Autor Tópico: Rússia, Ucrânia e o Retorno da Guerra Fria  (Lida 9408 vezes)

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Offline Lorentz

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Re:Rússia, Ucrânia e o Retorno da Guerra Fria
« Resposta #100 Online: 20 de Julho de 2014, 10:53:12 »
Para, para tudo!
Parem todas as máquinas!

Já foi descoberto o motivo do abate do avião malaio. Ele sofreu um ataque homofóbico e os EUA patrocinaram a rebeldia "lôca".



Esse cara já está abusando do direito de poder falar merda.

Alguns presidentes destepaíz foram bem mais longe.
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Offline Lorentz

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Re:Rússia, Ucrânia e o Retorno da Guerra Fria
« Resposta #101 Online: 22 de Julho de 2014, 11:48:16 »
Melhor resumo que li até agora sobre a queda do avião:
http://meiobit.com/293003/malaysia-airlines-voo-mh17-perguntas-e-respostas/
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Offline PauloCesar

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Re:Rússia, Ucrânia e o Retorno da Guerra Fria
« Resposta #102 Online: 24 de Julho de 2014, 13:03:42 »
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Offline Jovem Cético

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Offline Jack Carver

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Re:Rússia, Ucrânia e o Retorno da Guerra Fria
« Resposta #104 Online: 21 de Fevereiro de 2015, 23:37:11 »
Recomendação de canal:

http://www.youtube.com/user/ThePavelListe/videos




Citar
The German magazine “Focus” described three possible scenarios for further development of the events in Ukraine.

Poroshenko’s army has little chance to control the Eastern Ukraine as it is too weak to rebuff militias’ attacks, the German magazine “Focus” reported.

The magazine suggests three scenarios for further developments of the situation in Ukraine.

Scenario 1:

Ukraine’s President Poroshenko imposes martial law in Ukraine and declares a state of emergency.  This leads to the limitation of citizens’ rights and possible expropriations to gain money for the country’s defense. The conflict would escalate with renewed force.

However, this scenario is considered highly unlikely as Ukraine has old weapons and is weaker than independence supporters from the military point of view.  The country is also suffering from severe economic recession and needs a respite to solve its domestic problems.

Kiev could have a chance of success only in case of massive military support from the Western countries, the magazine writes. However, Germany has already rejected this option and the US is likely to abandon the idea of weapon supplies as well.

Scenario 2:

Militias in the South-Eastern Ukraine seek to bring the whole Donetsk and Luhansk regions under their control. The fighting continues, Kiev imposes martial law and deploys soldiers to get the territories back.

In this case, Western countries may consent to supply Kiev with weapons or impose further sanctions against Russia.

According to the magazine, this is a likely scenario as the expansion of the area under control to the entire regions of Donetsk and Lugansk would be useful for the militias from the economic point of view.

Scenario 3:

Minsk agreements are implemented, and parties are content with their current territories. The Ukrainian army and militias withdraw their weaponry, while DPR and LPR receive a special status. The conflict becomes ‘frozen’, like in Moldova and Transnistria.

This scenario is likely, but contains a lot of stumbling blocks that should be overcome, the magazine reports. If Kiev does not make concessions to the rebels, a new escalation will be likely to occur anytime.

http://www.infowars.com/poroshenkos-army-is-too-weak-to-control-eastern-ukraine-german-media/
---
ps:
<a href="https://www.youtube.com/v/uu8JolUBNfg" target="_blank" class="new_win">https://www.youtube.com/v/uu8JolUBNfg</a>
 :|


ps2:  Se McCain tivesse ficado em casa, muitos ucranianos estariam vivos by Ron Paul
http://br.sputniknews.com/mundo/20150223/240822.html

« Última modificação: 23 de Fevereiro de 2015, 15:55:43 por Jack Carver »
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Offline Jack Carver

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Re:Rússia, Ucrânia e o Retorno da Guerra Fria
« Resposta #105 Online: 25 de Fevereiro de 2015, 20:03:02 »
<a href="http://www.youtube.com/v/gYELjtf-MY0" target="_blank" class="new_win">http://www.youtube.com/v/gYELjtf-MY0</a>

Mais detalhes: http://www.dailymail.co.uk/news/article-2968408/Going-toe-toe-Putin-British-military-strength-300-yards-Russian-border.html?ito=social-facebook
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Offline Geotecton

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Re:Rússia, Ucrânia e o Retorno da Guerra Fria
« Resposta #106 Online: 25 de Fevereiro de 2015, 20:09:31 »
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ps2:  Se McCain tivesse ficado em casa, muitos ucranianos estariam vivos by Ron Paul
http://br.sputniknews.com/mundo/20150223/240822.html

Que idiotice.

Neste caso, a culpa é somente dos russos, especialmente do 'fdp' do Putin e sua política imperialista de expansão territorial.
Foto USGS

Offline Moro

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Re:Rússia, Ucrânia e o Retorno da Guerra Fria
« Resposta #107 Online: 25 de Fevereiro de 2015, 21:14:08 »
Sempre que vejo donbass leio dumbass e do Putin
“If an ideology is peaceful, we will see its extremists and literalists as the most peaceful people on earth, that's called common sense.”

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"To claim that someone is not motivated by what they say is motivating them, means you know what motivates them better than they do."

Peter Boghossian

Sacred cows make the best hamburgers

I'm not convinced that faith can move mountains, but I've seen what it can do to skyscrapers."  --William Gascoyne

Offline Jack Carver

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Re:Rússia, Ucrânia e o Retorno da Guerra Fria
« Resposta #108 Online: 25 de Fevereiro de 2015, 21:55:32 »
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ps2:  Se McCain tivesse ficado em casa, muitos ucranianos estariam vivos by Ron Paul
http://br.sputniknews.com/mundo/20150223/240822.html

Que idiotice.

Neste caso, a culpa é somente dos russos, especialmente do 'fdp' do Putin e sua política imperialista de expansão territorial.
Um russo qualquer responderia + ou - assim:

- Putin não fez mais que a obrigação em proteger os cidadãos de língua russa no leste ucraniano e  no Sul(Crimeia* - onde antes já existia uma base militar russa), visto que, majoritariamente, estes apoiaram/sustentaram os levantes em Donbas(DRP e LRP), e reprovaram aquilo que foi um golpe de estado perpetrado por grupos liderados pela extrema-direita a um governo eleito democraticamente, apoiado pela elite ocidental pró-OTAN visando de forma estratégica isolar a Rússia. Ainda mais depois do que ocorreu em Odessa, onde uma centena de manifestantes pró-russos foram carbonizados num ataque de coquetéis molotov a um prédio tomado pelos civis separatistas, o que chocou o pais. Duvido que os EUA iria aceitar qualquer coisa parecida no México sendo o elemento influente a política externa russa. Se os EUA não respeitam a ONU pq a Rússia teria?

*Discurso histórico de Putin sobre o reconhecimento da Crimeia:

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/03/leia-integra-do-discurso-em-que-putim-reconhece-crimeia.html


« Última modificação: 25 de Fevereiro de 2015, 22:48:44 por Jack Carver »
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Offline Geotecton

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Re:Rússia, Ucrânia e o Retorno da Guerra Fria
« Resposta #109 Online: 25 de Fevereiro de 2015, 22:10:33 »
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ps2:  Se McCain tivesse ficado em casa, muitos ucranianos estariam vivos by Ron Paul
http://br.sputniknews.com/mundo/20150223/240822.html

Que idiotice.

Neste caso, a culpa é somente dos russos, especialmente do 'fdp' do Putin e sua política imperialista de expansão territorial.
Um russo qualquer responderia + ou - assim:

- Putin não fez mais que a obrigação em proteger os cidadãos de língua russa no leste ucraniano e  no Sul(Crimeia* - onde antes já existia uma base militar russa), visto que, majoritariamente, estes apoiaram/sustentaram os levantes em Donbas(DRP e LDP), e reprovaram aquilo que foi um golpe de estado perpetrado por grupos liderados pela extrema-direita a um governo eleito democraticamente, apoiado pela elite ocidental pró-OTAN visando de forma estratégica isolar a Rússia. Ainda mais depois do que ocorreu em Odessa, onde uma centena de manifestantes pró-russos foram carbonizados num ataque de coquetéis molotov a um prédio tomado pelos civis separatistas, o que chocou o pais. Duvido que os EUA iria aceitar qualquer coisa parecida no México sendo o elemento influente a política externa russa. Se os EUA não respeitam a ONU pq a Rússia teria?

*Discurso histórico de Putin sobre o reconhecimento da Crimeia:

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/03/leia-integra-do-discurso-em-que-putim-reconhece-crimeia.html

Perfeito.

Mas continua sendo um 'fdp' imperialista.

E mentiroso.
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Offline Jack Carver

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Re:Rússia, Ucrânia e o Retorno da Guerra Fria
« Resposta #110 Online: 25 de Fevereiro de 2015, 22:44:08 »
Perfeito.

Mas continua sendo um 'fdp' imperialista.

E mentiroso.
E um assassino frio tbm.

Particulamente, acho que não adianta forçar a barra nessa altura do campeonato, o Kremlin foi mais rápido no gatilho geopolítico na Ucrânia e garantiu a "sua" parte enquanto o país se reorganizava.
Sinceramente, as coisas podem ficar piores do que já estão se continuar; já é tarde demais para isso. Existem meios menos traumáticos de tentar resolver, embora pareceria mais demorado e nada garantido. Mas o Ocidente parece que quer ver o confronto a qualquer custo, menos a custo de vida de seus militares.
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Re:Rússia, Ucrânia e o Retorno da Guerra Fria
« Resposta #111 Online: 26 de Março de 2015, 00:29:13 »
Na Ucrânia, chegaram novos carregamentos militares dos EUA. Cessar-fogo ameaçado.
<a href="https://www.youtube.com/v/aqiyVRSqjbI" target="_blank" class="new_win">https://www.youtube.com/v/aqiyVRSqjbI</a>
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Offline Pagão

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Re:Rússia, Ucrânia e o Retorno da Guerra Fria
« Resposta #112 Online: 26 de Março de 2015, 16:35:28 »
Na Ucrânia, chegaram novos carregamentos militares dos EUA. Cessar-fogo ameaçado.
<a href="https://www.youtube.com/v/aqiyVRSqjbI" target="_blank" class="new_win">https://www.youtube.com/v/aqiyVRSqjbI</a>

Cessar-fogo ameaçado?........ com esses "carrinhos"... ainda se fossem tanques pesados... Mas para os russos qualquer "desculpa" serve....
Nenhuma argumentação racional exerce efeitos racionais sobre um indivíduo que não deseje adotar uma atitude racional. - K.Popper

Offline Jack Carver

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Re:Rússia, Ucrânia e o Retorno da Guerra Fria
« Resposta #113 Online: 26 de Março de 2015, 23:25:12 »
Cessar-fogo ameaçado?........ com esses "carrinhos"... ainda se fossem tanques pesados... Mas para os russos qualquer "desculpa" serve....
Que vc esteja certo, não seja uma real ameaça à trégua. No entanto, o Congresso americano já autorizou o envio de armas letais para a Ucrânia, creio que este seja o primeiro lote, não sei. Em Abril próximo, militares americanos desembarcarão para treinamento intensivo do exército local.
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Offline Jack Carver

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Re:Rússia, Ucrânia e o Retorno da Guerra Fria
« Resposta #114 Online: 16 de Abril de 2015, 15:11:53 »
Nas costas do Putin ainda pesa a desconfiança de que ele teria mandado apagar o líder opositor assassinado há 2 meses. No entanto, na nova Ucrânia não é diferente.

http://www.dw.de/dois-opositores-s%C3%A3o-assassinados-na-ucr%C3%A2nia/a-18387944
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Offline JJ

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Re:Rússia, Ucrânia e o Retorno da Guerra Fria
« Resposta #115 Online: 09 de Outubro de 2016, 15:35:08 »
Ucrânia: o obscuro jogo dos governos ocidentais

– 7 DE MARÇO DE 2014


Kiev, janeiro: saudosistas do nazismo homenageiam Stepan Bandera, líder ucraniano que colaborou com Hitler


Que terá levado EUA e União Europeia a apoiar governo em que nazistas controlam ministérios e polícia. Por que é hipócrita discurso contra Putin


Por Seumas Milne,  no The Guardian     | Tradução: Viomundo


Pronunciamentos diplomáticos são reconhecidos pela hipocrisia e moral dupla. Mas as denúncias ocidentais sobre a intervenção russa na Crimeia atingiram novas profundidades de auto-paródia. A incursão até agora sem sangue é “um incrível ato de agressão”, declarou o secretário de Estado John Kerry, dos Estados Unidos.


No século 21 você não invade países “sob pretextos completamente inventados”, ele insistiu, no momento em que aliados dos Estados Unidos concordavam que foi uma inaceitável violação da lei internacional, para a qual “haverá custos”.


O fato de a “indigação” partir dos Estados que lançaram o maior ato de agressão não-provocada da História moderna, com um pretexto inventado — contra o Iraque, uma guerra ilegal que já custou a vida de 500 mil pessoas, além da invasão do Afeganistão, troca de regime sangrenta na Líbia e a morte de milhares em ataques de aviões não tripulados no Paquistão, Iêmen e Somália, tudo sem autorização das Nações Unidos — deveria deixar claro que as declarações vão além do absurdo.


A agressão ocidental e a matança sem lei estão em escala totalmente distinta de que qualquer coisa que a Rússia tenha imaginado, muito menos levado adiante. Isso remove qualquer base crível para os Estados Unidos e seus aliados protestarem contra as transgressões russas. Mas, além disso, os poderes ocidentais também jogaram um papel central em criar a crise na Ucrânia.


Os Estados Unidos e os poderes europeus promoveram abertamente os protestos para derrubar o governo corrupto — mas eleito — de Viktor Yanukovych. Eles foram disparados pela controvérsia sobre um acordo tudo-ou-nada com a União Europeia, que teria excluído qualquer associação entre a Ucrânia e a Rússia.


Na sua notória chamada telefônica “foda-se a União Europeia”, que vazou no mês passado, a subsecretária de Estado norte-americana Victoria Nuland pode ser ouvida descrevendo como seria um futuro governo pós-Yanukovych — governo que em seguida virou realidade extamenente tal qual descreveu, quando o presidente foi deposto depois da escalada de violência, semanas depois.


O presidente tinha, então, perdido autoridade política, mas seu impeachment improvisado foi constitucionalmente dúbio. Em seu lugar, surgiu um governo de oligarcas, de neoliberais recauchutados da Revolução Laranja e de neofacistas, que teve como um dos primeiros atos a remoção do status oficial da língua russa, falada pela maioria nas regiões sul e leste, ao mesmo tempo em que se agia para banir o Partido Comunista, que teve 13% dos votos nas eleições mais recentes.


Alega-se, às vezes, que o papel dos fascistas nas manifestações foi exagerado pela propaganda russa, para justificar as manobras de Vladimir Putin na Crimeia. A realidade é suficientemente alarmante para não precisar de exagero. Ativistas informam que a extrema-direita representava cerca de um terço dos manifestantes, mas foi decisiva nos confrontos com a polícia.


TEXTO-MEIO


Gangues fascistas agora patrulham as ruas. Mas também estão nos corredores do poder em Kiev. O partido de extrema-direita, o Svoboda [ex-Partido Nacional Socialista], cujo líder denunciou “atividades criminosas” do “judaísmo organizado” e que foi condenado pelo Parlamento europeu por sua visão “racista e antissemita”, tem cinco postos ministeriais no novo governo, inclusive os de vice-primeiro-ministro e procurador-geral. O líder do ainda mais extremo Right Sector, que esteve no coração da violência nas ruas, agora é vice-chefe de segurança nacional da Ucrânia.


É a primeira vez que se vê neonazistas em um governo na Europa, depois da Segunda Guerra Mundial. E isso é, num governo não-eleito, apoiado por Estados Unidos e União Europeia. Demonstrando desprezo pelos ucranianos comuns que protestaram contra a corrupção e esperavam mudança real, o novo governo indicou dois oligarcas bilionários — um deles administra seus negócios desde a Suiça — para serem os novos governantes das cidades de Donetsk e Dnepropetrovsk, no leste do país.


Enquanto isso, o Fundo Monetário Internacional está preparando, para a economia ucraniana, um plano de “austeridade” de fazer chorar. Ele aprofundará a pobreza e o desemprego.


De uma perspectiva de longo prazo, a crise na Ucrânia é produto do desastroso estilhaçamento da União Soviética, estilo Versalhes, no início dos anos 90. Como na Iugoslávia, gente que estava contente em ser uma minoria nacional numa unidade administrativa de um Estado multinacional — russos na Ucrânia soviética, ossetas do sul na Geórgia soviética — passaram a se sentir diferentes quando estas unidades se tornaram Estados pelos quais eles tinham pouca lealdade.


No caso da Crimeia, que foi transferida para a Ucrânia por Nikita Kruschev apenas nos anos 1950, isso está claro para a maioria russa. Ao contrário do que foi prometido na época, os Estados Unidos e seus aliados desde então passaram a expandir a OTAN até as fronteiras da Rússia, incorporando nove ex-integrantes do Pacto de Varsóvia e três ex-repúblicas soviéticas ao que efetivamente se tornou uma aliança militar anti-russa na Europa. O acordo de associação que provocou a crise ucraniana também tinha cláusulas que integravam a Ucrânia à estrutura de defesa da União Europeia.


Aquela expansão militar ocidental foi suspensa pela primeira vez em 2008, quando a Geórgia, estado-cliente dos Estados Unidos, atacou forças russas no território contestado da Ossétia do Sul e foi repelida. O confronto curto, mas sangrento, também sinalizou o fim do mundo unipolar de George Bush, no qual o império dos Estados Unidos imporia sua vontade sem desafios em todos os continentes.


Dado este passado, não é surpreendente que a Rússia tenha agido para evitar que a mais nevrálgica e estrategicamente sensível Ucrânia caia no campo ocidental, especialmente quando a única grande base naval de água quente da Rússia é na Crimeia.


Claramente, a justificativa de Putin para a intervenção — proteção “humanitária” e um apelo de um presidente deposto — é legalmente e politicamente frágil, ainda que não na escala das “armas de destruição em massa”. O nacionalismo conservador e o regime oligárquico de Putin também não tem grande apelo internacional.


Mas o papel da Rússia como uma contrapeso limitado ao poder unilateral do Ocidente tem apoio. Num mundo onde os Estados Unidos, o Reino Unido, a França e seus aliados tornaram o desrespeito às leis internacional uma rotina permanente sob um verniz moral, outros países são  tentados a praticar o mesmo.


Felizmente, os únicos tiros disparados pela forças russas até agora foram para o ar. Mas o perigo de uma escalada de intervenção estrangeira é óbvio. O que é necessário em vez disso é um acordo negociado na Ucrânia, inclusive com um governo de coalizão em Kiev que não tenha fascistas; uma constituição federal que garanta autonomia regional; apoio econômico que não pauperize a maioria; e uma oportunidade para que o povo da Criméia escolha seu próprio futuro. Qualquer outra solução pode espalhar o conflito.


http://outraspalavras.net/outrasmidias/destaque-outras-midias/crimeia-o-obscuro-jogo-dos-governos-ocidentais/

Offline André Luiz

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Re:Rússia, Ucrânia e o Retorno da Guerra Fria
« Resposta #116 Online: 09 de Outubro de 2016, 17:01:08 »
Prenderam aquele mercenario brasileiro em Kiev, mas o que ele esperava indo pra Kiev? Cara burro

http://www.defesanet.com.br/ecos/noticia/23722/UCRANIA---Servico-de-Seguranca-da-Ucrania-prende-mercenario-brasileiro/

Offline JJ

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Re:Rússia, Ucrânia e o Retorno da Guerra Fria
« Resposta #117 Online: 13 de Maio de 2018, 07:16:26 »
Rússia, uma superpotência?


Jonathan Adelman não tem dúvidas em responder com um “sim” à pergunta que nomeia este tópico. Em seu instigante artigo intitulado “Pensando no impensável: a Rússia re-emergiu como uma potência” (disponível aqui) o professor da Universidade de Denver reflete sobre o fato de que tem sido muito negativa, nos últimos anos, a imagem ocidental da Rússia e de Putin. Ele lembra como o presidente Obama chegou a chamar publicamente Putin de “um estudante que se esconde em sua cadeira no fundo da sala”, ridicularizando o país como um mero “poder regional”. Por outro lado, embora a Rússia tenha hoje – mais que nada no Ocidente – uma imagem deturpada e decadente, como a posição do país como “superpotência” chega a ser levada a sério? Como, depois do colapso soviético, pode a Rússia voltar a se tornar uma grande potência, sendo que não houve no país uma revolução agrária ou de consumo capaz de impulsionar a modernização do país, e em vez disso seu principal suporte econômico, o petróleo, está há anos com preços desagradavelmente baixos? Como o país pode levantar seu status de superpotência tendo um líder tão “ruim”? Adelman questiona: como pode este líder ser tão ruim, depois de habilidosamente ter manejado intervenções militares bem sucedidas na Geórgia (2008), Crimeia (2014), Ucrânia (2014-2016) e Síria (2015-2016)? O professor constata que Putin tem um brilhante Ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, que conta com um competente Ministério das Relações Exteriores, e segue enumerando elogios ao presidente russo, que “reconstruiu a capacidade militar do país, ao gastar US$ 49 bilhões por ano em segurança”. A partir daí enumera aspectos favoráveis à visão da Rússia como superpotência global:


A Rússia mantém 1.790 armas nucleares estratégicas. Com mais de 140 milhões de pessoas e 13 milhões de graduados universitários, a Rússia tem quase um milhão de cientistas, engenheiros e técnicos de primeira classe, a maioria dos quais trabalham para os militares. Muitas antigas grandes potências já não são grandes potências. O Japão, que esmagou o exército russo na Guerra Sino-Japonesa de 1904, ocupou grande parte da China de 1937-1945 e tem uma economia de quatro trilhões de dólares já não é uma potência. Depois de sua derrota na Segunda Guerra Mundial, com a queda americana de bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki e na ocupação pós-guerra americana, o Japão prometeu uma intervenção no mundo e se recusou a adquirir armas nucleares. A Europa, que outrora estava repleta de grandes potências como a Alemanha, a França, a Inglaterra e a Austro-Hungria, passou agora a outra direção. A Alemanha bateu com firmeza os russos em cada batalha da Primeira Guerra Mundial e aproximou-se de fazer o mesmo em 1941 e 1942. Hoje, com fraca projeção de poder, as três potências têm menos de 1.000 tanques de combate e poucos porta-aviões. O fraco crescimento econômico (1,5% ao ano), os conflitos entre os seus 28 membros, a migração do Oriente Médio, problemas graves com membros mais fracos, como a Grécia, promovem questões domésticas em detrimento de questões internacionais. A China, com seu PIB de dez trilhões de dólares, mais de dois trilhões de dólares de exportações, mais de três trilhões de dólares em seu fundo de reserva, 1,35 bilhão de pessoas e 3,7 milhões de quilômetros quadrados de território, é uma grande potência futura. Ela fez um enorme progresso econômico desde que Deng Xiaopong lançou as Quatro Modernizações em 1978, contudo, os problemas que ainda restam são impressionantes: uma enorme poluição atmosférica, 675 milhões de camponeses, uma enorme corrupção governamental, uma ditadura autoritária de um partido, a falta de Estado de Direito, o envelhecimento acelerado da população, centenas de milhares de crianças se criando com apenas US$ 7.500 PIB. Seu poder militar, embora impulsionado por 150 bilhões de dólares de gastos anuais, ainda precisa de mais uma década para se tornar uma força verdadeiramente moderna. A Índia tem 20% de analfabetismo, 300 milhões de pessoas sem eletricidade e um PIB per capita de US$ 1.300, menos de três por cento dos Estados Unidos. Ela enfrenta o Paquistão, logo ao lado, com 200 bombas atômicas. Com mais de um bilhão de pessoas, a Índia será uma grande potência, mas não por várias décadas. Depois, há os Estados Unidos, a única superpotência mundial desde a vitória na Guerra Fria e uma das duas superpotências no mundo desde 1945. Sua economia de 18 trilhões de dólares, 17 das 20 maiores universidades do mundo, liderança mundial em alta tecnologia, mais de 550 bilhões de dólares em gastos militares e 330 milhões de pessoas tem uma séria vantagem sobre a Rússia. Mas, com o surgimento de candidatos presidenciais neo-isolacionistas populares, a recuperação econômica mais lenta desde a Grande Depressão e o declínio em seu setor manufatureiro, a administração falando em reduzir o tamanho do exército americano ao nível de 1940 e a semi-retirada de Obama do Oriente Médio, a porta que tinha sido fechada à Rússia foi aberta. O impensável tornou-se uma realidade. A Rússia, aparentemente acabada depois da derrota na Guerra Fria, agora está emergindo como uma grande potência potencial desafiando o Ocidente. Ela fez o impensável – tornou-se uma grande potência preenchendo o vazio deixado por outras grandes potências que agora se reduziram em tamanho, poder e influência.


A argumentação é boa, mas vamos “devagar com o andor”. Cabe analisar com maior atenção algumas das questões relativas ao poder geopolítico real da Rússia de Putin.


As relações da Rússia com a Europa


Quando cai a União Soviética, em 1991, a esperança dos liberais e democratas russos, além de parte da classe trabalhadora, era a de que a nova Federação Russa dotada de uma economia de mercado e liberdades políticas de estilo ocidental “voltaria à Europa”. Os trabalhadores desejavam algo talvez mais singelo, e certamente mais palpável: supermercados e lojas de bens de consumo bem abastecidos, emprego para adquirir o salário (portanto, meios para comprar as mercadorias) e estabilidade econômica e política. Hoje passados 26 anos desde o fim da URSS, em vez de plenamente integrada, a Rússia está mais afastada da Europa. Muitos russos, começar pelos líderes do país, o consideram uma civilização auto-sustentada que tem “ligações” com a Europa, mas que é, em vários sentidos, separada dela. Esse modo de ver o país entra em atrito com os legados do ex-presidente Boris Yeltsin e de Mikhail Gorbachev, que consideravam a Europa como um modelo a ser seguido, e se recuarmos mais alguns anos vai na contramão até mesmo da europeização da Rússia, proposta por Pedro, o Grande (Czar e imperador russo de 1682 a 1721 e 1721 a 1725, respectivamente).


Alguns analistas observam que a recusa mais recente à europeização se deve ao próprio modo como historicamente a Europa tem tratado as elites e o Estado russos. Depois do colapso da URSS os líderes da Federação russa demonstraram interesse em integrar as parcerias e instituições ocidentais, como por exemplo a OTAN e a União Européia (o Tratado de Maastricht, que deu origem à UE, foi redigido em fins de 1991), mas tais arranjos não ofereceram o nível de inclusão e envolvimento na tomada de decisões que Moscou cobiçava. A Rússia foi, então, admitida nos organismos de segundo escalão do continente, como por exemplo o Conselho da Europa, cujos propósitos são a defesa dos direitos humanos, o desenvolvimento democrático e a estabilidade político-social na Europa, ou mesmo a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa. No caso da OSCE, por exemplo, a Rússia herda coletivamente (junto às demais ex-repúblicas soviéticas) um assento em um fórum que a própria URSS co-fundou em 1975. Isso, em especial para os nacionalistas russos, foi obviamente uma forma de insulto ao país. Não por acaso ao longo do tempo a Federação Russa passou a criar suas próprias instituições em resposta às ocidentais: em termos militares o Pacto de Varsóvia foi uma resposta à OTAN, e em termos econômicos podemos elencar a COMECON como a resposta à OCDE. Mais recentemente surgiram outros tratados e blocos onde a Rússia é membro, como os BRICS, a União Econômica Eurasiática etc. O fato marcante em todas essas instituições e parcerias, de todo modo, é a crescente inclinação anti-ocidental do país, especialmente depois de 2014.


Com o fim das restrições da Guerra Fria os russos passaram a ter maiores contatos culturais, políticos, ideológicos e econômicos com a Europa ocidental. As ideias europeias de sociedades abertas e governabilidade democrática, promovidas por ONGs financiadas por estrangeiros, passaram a preencher o vazio ideológico deixado pelo marxismo-leninismo e pela propaganda soviética. O estilo de vida “europeu” assumiu aos poucos uma conotação positiva, e os russos passaram a desejar ser reconhecidos como camaradas europeus. No entanto, a sequência de frustrações nas relações diplomáticas entre Rússia e ocidente minou a integração plena da Rússia à Europa ocidental. A partir de meados da década de 90 a OTAN e a UE começaram a expandir-se para o leste, procurando consolidar os ganhos econômicos e políticos que o colapso soviético prometia. Nesse momento, as autoridades ocidentais deixaram claro que as principais instituições ocidentais não incluiriam a Rússia, alegando que o país não tinha a qualificação para tal, devido à lentidão das transições econômicas e democráticas. A desqualificação do país enquanto parceiro horizontalmente considerado se aprofunda ainda mais depois da crise financeira russa de 1998, quando Moscou deixa de pagar sua dívida, levando a Europa Ocidental a afirmar que a transição capitalista e democrática falhara e que o país entraria em um novo período de caos.


Na mídia, os líderes ocidentais sugeriam que a Rússia era “muito grande e muito original” para ser-lhe oferecido qualquer coisa para além de um relacionamento amigável, enquanto na prática e nos bastidores do poder tratavam a Rússia como irrelevante e arquitetavam um sistema global sem a presença dela nas esferas de decisão. A exceção foram os Estados Unidos e Reino Unido, que tiveram lideranças perspicazes a ponto de perceber que independentemente de sua força a Rússia recusaria a condição prévia máxima da integração ocidental: a aceitação da liderança norte-americana. Mesmo quando o poder russo atingiu um ponto baixo, Moscou exigiu um status efetivamente co-igual com os Estados Unidos, e sempre lidou de modo hostil com aliança da OTAN liderada pelos EUA. Em muitos sentidos ficava claro, a cada movimento do xadrez geopolítico, que mesmo que a Europa acolhesse a Rússia em suas instituições Moscou jamais aceitaria uma posição subordinada e de poder restrito à “ordem regional” (não por acaso Obama irritou tanto os russos ao afirmar que a Rússia era um líder regional).


Assim, em vez de integrar a Rússia no sistema euro-atlântico, os americanos e os europeus ocidentais começaram a se proteger contra o potencial renascimento das grandes ambições de Moscou. Essa foi uma razão pela qual a OTAN e a UE abriram suas portas para os antigos satélites e repúblicas da União Soviética, e é, por isso, também, que o Ocidente vem observando atentamente algumas movimentações internas à Rússia, como por exemplo o aumento do papel do Estado na economia, o crescente autoritarismo em Moscou, a difusão de um forte conservadorismo apoiado pela Igreja Ortodoxa Russa, o ressurgimento das forças armadas russas, modernizadas, etc. Todo esse desenrolar histórico levou não apenas as lideranças e elites, mas também os trabalhadores russos à convicção de que depois da Guerra fria o experimento de democracia, livre mercado e abertura política e econômica vivido pelo país foi um período de humilhação nacional que produziu desigualdades sociais e deixou a Rússia de joelhos frente aos estrangeiros. Essa análise, todavia, não é forjada em um sentido de que “no socialismo era melhor”, mas sim em termos de aspirações sociais a que o país volte a ser uma potência imperialista, “respeitada” em todo o globo etc. Vemos, então, o solo fértil onde não por acaso renasceu, com força, o patriotismo e nacionalismos russos.


Se até 2014 os russos olhavam de modo pragmático para a Europa ocidental, enquanto local de investimento, turismo, consumo etc., depois da intervenção militar na Ucrânia e da anexação da Crimeia, das tensões geopolíticas subsequentes, da crise econômica que se abateu sobre a Rússia e das sanções ocidentais contra o país, o povo russo chegou à convicção inabalável de que os meios de comunicação europeus e estadunidenses tinham tomado um viés anti-russo, tal como acontecera durante a Guerra Fria e, mais recentemente, durante a Guerra da Rússia com a Geórgia, em 2008. Forjou-se, para muitos russos, um cenário ideológico em que “o ocidente” é constituído de inimigos claramente voltados contra a “civilização russa”.


De acordo com uma pesquisa realizada em novembro de 2016 pelo Levada Center, 74% dos russos acreditam que as sanções visam enfraquecer e humilhar a Rússia, enquanto apenas 5% consideram as sanções como um instrumento para parar o conflito no leste da Ucrânia. Para os russos comuns que nunca foram de fato à Europa ocidental o continente é atualmente um território sem rumo, liderado por elites que estão prostradas diante de Washington. A União Europeia seria um aglomerado de países mergulhados em problemas criados por políticas abertas de imigração, perda de valores familiares tradicionais, ateísmo e libertinagem sexual.


O retorno de Putin ao poder em 2012 muda o modo como o Kremlin enxerga as relações russo-europeias: até 2012 a política oficial da Rússia apresentava o país como parte de uma “Europa global”, incluindo a América do Norte, a Europa propriamente dita e a Rússia. A partir de 2012, com os atritos com o presidente estadunidense Barack Obama, o endurecimento da postura da chanceler alemã Angela Merkel sobre a Rússia, as críticas europeias à intervenção russa na Síria, as sanções em resposta à intervenção na Ucrânia e a tomada da Crimeia, o Kremlin assumiu definitivamente que a Rússia constitui uma nação-civilização própria, para além da Europa. Com isso delineia-se uma mudança na geopolítica: a Rússia passa a re-calibrar suas políticas orientadas para o Ocidente com uma visão estratégica mais ampla, olhando também para o sul, o Oriente Médio e Norte da África, intervindo na Síria e aprofundando seus laços com o Egito, além de olhar para o leste, melhorando suas parcerias energéticas e militares com a China. Do mesmo modo, passa a dar atenção para o norte, no Ártico, começando a expandir a Rota do Mar do Norte, reivindicando áreas da plataforma continental da região e reconstruindo algumas instalações militares da era soviética.



Nesse novo quadro, a Europa deixou de ser um modelo e é agora apenas outro vizinho, parte de uma “Grande Eurásia”. Entre as prioridades estratégicas da Rússia, a Ásia tradicionalmente desempenhou um papel secundário em comparação com o Ocidente. Foi apenas a partir de meados da década de 1990 que o ministro das Relações Exteriores Yevgeny Primakov iniciou uma aproximação com a China e Índia. Em 2014, a deterioração das relações entre a Rússia e o Ocidente levou Moscou a começar a arquitetar um “grande pivot” para o Oriente. Essa “nova” política asiática da Rússia corre o risco, entretanto, de ser um tiro no pé, pois ao incidir excessivamente na China há o perigo da China engolir a Rússia e impor sua própria agenda de política externa e econômica. Do mesmo modo, o nacionalismo russo implica em que as relações com os países da região se deem de modo estritamente bilateral, mas ocorre que no mundo atual as relações bilaterais, mesmo com a poderosa China, precisam ser manejadas enquanto partes de um todo, onde as partes se coordenam. Enquanto parte de uma estratégia mais ampla na Ásia-Pacífico, a Rússia busca construir uma “Grande Eurásia”, mas isso requer uma abordagem integrada para a região como um todo, e uma abordagem global toca necessariamente em dimensões geopolíticas, econômicas, militares e culturais que atualmente adquiriram uma face muito conservadora na Rússia, e verdadeiramente anti-globais. No limite, o projeto estratégico maior da Rússia de Putin, anti-ocidental e etc., terá de se resolver com a própria ideologia conservadora atualmente vigente no país, ou então assumir desavergonhadamente uma face nacional-imperialista, o que em teoria implicaria aprofundar os atritos com o ocidente e estendê-los também para os chineses e japoneses. As esperanças (de muitos russos) de uma união geoestratégica entre Rússia e China contra “o ocidente” são irrealistas, dada a atual prioridade chinesa para a conquista de maior influência na configuração global do poder não pela via bélica e sim pela via dos mecanismos frios da economia, o que implica boas relações com parceiros ocidentais de peso, a começar pelos EUA e UE.


Atualmente os russos olham para a Europa e veem o recente ressurgimento do nacionalismo, o ceticismo popular em relação ao livre mercado e o declínio da integração europeia, concluindo que o continente está passando por uma evolução potencialmente positiva, de priorização dos interesses nacionais ao invés excessos do globalismo dominado pelos EUA. Com o tradicionalmente hostil Reino Unido afastado da UE, os russos esperam a eleição de Marine le Pen e o renascimento do gaullismo em França, o que comprometerá a permanência da França na zona do euro e, assim, a própria existência da União Europeia. Além disso os russos esperam um renascimento da Ostpolitik alemã amigável à Rússia, e na Itália a situação também não é das mais simples, com as saídas ocorridas no PD e o crescimento do M5S. Noutros cantos europeus forças conservadores e de extrema-direita, incluindo abertos fascistas, tem ganhado expressividade, como por exemplo na Holanda, Áustria, Hungria e Polônia. Se essas tendências se consolidarem, é provável um fracionamneto da União Europeia e, então, as relações entre a Rússia e a Europa se tornarão ainda mais quentes, sobretudo no plano econômico, pois a UE (ou os países da EU…) continuará a ser o maior parceiro comercial da Rússia. Em tempo, vale lembrar que, como lembra João Bernardo já há muitos anos e em diversos artigos publicados no Passa Palavra, o mais grave de tudo é o fato de que as forças que se consideram de esquerda ser não menos nacionalistas e nem menos populistas do que os fascistas e a extrema-direita.



Que fazer com a Rússia? (o ponto de vista estadunidense)


Em fim de 2015, enquanto a Guerra da Síria e a crise dos refugiados afligiam Oriente e Ocidente, a cidade turca de Antalya sediou um encontro do G20 onde os chefes de Estado Obama, Erdogan (Turquia) e Cameron (então Primeiro-Ministro da Grã-Bretanha) pediram a Putin (Rússia) que reconsiderasse o compromisso com Assad, bem como o ataque às forças moderadas sírias. O clima não foi dos melhores, e por isso desde então alguns analistas dizem que a crescente tensão internacional marca uma espécie de retorno à política da Guerra Fria (ver aqui). Vimos na parte desta série dedica à economia russa que a Rússia de Putin é bem diferente daquela dos tempos soviéticos, enfrentando graves desafios internos, além disso há, por exemplo, a questão do envelhecimento da população, a esperança de vida média de apenas 65 anos para os homens (ver aqui) e uma economia em contração (ver aqui). Alguns analistas sugerem que o “urso russo” estaria rosnando e fazendo ataques no exterior para mascarar sua vulnerabilidade.


A atenção destacada para a geopolítica não é algo novo na história do país. Desde sempre a política externa russa tem sido caracterizada por ambições crescentes: desde o reinado de Ivan, o Terrível, no século XVI, a Rússia se expandiu a uma taxa média de 50 milhas quadradas por dia, durante centenas de anos, cobrindo um sexto do planeta. Em 1900 ela já era a quarta ou quinta maior potência industrial do mundo e o maior produtor agrícola da Europa, embora seu PIB per capita tenha atingido apenas 20% do Reino Unido e 40% do da Alemanha. A história registra três momentos de notável ascensão russa: a vitória de Pedro, o Grande sobre Carlos XII da Suécia de início do século XVIII, que implantou o poder russo no Mar Báltico e na Europa; a vitória de Alexandre I sobre Napoleão Bonaparte, que levou a Rússia até Paris enquanto árbitro internacional de assuntos de Estado; e finalmente a vitória de Stalin sobre o Adolf Hitler, levando a Rússia até Berlim e garantindo ao país um império na Europa Oriental e um papel central na ordem global pós-1945.



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Re:Rússia, Ucrânia e o Retorno da Guerra Fria
« Resposta #118 Online: 13 de Maio de 2018, 07:17:55 »

A Rússia, entretanto, tem em seu currículo muitos reveses militares. O país perdeu a Guerra da Criméia de 1853-1856, o que “baixou a bola” dos russos em sua confiança “pós-napoleão” e permitiu a emancipação tardia dos servos. A Rússia também perdeu a Guerra Russo-Japonesa de 1904-5, e a Primeira Guerra Mundial, uma derrota que contribuiu com o colapso do regime imperial, e “perdeu” a Guerra Fria, uma derrota que levou ao colapso do poder soviético estabelecido em 1917.


Ao longo do tempo, o Kremlin tem sido assombrado por seu relativo atraso nas esferas militar e industrial, o que vez ou outra levou à defesa apaixonada de ciclos de desenvolvimento econômico enquanto solução final para os problemas russos. A geopolítica, entretanto, nunca foi deixada de lado, e como vimos, foi Putin quem a colocou novamente no topo das prioridades russas.


Com a dissolução da União Soviética em 1991, Moscou perdeu cerca de dois milhões de quilômetros quadrados de território, o que equivale a toda a União Europeia (1,7 milhões de milhas quadradas) ou a Índia (1,3 milhão). Além disso, a Rússia perdeu a parte da Alemanha que conquistou na Segunda Guerra Mundial e seus outros satélites na Europa Oriental, incluindo os Balcãs, a ponto de atualmente todos estes países estarem engajados em alianças militares ocidentais. Outras antigas possessões soviéticas, como o Azerbaijão, a Geórgia e a Ucrânia, cooperam estreitamente com o Ocidente em matéria de segurança. Apesar da anexação da Criméia, da guerra no leste da Ucrânia e da ocupação da Abcássia e da Ossétia do Sul, a Rússia ainda não “recuperou” sequer as fronteiras que tinha à época de Catarina, a Grande. Ademais, o país possui apenas umas poucas bases militares na Ásia Central.


O que pretendemos frisar, em termos concretos, é que a Rússia ainda é o maior país do mundo, mas é muito menor do que já foi e possui hoje um status reduzido em termos de uma potência global. Não é à toa, portanto, que Putin advoga a missão de restabelecer para a Federação Russa os ativos políticos e geoestratégicos da superpotência soviética.


O PIB russo atingiu seu pico em 2013, em pouco mais de US$ 2 trilhões. Em 2016 esse valor caiu para cerca de US $ 1,2 trilhão, devido à queda dos preços do petróleo e às taxas de câmbio do rublo. Em termos de paridade de poder de compra o declínio da economia russa não é tão acentuado, mas ainda assim em termos comparativos denominados em dólares a economia da Rússia equivale a apenas 1,5% do PIB global e equivale a apenas 1/15 do tamanho da economia estadunidense.


Não bastasse a economia em crise, o ambiente geopolítico tem se mostrado desafiador para a Rússia, com a supremacia global dos EUA e o crescimento do poder político, econômico e militar da China. Além disso, a propagação do islamismo político radical suscita preocupações, uma vez que cerca de 15% dos 142 milhões de cidadãos russos são muçulmanos e algumas das regiões predominantemente muçulmanas do país estão fervilhando. Desse modo, a situação é crítica para uma Rússia que se vê como tendo a tarefa vital de se igualar ao poder ocidental de modo a competir com a China e Estados Unidos na reivindicação da direção “trilateral” dos rumos do planeta.


A defesa e sensação de que o país possui um lugar sagrado e uma missão especial de contrapeso moral ao ocidente contribuiu para o fracasso das alianças entre a Rússia e os organismos internacionais de modo tal que foi negado à Rússia uma posição de destaque. Como frisamos acima, isso leva o povo e os líderes russos a terem um marcante “ressentimento” contra o Ocidente, cujas ações são vistas como anti-russas e sentidas como verdadeiros ataques ao “orgulho” da “nação russa” etc. Assim, a alienação psicológica fundada na histeria de “missões especiais” do país face ao mundo se soma a um forte nacionalismo e à divergência institucional impulsionada por disputas econômicas, resultando num caldo político e ideológico conservador. Como resultado, os governos russos têm oscilado entre a procura de laços mais estreitos com algumas economias ocidentais e a fúria desenfreada contra os “inimigos”, legitimando, inclusive, o expansionismo russo enquanto modo de “defesa nacional”. Stephen Kotkin, em artigo publicado em junho de 2016 na Foreign Affairs, intitulado “A perpétua geopolítica da Rússia” (disponível aqui), faz uma boa reflexão acerca do tema:


Hoje, também, os países menores nas fronteiras da Rússia são vistos menos como potenciais amigos do que como potenciais cabeças de guerra para os inimigos. De fato, esse sentimento foi fortalecido pelo colapso soviético. Ao contrário de Stalin, Putin não reconhece a existência de uma nação ucraniana separada de uma russa. Mas, como Stalin, ele vê todos os Estados fronteiriços nominalmente independentes, incluindo agora a Ucrânia, como armas nas mãos de potências ocidentais com a intenção de brandi-las contra a Rússia. Um motor final da política externa russa tem sido a busca perene do país por um Estado forte. Em um mundo perigoso, com poucas defesas naturais, pensam, a única garantia para a segurança da Rússia é um poderoso Estado disposto e capaz de agir agressivamente em seus próprios interesses. Um Estado forte também tem sido visto como o garante da ordem doméstica, e o resultado tem sido uma tendência percebida no século XIX pelo historiador Vasily Klyuchevsky enquanto tendência milenar da história da Rússia: “O Estado fica gordo e as pessoas magras”. Paradoxalmente, porém, os esforços para construir um Estado forte levaram invariavelmente a instituições subvertidas e a um regime personalista. […] O personalismo desenfreado tende a tornar opaca e potencialmente caprichosa a tomada de decisões sobre a grande estratégia russa, pois acaba por confundir os interesses do Estado com as fortunas políticas de uma pessoa. O ressentimento anti-ocidental e o patriotismo russo parecem particularmente pronunciados na personalidade e nas experiências de vida de Putin, mas um governo russo diferente não dirigido por antigos membros da KGB ainda seria confrontado com o desafio da fraqueza em relação ao Ocidente e o desejo de papel especial no mundo. Em outras palavras, a orientação da política externa da Rússia é tanto uma condição quanto uma escolha.


Historicamente, o Ocidente desprezou algumas das aberturas russas para o diálogo e parcerias diplomáticas etc., mas frisar esse ponto é irrealista na medida em que minimiza a dinâmica interna da política e sociedade russas. Ou seja, Washington e a União Europeia exploraram o enfraquecimento da Rússia, mas a posição de Putin e da política externa do Estado Russo devem ser vistas menos como uma reação a movimentos externos do que como coerentes com um padrão histórico de raízes profundas, que se alimenta de fatores internos. O que impediu a Rússia pós-soviética de se juntar à Europa como apenas mais um país numa ampla aliança ou de formar uma parceria subordinada com os Estados Unidos foi o permanente orgulho “do país” e seu senso de missão especial – ambos enquanto expressão da ideologia hegemônica na Rússia, e não como teoria implantada pela mão de líderes megalomaníacos. A Rússia possui uma tendência estatista, mas tal tendência está presente em outras potências, como a China e mesmo a França ou Alemanha. O que lhe confere particularidade é a permanente defasagem entre suas aspirações e as capacidades reais do país, e a História mostra que esse quadro é perigoso.


A Rússia tem razão, portanto, quando acusa que o acordo pós-guerra fria foi injusto e desequilibrado, mas isso não se deu por conta de um sentimento internacional anti-russo e uma “traição” perpetrada por estrangeiros interessados em humilhar o país. O desequilíbrio se deu como resultado prático inevitável da vitória do Ocidente na disputa com a União Soviética. A retórica segundo a qual a Guerra fria não teve vencedores apenas joga água no moinho do rancor e ressentimento dos nacionalistas russos, impedindo que o país acerte suas contas com o passado e olhe adiante sem o apego ao que se imaginava ser o destino inevitável da URSS. O pior de tudo, para quem observa essas questões de um ponto de vista anticapitalista, talvez resida no fato de que o resgate ideológico da Rússia de hoje com respeito aos valores da URSS não toca nos pontos progressistas daquela fracassada experiência, e sim nos pontos mais nefastos, do nacional-bolchevismo, metamorfoseados: a ideologia de que o país possui uma missão especial, calibrada de modo a justificar tanto o imperialismo quanto o nacionalismo russos.


Qual a solução possível, se os próprios trabalhadores não reagem de modo progressista? Stephen Kotkin pontua uma das alternativas que a Rússia poderia seguir:


O país poderia tentar seguir algo como a trajetória da França, que mantém um sentido persistente de excepcionalismo, mas fez as pazes com a perda de seu império externo e sua missão especial no mundo, recalibrando sua ideia nacional para atender seu papel reduzido e unindo-se com poderes menores e países pequenos na Europa em termos de igualdade. Se uma Rússia transformada seria aceita e combinada com a Europa é uma questão aberta, mas o início do processo precisaria ter uma liderança russa capaz de fazer com que seu público aceitasse uma contenção permanente e concordasse em embarcar em uma árdua reestruturação interna. As pessoas de fora devem ser humildes ao contemplar o quão desagradável seria esse ajuste, especialmente sem uma derrota bélica e ocupação militar. A França e o Reino Unido demoraram décadas a renunciar a seus próprios sentidos de excepcionalismo e responsabilidade global, e alguns argumentariam que suas elites ainda não o fizeram plenamente. Mas eles têm PIBs elevados, universidades ranqueadas, poder financeiro e línguas globais. A Rússia não tem nada disso. Ela possui um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, bem como um dos dois arsenais mundiais do dia do juízo final e uma alta capacidade de colocar o mundo numa guerra cibernética. Além disso sua geografia única lhe dá uma espécie de alcance global. No entanto, a Rússia é a prova viva de que o poder rígido é frágil sem as outras dimensões que envolvem o status de uma grande potência. Por mais que a Rússia insista em ser reconhecida como igual aos Estados Unidos, à União Europeia, ou mesmo à China, ela não é, e não tem perspectiva de se tornar a curto ou médio prazo.


O autor explica que a Rússia tem uma longa presença no Pacífico, mas não é uma potência asiática, tendo no máximo certa predominância na região, já que nem se compara seu poder bélico com os dos antigos Estados soviéticos, hoje soberanos, mas a supremacia militar regional e certa supremacia econômica na Eurásia não conferem ao país o status de superpotência. A União Econômica Eurasiática, por exemplo, até agora não obteve o êxito que desejava, e mesmo que o fizesse, as capacidades econômicas combinadas dos membros da aliança ainda seriam relativamente pequenas. Economicamente a Rússia é, portanto, um grande mercado, e isso às vezes se mostra algo atraente a ponto dos países vizinhos aceitarem o jogo dos riscos e recompensas no comércio bilateral com o país. A Estónia, a Geórgia e a Ucrânia, por exemplo, em geral só fazem negócios com a Rússia se houver uma “âncora” no Ocidente. Outros Estados mais economicamente dependentes do país de Putin, como a Bielorrússia e o Cazaquistão, veem riscos na parceria com um país que não possui um modelo de desenvolvimento sustentado e, pior, depois do caso da Criméia, poderia cobiçar seus territórios. A “parceria estratégica” com a China existe, mas até aqui não resultou em investimentos chineses suficientemente grandes para compensar as sanções ocidentais, sem falar que a China tem sua própria agenda e está forjando sua própria Grande Eurásia, do Mar da China Meridional até a Ásia e a Europa, às vezes às custas e às vezes com a cooperação da Rússia. Moscou tem relações externas tensas com quase todos os seus vizinhos e mesmo com seus maiores parceiros comerciais, como por exemplo a Turquia e a Alemanha. Esta última, a mais importante parceira da política externa da Rússia e um de seus parceiros econômicos mais importantes, precisou dar um “basta” e apoiou sanções contra a Rússia mesmo com isso tendo um custo para sua própria situação interna.


Analistas críticos das movimentações políticas e militares da Rússia têm defendido em periódicos de circulação europeia e estadunidense que a melhor maneira de fazer Putin “mudar de rumo” seria reverter a dinâmica política de sustentação de seu regime, transformando sua política externa, que hoje é a fonte mais poderosa da legitimidade e apoio popular do Kremlin, numa fonte de “dúvida, embaraço, humilhação e remorso”. Trata-se de um conselho bastante perigoso, afinal é justamente esta a gramática que alimenta o nacionalismo russo, e nada pode garantir que uma movimentação ocidental que leve a Rússia à “humilhação e remorso” não resultaria na mobilização popular em massa do povo russo para guerrear a guerra que o governo indicar como sendo “necessária”.


Tal como noutros casos nacionais, a história da Rússia é particularmente sugestiva no que diz respeito aos perigos dos grandes passos “patrióticos”. Neste país de proporções continentais algumas das mudanças de regime mais bruscas se deram na sequência de falhas na política externa e retrocessos militares. A revolução liberal a partir de cima foi lançada por Alexandre II depois da derrota na Guerra da Criméia (1853-1856). A revolução de 1905 explodiu na esteira da desastrosa Guerra Russo-Japonesa. A catastrófica campanha russa na Primeira Guerra Mundial contribuiu para que a revolução bolchevique de 1917 triunfasse. Nikita Khrushchev foi expulso em 1964 após o recuo da Crise de Mísseis de Cuba, em 1962. A perestroika de Gorbachev foi impulsionada, em grande medida, pelo atoladouro da guerra no Afeganistão (1979-88). Putin, no entanto, conhece a história de seu país. Ele é o maior estadista vivo e não está nem perto de ser um autocrata maluco que acredita na própria invencibilidade. Nesse sentido pode-se esperar que ele recue onde sentir a possibilidade de derrota ou de vitórias de Pirro com baixas acima do que os russos estão dispostos a tolerar, mas Putin, o estadista, é apenas o operador que maneja com certa coerência e habilidade os interesses do Estado russo, que num tecido social dominado por um perigoso nacionalismo se confundem com os interesses do “povo russo”, essa categoria que obnubila os matizes de classe e traz sempre consigo a semente fascista. Ora, uma vez fundidos os interesses do povo e do Estado em uma sociedade amarrada por uma espécie de “patriotismo militarizado”, pode-se prever os rumos da revolta do povo russo em face do que seria sentido como uma nova “humilhação” e ataque contra a pátria?


A prova de que o “conselho” dos ocidentais é demasiado perigoso já se coloca à mostra se observamos a forma como os russos têm reagido a certas notícias e fatos. Não importa o número de denúncias dos crimes de guerra na Ucrânia ou Síria, os custos políticos internos da política externa de Putin têm sido, até agora, nulos. Isso se deve não apenas ao fato de que Putin convenceu a população russa da necessidade de derrotar o Estado Islâmico (ISIS) e de que o principal objetivo do envolvimento russo na Síria é a restauração do governo legítimo de Assad, mas também ao fato de que a esquerda russa está desmantelada, ao ponto de que atos e manifestações contra as medidas do governo precisam ser autorizadas e militantes com frequência são perseguidos, presos, expulsos do país ou eliminados.


Do ponto de vista militar, encontramos nalguns artigos de Foreign Affairs ideias interessantes. A intervenção russa na Síria, por exemplo, poderia ser posta em cheque se se pressionasse o governo russo a escolher entre aumentar o apoio russo a Assad, colocando, portanto, mais russos na linha de frente, arriscando suas vidas e com isso levando a desgastes políticos domésticos, ou a reduzir tal apoio, se distanciando de Damasco sem grandes estardalhaços. O ex-conselheiro de Obama no Oriente Médio, Dennis Ross, defendeu no The New York Times que isso poderia ocorrer se os EUA usassem drones e mísseis de cruzeiro para acertar campos de aviação, bases e posições de artilharia dos militares sírios onde não há tropas russas presentes. Também na Ucrânia o Kremlin não vai parar a guerra a menos que os custos políticos domésticos comecem a aumentar significativamente, o que dificilmente vai ocorrer, já que é absurda a superioridade militar e de hacking da Rússia em face das forças de Kiev. Tal como no caso sírio, analistas ocidentais sugerem ações que forcem a Rússia a fazer a escolha entre aumentar o contingente militar e os riscos de desgaste interno ou acelerar as negociações de paz que restabeleceriam a soberania ucraniana sobre suas fronteiras. Para isso os EUA deveriam enviar armas defensivas anti-tanque e antiaéreas para a Ucrânia e radares sofisticados capazes de identificar as posições russas de artilharia e tanques, de modo a reforçar a capacidade de defesa de Kiev tanto no campo de batalha quanto na esfera das comunicações. Ao que tudo indica esta seria a posição de uma Hillary Clinton Presidente, e não à toa os russos comemoraram desavergonhadamente a vitória de Trump, havendo indícios, inclusive, de interferência russa no processo eleitoral estadunidense.


Os analistas que sugerem tais medidas não são inocentes a ponto de ignorar os riscos de que tais medidas poderiam agravar as relações dos EUA com a Rússia e até provocar respostas à altura. No entanto, defendem que a conjuntura impõe a escolha entre confrontar Putin agora ou vê-lo encorajado a desestabilizar ou mesmo invadir diretamente um Estado membro no flanco oriental da OTAN. Em síntese, se a atual combinação de sanções econômicas moderadas e pressão diplomática não tem sido suficiente para mudar a estratégia de política externa de Putin resta constranger seu apoio interno aumentando os custos de sua política externa. Ou seja, a tarefa fundamental dos EUA na relação com a Rússia seria forçar Putin a mudar os fundamentos da legitimidade do seu regime do externo para o interno: desbaratar uma política externa cada vez mais perigosa em pró de uma política interna voltada para o crescimento econômico russo através de reformas institucionais que iriam melhorar o clima de investimento e diminuir as tensões com os Estados Unidos. Como vimos na parte segunda desta séria, essa opção, entretanto, não está dentre as preferidas nem de Putin, nem da elite russa e nem mesmo dos trabalhadores russos.


Stephen Kotkin, no trabalho supracitado, nos fornece uma visão mais complexa e que nos parece bastante realista acerca das opções “ocidentais” face ao desafio posto pela política externa russa atual:


[…] o que representa uma ameaça existencial para a Rússia não é a OTAN ou o Ocidente, mas o próprio regime russo. Putin ajudou a resgatar o Estado russo, mas o colocou em uma trajetória de estagnação e possivelmente fracasso. O presidente e sua camarilha têm repetidamente anunciado a extrema necessidade de priorizar o desenvolvimento econômico e humano, mas eles se esquivam da profunda reestruturação interna necessária para fazer isso acontecer, em vez de derramar recursos na modernização militar. O que a Rússia realmente precisa para competir eficazmente e garantir um lugar estável na ordem internacional é um governo transparente, competente e responsável; um verdadeiro serviço público; um Parlamento de verdade; um poder judicial profissional e imparcial; mídia livre e profissional; e uma repressão vigorosa e não-política sobre a corrupção. A liderança atual da Rússia continua a fazer com que o país carregue os fardos de uma política externa truculenta e independente que está além dos meios do país e produziu poucos resultados positivos. […] Quais são as implicações disso para a política ocidental? Como Washington deve gerenciar as relações com um país com armas nucleares e ciber armamento cujos governantes buscam restaurar sua dominação perdida? Neste contexto, é útil reconhecer que nunca houve um período de boas relações sustentadas entre a Rússia e os Estados Unidos. […] Isso não se deveu a mal-entendidos, má comunicação ou sentimentos feridos, mas sim a divergentes valores fundamentais e interesses de Estado tal como definidos por cada país. Para a Rússia, o maior valor é o Estado; para os Estados Unidos, é a liberdade individual, a propriedade privada e os direitos humanos, geralmente estabelecidos em oposição ao Estado. Portanto, as expectativas devem ser mantidas em cheque. Igualmente importante, os Estados Unidos não devem exagerar a ameaça russa nem minimizar suas próprias vantagens. A Rússia hoje não é um poder revolucionário que ameaça derrubar a ordem internacional. Moscou opera dentro de uma escola familiar de relações internacionais entre potências, que prioriza a margem de manobra sobre a moralidade e assume a inevitabilidade do conflito, a supremacia do poder duro e o cinismo nas motivações dos outros. Em certos lugares e em certas questões, a Rússia tem a capacidade de frustrar os interesses dos EUA, mas nem de longe isso chega ao ponto da ameaça representada pela União Soviética, portanto não há necessidade de responder a ela com uma nova Guerra Fria. O verdadeiro desafio hoje se resume ao desejo de Moscou de reconhecimento ocidental de uma esfera de influência russa no antigo espaço soviético (com exceção dos países bálticos). Este é o preço para chegar a um acerto com Putin – algo que os defensores de tais acomodações nem sempre reconhecem com franqueza. Foi este ponto crítico que impediu a cooperação duradoura depois do 11 de setembro, e continua a ser uma concessão que o Ocidente nunca deveria conceder. No entanto, o Ocidente não é capaz de proteger a integridade territorial dos Estados dentro da esfera de influência desejada por Moscou. E blefar não funcionará. Então o que deve ser feito? Alguns invocam George Kennan e clamam por um revival da contenção, argumentando que a pressão externa manterá a Rússia na baía até que seu regime autoritário seja liberto ou colapse. […] Adotar esse pensamento agora implicaria manter ou intensificar as sanções em resposta às violações russas do direito internacional, fortalecer politicamente as alianças ocidentais e melhorar a prontidão militar da Otan. Mas uma nova contenção poderia tornar-se uma armadilha, elevando a Rússia ao status de superpotência rival, ajudando a Rússia a chegar onde ela pretendia. Mais uma vez, a melhor solução é ser paciente. Não é claro por quanto tempo a Rússia pode jogar a sua mão fraca em oposição aos Estados Unidos e à UE, assustando seus vizinhos, alienando seus parceiros comerciais mais importantes, devastando seu próprio clima de negócios etc. Em algum momento, os sensores serão colocados para algum tipo de reaproximação, assim como a fadiga das sanções acabará por entrar em cena, criando a possibilidade de algum tipo de acordo. Dito isto, também é possível que o atual impasse não termine em breve, uma vez que a busca da Rússia por uma esfera de influência euro-asiática é uma questão de identidade nacional que não é facilmente suscetível a cálculos de custo-benefício materiais. O truque será manter uma linha firme quando necessário – como recusar reconhecer uma esfera russa privilegiada, mesmo quando Moscou é capaz de decretar uma militarmente –, oferecendo negociações somente a partir de uma posição de força e evitando tropeçar em confrontos desnecessários e contraproducentes na maioria dos outros problemas. Algum dia, os líderes da Rússia podem chegar a um acordo com os limites flagrantes de se levantar para o Ocidente e procurar dominar a Eurásia. Até então, a Rússia não será mais uma cruzada necessária a ser conquistada, mas um problema a ser gerenciado.



As ideias destes analistas são interessantes e me parece que são em grande medida realistas, no estreito ângulo de visão que centra suas atenções nas relações internacionais entre países e chefes de Estado (com suas cúpulas de dirigentes). Ora, me parece que o ponto fulcral para qualquer projeção dos rumos futuros da Rússia, seja em termos da “escalada conservadora”, da economia e da geopolítica imperialista, reside antes nas relações sociais internas ao país, mais precisamente, à luta de classes na Rússia de Putin, do que propriamente nas questões de política externa etc. Ora, o que me deixou particularmente horrorizado, nestes 100 anos da Revolução de 1917, foi o fato de que procurei as forças sociais progressistas, que estão enfrentando dentro da Rússia, de um ponto de vista anticapitalista, tais tendências nefastas. E não encontrei.


Fontes


Sobre a Rússia ser ou não uma superpotência, há abundante material, inclusive em português. Foi-nos particularmente útil o citado artigo de Jonathan Adelman, “Pensando no impensável: a Rússia re-emergiu como uma potência” e o ótimo trabalho de Stephen Kotkin, “A perpétua geopolítica da Rússia”. Contra a ideia de uma “nova guerra fria” ver o texto de Tomasz Konicz “Farinha do mesmo saco. Nova Guerra Fria uma ova: Rússia e China são parte integrante do capital mundial”. Além destes trabalhos me baseei em informações de artigos citados nas partes anteriores desta série.



http://passapalavra.info/2017/04/111607



Offline JJ

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Re:Rússia, Ucrânia e o Retorno da Guerra Fria
« Resposta #119 Online: 07 de Janeiro de 2019, 12:38:08 »

Rússia tenta acelerar crescimento econômico após anos de recessão


País sofreu com queda do preço do petróleo e embargo aplicado pelos Estados Unidos e pela União Europeia; este ano deve crescer apenas 1,7%.


Por Luiz Guilherme Gerbelli, G1

18/06/2018 06h01  Atualizado há 6 meses


A Rússia ainda luta para superar os efeitos provocados pela última recessão econômica e, assim, retomar um padrão de crescimento mais acelerado. A economia do país encolheu por dois anos seguidos, em 2015 e 2016, e, desde então, apresenta uma recuperação bastante tímida.

A expectativa é que a economia russa cresça apenas 1,7% neste ano, segundo projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI). No ano passado, a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) foi de 1,5%.


A recessão e o tímido crescimento esperado para o país podem ser explicados por duas razões: pela queda nos preços do petróleo nos últimos anos e pelo embargo adotado pelos Estados Unidos e pela União Europeia depois que o governo russo anexou a Criméia em 2014.


Crescimento do PIB

Rússia e Brasil ainda tentam se recuperar dos anos de recessão; dados em %


Gráfico



Anos 2000 foram marcados por reestatização


A chegada do grupo que sustenta o atual presidente russo, Vladmir Putin, ao poder no m dos anos 1990 provocou uma importante mudança na dinâmica da economia Rússia com a reestatização de diversos setores da economia.


O grupo assumiu o poder com a economia bastante fragilizada. Em 1998, a Rússia enfrentou uma forte crise financeira que culminou com a desvalorização do rublo e a declaração da moratória - naquele ano país, o PIB do país despencou 5,3%.


“Muita gente acreditava que essa crise foi causada pela abertura econômica dos anos 90. Houve uma resposta com a reestatização de setores importantes”, arma Vinícius Müller, doutor em história econômica e professor do Insper


País precisa lidar com gargalos


Se quiser acelerar o crescimento nos próximos anos, a economia da Rússia vai ter de promover uma série de reformas econômicas. O potencial de crescimento do País - ou seja, aquilo que a economia russa pode crescer sem gerar desequilíbrio - é estimado em apenas 1,5%.


“Como alguns países emergentes, a Rússia enfrenta gargalos em infraestrutura, tem uma elevada informalidade no mercado de trabalho e precisa de algumas reformas estruturais e da Previdência”, diz Dutra, do Itaú.

No relatório elaborado anualmente pelo Banco Mundial que compara e mede a facilidade de fazer negócios em 190 países, a Rússia ocupa a 35ª posição - o Brasil está no 125º lugar.


Embora apareça bem posicionada no ranking geral, a Rússia colhe resultados ruins quando se analisa os detalhes do relatório. No item que mede a facilidade para obter licença no setor da construção, o país está apenas na 115ª posição. No quesito que apura a facilidade de negociação fora do país, a Rússia aparece na 100ª colocação.


“Um crescimento do PIB próximo de 2% é um alento para a Rússia, mas o país não deve voltar aos anos de forte crescimento”, diz Müller, do Insper.





Com a queda de preço do petróleo, a Rússia perdeu receita de exportação - o produto representa 40% do que é vendido pelo país -, o que tirou fôlego da economia porque inviabilizou uma série de recursos para políticas mantidas pelo governo. Já as sanções trouxeram um impacto direto para os investimentos.


“O país teve de subir os juros, mas depois se ajustou e conseguiu retomar o crescimento”, armou o economista do banco Itaú Bernardo Dutra.


A recente fraqueza da economia russa segue um roteiro bastante parecido com enfrentado pelo Brasil, que também tenta deixar pra trás a recessão econômica. Nos anos de forte aumento do preço das commodities, no início dos anos 2000, a Rússia, assim como o Brasil, foi bastante beneciada e chegou a colher taxas de crescimento num patamar acima de 8%



PIB per capita


Rússia precisa acelerar crescimento para elevar padrão da vida da sociedade; dados em US$



Gráfico



Impacto da Copa deve ser limitado

A Copa do Mundo não deve trazer uma grande contribuição para acelerar o crescimento econômico da Rússia, segundo avaliação da agência de classicação de risco Moody's.


Em relatório, a Moody's apontou que boa parte do efeito positivo, sobretudo na infraestrutura, foi observado entre 2013 e 2017 e que os investimentos no país para o evento representam apenas 1% do total investido.


"Na maioria dos casos, o efeito positivo sobre o PIB nominal regional será limitado de 1% a 2%", informou a Moody's.




https://g1.globo.com/economia/noticia/russia-tenta-acelerar-crescimento-economico-apos-anos-de-recessao.ghtml

Offline Jack Carver

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Re:Rússia, Ucrânia e o Retorno da Guerra Fria
« Resposta #120 Online: 10 de Janeiro de 2019, 23:33:13 »
Rússia, China e Índia, três grandes economias da Ásia-Pacífico, aos pouco abandonam o Dólar em suas transações. É só o início.
O Brasil é um país de sabotadores profissionais.

“Dêem-me controle sobre o dinheiro de uma nação e não me importa quem faz as suas leis. - Mayer Amschel Rothschild

Offline Geotecton

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Re:Rússia, Ucrânia e o Retorno da Guerra Fria
« Resposta #121 Online: 11 de Janeiro de 2019, 06:31:31 »
Duvido que a Índia abandone o dólar estadunidense como moeda de referência, porquê não há outra para substitui-la no curto prazo. E jamais eles aceitariam o yuan chinês.

A Rússia é pouco relevante do ponto de vista econômico, para mudar a situação. Tem pouquíssimos aliados e todos são irrelevantes. E a moeda russa é uma piada.

A China seria uma preocupação SE a sua economia não dependesse da importação e exportação e SE não tivessem trilhões de dólares estadunidenses como reserva.

Acho que não estarei vivo para ver isto.
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Offline Muad'Dib

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Re:Rússia, Ucrânia e o Retorno da Guerra Fria
« Resposta #122 Online: 11 de Janeiro de 2019, 12:26:38 »
Qual é o problema em ter trilhões de dólares como reserva?

Eu já li que a maior parte da dívida americana é com os chineses. Eu vejo esse tipo de coisa e o que me vem em mente é: que zona que é a economia global. Nada faz muito sentido.

Offline Gorducho

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Re:Rússia, Ucrânia e o Retorno da Guerra Fria
« Resposta #123 Online: 11 de Janeiro de 2019, 13:48:10 »
O "problema" é que a China tá comendo pela mão da America.
Se lembra do que (se bem me lembro...) o Keynes dizia :?:
Se deves 1000 £ pro banco, deves te preocupar.
Se deves 10.000 £ o banco é que se deve preocupar...
Tanto por inflação — essa emissão descontrolada depuis 2008 vai acabar em explosão inflacionária...— quanto até mesmo renegociação de pagos. Pois o déficit americano é gigantesco e só aumenta. Então o problema passa a ser de quem detém créditos nessas moedas (cuja emissão não tem controle e a ideologia é incentivar bolhas como é lá hoje).
« Última modificação: 11 de Janeiro de 2019, 13:51:10 por Gorducho »

Offline EuSouOqueSou

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Re:Rússia, Ucrânia e o Retorno da Guerra Fria
« Resposta #124 Online: 11 de Janeiro de 2019, 14:18:46 »
Qual é o problema em ter trilhões de dólares como reserva?

Eu já li que a maior parte da dívida americana é com os chineses. Eu vejo esse tipo de coisa e o que me vem em mente é: que zona que é a economia global. Nada faz muito sentido.

Citar
No 1o ano de Barack Obama na presidência (2009), o deficit orçamentário americano de colou para mais de 12% do PIB ... e os chineses generosamente compraram pelo menos $20bi em letras do Tesouro americano por mês.

...

Se os chineses parassem de comprar a dívida americana, eles poderiam precipitar um colapso do dólar e ... destruir $2,5 trilhoes em reservas esrangeiras que a China acumulara...

... representa uma nova forma de "destruição mútua assegurada" - uma versão financeira do equilíbrio nuclear durante a Guerra Fria.

...

Harold James, historiador da Princeton... observou crises financeiras traumáticas envolvem uma nova gografia de poder... a capacidade de fornecer novo crédito se traduzirá em poder político.
O Mundo Soma-Zero - G.Rachman, 2010

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Nos comentários de um artigo do Rachman (2008) vi o argumento de que o chineses deveriam fortalecer a economia interna, com projetos de infra-estrutura e ajuda a massiva população rural. O motivo é não há mercado externo grande o suficiente para consumir a produção chinesa, a não ser os EUA. Complementando, outro comentário lembrou os países árabes que ganharam dinheiro com o pretóleo e hj gastam o mesmo dinheiro no mundo ocidental.

Como todo mundo sabe, a China é um regime totalitário e provavelmente não vai investir em melhorias para população sob o risco de ver seu regime político se fragmentar. Então resta ganhar dinheiro investindo no resto do mundo. Me pergunto se isso será sustentável, ou a China sucumbirá como pontuou o DDV citando Jared Diamond.

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O "problema" é que a China tá comendo pela mão da America.
Se lembra do que (se bem me lembro...) o Keynes dizia :?:
Se deves 1000 £ pro banco, deves te preocupar.
Se deves 10.000 £ o banco é que se deve preocupar...
Tanto por inflação — essa emissão descontrolada depuis 2008 vai acabar em explosão inflacionária...— quanto até mesmo renegociação de pagos. Pois o déficit americano é gigantesco e só aumenta. Então o problema passa a ser de quem detém créditos nessas moedas (cuja emissão não tem controle e a ideologia é incentivar bolhas como é lá hoje).

Pois é.
Qualquer sistema de pensamento pode ser racional, pois basta que as suas conclusões não contrariem as suas premissas.

Mas isto não significa que este sistema de pensamento tenha correspondência com a realidade objetiva, sendo este o motivo pelo qual o conhecimento científico ser reconhecido como a única forma do homem estudar, explicar e compreender a Natureza.

 

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