Na democracia, os cidadãos reúnem-se em uma assembléia (ἐκκλησία em ático), debatem sobre o tema em pauta e, em base disso, decidem o que será feito. Pressupunha-se que todos os cidadãos participassem do processo - aliás, o termo "idiota" surgiu justamente como ofensa aos que não participavam.
Dos exemplos atuais, o mais similar a isso seriam os sovietes. Infelizmente, tiveram um destino similar à democracia ateniense, especialmente se você trocar Os Tiranos pelo nome de Stalin trinta vezes, hehe. Um bom texto pra vocês lerem sobre isso é As Vespas, do Aristófanes. É uma peça escrita por alguém que vivia sob a democracia ateniense, e viu-a desmoronando pouco-a-pouco. Ou, se preferirem ler os textos sobre os sovietes, leiam John Reed [Dez Dias que Abalaram o Mundo] e Trotskii [A Revolução Traída].
O problema da democracia é não ser muito escalável - é eficentíssima para grupos pequenos, até 200 pessoas, mas além disso, sempre aparecem os idiotas (tanto no sentido original como no atual). Mobilização e politização sistemática ajudam, muito, bem como questões ideológicas como "amor à democracia". Mas, para grupos maiores, a coisa começa a ficar mais complexa, e fica mais difícil de mobilizar as pessoas.
O sistema que os povos sob o Estado brasileiro vivem não é esse, nem mesmo em teoria. Escolhe-se representantes e esses representantes decidem por você: isso lembra muito mais o cônsul na República romana do que a democracia ateniense. Por isso, não considero que vivamos sob uma democracia, e sim sob uma república.
A república também sofre o mesmo risco de evoluir em tirania que a democracia: preciso citar La Revolutión Française? Ou, um exemplo mais na minha área: César tornando-se dictator, e Otávio tornando-se imperator?
Os seis pontos do DDV, acima, são exatamente isso: carisma, tradição política e recursos de poucos sendo usados para manter uma casta no poder. César jamais teria ascendido ao poder sem essas três coisas; e, quando elas não foram suficientes, nada que força bruta [ele era general, cazzo] não resolva.
Tal casta no poder defenderá os interesses de quem? Em primeiro lugar, dela mesma. Em segundo lugar, da classe social onde ela está inserida e que a financia. No caso de César, os interesses defendidos eram os das famílias tradicionais e ricas, os patrícios; no caso da Revolução Francesa, da burguesia nascente.
Acho que não é difícil de vocês aplicarem o que eu disse ao Estado brasileiro.