Oi, Iabadabadu.
Vou tentar ajudar. Espero que eu não complique mais do que explique.

Existe algum problema na visão onde a realidade que nós percebemos da existência (coisa em si?) é percebida conscientemente e, após essa percepção, nós a nomeamos?
Não há nenhum problema nessa visão. Ela é assim (em parte). Nós percebemos o mundo, mas como o mundo é muita coisa e num mundo onde existe muita coisa é preciso diferenciar as coisas para que possamos viver nele, nós precisávamos organizar o mundo de alguma forma. E a melhor forma que a gente encontrou foi a linguagem.
Linguagem é um processo, em que um
sentido se conecta a uma
representação que é
interpretada por um sujeito. Desse processo triádico, surge o signo. Essa relação triádica está em qualquer objeto com o qual o homem interaja. Ela foi definida pelo Peirce (um matemático). Outros estudiosos também estabeleceram essa mesma relação triádica, mas modificando os termos (Frege, por exemplo).
Mas, como se dá a conexão entre o sentido e a representação e o sujeito?
Segundo Wittgenstein, o sentido das coisas nasce de um hábito. O sujeito estabelece determinada relação de uso com um objeto (o chão por exemplo) e na recorrência desse uso o sentido de chão foi se solidificando. Chegou um momento em que bastava o sujeito olhar para o chão e compreender o que aquilo significava. Mas, chegou um outro momento em que apenas apontar o chão não era suficiente para significar as coisas. Pois, os sujeitos perceberam que o chão não era igual e que pisar nesses dois chãos diferentes não era igual. No primeiro, feito de pedras pontudas, os pés doíam; no segundo, de areia, não doíam. Apenas apontar o chão poderia gerar confusão se os dois chãos não estivessem próximos. Eu poderia querer falar do chão de pedras pontudas, mas estar sobre o chão de areia. Nesse caso, alguns gestos serviriam para superar a dificuldade, mas e quando as experiências de chão fossem mais que duas? Chegaria um momento em que os gestos não seriam mais suficientes daí a necessidade de se buscar algo mais eficiente: eis que no começo era o verbo.
O nascimento das palavras - que não deve estar muito distante da linguagem gestual, em termos temporais - amplia o leque de representações. E ao mesmo tempo que amplia o leque de representações, permite que o nível de complexidade do mundo aumente. Linguagem e mundo crescem em conjunto.
Quando eu fiz a divisão no post, ela tinha a ideia de estabelecer o lugar de mediação que a linguagem tem.
Nós
Linguagem
Mundo
Linguagem
Nós
E aí surge a questão que o meu post aponta. Nossa percepção do mundo não é tão pura quando achamos que é. Pura aqui tem o sentido de ausência de significado. Nunca veremos a areia sem saber que aquilo é areia. Mesmo que não se conheça o nome areia.
A coisa-em-si não é a existência. Esse termo é usado em todos os estudos metafísicos para falar das essências das coisas; daquilo que sobreviverá a existência da coisa; a "alma" da coisa.
Nesse caso não haveria uma matrix linguística, existiria a realidade como a percebemos e a função da linguagem seria nos proporcionar uma melhor forma de interagir com essa existência.
Como eu disse no exemplo da areia, isso se torna uma "matrix" pois sem os sentidos não é possível interagir com o mundo. Isso não significa que o sujeito para interagir com a areia precisa saber do nome "areia". Ele precisa conhecer o sentido de areia que nasceu na interação dos outros seres humanos que interagiram com a areia, antes dele, e que foi transmitido a ele.
E aí, na necessidade de transmitir esses conhecimentos ao longo do tempo, surge a necessidade da linguagem verbal. (Explicação no parágrafo anterior).
E a partir do nascimento da linguagem verbal, níveis de significados se estabelecem: temos os sentidos nascidos da experiência dos sentidos e sobre os quais não precisamos refletir (pois o seu uso não exige reflexão), tais como chão, céu, ar e outros mais. E temos sentidos mais complexos, com os quais interligamos conceitos, exprimimos nossas experiências e que são articulados na linguagem verbal.
Mas, para não dizer que as coisas são estanques, há, hoje em dia, outros sentidos (próximos aos do primeiro tipo) que não carecem do mesmo nível de reflexão que os da linguagem verbal, por exemplo, calçada, pista, parede. Mas, que quando necessário podem ter seu nível de complexidade aumentado.
Pra deixar claro o que é o agir no mundo: é agir com esses sentidos, seja no nível mais básico (da linguagem objeto-sentido) ou no nível mais complexo (da linguagem verbal - língua). Nós mexemos no mundo (na terra, na águas, nos corpos), mas nós, efetivamente, manipulamos sentidos, conteúdos. Sempre há um significado em nossas ações (que segundo Freud, nem sempre é consciente).
A função da linguagem, em 98% das pessoas reside no hemisfério esquerdo do cérebro. Pessoas que sofrem cirurgia para remoção do hemisfério esquerdo perdem a capacidade de falar e entendender a fala e a escrita, mas elas não perdem seu senso de individualidade nem sua consciência de mundo e de que há algo errado com elas.
A linguagem (língua) é uma sofisticação do sistema de percepção dos sujeitos. Ela facilita bastante a forma de o sujeito construir sua individualidade, mas não é a única forma. Lembra dos sentidos básicos? Eles nascem a partir dos sentidos. O que me dá a certeza de que eu sou alguém; de que eu me diferencio do outro é diferenciar os sons que eu produzo do som que os outros produzem; diferenciar o que eu sinto ao tocar alguma coisa daquilo que eu não sinto quando o outro toca. São questões físicas.
Mas, voltando ao sujeito que teve hemisfério esquerdo retirado: a partir de uma certa idade, todas essas diferenciações já foram estabelecidas, não é porque o sujeito perdeu as possibilidades em relação à linguagem, que ele perdeu a noção de si. As experiências de vida que o sujeito já teve são inalienáveis do próprio sujeito. Não é porque o sujeito teve a linguagem retirada que ele terá a si mesmo retirado de si.
A relação entre nós, a linguagem e o mundo é uma circularidade. E ela se mostra assim: sujeito > linguagem > mundo > linguagem > sujeito.
O que se acredita é que não há um primeiro nem segundo nessa história. Lá no início, quando ainda estava desenvolvendo a consciência, o ser do qual nós evoluímos desenvolveu o processo de linguagem e ao mesmo tempo, o sujeito só conseguiu fixar melhor a sua individualidade com esse processo.
Será que eu consegui esclarecer as tuas dúvidas?
Abraço!