Isso que eu disse é de algo que li, talvez em alguma discussão, que mencionava justamente que não se trata desse mérito de "competição igual", mas de "merecer usufruir dos frutos do seu trabalho 100% legal e não significativamente moralmente questionável". Usufruto que inclui poder beneficiar a pessoas arbitrárias, como familiares, comprando-lhes boa alimentação, livros, etc, mesmo que isso resulte nelas terem melhores oportunidades que outros. E considerar isso justo não implica que as pessoas com melhores oportunidades sejam "mais valiosas", mais importantes, mais digna de estima e apreço, ao menos não por si só.
Darwin tinha melhores condições que Wallace, e fez um trabalho mais completo em cima da idéia de evolução, e principalmente por isso é mais reconhecido, mesmo que seja argumentavelmente "injusto" que tivesse melhores condições que Wallace. Sobre esse pode-se dizer que é por isso mesmo mais impressionante, apesar de não ter ido tão longe.
Mas repetindo, não quero nem fazer uma argumentação sobre a semântica, pode bem ser que "meritocracia" tenha a assunção de "competição com condições iguais, onde os resultados sejam somente derivados de capacidade individual", seja algo próximo de "desportocracia", "competição-sem-handicap-cracia", "habilicracia", ou seja lá o que for-cracia. Nesse caso, meritocracia pode ser algo bem injusto, se implicar no governo limitar significativamente as oportunidades daqueles que tenham mais sorte (ou mesmo mais mérito), a fim de igualar as oportunidades de todos numa "competição" no mercado.
Kurt Vonnegut jr. tem uma estorinha curta em que um governo fazia isso de forma bem caricata mas que nem por isso deixa de ser ilustrativa. Bailarinos/as naturalmente habilidosos tinham que usar contrapesos os atrapalhando a dançar, pessoas bonitas deveriam usar maquiagem para ficarem mais medianos, etc.