De acordo com o geógrafo George Friedman, as nações agem como jogadores de xadrez, que atuam nos limites estreitos de uma série de regras que definem seu leque de boas jogadas. Tão melhor quanto mais lógico for um jogador, quanto mais previsível ele for na escolha da melhor tática "até que desfira seu brilhante golpe inesperado".
Realpolitik.
George Friedman acredita que as nações não simplesmente agem irracionalmente.
"Acreditar" não basta.
Ele tem que demonstrar.
"As nações são limitados pela realidade.
É claro que elas são "limitados" (sic) pela realidade.
Como poderia ser diferente?
Eles geram líderes que não se tornariam líderes se fossem irracionais" (Friedman, p.29).
Então não importam nem as condições sócio-cultural-econômica da população e nem o contexto político-histórico do país, que sempre os seus líderes serão racionais?
Então há que se saber qual é a definição de 'irracional' para o autor.
Ele considera que os líderes "compreendem o seu menu de possíveis movimentos e os executam". Quando eles falham, não é porque são estúpidos, mas apenas porque as circunstâncias não lhes forneceram as possibilidades corretas.
O caso de Pinochet destrói completamente este argumento.
O cavalheiro supra instaurou uma das ditaduras mais violentas da América do Sul no século XX, agindo genocidamente contra os seus opositores, mais notadamente os esquerdistas marxistas.
Quais foram as motivações 'racionais' que o levaram a agir assim? Ou, para utilizar o outro argumento, de que modo as "circunstâncias não lhe forneceram as possibilidades corretas"?
Tanto as motivações como as circunstâncias foram muito influenciadas pela geopolítica da Guerra Fria. Mas a decisão de empregar aquele nível de violência não veio de uma falta de opção política e sim de uma postura de extremo rancor e de ausência de humanismo.
Basta saber que o número de radicais de esquerda que se tornaram guerrilheiros foi muito pequeno, mesmo para um país com população exígua como o Chile.
Este "argumento" parece que foi construído como uma justificativa espúria para as atitudes crimonosas de líderes ditatoriais.
Seguindo a abordagem de George Friedman em termos de geopolítica, vamos nos perguntar: é possível entender as iniciativas tomadas por Vladimir Putin no tabuleiro internacional?
Sim, sem dúvida.
O que não significa que elas sejam sustentáveis sob o ponto de vista humanístico.
Continuo depois.