Então Felipe, tudo depende de qual definição de livre arbítrio,
Mas mesmo esses casos só suportarão, e mesmo assim com restrições, um tipo de conclusão : que em algumas situações podemos agir de forma condicionada. Não podemos considerá-las evidências da inexistência do livre-arbitrio.
Entendo se vc dizer que não considera uma evidência conclusiva, mas eu defendo que é uma evidência, pois consegue-se fazer o experimento de condicionamento com todas as características científicas, reprodutível, mensurável, tanto em indivíduos como em populações, etc. Ou seja o behaviorismo é uma função cognitiva bem estabelecida, sendo reproduzida experimentalmente tanto em animais como em humanos, tem fundamentos neurológico-computacional, etc. Concorda?
Agora vou detalhar um pouco a minha tese.
Se o condicionamento é uma função real da mente (tese), então a hipótese de que o nosso comportamento pode ser uma composição de um grande número de condicionamentos tem uma base científica. Se consideramos que durante toda a vida vamos sendo condicionados por uma enormidade de intereções contínuas com o meio ambiente, e por exemplo em um modelo estatístico onde a composição de um conjunto de estímulos vai resultar em uma resposta ou decisão do cidadão, então eu posso considerar que tal modelo refuta objetivamente o livre arbítrio.
Esse modelo explicaria porque não conseguimos manipular o comportamento de forma precisa, pois somente conseguimos reproduzir um subconjunto pequeno de estímulos que corresponderia a uma probabilidade X de ocorrer, pois praticamente não temos acesso ao gigantesco número de condicionamentos que influenciaram uma pessoa em toda a sua vida, as tendências metabólicas, hormonais, etc. Ou seja o modelo explica o efeito do marketing.
Você pode ou não considerar essa uma boa explicação. Eu não acho suficiente, pois apesar de plausível é necessário conhecer com detalhes os mecanismos neuro-computacionais do condicionamento. Que é o que os cientistas estão fazendo, eles estão descobrindo as regiões, os tempos de resposta, número e tipo de estímulos necessários, neurotransmissores, etc, que influenciam tudo isso.
Mas essa explicação é uma boa resposta para a pergunta do Agnóstico, que era se poderíamos propor experimentos comportamentais comprovando a não existência do livre arbítrio.
E como parece que esta é a posição de parte dos cientistas, to com eles.
Para mim, é claro que ainda temos sistemas "otimizadores", inconscientes. Mas isso não significa que não tenhamos livre-arbitrio, que não planejemos e tomemos decisões de forma consciente, de acordo com nossa vontade.
É um pouco complicado, mas acho que o caso dos autistas é interessante.
Os autistas tem uma interação com o mundo muito particular onde eles tem dificuldade de comunicação. De um certo ponto de vista os autistas sofrem menos condicionamento, então vc acha que os autistas tem mais livre arbítrio?
PS. para contrapor, as propostas de livre arbítrio teriam que propor experimentos comportamentais e modelos de explicação com base fisiológica, e acho que não tem (não sei). Acho que a hipótese do livre arbítrio é mais filosófica e social que fisiológica. Não to dizendo que não dá para tentar propor o livre arbítrio de forma fisiológica, mas se tiver gostaria de conhecer propostas nesse sentido.