A
seleção natural é a própria inutilidade. Tem
por base a sobrevivência de instruções autorreplicantes
para a autorreplicação...
Ao
contrário do nosso designer hipoteticamente benévolo, a
seleção natural é indiferente à intensidade do sofrimento,
exceto quando ele afeta a sobrevivência e a reprodução.
E, exatamente como esperaríamos se a sobrevivência
dos mais aptos, e não uma criação planejada, alicerçasse
o mundo natural, este parece não tomar providência
alguma para reduzir o total de sofrimento. Stephen Jay
Gould refletiu sobre essa questão em um elegante ensaio
sobre a "natureza amoral". Foi nesse texto que tomei
conhecimento de que a célebre indignação de Darwin
com as vespas icneumonídeas, citada no fim do capítulo
anterior, está longe de ser ímpar entre os pensadores
vitorianos.
A seleção natural é
uma bomba de improbabilidade: um processo que gera o
estatisticamente improvável. Ela aproveita
sistematicamente a minoria de mudanças aleatórias que
têm o que é preciso para a sobrevivência e as acumula,
passinho por passinho no decorrer de escalas de tempo
inimagináveis, até que a evolução finalmente
escale montanhas de improbabilidade e diversidade, picos cuja
altura e alcance parecem não conhecer limites: a
montanha metafórica que batizei como "
monte
Improvável". A bomba de improbabilidade da seleção
natural, que impele a
complexidade da vida na escalada
do "monte Improvável", é um tipo de equivalente
estatístico da elevação da água pela energia do sol ao
topo de uma montanha convencional. A vida ganha
complexidade pela evolução unicamente porque a
seleção natural impele-a, localmentea afastar-se do
estatisticamente provável em direção ao estatisticamente
improvável., E isso só é possível graças ao incessante
fornecimento de
energia do sol.
Filosofa, filosofa, e acaba no auto da contradição- a seleção natural impele os mais aptos,
localmente,em dreção à complexidade, que deveria ser de maior sucesso reprodutivo. De fato qualquer um pode observar que não é assim...
Quanto mais complexo menos se reproduz...

Do livro O maior espetáculo da terra do Dawkins-
E o que é seleção natural mesmo?