Seja qual orgulho for, está sempre confirmando uma necessidade de afirmação de quem o proclama.
Estou muito em sintonia com as ideias de Fabrício. Todo orgulho é besta.
Orgulho está apitando no ouvido do interlocutor "Eu sou feliz, e não me interessa se você é", ou algo como "Eu estou por cima com as condições que possuo", ou ainda "Vejam como estou bem e calem-se para sempre".
Mesmo o que se alega a respeito de social e antepassados, ou dominação sobre cor de pele e que agora esta parcela da população que sofreu discriminação se afirma e marca território com o Orgulho Negro, ou o Orgulho Gay, tudo isso ainda é uma forma de agressão, como uma reação à agressão anteriormente sofrida.
Quem é de fato feliz, não precisa propagar orgulho, não sente necessidade de arrotar "tenho orgulho disso", "tenho orgulho daquilo". Não tem essa vontade.
Mas tem essa vontade, e passa a ser enorme vontade, aquele que ainda não está com o fiel de sua balança em zero, aquele que ainda não é plenamente feliz, aquele que ainda está incompleto na sua bem aventurança e quer, de algum modo, propalar esse inconformismo.
Mesmo aquele orgulho de pai, cujo filho passou no vestibular, tira boas notas, é bem encaminhado e com bons valores, mesmo esse orgulho é indevido. Aliás, a nossa sociedade trata desse sentimento orgulho como virtude. Não é.
Orgulho é indicação de superioridade, mesmo velada. Não devemos nos sentir superiores a ninguém. O que eu tenho de melhor sobre meu semelhante, ele tem outras coisas melhores que eu.
Lembra-me aquela fábula onde o acadêmico atravessa o rio num barquinho conduzido por um caipira. Ao que vai declamando, ao longo da travessia, os conhecimentos adquiridos no seminário, na universidade. "- Conhece lógica?. Não? Pois perdeu 1/5 da sua vida". "- Sabe de filosofia? Não? Pois perdeu 1/3 da sua existência". Quando ocorre uma onda maior e o barquinho vira, o caipira pergunta: "- Sabe nadar? Não? Pois vai perder a vida inteira".
Não há virtude em se achar melhor que outra pessoa. Não há bons valores em subir em pedestal por isso ou por aquilo, se achando superior, olhando de cima, delirando com uma suposta superioridade e enxergando Narciso no espelho das comparações com os semelhantes.
Orgulho não é virtude. Pena que nossa cultura não enxergue verdade tão cristalina e estimule a propagação desse mal.
Virtude é a humildade, a que nunca agride, a que nunca fere, coisa que não ocorre com o orgulho, seja ele até mesmo de reação a agressões sofridas.