O que faz a humanidade se agrupar em diferentes sociedades é essencialmente aquilo em que se acredita, expresso em atos, palavras e comportamento, no final tudo é sagrado, apenas diferindo o nível de sacralidade, então, o confronto que está ocorrendo é o da sacralidade de um código de conduta baseado na liberdade de expressão de uma sociedade com a sacralidade de outro código de conduta de outra sociedade baseado em canon religioso. O povo da "liberdade de expressão vs. o povo da religião "x". O povo da "liberdade de expressão" acha aceitável submeter ao escárnio e ao ridículo a religião "x" do povo da religião "x", e o povo da religião "x" quer matar quem escarnece e ridiculariza a sua religião. Há uma questão aí, que precisa ser resolvida.(...)
É bom salientar que este "povo da religião X" ao qual você se refere, na verdade não são representantes de todo desta religião "X", sendo mais sensato dizer, uma minoria radical, cuja a sua interpretação da religião "X", não o é compartilhada pela grande maioria seguidora da religião "X", diga-se explicitamente, islamismo, sendo esta maioria, ao que tudo indica, pacifica e contrária as ações deste grupo que representa uma minoria radical.
Confesso que não compreendia o julgamento do Supremo Tribunal Federal que responsabilizou um editor por racismo ao negar o holocausto.
Esse caso de ontem é emblemático. Como todos os direitos, nenhum é inteira ou plenamente absoluto. Para mim, há algo de indigesto em uma publicação que sabidamente ofendia e ridicularizava a crença de outros.
O direito à liberdade de crença implica em aceitar que os outros achem sua crença ridícula, revoltante, satanista etc.
Se sua crendice lhe impede de zoar com os seus símbolos religiosos, obedeça. Os outros não têm que obedecer. Aceite isto.
O resto é apenas uma questão de educação e boa convivência. Acontece que crendices que pregam o extermínio de quem não acredita merecem ser ridicularizadas e combatidas.
Nota: o Holocausto é um fato até prova em contrário. Quem o nega defende criminosos. As crendices são apenas ... crendices.
Você é a favor da censura contra aqueles que negam o holocausto, mas é a contra a mesma censura contra aqueles que profanam e/ou ridicularizam crenças alheias?
Obs: Eu sou contra a censura em ambos os casos.
Obs2: Em alguns casos até acho que passam dos limites e mereçam repreensão, como no caso de radicais que vandalizam igrejas e símbolos católicos (como imagens de santos no interior das igrejas), por exemplo. Mas não o é o caso de satiristas como os da 'Charlie hebdo'.
Abraços!
Exatamente minha posição Skeptikós, se tem uma coisa com que concordo (e acho que é a única) na argumentação do Sparke é que há um contrassenso entre a proibição pelo Estado Francês quanto à negativa do holocausto e o seu apoio quanto ao escárnio ao Islão.
Deveria permitir os dois, enquanto apenas opiniões ambos deveriam estar protegidos sob a sacralidade da Liberdade de Expressão.
Também concordo, principalmente pelo fato do país ser um país democrático favorável em suas leis e discursos a liberdade de expressão, sendo por tanto justo, segundo sua própria lei, tratar a todos como iguais, dando a ambos a mesma liberdade de expressão.

Quanto aos casos tipo que você citou, de invasão de templos, por exemplo, concordo também, mas é porque aí não é mais apenas questão de liberdade de expressão mais de direito à propriedade privada: se um bispo compra uma pietá de gesso e chuta em programa de televisão eu acho que isto não deve reprimenda legal mas se um grupo de mulheres invade um templo e o vandaliza elas merecem a pena dada pelo Estado Russo.
Verdade, no entanto eu costumo ser inclinado a achar necessário algum tipo de repreensão em casos como aqueles, onde feministas, semi-nuas, gritando palavrões e ofensas aos fieis católicos durante a jornada da juventude no Rio de Janeiro, em visita do papa Francisco, profanavam imagens católicas, quebrando-as na frente dos católicos, enfiando-as você sabe onde, e etc. Neste caso não se trata de simplesmente quebrar imagens cultuadas por católicos, mas pela forma como o faziam, extremamente violenta, em meio a xingamentos, ofensas e ataques diretos aos católicos, que, nada tinha feito efetivamente, para merecerem aquilo.
Talvez não seja o caso de uma punição em forma de multa ou prisão, mas ao menos uma repreensão pública por parte do governo, desencorajando tais atitudes, e as pitando de forma negativa perante a sociedade.
Abraços!