É esse tipo de pensamento relativista que leva algumas pessoas a pensar que Supremacismo Negro é compreensível e aceitável, pois teoricamente seria uma reação dos oprimidos ao Supremacismo Branco, esse sim malvado e deve ser combatido. Ambos estão errados e devem ser combatidos.
Orgulho Negro e Orgulho Branco estão "errados". Ninguém deve ter vergonha de sua cor, mas é idiotice ter orgulho e se achar superior por isso.
Discordo muito. Esta é uma análise desatenta e superficial.
A começar pela equivalência em "supremacia negra" e "orgulho negro". Esta equivalência existe entre "supremacia branca" e "orgulho branco", pois "orgulho branco" nada mais é do que um eufemismo para quem não quer usar explicitamente a expressão "supremacia branca".
Ora, nós concordamos que qualquer ideia de supremacia racial é idiota. Raça é o mesmo que sub-espécie, e especialmente depois do sequenciamento do genoma humano ninguém mais pode postular que a espécie Homo Sapiens Sapiens possua sub-espécies. Quer dizer, de um ponto de vista biológico não existem diversas raças humanas. Sem mencionar o absurdo ainda maior de terem tentado fazer esta classificação baseada na cor da pele, segundo a qual guerreiros gigantes Mazai pertenceriam à mesma raça dos pigmeus africanos.
Mas é preciso entender essa coisa do "black power" de um ponto de vista histórico, porque coisa alguma nasce do nada e nem pra nada. Na década de 60, quando começaram os grandes movimentos pelos direitos civis nos EUA, os negros americanos estavam marginalmente inseridos em uma sociedade cujos valores forjavam uma visão extremamente negativa, pejorativa até, destes mesmos negros.
Isto se refletia não só na maneira como os brancos viam os negros, mas também na forma como os próprios negros viam a si próprios. Por exemplo: no Alabama os negros não estavam proibidos de votar ( alguém me corrija se estiver errado ) porém os negros NÃO VOTAVAM. Era como se os próprios negros se vissem como cidadãos de segunda categoria, que não tivessem os mesmos direitos básicos de cidadania que os brancos.
Esse tipo de situação não se altera apenas com leis que garantam igualdade, porque como se vê, a lei garantia voto tanto a brancos como a negros, e no entanto a população negra não tinha o hábito de votar. A discriminação vai além dos aspectos legais, de política de Estado, porque a forma mais opressora de discriminação ainda são os valores preconceituosos culturalmente arraigados.
E estes valores, a experiência mostra, são absorvidos como verdades tanto por opressores como por
oprimidos.
Então as primeiras pessoas que pensaram e entenderam estes problemas, souberam que não bastaria um movimento de direitos civis que fomentasse leis mais justas para homens e mulheres, negros e brancos... mas também trabalhar estes valores, mostrar que o relativo era tido como absoluto, que o conjuntural estava sendo visto como intrínseco.
É preciso transformar também a cabeça das pessoas, não apenas as leis. Por isso a necessidade de um resgate positivo da herança negra, das virtudes da cultura negra, das qualidades da arte negra e da importância de sua influência na própria arte ocidental, etc... Porque o próprio negro precisava criar uma percepção positiva da sua identidade.
Daí surgiram expressões como "black power", "black is beautiful"... tudo na esteira desse movimento. Da mesma forma que as feministas foram buscar na História exemplos importantes de contribuições de mulheres para a humanidade.
Nada disso tinha a ver com supremacismo. Não se pode fazer nenhuma relação com a propaganda de Joseph Goebells na Alemanha Nazista. Se tratava apenas de trabalhar a auto-estima destes grupos, porque estas pessoas já nasciam em um meio que introjetava inconscientemente uma crença limitante de auto-incapacidade.
Agora, se ocorrem e ocorreram distorções e exageros, isso é outra história. "Supremacia negra" já é uma bobagem, mas é preciso dar valor às palavras porque as palavras de fato têm muita força. Um simples palavra como "nigger" se já assumiu uma conotação pejorativa, então já não é mais uma simples palavra: cada vez que é usada ela reforça e substitui todo um discurso racista, porque cada vez que é usada esta palavra reforça nos outros, e até na própria pessoa, uma visão desqualificada e pejorativa de quem está sendo designado por esse termo.
Todas estas nuances do problema são reais e objetivas, mas como sempre acontece, acaba-se perdendo de vista porque determinadas coisas surgiram e pra quê surgiram, e muitos começam a fazer um uso "xiita" e sem muita reflexão de determinadas propostas, como acontece com o caso do Politicamente Correto.
Mas se você souber como e por quê surgiram expressões como "orgulho negro" e "orgulho branco" não tem como não ver que na verdade não existe uma equivalência semântica, porque as intenções não declaradas são totalmente diferentes. É um pouco ingênuo ( e é essa ingenuidade que os neo-racistas exploram ) achar que simplesmente se trocou "negro" por "branco" e é hipocrisia de quem diz o contrário.
Simplesmente:
"orgulho negro" <> "supremacia negra"
"orgulho branco" = "supremacia branca" = "não quero que não-brancos tenham os mesmos direitos"