Acho que esse lado das coisas é praticamente só falácia de apelo a natureza, não tem qualquer relevância para considerações morais.
Não deve ser usado como justificativa moral, mas apenas como prova de que o comportamento homossexual tem origem genética (não sendo algo determinado apenas pela cultura), e natural no sentido de ocorrer com certa frequência em mais de uma espécie da natureza.
A ciência também é frequentemente citada em assuntos morais, mas ela não é capaz de definir o que é ou não é moralmente correto, e sim apenas refutar ou corroborar premissas de teorias morais baseadas em tópicos passíveis de serem objeto de estudo científico, como a existência ou não de raças na espécie humana, ou se o homossexualismo é determinado pela genética, pela cultura ou por uma combinação de ambos e/ou outros fatores.
Definir que a origem seja genética é mais complicado do que ver ocorrendo em outros animais. Papagaio "fala", mas não é genético, a determinação de sexo em crocodilos é inata, mas não genética, etc.
Mas também é pouco relevante ser especificamente genética a origem, ou mesmo apenas inata, em vez de escolha pura.
Não tem nada de apelo à natureza. Apelo à natureza é justamente ideologizar a questão.
É dizer: " isto é certo e é bom porque é natural. " Ou o contrário, querer condenar por ser não natural. E desse princípio partem tanto os dois lados ideologicamente envolvidos para, ou superestimar ou negar a ocorrência do fenômeno em inúmeras espécies.
Interesses que acabam influenciando a análise objetiva. Lembro, por exemplo, de ter lido sobre uma pesquisadora que fazia um estudo sobre uma espécie de pelicano cujas fêmeas formam casais com certa frequência. E ela foi criticada por estar fazendo "ciência ideológica" por gente que, ou já defende uma posição ideológica sobre essa questão, ou então comete o mesmo seu equívoco de achar que algum aspecto objetivo do mundo natural possa ter algo em si de moral ou ideológico. Ou, mais exatamente no seu caso, de já ver um argumento ideológico onde só há fatos e Ciência.
Ela pode ter sido criticada também por apenas céticos, que suspeitem dessa ideologia como motivação. É outra possibilidade de contaminação ideológica. (Analogia significativa para algo praticamente mainstream poderia ser o hype em torno dos antropóides que falariam linguagem de sinais, como Koko).
E sobre estar ou não sendo selecionada, se uma característica ocorre em todas as famílias não pode ser um indício de que pode ser antiga, herdada de uma origem filogenética comum?
Sim, mas acho que isso é um pouco mais sugestivo do contrário, de não ser algo selecionado. Divergência deve ser mais indicativo de seleção.
Se 10% dos machos de determinada espécie de ovelhas são exclusivamente homossexuais, nascem assim e raramente se acasalam, e ainda assim esta proporção se mantém por gerações, então não está aí, até prova ou explicação em contrário, que de alguma forma, e por algum benefício, essa característica está sendo transmitida de geração à geração?
Ela pode estar sendo transmitida de geração em geração, ou existir em dada freqüência, mas não significa que esteja se mantendo nela por seleção, uma vez que pode não ser nem genética a origem.
Ou você acha mais razoável supor que há algum fator ambiental que torne 1 de cada 10 carneiros ( que não teriam nascidos com essa condição ou predisposição ) gay? Por quê?
O fator não preicsa ser ambiental, pode ser indeterminismo inerente a biologia da espécie que faz tal "sorteio", sem que haja um conjunto bem delineado de "alelos homossexuais" e "alelos heterossexuais" concorrentes.
Há características que "não são genéticas" no sentido de dependerem de toda uma vasta interação "caótica" dos genes, de forma que é difícil a atribuição a alelos específicos (e a seleção sobre ela é assim também dificultada), e características que podem variar mesmo em gêmeos idênticos. Calha de homossexualidade, em humanos, ao menos, se enquadrar ao menos parcialmente no último caso, acho que já ouvi dizer ("parcialmente" por que talvez possa haver múltiplas determinações, e então haver uma "outra" homossexualidade, mais fortemente genética, sempre presente em gêmeos).
É muito daquilo que Mário Bunge falou:Hoje em dia a ciência assusta tanto a direita quanto a esquerda.
http://www.universoracionalista.org/mario-bunge-hoje-em-dia-a-ciencia-assusta-tanto-a-esquerda-como-a-direita/
Hummm... mas no mínimo é pouco relevante o que acontece em outros animais, fungos, vegetais, etc. Melhor apelo válido a natureza seria com canhotismo canhotalidade ou outras coisas assim.
Não é apelo à natureza. O que é moral é determinado por uma cultura, homossexuais são naturalmente assim,isso é fato. Há estudos em genética, psicologia, neurociência que indicam que isso tem origem biológica. O que não torna esse tipo de comportamento correto ou não, pois isso depende da sociedade que eles estão inseridos.
Bem eu diria que seria um apelo a natureza ainda, só não "falácia"; um "apelo aos fatos".
Mas ao mesmo tempo acho que é moralmente mais relevante ser argumentável que não teria problema mesmo se fosse algo plenamente artificial, escolha pessoal, etc.
Não vamos ter "testes de DNA gay" para avaliar se alguém pode ser gay mesmo ou não. Se de repente tiver gente que não seja "geneticamente gay" ou "inatamente gay" sendo gay, não importa. Eles não estão "errados".
E mais além: poderia ser até que existisse tal coisa como um "germe gay", sem que isso tivesse relevância significativa sobre a moralidade. Ainda que talvez fosse reaquecer a consideração como "doença" pela genética exógena (mas ainda genética, se é que isso importa), e o aspecto biologicamente maladaptativo, ao menos em aparência superficial. Mas ainda seria argumentável nesse campo meramente biológico/médico possibilidades de simbiose e adaptatividade como "estratégia reprodutiva K", maior investimento parental para menos prole.
Uma pergunta: A pedofilia é observada em outras espécies de animais?
https://en.wikipedia.org/wiki/Non-reproductive_sexual_behavior_in_animals#Sex_involving_juvenilesAcho que existem alguns insetos que fecundam larvas.... mas é então sexo reprodutivo.
Retomando algo que falei nesse tópico.
Eu pessoalmente não vejo motivo ou necessidade para tanta elucubração em cima da questão.
Do ponto de vista médico (ou seja, da questão saúde-doença), a homossexualidade com toda certeza não é uma doença.
Do ponto de vista biológico a homossexualidade exclusiva não é o modo normal de atração sexual da espécie homo sapiens, porque (1) a espécie é dióica e (2) sem reprodução os genes não sobrevivem e a espécie entra em extinção.
Em outras palavras, não é normal não sentir atração sexual por nenhum indivíduo do sexo oposto, em nenhum momento.
Biologia não tem ponto de vista. E o que é bom adaptativamente para o indivíduo nem sempre é um caminho para o aperfeiçoamento da espécie. Por exemplo, Steven Pinker já teorizou que psicopatia seria resultado de seleção dependente de frequência (não vou entrar no mérito da veracidade da teoria, pois só quero dá um exemplo que explique minha segunda frase do post). Se todos fossem psicopatas, a espécie humana estaria ameaçada de extinção, mas é justamente pelo fato de a psicopatia ser rara que ela se tornaria vantajosa adaptativamente para um pequeno grupo minoritário. Genes não evoluem adaptativamente para o bem da espécie ou para evitar sua extinção. Normalmente, biólogos darwinistas consideram que o indivíduo é a unidade de seleção.
No que interessa a biologia, correlação mais sugestiva de seleção de homossexualismo deve ser algo como ser mais comum em condições em que se esperaria ser vantajosa a estratégia reprodutiva de alto investimento parental, e mais raro onde for o contrário.