Mas vou contar... a fealdade da situação é desoladora...
Passa o tempo e nenhuma sabatina se faz, nenhuma reflexão autocorretiva entre expectativas e fatos. Se eu não apareço, nada acontece.
Resumo prévio do que, destacadamente, vale abordar:
O Martuchelli cometeu equívocos homéricos e fez pelo menos um arredondamento do tipo 'tamanho desvio de verba pública no Brasil', atendendo à própria conveniência imediata inconsciente (espero que inconsciente, ao menos). Me lembrou aquele viajante maionésico, o Alano, tristemente, até em certa medida, me lembrou o Feynman (daqui, é claro), e outros mais, adeptos da crendice na capacidade metafísica do Einstein de intuir "coisas" da realidade, assim..., fantasticamente, do nada. O pobre coitado não foi informado disso, porque ele mesmo asseverou seu reconhecimento de que a RR fundou-se numa lei empírica e a RG foi apenas a óbvia extensão indutiva do mesmo princípio a sistemas de referência mais gerais. Mas focam-se só em algumas besteiras que ele disse, que contrariavam a ele mesmo, pela certa razão do que o Feynman daqui já trouxe da espremedura de outros pensadores, até do próprio Feynman (o verdadeiro): ele era só um "pássaro" (científico), não sabia o que é "ornitologia"; era só um "peixe" -- nadava absurdamente bem em seu meio, mas era um fracasso total ao tentar analisar a própria "hidrodinâmica". E o Adriano banido dizia que o Popper construiu sua religião em cima dele; talvez seja a explicação... A "ornitologia" e a "hidrodinâmica" fazem parte de outro contexto (científico, claro, mas um contexto de funcionamento das máquinas pensantes, máquinas que o Einstein era uma). Deixemos mais para uma resposta direta ao Martuchelli.
O joaofld, descontando tudo mais, largou uma que vi como pérola das florilégicas. Eu ri demais da conta. É o tipo de coisa que, paradoxalmente, torna a situação mais agradável, divertida.
O Feynman aparece e dá "sugestão" intrinsecamente anuladora de possibilidades para o meu lado, entre outras coisitas mais de cujas consequências não escapará agora, parecendo estar neutro ou até mesmo auxiliando ambos os lados a chegar a um termo. Mas esse Feynman...
E eu mesmo, cometo um erro grave e, para variar, ninguém aproveita para apontar e corrigir! Quando eu não cometo erro nenhum, volta e meia aparece um desavisado da vida para querer dizer que existe chifre equino, na esperança de me derrotar. Quando há a chance, ninguém aparece. Não viram? Falta aos grandes sabidos o necessário para ver?
Triste, triste...
Lembrando que o grande Feynman (não o daqui, que é de... bom tamanho também), mais que um simples educador, um verdadeiro instituição-educandário de física, advertia que dedicar-se à solução de problemas é o meio de consolidar o conhecimento das teorias, lembrando, ele, assim, que teorias são coisas que funcionam/devem funcionar, sendo puras representações de maquinários naturais e não brinquedos filosóficos argumentativos, tenhamos isto em vista no que segue e sempre. Vamos ao Feynman (o daqui mesmo, é claro) primeiro.
Martuchelli, minha brincadeira foi só porque é EXATAMENTE neste ponto que deves insistir com o Cientista. Dificilmente sairá algo produtivo
Só por curiosidade, o que seria "algo produtivo", em seu entendimento?
se não esclarecerem, para vocês mesmos, a relação entre uma teoria e sua experimentação.
Aqui está! Acho que se não fosse por essa pérola, eu te deixaria passar em paz, mas isso é tão demais da conta que não dá, não acha? Pense bem. Ainda tenho fé em ti.
Isso foi capcioso ou inadvertido, Feynman? "Relação entre uma teoria e **sua** experimentação"?? Assim não sobra nada para mim. Sei que não és dessas falácias. Sinceramente, sei que és bem mais que isso.
Para mim, neste domínio (referindo-me ao que está ligado ao tema estrito do tópico, embora extensível a tudo), nada mais há a esclarecer além de como construir as máquinas. Para você e o Martuchelli, há a esclarecer a questão do fantasma na máquina, porque só com esse pode a relação de prioridade para as teorias que vocês defendem ser defensável.
Por esta minha última colocação, já me adianto que compartilho da imagem já bastante debatida por Popper e Lakatos, de que teorias sempre precedem qualquer observação. Mas entendo (um pouco) a posição do cientista, e posso mesmo defendê-la em partes. Mas isto só tornar-se-ia possível sob um contexto evolutivo, biológico mesmo, o que não foi o interesse daqueles autores (embora Popper tenha se detido um pouco nesta questão).
Você está confessando que o que não foi de interesse dos referidos autores é algo que te prende (ao mesmo desinteresse/não-interesse)? É um " "só" tornar-se-ia" tão displicente..., como se objetividade não fosse tudo o que deveria interessar em ciência. É claro, esses indivíduos não eram cientistas... nem mesmo científicos! (pensadores do tipo) ...mas... e você, Feynman? É como eles? Ou está mais para o verdadeiro grande Feynman, de quem faz teu pseudônimo? Se não tiveram interesse no contexto evolutivo-biológico (interesse intrínseco a esse contexto, mesmo, foi o que entendi que quiseste dizer), quem são esses para emitir qualquer opinião que valha? Eu jogo-os no lixo tão rápido quanto o fisicamente exequível.
Entendo ('um pouco', hehehehehehe...) o apego ao grande "patrimônio" cultural da humanidade. Séculos e séculos de "profundos pensamentos" sobre as coisas..., sobre a(s) natureza(s) das coisas..., "grandes filósofos" e seus "grandes legados"..., todos, tudo, sendo deixado para trás, eliminado totalmente como um evento de extinção em massa (deixando só fósseis e rastros de vida que houve e que não viceja mais; pois o que interessa é a vida em processo, é a possibilidade de uso da "riqueza" e não uma lembrança de que ela foi só uma ilusão que existiu por tanto tempo). Toda essa "riqueza" construída por humanos... Abandonar tudo isso... É muito mais que pedir a um religioso para largar sua religião, *muito mais*. Sei, percebo bem. Querem que tudo tenha alguma finalidade, que tenha tido algum propósito, querem *dar* um propósito e uma utilidade para tudo, de qualquer forma. Tanto "esforço" de neurônios filosofistas, tanta sola desgastada na dança do minueto, tudo para puro desperdício... Porque essa é a própria religião humana, a religião da humanidade. Razão porque contos como o de Buda tanto encantam -- o príncipe que foi capaz de abandonar o conforto de todas as "riquezas" por uma "realidade maior", comportamento tão avesso à natureza humana comum. Mas... para um pensador científico, isso nada significa e, menos ainda, importa. Pensadores científicos são psicopatas da cultura, são 'culturopatas', pessoas não razoáveis, como disse o George Bernard Shaw:
"O homem razoável se esforça para se adaptar ao mundo. O homem não razoável insiste em adaptar o mundo a ele. Portanto, todo o progresso depende do segundo."
Eu sou do segundo tipo, mesmo "consciente" (ciente, na verdade) de que existir seja uma ilusão, o que não muda em nada o destino do que sou. A questão que resta é apenas se consigo ou não. Mas não pensem que vocês, que se "contrapõem" (rsrsrsrs... hahahahahahahahaha... HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA!!!!!!!!!!!... ...haaaaaiii! ...) a mim aqui, são sequer parte destacada em meus interesses deste mundo que quero adaptar a mim. Por mim, todos vocês podem continuar exatamente do jeitinho que são. São até biitinhos assim.
Sou, também, como disse o minimamente aproveitável filósofo Michel Serres, o sujeito de toga num mundo sem lei, um Robin Dubois.
Obs.: Antes que pensem que leio sistematicamente tais autores, esclareço que são aquisições de conversas, debates como esses, notas de topo e de rodapé de livros científicos e técnicos que leio... Um monte de cultura inútil que se adquire por aí e que eu infelizmente não esqueço, enfim. Mesmo com essas pequenas utilidades anedóticas, não me servem de nada tais autores.
O problema é que existem idéias que acabam sendo usadas, por ambos, com significados implícitos bastante diferentes.
?
Já deves suspeitar que eu já tive esta conversa com o Cientista.
Ooooouuh, a essa altura, ele deve!
E, como quase toda discussão, saímos dela mais convictos de nossas posições do que quando entramos nela.
Eu, não! Fale por ti, somente! Não há como minha convicção ser maior do que é/sempre foi. Se tiver algum outro caminho, seria a descida. É assim a multivibração bi/multiestável dos pensadores científicos, de um estado de convicção absoluta a outro sem dó nem piedade nem remorso, sem hesitação. Reforçar/enfraquecer convicções não é para cientistas. Por vezes, eu digo algo assim, mas é só retórica (não sou cientista, mas sou pensador científico, que é o que operaciona aqui). Sair de uma discussão mais convicto que antes, daquilo que já pensava, é sintoma característico de *crença*. Mais funcional que aceitar coisas por fé é rejeitar coisas por evidências. Quem tem fé, interpreta isso como fé também, mas ter fé é muito fácil e negar sensações tão sugestivas é muito difícil. Não há equiparabilidade entre uma coisa e outra. Eu, com toda probabilidade, sinto tudo o que vocês sentem e desejo as mesmas coisas, mas descarto tudo pois "sou" só "eu" contra todas as evidências.
Eu já te dei respostas atrasadas no tópico... sobre a relação entre a física e outras ciências (onde, por sinal, tenho respostas devidas ao Martuchelli também, que iniciei mas interrompi por breve em razão até disso aqui). Não sei se leu/(mais importante)alcançou o(s) ponto(s). Lá, entendo que você confessa sua fé sem ver isso como problema, antes, uma solução (de compromisso, talvez). Você sabe que não existe, mas se entrega à sensação de que, pois isso te parece até mais prático. Talvez seja essa aparência de praticidade que te faça sentir-se científico em tua posição. Mas eu deixei claro, lá, que há coisas que só podem ser realizadas, tanto científica quanto tecnologicamente, a partir do mais fundamental axioma de que não existimos, que é um axioma singular, não só pela ausência de precedentes como pelo fato que é alcançado por uma enorme massa de verificações -- de fato, a soma de todas elas. Portanto, trata-se de questão técnica, não filosófica. Mas, para a máquina naturalmente equipada com um chip de BIOS filosofista, isso deve ser muito difícil, senão impossível*, de reconhecer.
*Impossível no sentido de que, diferentemente do que interpretam da realidade os seguidores da linha filosófica do joaofld de que consciência/individualidade/"eu" é produto socio-histórico-cultural, consciência e inextricavelmente associado modo fundamental de pensar é esse mesmo BIOS, que teria que ser outro, portanto, outro pensador totalmente diferente. Lembro que eu gostaria muito de descobrir que isso é possível, SE for.
Não sei se quero continuar com isso aqui, mas pela posição do cientista: é claro que mesmo nossas conjecturas mais levianas partem da observação. Ao mesmo tempo (para mim) é claro que qualquer observação alimentadora de qualquer conjectura é dirigida por proto-teorias.
Eu até prefiro que não "continue" (seja lá o que seria tal "continuação" -- não que eu vá repreendê-lo, se "continuar"; prezo mais tua liberdade que teus acertos, lembra?). Assim, não nos arrastamos infrutiferamente, por qualquer expectativa já empírica razoável. Eu não pretendo me arrastar, já disse. Mais ir ao final do que está ainda pendente. E isso aqui até que veio como certa ajuda.
A realimentação de que já falamos. Para você (ou para mim?...), estabelece-se mais como círculo vicioso. Como se quebram círculos desse tipo? Bom... fique acompanhando ...talvez...
Mas vou dizer agora o que é a exata realimentação. Não se faz ciência teoricamente; se faz teoria cientificamente. Teorias são os produtos científicos para a técnica e instrumentos físicos são produtos tecnológicos para ciência. Teorias científicas realimentando teorias científicas é sonho lindo que é... só sonho lindo. Teorias *científicas* é do que falo aqui; teorias filosóficas que se crê científicas são só... porcarias quaisquer. Sempre se está dentro do âmbito (só) do que é empírico e a ilusão de que há "prototeorias" que permitam sair desse limite só atua em seus próprios iludidos. Experimentação está sempre à frente; ela iniciou a corrida e nunca foi mais lenta. O mais importante de tudo: *há utilidade no exato próprio (f)ato de reconhecer isto*, não sendo algo cuja desconsideração seja indiferente.
E os mais importantes experimentos da história foram feitos para responder à uma teoria, e não o oposto, como o Cientista vai (provavelmente) tentar te convencer.
Ora, e por que não irmos um pouco aqui mesmo?
"Naturalmente, precisarias definir/contextualizar o que pretendes com, o que entendes por, o que passa em tua cabecinha quando dizes 'os mais importantes experimentos da história' "... hihihi ...isso te lembra algo, Feynman? Ademais, serve quando um experimento é feito para "responder" (o que quer que isso signifique em tua concepção prosopopéica...) a uma teoria, mas responde a 'outra' (que não existe até então e passa a existir justamente pelo experimento que "tentava responder à primeira)? Mais ademais, sendo eu extraordinariamente permissivamente caridoso contigo e, "aceitando" o que dizes como fato, estarias recorrendo, acaso, a um indutivismo ingênuo ao apelar para como, *no passado*, os "mais importantes experimentos" foram feitos para "responder a teorias", e isso seria a regra? Eu sei, eu sei..., como se pode demonstrar algo sem exemplos, não é mesmo? Sem experimentos, sem referências, sem provas... sem amostras empíricas, enfim.
Não vou me concentrar muito em atacar, *diretamente*, a falaciosidade desta tua declaração. Vou por uma tática... de beiradas.
Tentemos organizar o que são "experimentos importantes" e como eles "respondem a teorias".
Contemos duas "pequeninas historietas", uma do passado-presente, outra do presente-futuro.
Passado-presente:
Estava lá o Heike (Kamerlingh Onnes) em seu laboratório de baixas temperaturas a investigar, "conduzido pela teoria", a confirmabilidade da dependência clássica da resistência elétrica com a temperatura nos metais... Supresa! Algo extraordinário e inesperado acontece! "Nenhuma" teoria previa! Tenta-se criar uma/encaixar numa (siiiiim, uma teoria para um resultado experimental; não um experimento para uma teoria) por bastante tempo e... nada! Por quêêê? Os dados empíricos eram insuficientes. A única "teoria" (e que não se desmereça no ridículo; isso é, SIM, *já* uma teoria!) de que se dispunha, daquele dado experimental único, era: "tem alguma coisa aí que pode ser grande se descobrirmos mais e aprendermos a lidar com ela". O dado experimental que faltava veio,... ooh só para variar, de topada: o efeito Meissner permite enxergar uma faceta que não se via antes. O Meissner, atirando para todos os lados, finalmente colocou uma amostra num campo magnético controlável e descobriu a outra surpresa imprevista. Então já dava para associar a coisa toda com ideias anteriores (todas sempre construídas seguindo o mesmo processo). Era uma transição de fase, como tantas na natureza já conhecidas *empiricamente*, com teorizações já formuladas diretamente dos empirismos! "Usemos uma modelaridade termodinâmica!" Foi o que se fez.
Décadas depois, delineia-se uma teoria (BCS), espremendo-se a exclusão de Pauli até a última gota nos pares de Cooper, como encerrassem a questão, afinal, "teorias são o que decide para onde olhar". Mais que o desestímulo, aquilo que pode ser chamado nem de antolhos mas de tapa-olhos teorético, faz concluir que tudo está finalizado. Mais décadas e, graças aos sempre tolos ingênuos fantásticos indispensáveis heróis da resistência empírica a teimar em navegar contra as poderosas correntes filosofóides da religião epistemista, topa-se com o empecilho que tal teoria foi, desviando o "olhar" da "direção certa". (Ela extraviou o "olhar" por estabeler um limite que não existia). Chegando a se fazer desistir, senão pelos "ingênuos crentes empiristas", os heróis da resistência empírica, que ficam no laboratório, como eu, a tentar fazer alguma coisa funcionar, em vez de debater abobrinhas filosofóides em botecos de esquina, inclusive virtuais; esses tolos... Tinha um manancial inteiro onde parecia ter se esgotado aquela última gota.
O que seriam "importantes experimentos"? Questões filosóficas ou recursos a funcionalidades? Pragmaticamente, o que a supercondutividade pode representar/permitir (em temperaturas altas, possivelmente ordinárias)? Em que alguma teoria ajudou até agora? Eu digo. As teorias auxiliam-se mais (...mais, não... só assim se auxiliam) numa interdisciplinaridade do que internamente independentemente. Por que? Pelo caos (sempre determinístico!) que tudo é. Procurando-se por uma coisa, descobre-se outra. As teorias são apenas, na melhor das hipóteses, pretextos para se fazer alguma coisa, para se movimentar, justificando a máxima quase perfeita de Edison: "1% de inspiração; 99% de transpiração", quase perfeita porque não existe nada de inspiração, pura ilusão, 0%; só existe transpiração, 100%. (Genialidade científica e/ou tecnológica consiste em não muito mais que a capacidade de perceber, reconhecer, aceitar, lidar e trabalhar com isso.) Mas se você acreditar nas teorias, especialmente da forma prioritária que acreditam, elas atrapalharão mais que ajudarão. Travarão o movimento ou o desviarão para a direção errada. Quando se entende que todas as teorias são empíricas, isso não acontece.
Presente-futuro:
Claro, devo só estar pensando no "problema" da consciência. Qual o estorvo teórico? Já falei sobre ele. Procuram o "fenômeno" da semântica. Desta procura desviada da realidade, surge a dicotomização do conexionismo e do simbolismo linguístico. Mas há pelo menos um no mundo que percebeu essa irrealidade e, em liberdade desse misticismo teórico, associou os dois. E outro que, entendendo isso, tenta delinear caminhos nessa via aberta pela observação pura e simples de fatos empíricos. Quem são? Como muitos acreditam que só quando Eddington fez o famoso experimento é que se pôde visualizar a 'curvatura', muitos não enxergam a simplicidade operacional da consciência. Mas, da mesma forma que a curvatura já era perfeitamente visível como desdobramento *direto* de outras observações, também, como já vejo, pode-se construir máquinas que podem, não emular, mas replicar, integralmente, processo consciente tipo humano e jamais se encontrará respostas para as perguntas filosóficas associadas às teorias desviantes atuais. Isso é para o futuro.
Procuremos visualizar isso ainda melhor por meio do que eu vejo em você, só como exemplar de muitos casos, aqui e agora.
O que vejo é que sua angústia, incomodação d'alma, é a mesma dos criacionistas, exatamente a mesma modelaridade, uma perfeita analogia, de fato. Os criacionistas se pautam por uma irredutibilidade: "para uma nova célula surgir, *mesmo que diferenciada*, é preciso outra que guie sua construção; o mesmo para estruturas sobre(pluri)celulares e até mais fundamentalmente para estruturas subcelulares -- ADN, enzimas "operárias"..." Muitos até aceitam a evolução, que só teria surgido, como possibilidade, a partir de um "sopro" inicial, uma "ignição divina". Cada nova estrutura seria criada, montada, pela condução de um "lastro diretor". Nesse contexto ideário, duas "grandes emergências" são arbitrariamente postuladas: a vida própria e a consciência. Cada nova variação, genética ou memética, não seria uma emergência. Todas seriam guiadas pelas duas "grandes emergências" sob o(s) "comandos" de "objetivos a finalidades", implícitas ou explícitas. Mas isso é arbitrário: por que cada nova variação genética não seria uma nova emergência? Cada nova ideia ou descoberta uma nova emergência? Quando uma ou certo conjunto de variações genéticas teriam conformado um cérebro humano, isso teria sido uma emergência genética (*evolutiva biológica*, quero dizer) ou seria uma emergência de consciência? Por que o homem 'mental' não poderia ser, simplesmente, uma nova vida que surge, e não só uma "vida diferente" na qual surge nova emergência? Desse ponto de vista, a emergência da consciência desnuda-se como simples arbitração ad hoc/post hoc. E daqueles indevidos, inúteis, inaplicáveis, inaproveitáveis, nada parecido com um espaço absoluto de Newton.
A solução da arbitrariedade é simples. É só reconhecê-la. Bom, para a mente não científica, talvez isso seja impossível. É? Não existe emergência, nunca existiu. Não nascemos do caos, nem uma nem duas... nenhuma vez; somos o caos, sempre (e sempre determinístico!). Quando eu era criança, entendi e disse: somos uma frente de reação caótica ao caos, uma ilusão no/do caos de que não é o caos. Nada disso é mais filosofia porque pôde-se conviver bem com essa ilusão (viver bem ela, de fato, é mais preciso de se expressar) por algum tempo, até recentemente. Mas, agora, justamente pelo acúmulo de verificações empíricas e pela caducidade de teorias que se deve abandonar, o que seria considerável uma nova emergência, pela perspectiva dada mais acima, "irrompe" e as "teorias diretoras" se desmascaram como os empecilhos que são. Entender toda a essência do que tento dizer aqui faz parte fundamental da solução de problemas reais, práticos.