Só acho que devem fazer uma distinção que não está sendo feita: uma coisa é a direção da Petrobrás, outra coisa é o conselho administrativo, que não gerem a empresa.
Da reportagem da Veja desta semana:
Um indicador infalível de que a coisa não está boa para um político é o fato de ele apanhar até quando faz a coisa certa. Dilma ficou em péssima luz durante toda a semana passada por uma avaliação equivocada de seu comportamento em 2006, quando presidia o conselho de administração da Petrobras e o órgão autorizou por unanimidade a compra de uma refinaria em Pasadena, Texas. O caso, revelado por uma reportagem de VEJA em 2012, tem contornos suspeitos — mas não por causa de Dilma e, tudo indica, até mesmo apesar dela. O episódio ressurgiu no noticiário depois que a presidente respondeu a uma indagação feita pelo jornal O Estado de S. Paulo sobre seu papel na aprovação do negócio. Dilma convocou Graça Foster, presidente da Petrobras, que já chegou ao Planalto com uma nota explicativa pronta. Dilma considerou o texto vago e protocolar. Rasgou o papel e pôs-se a escrever de próprio punho a resposta.
Pôs um ponto-final e determinou que a nota fosse enviada ao jornal, que a publicou, e, assim, começou um vendaval de versões e interpretações, quase todas contra a presidente.
http://veja.abril.com.br/noticia/economia/a-petrobras-ja-foi-solucao-para-dilma-hoje-e-fonte-de-problemascontinuação da reportagem:
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A explicação de Dilma para seu voto favorável à compra da refinaria foi, segundo ela, resultante de omissão ("informações incompletas") e erros ("tecnicamente e juridicamente falho"). Omissão e erros de quem? Da direção executiva da Petrobrás. Para quem não é familiarizado com a estrutura das grandes empresas, não é difícil confundir o papel da direção da companhia e do seu conselho de administração. Os conselheiros não gerem a empresa. Eles aprovam seu plano de investimentos. Depois eles se reúnem para aprovar ou não a direção a fechar negócios de acordo com sua adequação ao plano de investimentos. A compra da refinaria de Pasadena foi autorizada e feita em 2006, antes, portanto, da crise financeira mundial de 2008 e da recessão que se seguiu - circunstância que faria toda a diferença mais tarde. Em 2012, quando VEJA revelou o negócio, as informações obtidas pela revista davam à transação as feições de uma negociata com dinheiro público concretizada com a compra de uma refinaria sucateada por cerca de 1 bilhão de dólares, preço mais de 1000% superior a seu valor de mercado.
A mesma reportagem de VEJA mostrou que, para surpresa de muitos, Dilma Rousseff fora a primeira pessoa a levantar suspeitas sobre o negócio. Foi isso que ela tentou explicar na semana passada, no que pareceu a aliados e adversários um "ato de sincericídio". Em sua resposta a O Estado de S. Paulo, depois tornada pública pelo governo, Dilma escreveu: "A aquisição pela Petrobrás de 50% das ações da refinaria de Pasadena foi autorizada pelo conselho de administração, em 3 de fevereiro de 2006, com base em Resumo Executivo elaborado pelo diretor da Área Internacional. Posteriormente, soube-se que tal resumo era técnica e juridicamente falho, pois omitia qualquer referência às cláusulas Marlim e de put option que integravam o contrato e que, se conhecidas, seguramente não seriam aprovadas pelo conselho".
Dilma está coberta de razão neste ponto. VEJA ouviu Fabio Barbosa, presidente da Editora Abril, que integrava o conselho de administração da Petrobras quando a compra da refinaria no Texas foi aprovada por unanimidade. Disse Barbosa: "A proposta de compra de Pasadena submetida ao conselho em fevereiro de 2006, do qual eu fazia parte, estava inteiramente alinhada com o plano estratégico vigente para empresa, e ovalor da operação estava dentro dos parâmetros do mercado, conforme atestou então um grande banco americano, contratado para esse fim. A operação foi aprovada naquela reunião nos termos do relatório executivo apresentado".
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A reportagem segue citando outros membros do conselho da Petrobras em 2006, como Jorge Gerdau e Cláudio haddad, do Insper. Lança dúvidas sobre o colocado por Nestor Cerveró e Sérgio Gabrielle e continua:
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Do resumo executivo da direção da Petrobras constam outras informações que, se sabidas antes, teriam poupado Dilma das críticas a respeito do preço inicial pego pelos 50% da refinaria - cerca de 360 milhões de dólares, quando ela não valeria mais de 40 milhões. O documento mostra que, quando se soma o valor de mercado de 40 milhões aos investimentos recentes feitos na refinaria pelo antigo dono e seu estoque de petróleo a ser processado, o total chega quase aos 360 milhões de dólares desembolsados.
Dilma Rousseff, portantoi, fez a coisa certa nesse caso, como presidente do conselho da Petrobras.
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Segue informando que, em 2008, um e-mail do procurador da Fazenda Nacional destinado à secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, que, por determinação do ministro da Fazenda, fosse incluída na ata de uma reunião do conselho de administração da Petrobras duas ressalvas sobre a compra da refinaria. Uma advertia que a cláusula Marlim não havia sido "objeto de aprovação" pelo conselho. A segunda destacava que a diretoria executiva havia aberto uma auditoria para identificar responsáveis e apurar prejuízos. Mas não foi feita uma coisa ou outra.
A revista ainda continua dizendo que encontra-se, dentro do PT, "um embate" entre dois movimentos: o "Volta, Lula" e o "Resiste, Dilma". Pessoalmente tendo a concordar com essa visão da revista. Acho que existe um movimento para que o Lula retorne como presidente (e, talvez, o próprio deseje isso, apesar de negar de pé junto) e uma estratégia é minar a Dilma até que Lula se apresente como a única alternativa viável para o PT. Um salvador da pátria. Pessoalmente, prefiro que seja a Dilma ao Lula a candidata e a presidente no próximo mandato (e isso independe de em quem eu vá votar, considerando apenas as pesquisas que dão como certa a eleição dela... ou do Lula).