Não faz sentido em se ter orgulho de ser "branco" porque "branco" não significa nada. Não descreve quaisquer valores, nenhuma cultura, nenhuma tradição per si. Aí você vai dizer "Negro também não" - pois é, mas é porque essas coisas foram tiradas dos povos negros, que foram relegados à essa massa amorfa da negritude, privados de suas tradições e singularidades. Eu posso ter orgulho de meus ancestrais franceses-italianos, por nossa história e cultura, mas um negro não pode porque isso lhe foi tirado, ele não sabe de onde veio, não tem cultura, não tem história, não tem valores. Por isso, lhe resta a cor de pele como símbolo de resistência e identidade.
O ponto principal é que a cultura "branca", a tradição europeia e a civilização ocidental, já são naturalmente valorizadas na nossa sociedade. "Branco", "europeu", etc, nunca foram termos pejorativos e nem nunca existiram termos pejorativos associados a estes. Diferentemente de "negrinho", "tição", "sarará"...
Então, de onde vem a ideia de manifestar um "orgulho negro"? Durante os movimentos civis, intelectuais ligados a causa, entenderam que não bastava só lutar contra a legislação racista, mas também contra a mentalidade racista que permeava toda a sociedade. A percepção de que ser negro, e quase tudo relacionado a origens africanas, era de certa forma inferior: da aparência a religiosidade, passando pelas manifestações culturais.
Porque esse tipo de sentimento de inferioridade se introjeta não apenas no racista, mas até mesmo nos indivíduos que se consideram negros, o que acarreta que estas pessoas muitas vezes não desenvolvem seus potenciais por não se acreditarem capazes. Uma forma de se anular este complexo de inferioridade é estimulando uma atitude positiva e contrária de orgulho: orgulho das suas heranças, da sua história, da sua aparência. Coisas todas estas que eram desvalorizadas nas sociedades racistas.
Evidentemente não haveria motivo algum para isso se os contos de fada, em vez de lindas princesas de olhos azuis, fossem protagonizados por guerreiras africanas de cabelo crespo e se a História não tivesse sido sempre eurocêntrica. Tanto não haveria que nunca houve! Nunca se falou em "orgulho branco", nunca se PENSOU em orgulho branco, jamais a expressão orgulho branco foi utilizada até que os movimentos pelos direitos civis nos EUA começassem a pregar o orgulho de ser negro. Obviamente porque não haveria motivação nem faria o menor sentido: seria como se de repente as pessoas normais começassem a expressar em camisetas o seu orgulho por ter 5 dedos em cada mão...
Note que os exemplos que você citou ( ancestrais italianos ou irlandeses... ) são sempre de minorias que precisaram afirmar nas sociedades para as quais emigraram, o seu valor. Afirmar para os outros mas também para si mesmas.
Consequentemente a estratégia dos racistas é tanto simples quanto óbvia: quando se era aceito dizer que um negro era macaco sem atrair repulsa, era assim que os racistas procediam. Porém, como este tipo de discurso não é mais tolerado, os racistas adotaram a estratégia de dizer que estão apenas defendendo o orgulho de ter cinco dedos em cada mão, digo, de ser branco. Como se existisse essa necessidade.
Esse argumento simplório é o mesmo adotado pelos grupos que combatem direitos iguais para pessoas sexualmente diversas: eles agora dizem que "estão defendendo a família". Como assim? As famílias precisam de defesa? Existe ou há o risco de vir a existir algum impedimento legal ou constrangimento social para que duas pessoas de sexos opostos se casem e constituam uma família?