Um projeto de escala continental não foi necessário para que praticamente todo país europeu se desenvolvesse a IDHs maiores do que os dos estados brasileiros sob projetos nacionais/continentais. Conforme interesses em comum vão aparecendo, vão se estabelecendo parcerias, tratados e etc.
Com "projeto de escala continental" tenho impressão que você quis dizer alguma coisa como Bruxelas determinando "vamos fazer duas usinas nucleares na Suíça e uma ferrovia ligando Paris a Lisboa." O parlamento europeu não tem este poder nem este tipo de aspiração, muito embora tenha muita influência política, através da sustentação das entidades econômicas que o suportam, para influenciar governos nacionais a cooperarem em projetos que sejam de importância continental, para toda a UE.
Porém a UE, em si mesma, foi um projeto de escala continental ( ou melhor, se tornou de escala continental ), que congregou os países integrantes em uma espécie de federação que tem muito em comum com o modelo de uma federação de estados existente em alguns países.
A classificação da União Europeia nos termos do direito internacional ou constitucional tem sido muito debatida, muitas vezes à luz do grau de integração que é percebido, desejado ou esperado entre seus membros. Historicamente, pelo menos, a UE é uma organização internacional e, de acordo com alguns critérios, poderia ser classificada como uma confederação, mas também tem muitos atributos de uma federação, sendo que alguns chegam a classificá-la como uma federação (de facto) de Estados.[114] [115] [116]
Essa foi a chave do sucesso. Observe que a UE vai muito além ( e precisou ir ) de um simples tratado de livre comércio. É um projeto de integração regional entre Estados muito mais amplo e profundo que o Mercosul ou o Nafta, por exemplo. É completamente diferente.
A UE instituiu um conjunto de instituições supranacionais que são independentes e com alguns atributos semelhantes a de instituições federais em países.
Especialmente existe a Comissão Europeia, politicamente independente, que implementa e supervisiona, juntamente com os Estados membros, legislação, políticas comuns e programas, além de
PROJETOS. É quase que uma espécie de Poder Executivo do "Estado Europeu." Ainda citando a Wiki a Comissão Europeia "dá o impulso necessário para o desenvolvimento e define os objectivos e as prioridades gerais[...]"
O "Estado Europeu" ainda conta com o Parlamento da UE e o Conselho da União Europeia, que seriam os equivalentes do Poder Legislativo.
E também um Poder Judiciário representado pelo Tribunal de Justiça da União Europeia.
Há ainda:
- Uma capital, Bruxelas.
- Um parlamento democraticamente eleito.
- Banco Central.
- Orçamento comum.
- Política de segurança externa integrada, a PESC.
- Moeda comum.
- Direitos de cidadania.
- Considerável grau de uniformidade legislativa acordado entre os membros.
A UE, de fato, propõe e coordena muitos projetos de âmbito "continental", isto é, no âmbito dos Estados associados. Por exemplo, existe uma política energética definida para os países e um dos pontos chaves é justamente investir na interligação dos sistemas de distribuição de energia elétrica. Exatamente o que nós temos aqui no Brasil pelo fato do nosso sistema já ter sido projetado dessa forma unificada: se a capacidade de produção de uma usina estiver baixa, energia pode ser redirecionada de outras usinas através do sistema para a área atendida.
Todo projeto de desenvolvimento, em última análise, implica na adoção de certas diretrizes e protocolos comuns. A desuniformidade que surge naturalmente como consequência das especificidades de cada país acaba sendo um entrave para o desenvolvimento e representando, no conjunto dessas desuniformidades, um custo enorme e desperdício. Além de problemas difíceis de serem solucionados no futuro.
Por exemplo: a Inglaterra é uma ilha e nessa ilha os automóveis trafegam na mão invertida. Essa especificidade era um pequeno transtorno que se tornou bem maior quando passou a existir um eurotúnel capaz de transportar grande número de passageiros a baixo custo, mas também veículos. Mais difícil até que adaptar o carro inglês quando chega na França é adaptar o seu motorista.
Pior quando países diferentes usam bitolas diferentes em suas linhas ferroviárias! Se um dia a União Europeia for toda servida por linhas férreas de trens de alta velocidade, com sistema de levitação magnética, este sistema será implementado com muito mais facilidade, eficiência, e muito menor custo se, desde o início, existir um protocolo comum especificando como se deva projetar esse tipo de transporte.
Vai evitar a dor de cabeça, praticamente insolúvel depois, de integrar de forma simples um sistema que a França construiu conjuntamente com o Reino Unido com outro diferente que a Alemanha desenvolveu em parceria com a Turquia.
Da mesma forma incompatibilidades linguísticas, legislativas, de sistemas de medidas, de políticas sanitárias e regulação da produção de alimentos e medicamentos, etc... uma infinidade e desuniformidades pequenas e grandes, acabam representando em seu conjunto uma grande dificuldade para a integração econômica, para um aproveitamento eficiente dos recursos disponíveis.
Esta foi uma vantagem inegável que resultou do processo de independência da América Portuguesa em relação ao processo de independência na América Espanhola.
Getúlio Vargas, político gaúcho com tendências nacionalistas inspiradas do fascismo, aproveitou a segunda guerra para barganhar com os americanos a primeira indústria siderúrgica no Brasil, que foi instalada em Volta Redonda - RJ, onde havia, na época, fornecimento de energia necessário para esse tipo de usina. O aço foi fundamental para alavancar o crescimento industrial no estado de São Paulo, e consequentemente seu crescimento urbano, para o qual a necessária indústria da construção civil - que resultou em mega empresas como o Grupo Votorantim - dependeu fundamentalmente de mão de obra imigratória. Especialmente dos estados do nordeste. Mas tanto as cidades como a produção estavam famintas por energia para crescer ainda mais. Porém SP não precisou gerar sua energia a partir de inúmeras custosas usinas a diesel e carvão, como ocorre na Europa, pois o regime militar pôde aproveitar o potencial hidroelétrico do Paraná e construir ali o que foi na época a maior usina hidrelétrica do mundo!
Claro, o Paraná sozinho jamais teria feito. Por duas simples razões: não tinham recursos e não precisavam!
Mas assim como o aço, a energia e a mão de obra, também as necessárias jazidas de ferro não estavam em São Paulo. E nem no Rio de Janeiro, e nem no Paraná, e nem nos estados do nordeste. Mas lá em cima, em Carajás, na região Norte.
Claro que, com este cenário, quando duas das maiores montadoras de veículos do mundo, a Volks e a Ford, resolveram montar uma base de produção na América do Sul, não escolheram o Paraguai, país com custo de mão de obra baixíssimo e a única economia totalmente aberta do continente, onde não havia impostos sobre importação ou exportação, nem limites para remessas de lucros de empresas multinacionais, etc... Não, escolheram o ABC paulista!
Pesou a favor energia barata, as jazidas de ferro, o aço, a mão de obra abundante, o nível de industrialização do Brasil capaz de gerar as indústrias de suporte, um sistema de transporte para distribuir a produção para todo o país e para a exportação e um grande mercado consumidor em potencial, entre outras coisas. Então os paranaenses, que jamais precisariam de toda a energia que seu estado produz, puderam comprar carros nacionais, ao invés de ter que importa-los ou rouba-los no Brasil, como precisam fazer os paraguaios.
Esse quadro é uma exemplificação simplificada do processo de desenvolvimento econômico do Brasil, que talvez ajude a entender um pouco porque mais da metade das grandes empresas da América Latina não são paraguaias ou bolivianas, mas brasileiras.