Entendo tudo o que você disse, Pedro Reis. Mas o fato de o orgulho negro ter se originado num contexto de discriminação em que os negros precisaram explicitar que não há motivos para se envergonhar de sua etnia, não modifica o fato de que isso pode, sim, por meio de um 'efeito mola', desencadear uma contra-reação tão racista, discriminatória e preconceituosa como a supremacia branca, e talvez tenha sido isso que o Buckaroo falou sobre processos que se retroalimentam; talvez esse orgulho negro, essa necessidade de afirmar uma auto-imagem positiva, contribua para uma frequente ocorrência de inversão dos papéis de "opressores X oprimidos". Quando, ao invés de acabar com a opressão, essas correntes supremacistas negras invertem os papéis de opressores X oprimidos, surge do lado branco algumas correntes com a necessidade de, também, afirmar-se positivamente, e dessas derivam as correntes supremacistas e assim por diante, numa guerra racial infindável.
Bom, eu não acredito que seja exatamente isso que esteja acontecendo. Pelo menos aqui no Brasil.
Recentemente postaram aqui um vídeo de uma menina negra interrompendo uma aula na USP para fazer um discurso bastante agressivo, defendendo o sistema de cotas e ao mesmo tempo culpando uma suposta raça branca por todas as mazelas dos negros.
Me lembro até que em certo momento ela disse: " Pra vocês estarem aqui minha mãe teve que lavar muito chão de banheiro!"
Pouco depois se descobriu que essa moça é de classe média alta, que viaja com frequência ao exterior, que estudou toda vida em boas escolas particulares, e, claro, sua mãe jamais lavou banheiro algum.
Pareceu muito hipócrita. Porque foi muito hipócrita.
Mas o que levam estas pessoas a fazerem estas encenações ( lembro até que ela estava de sandálias de borracha, meio fantasiada de pobre )? Eu sei muito bem porque também já estudei em faculdade pública, especialmente estudei em uma onde o DA era um dos mais ativos e influentes entre as federais no Brasil, e vi bem como funciona essa coisa.
Todo, ou quase todo o movimento estudantil, é marionetado por partidos políticos. São braços de partidos políticos infiltrados nas universidades. Existem até os chamados "alunos profissionais", caras que ficam mais de uma década na universidade sem se formar ( é pública, não estão pagando mesmo ) fazendo política estudantil. Política esta que o menos que se interesse são por questões relacionadas com o interesse dos alunos.
Estas pessoas, que deve ser o caso também dessa menina, usam o movimento estudantil como um trampolim para uma futura carreira política. Um exemplo que todo mundo conhece é o Lindenberg Farias.
Como quase tudo que se relaciona com política raramente algo é verdadeiro. Ela não é realmente sectária, supremacista negra, ou coisa semelhante, isso muito mais provavelmente não passa de um comportamento oportunista.
Se você começar a defender o absurdo de que negros devem ser indenizados pelo Estado porque há mais de cem anos houve escravidão no Brasil, possivelmente, se você for negra, consiga fisgar aí um mandatozinho de vereadora, quem sabe até de deputada... porque vai estar apelando para uma faixa do eleitorado que simplesmente não acharia ruim receber uma graninha extra inesperada.
Na minha análise, é isto que parece estar por trás desses discursos mais radicais que se vê em postulantes de líderes de movimentos negros no Brasil: mera e tão somente oportunismo político.