, since at least the 1920s.[2] The term is popularised (in French as européocentrique) in the context of decolonization and internationalism in the mid 20th century.[3] English usage of Eurocentric as an ideological term in identity politics is current by the mid-1980s.[4]
Isso, exatamente o que eu postei nas minhas fontes, né? Que desde há 30, 40 anos há um consenso no meio acadêmico definindo eurocentrismo como uma construção ideológica.
Não, o termo é também usado só como um "destaque" à Europa no estudo da história, e até condenado mesmo apenas dessa maneira mais amena, na defesa da importância de estudos mais abrangentes.
Mas, na linha que você defende, afrocentristas e outros relativistas usam o termo praticamente como acusação de racismo, tentando desqualificar a história mainstream ao mesmo tempo em que tentam defender alternativas, revisionismos, ou relativismos menores -- como a proposta de reformulação do ensino de história no MEC, que deve dar maior importância aos tupis do que aos gregos.
Não, aqui é você quem está fazendo uma confusão dos diabos. O eurocentrismo não é uma invenção de relativistas ou "afrocentristas" ( se isso existisse ). O eurocentrismo existiu como parte do processo de prevalência imposta pelos europeus a outros povos, e como tal ele é estudado pelos historiadores.
Porque você não entende o colonialismo sem entender a base ideológica do seu suporte moral, que é tão real e determinante, ( e importante ) quanto foram exércitos e armas.
Isso não é uma invenção. É como alguém querer entender a expansão da guerra dos nazistas em direção ao leste sem considerar o próprio papel necessário da ideologia nazista nisso.
Se uma expedição localiza uma tribo desconhecida vivendo isolada na Amazônia é inevitável que o peso do impacto cultural dessa experiência vá recair quase que inteiramente sobre este povo indígena. Por outro lado, obviamente não se espera que este evento venha a ser um divisor de águas na História do resto do mundo.
Mas isto NÃO É etnocentrismo ( outro termo cujo significado pode ser consultado em dicionários ), é apenas um fato. A expedição não está sendo etnocêntrica ao contactar os índios, tenha sido por acaso ou intencionalmente, porque o etnocentrismo não é algo que se faz, ou mesmo as consequências do que se faz, mas sim uma construção ideológica ( por definição! ).
Sim, esta construção ideológica é sempre inspirada por uma intenção e vem acompanhada de consequências. Mas não é nem a intenção em si ou as consequências.
Eu não entendi como isso se conecta com o tema.
Se conecta porque é esta a confusão que você está fazendo. Confundindo fatos históricos e suas consequências com uma ideologia de dominação que foi fundamental para o próprio processo de dominação.
O etnocentrismo seria assumir que a cultura, os valores, a religiosidade, os costumes, e por consequência a própria auto-determinação desse povo, tem menor valor ou até valor nenhum. Ou seja, o etnocentrismo nada mais é que uma construção ideológica que o desobriga moralmente de respeitar o que é étnico e culturalmente diferente.
Você está simplesmente então usando o termo agora como sinônimo de "racismo" mesmo, tal como mencionei. É um pouco mais complicado que isso. É algo meio como chamar genética de "ciência burguesa", para tentar desqualificar as duas coisas ao mesmo tempo.
Eu estou usando o termo como ele é definido em qualquer dicionário. Por acaso o etnocentrismo é racista mesmo, não tem como não ser. A não ser que você redefina o termo para que ele signifique alguma outra coisa, não há como um etnocentrista não ser também um racista.
Mas não são sinônimos, esta é só mais outra confusão. Assim como nazista não é sinônimo de racista, mas a menos que você também redefina "nazismo" não há como um nazista também não ser racista.
Construir esta ideologia não só é conveniente, mas também absolutamente necessário quando a intenção é se apoderar do território e dos recursos, escravizar, exterminar quando desejado ou imprescindível, etc... Porque de outra forma como é que se pode justificar determinados atos que devem permanecer injustificáveis dentro da sua própria sociedade, dentro da sua própria cultura?
O eurocentrismo foi e é uma ideologia. É um conjunto de ideias e valores, uma mentalidade construída mais por conveniências do que por realidades, que sem ela o colonialismo não poderia ter existido da forma como existiu.
Coisa similar é dita também sobre a "ciência burguesa" pelos relativistas, que podem calhar de estar atacando também o eurocentrismo.
Isso é bobagem! Não interessa se alguém diz que Darwinismo é uma ideologia para desqualificar uma teoria científica. Só porque alguém diz isso não passa a fazer sentido.
Da mesma forma se alguém negar que o nazismo é uma ideologia, que é um sistema de ideias e valores direcionado a determinados objetivos políticos, sem compromisso necessário com a realidade ( diferentemente da Ciência ), isto não se torna menos absurdo só porque alguém está propondo esta sandice.
É exatamente o que você está tentando. Negar que existiu também uma necessária estrutura ideológica em um processo político-econômico que foi denominado de colonialismo.
Por exemplo, você acha que se você negar que o termo "signifique' o processo histórico que este termo designa, você acha que o colonialismo em si deixou de existir? Que foi apagado da História? Que pode ser confundido com fantasia de relativistas?
Racismo, nacionalismo (com o "tradicional" sendo mais historicamente importante do que pan-europeanismo ou nacionalismo pan-europeu), imperialismo, colonialismo, são outras coisas, você está colocando tudo no liquidificador como se fosse uma coisa só.
Fui bem claro. Esta salada é você quem está tentando fazer.
É implícito que é a descoberta da América pelos europeus [...]
Não é implícito. O implícito sempre foi que NÃO fosse isto.
Tanto não é implícito que aqui está nosso colega europeu Pagão justamente defendendo o ponto de vista ( através de um retórica enviesada ), que o que apenas faz sentido é que a noção de 'descobrimento' só seja possivel de aplicação às conquistas dos europeus.
Uma coisa é o fato histórico que os espanhóis chegaram lá, levaram toda a prata, todo o ouro, extinguiram idiomas, religiões, culturas, etc. E disseminaram sua própria língua e sua própria religião. Isso o indiozinho deve aprender na escola, mas a noção de que a Espanha descobrindo o império Inca deve fazer sentido até para o próprio inca é eurocentrismo.
Mas por que não "faria sentido"? Não foi isso que aconteceu? Não foi isso significativamente mais determinante para o decorrer da história registrada das Américas, incomparavelmente mais do que a história não-escrita dos povos pré-colombianos?
Tá vendo como não é implícito? Tanto não é implícito que aí está você se contradizendo.
Eurocentrismo e História
Existe hoje certo consenso nos debates acadêmicos sobre a necessidade de uma discussão das concepções eurocêntricas dominantes na ciência social moderna e contemporânea. Todavia, apesar de sua amplitude, tal debate tornou-se fato recentemente. Basta lembrar que as contribuições pioneiras sobre o assunto datam da década de 1950 e 60, como aquelas dos sociólogos Guerreiro Ramos (Redução sociológica, 1958) e Abdel-Malek (A dialética social, 1972). Foi apenas com o célebre livro de Edward Said, Orientalismo (1978), que o tema tornou-se assunto candente no debate acadêmico internacional.
Existem diversas formas de caracterizar o chamado eurocentrismo. Por vezes, ele é visto como mero fenômeno etnocêntrico, comum aos povos em outras épocas históricas. Mas para a maioria dos autores que tratam atualmente da questão, o eurocentrismo deveria ser caracterizado, diferentemente, como um etnocentrismo singular, entendido como uma ideologia, paradigma e/ou discurso.
A distinção entre tais termos é mais uma questão de ênfase interpretativa, do que discordância conceitual. Os autores que o tratam como discurso visam analisá-lo, geralmente, em sua manifestação no senso comum, nos meios de comunicação de massa, nas instituições, etc. (Shohat & Stam, 1997). Por outro lado, os autores que preferem enfatizá-lo como ideologia e ou paradigma, tendem a focar, em seus estudos, o caráter eurocêntrico do pensamento erudito europeu-ocidental, em sua filosofia, teoria social, etc.
(Young, 1990; Dussel, 1993).
Para todos, entretanto, o eurocentrismo deve ser entendido como uma forma de etnocentrismo singular, qualitativamente diferente de outras formas históricas. Isso porque ele é a expressão de uma dominação objetiva dos povos europeus ocidentais no mundo. Neste sentido, Samir Amin em, Eurocentrismo: crítica de uma ideologia (1994), por exemplo, definiu o eurocentrismo como a crença generalizada de que o modelo de desenvolvimento europeu-ocidental seja uma fatalidade (desejável) para todas as sociedades e nações. Segundo este autor, uma ideologia, cuja genealogia deveria ser buscada no Renascimento, remontando à gênese do capitalismo como sistema mundial, ou, em suas palavras, como modo de produção realmente existente.
Sérgio Ricardo da Mata, Helena Miranda Mollo & Flávia Florentino Varella (org.). Caderno de resumos & Anais do 2º. Seminário Nacional de História da Historiografia. A dinâmica do historicismo: tradições historiográficas modernas. Ouro Preto: EdUFOP, 2008. (ISBN: 978-85-288-0057-9)
Essas definições já estão se aproximando algo daquelas mais abrangentes, e não necessariamente pejorativas, embora indo para o uso do termo dentro de economia de desenvolvimento.
Esta definição ( no singular ) é a única que eu utilizei, que é coerente com todas as anteriores.
Faltou você citar alguma fonte acadêmica ( um verbete de dicionário, que seja ) que defina eurocentrismo de outra forma que não como uma ideologia específica.