Que bom que gostaram do post.
Obrigado, Enjolras e Martuchelli.

Martuchelli, eu não vou me atrever a falar de leis científicas, pois essa não é minha área e eu não teria o mínimo de competência para tal. Mas, vou tentar fazer a conexão entre o que você disse e que eu disse.

Sobre a primeira pergunta:
O que os filósofos levantam em objeção (
e aqui eu tô falando do Flusser), é que esses posicionamentos são oriundos de uma determinada forma de percepção do sujeito (
claro, submetido a todas as condições físicas e biológicas). Ou seja, os dois posicionamentos que você citou são resultantes de modos de percepção dos sujeitos. Modos esses que podem ser observados nas estruturas das línguas.
O Flusser cita três possibilidades (mas, ele só analisa as Línguas Flexionais):

Línguas Flexionais - Português, Alemão, Céltico, Latim, Hebraico, Árabe, etc.

Línguas Aglutinantes - Finlandês, Turco, Coreano, Japonês, etc.

Línguas Isolantes - Tibetano, Assâmico, Chinês, etc.
Cada uma dessas estruturas estabelece uma forma de interação com a realidade. De forma geral, as Línguas Flexionais são aquelas em que as coisas estão em constante relação. A forma de estruturação do Português em que o
Sujeito age
(Verbo) em função de algo
(Objeto), descreve a nossa forma de interação com a realidade (
nossa, do sujeito ocidental). A ciência e o seu modo de análise (
que podemos dizer que é quase uma decomposição dos objetos analisados) é o exemplo utilizado por Flusser.
Já as Línguas Aglutinantes (
vou explicar de forma geral, já que não tenho conhecimento para explicar o modo de operação dessas línguas) estabelecem sobreposições entre as coisas. Por isso, as coisas sempre estão ou são vistas em seu conjunto. Uma nova "palavra" pode modificar o sentido total da frase. Flusser utiliza a ideia da totalidade Zen como consequência do modo de pensar aglutinante (esse é um dos exemplos).
Infelizmente não tenho como falar do terceiro modo, pois ele não é tratado no livro. Desculpem.
Com essa "enrolação" toda, eu quis dizer que as objeções levantadas se referem a algo que é anterior ao estabelecimento da realidade (
e aqui eu chamo de realidade essa construção na qual interagimos). Ou seja, as leis físicas existem, mas a forma de percepção e de descrição dessas leis está submetido a um desses modos (
ou de outros não descritos) de estruturação linguística. Ou seja de novo: não são as leis físicas, as deduções e os cálculos que delimitam o modo do pensar, mas o modo de pensar que delimita as possibilidades de descrição e de cálculo. (Deu pra entender?)
A análise do Flusser é um pouco mais detalhada pois, ele afirma que esse modo de ver o mundo é na verdade, estruturado de língua para língua. Quer dizer, o pensar brasileiro é diferente do pensar alemão em função das estruturas linguísticas de cada língua.
O que ele intenta fazer é trazer pra discussão essa ideia de que a ciência é uma descrição objetiva da realidade. Por ser uma língua que nasce dentro do modo flexional, a ciência também sofre influência da percepção humana. A ciência é também "Matrix". Isso põe pra pensar em como seria uma ciência de base aglutinante ou de base isolante.
Dentro de tudo isso, acho que a gente pode perceber que no primeiro posicionamento dentre os que você citou, os pesquisadores que se posicionam próximos a esse modo de pensamento descrito pelo Flusser.
Sobre a segunda pergunta:
Apesar de ter, realmente, ficado vago, eu quis falar numa forma melhor para nós mesmos.
Tem um pensador chamado Edgar Morin, que tem uma obra chamada O Método, em que ele trata da objetivação das ciências exatas e da subjetivação das ciências humanas e de como isso está nos atrapalhando na compreensão do que desejamos compreender, seja o universo, nossa mente, a terra, etc. Ele tentar fazer com que percebamos a humanidade (subjetividade) das ciências exatas e a exatidão (objetividade) das ciências humanas. Não sei, mas isso me permite pensar num modo aglutinante, talvez.
Será que afastar o subjetivo ou dizer que o subjetivo não é tão confiável quanto o objetivo não seria uma ilusão metodológica que, talvez, precise ser superada para se chegar a um modo científico mais holístico, em integração com o todo? (não há, nesse todo, alusão a qualquer questão metafísica)
São questionamentos de quem está em outra área, mas que afetam a todas. Em educação fala-se da transdisciplinaridade, portando a coloquemos em prática. Todos os pensadores sabem que não há disciplina que sozinha dê conta do mundo. Elas juntas, talvez, possam nos dar alguma noção.
Abraços!