Olá nikolako. Seja bem vindo ao fCC!
Tenho várias coisas a comentar sobre seu texto. Vou tentar dividir.
Cenário A: Você nasceu. Sentiu tanto prazer e dor em toda a sua vida. Você morre. Prazer experimentado? Sim. Dor sentida? Sim.
O que podemos dizer sobre isso? Podemos dizer que nascer era, em parte, uma coisa boa para o indivíduo, devido ao prazer experimentado em sua vida (1) e podemos dizer que nascer também foi parcialmente negativo para essa pessoa por causa da dor que eles experimentaram (- 1) durante o curso de sua vida. Portanto, temos uma (1) e uma para (-1) por ter nascido.
Existem vários problemas com essa premissa. Na verdade, trata-se de várias premissas subentendidas:
P1: Existe uma métrica que nos permite calcular objetivamente a quantidade prazer e de dor experimentados por um indivíduo
P2: Essa métrica é constante. Isto é, não muda ao longo da vida do indivíduo, não são passíveis de reavaliação.
P3: Além de poder ser estimado, os valores de dor e de prazer associados a estímulos diferentes podem ser agrupados (mais abaixo).
P4: O prazer e a dor podem ser medidos individualmente, sem fazer referência a outras pessoas.
Em seguida, você usa um argumento circular: mesmo admitindo essas premissas, você parte das pressupõe que o valor total do prazer seja 1, e da dor seja -1, resultando em 0. Não há justificativa para isso. Você poderia facilmente ter suposto +10000 para o prazer e -3 para a dor.
Na verdade, considero todas as premissas acima muito questionáveis, para não dizer simplórias. Não creio ser possível, por exemplo, igualar o prazer sensível de uma taça de um bom vinho com o prazer mais intelectual de provar um teorema.
Agora vamos olhar a dor que uma pessoa inexistente evita por não ter nascido. Ela nunca vem a existir então ela nunca experimenta alguma dor. Isso é uma coisa boa! (+1) Mas espere, eu posso ouvi-lo formando objeções. Certamente, você pode opor-se, se ninguém nasce como pode a falta de dor experimentada ser uma coisa boa, pois não haveria ninguém para experimentar a total falta de dor. Bem ... simplesmente por causa do fato de que podemos legitimamente comparar o sofrimento que uma pessoa apresenta em sua vida com a ausência de dor que ele teria sofrido se ele nunca tivesse nascido em primeiro lugar para experimentar essa dor. Nós podemos fazer essa comparação eu lhe garanto.
Vários problemas. Você definiu "pessoa" de forma muito ampla. Seu argumento cairia imediatamente por terra se eu definisse o conceito de "pessoa" como tendo o atributo de existência
. Mas vamos lá com seu argumento contrafactual, para a pessoa inexistente: você está usando claramente a premissa P4. Se você considerar que a inexistência dessa pessoa acarretar uma redução no prazer de outras pessoas - que existem, então isso poderá resultar numa "dor" a mais. Sendo que essa dor é real, não "virtual".
Outro problema: sua afirmação de que nunca ter existido e portanto nunca ter experimentado a dor é uma coisa boa é um simples
non sequitur. Da mesma forma que afirmar que seria uma coisa ruim.
Outro problema, causado pelas premissas P2 e P3: as observações nos mostram que o que a avaliação que as pessoas fazem de suas experiências é mutável. O que num dado momento é visto como uma experiência dolorosa, pode mais tarde ser visto como algo ligeiramente prazeroso e vice-versa. Estou falando de dor e prazer num sentido mais amplo. Além disso, nem sempre as pessoas procuram o prazer e fogem da dor. Eu, por exemplo, gosto de comida apimentada, mesmo que ela faça arder minha boca.
O fato é que um estímulo que pode causar uma dor momentânea, pode mais tarde também causar um prazer mais duradouro.
Um argumento interessante contra o hedonismo foi feito por Robert Nozick, que é a ideia da Máquina de Experiência (Experience Machine). Se você ler em inglês, sugiro uma olhada em:
http://en.wikipedia.org/wiki/The_Experience_Machine