Vocês desvirtuaram e bifurcaram completamente o assunto.
Vamos lembrar que a pergunta que abre o tópico é : "Quando o orgulho de ser branco se torna racismo".
Só para saber do que estamos falando, porque parece que isso já ficou meio perdido pelo meio do caminho.
Quando? É o que se pergunta.
Resposta: O "orgulho branco" já nasceu racista. Esta foi uma expressão cunhada por George Lincoln Rockwell, um racista norte-americano, supremacista branco, e foi usada justamente como um eufemismo para o termo "superioridade branca". A intenção foi se apropriar de um slogan do movimento pelos direitos das minorias negras para justificar o que na verdade era um discurso racista, defendendo a manutenção e até ampliação dos privilégios de uma certa parcela étnica, como sendo algo equivalente à luta das minorias negras por igualdade.
Como ninguém aqui é retardado é desnecessário explicar porque essa retórica é absurda. Essa retórica é idêntica à do parlamentar bobalhão que está querendo instituir o "Dia do Orgulho Hétero". Mas para os evanjegues parece fazer muito sentido.
Que existam ou tenham existido movimentos negros radicais, sectários, que existam pessoas usando o movimento negro para alavancar uma carreira política, que existam até pessoas desse tipo interessadas mesmo em fomentar o racismo porque isso favorece a plataforma e eles oportunamente se apresentam como representantes para possíveis milhões de votos, que possam existir dez mil milhões de variações sobre o tema, isso é natural da diversidade humana e da complexidade das relações sociais norteadas, no fundo, sempre por interesses pessoais.
Interesses que podem ser legítimos ou ilegítimos, morais ou imorais.
Só que não é o que se propôs discutir aqui. Implicitamente a questão colocada é se a ideia de estimular a população negra a construir uma auto-imagem positiva, como contraposição a velhos esteriótipos culturalmente arraigados, tão nefastos que chegam a minar em muitas pessoas negras a confiança na sua própria capacidade de atingir os mesmos objetivos que pessoas brancas são capazes, pode ser considerado uma forma de racismo. E também, claro, como esse entendimento implica no entendimento da falta de propósito de ser declarar o orgulho branco, um genérico orgulho de pertencer a uma "raça branca". A menos que se admita o verdadeiro propósito por trás desse tipo de declaração.
Mas o "orgulho negro" representava a mesma coisa? Definitivamente não. É o oposto do racismo, foi uma das armas usadas na luta contra o racismo.
E se alguém por acaso desvirtuar e corromper este objetivo e real intenção, é outra história. É outra discussão.
Deem uma boa olhada nas 3 imagens de anúncios que eu postei ali em cima. Os 3 anúncios são idênticos: os "negrinhos" são retradados felizes e sorridentes depois de terem sido pintados de branco. Há uma mensagem muito clara aí, expressando os valores da cultura que criou esse tipo de propaganda. " Ser negro é uma condição inferior, é ruim, é algo referenciado de forma pejorativa, é motivo de vergonha, é algo que não se deva querer ser."
E como se confronta séculos desse tipo de programação cultural, crenças já profundamente introjetadas não só por brancos mas até pelos próprios negros?
É evidente que é preciso uma re-programação. O Obama ter ocupado a Casa Branca, não tenham dúvida que é uma "re-programação", mas ele também só chegou lá depois de décadas de reprogramação.
Com certeza não bastou dar acesso às universidades, em uma cultura onde a publicidade pinta de branco negrinhos para que eles fiquem felizes, ninguém votaria em um negro para presidente. Nem os próprios negros.
Esse discurso do movimento negro, como o Manhattan aí já explicou, originalmente era nada mais nada menos que um discurso necessário de desconstrução de uma crença de identidade para reconstruir outra.
Uma identidade positiva, virtuosa, confiante.
Originalmente. E continua sendo sempre que usado com essa intenção.
Mas meu deus do céu, quem é que vai rotular de nazista, racista, ou o que valha, uma pessoa que diz ter orgulho de ser de origem alemã?
Fala sério! Aqui perto há uma cidade chamada Friburgo, de colonização predominantemente suíça e alemã. O orgulho da herança alemã está estampado por toda a cidade, até nos telhados em ângulos agudos das casas, esperando uma neve que nunca irá cair. Não tem como confundir uma coisa com outra, isso é viagem de vocês. Não dá pra confundir Oktober Fest com um branco, de cabeça raspada, usando uma camiseta com "White Power" estampado na frente.
São mensagens! Tanto a pessoa construir no Brasil uma casa com telhado de neve, e usar uma camisa White Pride, são mensagens. A primeira é uma mensagem de orgulho, a segunda é uma mensagem racista. E quem não tiver dois neurônios com um quebra-molas no meio vai saber a diferença.