Livro reúne cartas psicografadas de vítimas do incêndio na boate KissQuase dois anos após a tragédia que matou 242 pessoas em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, pais de sete vítimas do incêndio na boate Kiss se reuniram para lançar um livro com cartas dos filhos, psicografadas por médiuns. As mensagens surgiram após familiares procurarem os espiritualistas para entender o que aconteceu com os jovens, além de buscarem um conforto.
"Estou melhorando e só a saudade é que me maltrata tanto", diz uma das cartas, que teria sido enviada por Daniela Betega Ahmad. Segundo a mãe da jovem, Adriana Betega Ahmad, o livro surgiu na tentativa de entender um pouco mais do porque eles passaram por tudo isso. Para Rose Simeoni, mãe de Stéfani, o recado da filha a deixou mais calma, principalmente após descobrir que ela teria sido resgatada pelo pai, já falecido na época do incêndio.
As cartas foram psicografadas por três médius de Uberaba, no Triângulo mineiro, e outro do interior de São Paulo. No livro, que recebeu o nome de Nossa Nova Caminhada, as mensagens foram reproduzidas na íntegra e deixam de ser apenas uma leitura exclusiva das famílias, que arcaram com todas as despesas de edição e publicação.
A mãe de Guilherme, Mariângela Pontes Gonçalves, afirmou não duvida da veracidade das mensagens, já que alguns detalhes das cartas apenas o filho sabia. Não se preocupem. Em sua maioria, estamos todos bem, está escrito em uma das cartas do menino.
O lançamento aconteceu na última quinta-feira (27), data em que a tragédia completou um ano e 10 meses. Apenas mil exemplares serão vendidos.
Confira uma das cartas na íntegra:
Querida mamãe Mariângela e papai Ricardo, o senhor seja louvado.
Estou aqui em companhia da Stefani e da querida vovó Quirina.
Não vamos mais pensar no incêndio que nos vitimou em Santa Maria, no que nos sucedeu, como mais uma demonstração de Misericórdia Divina que dilui a dor que era nossa em 242 partes exatamente iguais& Felizmente não era nossa em 242 partes examente iguais& Felizmente não pudemos e, ainda não podemos chorar como se aquele sofrimento fosse apenas nosso.
Acredito, mamãe e papai, que muitas tem sido as manifestações espirituais em torno da tragédia que precisamos tentar minimizar em nossas lembranças.
Contudo, de minha parte compreendo que, no último quartel do século passado, mais de duas centenas de espíritos, desejosos de adentrar o Terceiro Milênio da Era Cristã sem maiores comprometimentos cósmicos reuniram-se no Mundo Espiritual e decidiram pelo resgate coletivo das faltas cometidas em séculos anteriores.
Claro que referidos compromissos não dizem respeito tão somente a nós outros, visto que, em maioria, aqueles que nos acolhiam na condição de filhos igualmente se encontravam comprometidos perante as Leis Divinas, que nos compelem as quitações de nosso débitos para com a consciência ceitil.
Em vidas que se foram, mamãe e papai, não raro, nos transformamos em incendiários e não foram poucos os filhos que, em nossas atitudes de violência, apartamos dos braços carinhosos de seus genitores.
Aqui nesta manhã, em nossa companhia orando conosco estão os irmãos Marcelo e Pedro, além de outros, com o nosso irmão Pedro me solicitando dizar aos pais Marcia e Marcelo, que, a semelhança do irmão Marcelo, ele se encontra muito bem, esclarecendo que ainda não escreveu a eles por absoluta falta de oportunidade.
Não se preocupem. Em maioria estamos todos bem, porque a escolha efetuada por nós foi uma escolha consciente, porque conforme lhes disse, anelávamos adentrar o Terceiro Milênio que começa com novas e mais amplas perspectivas de avanço espiritual.
Realmente ninguém deve ser considerado culpado pelo que nos sucedeu. Que o episódio naquela casa de espetáculos, em Santa Maria, simplesmente nos sirva de advertência para que sejamos mais cuidadosos, sobretudo, no respeito que nos cabe aos nossos semelhantes.
Não posso continuar. O meu tempo já se esgotou e preciso ceder lugar e vez a outro comunicante.
Com meu amor a vocês dois, mamãe e papai, sou o filho que não os esquece e que, em nome de dezenas de outros filhos desencarnados na mesma tragédia, agradecem tudo que vocês dois vem fazendo para confortar aos seus pais.
Com meu carinho e da Stefani, que já escreveu aos seus familiares, sou o filho sempre agradecido.Carta psicografada por Guilherme Pontes Gonçalves, recebida no Lar Espírita Pedro e Paulo, através do médium Carlos A. Baccelli Uberaba, Minas Gerais, em 26 de julho de 2014.
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