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Você é Charlie?

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Autor Tópico: Você é Charlie?  (Lida 8989 vezes)

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Offline Pasteur

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Re:Você é Charlie?
« Resposta #150 Online: 15 de Janeiro de 2015, 20:42:27 »
Testando ao máximo a liberdade de expressão(no Canadá).

http://www.prisonplanet.com/muslim-puts-free-speech-to-the-test-jokes-about-holocaust-911.html

Pra mim está valendo.

Como o próprio texto diz, ele está sob investigação e no máximo será preso. Ao contrário dos cartunistas. Então mesmo que a liberdade de expressão não seja aplicada, as leis e punições serão.

Mas não o condeno e não acho que deveria ser preso.

Desprezível um cara que faz piadas como essas. Merece ir pra cadeia só por igualar as duas situações.



Merece porque você acha ou por algum motivo importante?

Você sabe que esse é o mesmo ideal de quem te mata por uma piada, né?

Merece ir pra cadeia por ser crime de racismo e uma semana de solitária pra deixar de ser babaca.

Offline Alucinado psicopata

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Re:Você é Charlie?
« Resposta #151 Online: 15 de Janeiro de 2015, 20:49:04 »
"Eu defendo a liberdade de expressão, mas..."  :biglol:

Offline Diegojaf

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Re:Você é Charlie?
« Resposta #152 Online: 15 de Janeiro de 2015, 20:50:19 »
Racismo?
"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto." - Rui Barbosa

http://umzumbipordia.blogspot.com - Porque a natureza te odeia e a epidemia zumbi é só a cereja no topo do delicioso sundae de horror que é a vida.

Offline Pasteur

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Re:Você é Charlie?
« Resposta #153 Online: 15 de Janeiro de 2015, 21:10:40 »
Pelo menos é tão odioso quanto o crime de racismo.
« Última modificação: 15 de Janeiro de 2015, 21:17:41 por Pasteur »

Offline Pasteur

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Re:Você é Charlie?
« Resposta #154 Online: 15 de Janeiro de 2015, 21:19:47 »
"Eu defendo a liberdade de expressão, mas..."  :biglol:

Sou a favor da liberdade de expressão só até a página 3...

a página que classifica como crime.

Offline Alucinado psicopata

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Re:Você é Charlie?
« Resposta #155 Online: 15 de Janeiro de 2015, 21:37:45 »
"Eu defendo a liberdade de expressão, mas..."  :biglol:

Sou a favor da liberdade de expressão só até a página 3...

a página que classifica como crime.

O mesmo para os radicais islâmicos sobre você.

Offline Pasteur

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Re:Você é Charlie?
« Resposta #156 Online: 15 de Janeiro de 2015, 21:40:25 »
"Eu defendo a liberdade de expressão, mas..."  :biglol:

Sou a favor da liberdade de expressão só até a página 3...

a página que classifica como crime.

O mesmo para os radicais islâmicos sobre você.

Não são eles que decidem o que é crime.

Offline Alucinado psicopata

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Re:Você é Charlie?
« Resposta #157 Online: 15 de Janeiro de 2015, 21:46:31 »
"Eu defendo a liberdade de expressão, mas..."  :biglol:

Sou a favor da liberdade de expressão só até a página 3...

a página que classifica como crime.

O mesmo para os radicais islâmicos sobre você.

Não são eles que decidem o que é crime.

São eles que decidem o que é crime para eles, de acordo com os fundamentos deles, dentro da cultura deles, independentemente onde estejam e dos conceitos que os burocratas que definem as leis que você defende tenham criado.

Isto basta para te matar.

Offline Gigaview

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Re:Você é Charlie?
« Resposta #158 Online: 15 de Janeiro de 2015, 21:47:52 »
Testando ao máximo a liberdade de expressão(no Canadá).

http://www.prisonplanet.com/muslim-puts-free-speech-to-the-test-jokes-about-holocaust-911.html

Pra mim está valendo.

Como o próprio texto diz, ele está sob investigação e no máximo será preso. Ao contrário dos cartunistas. Então mesmo que a liberdade de expressão não seja aplicada, as leis e punições serão.

Mas não o condeno e não acho que deveria ser preso.

Desprezível um cara que faz piadas como essas. Merece ir pra cadeia só por igualar as duas situações.



Merece porque você acha ou por algum motivo importante?

Você sabe que esse é o mesmo ideal de quem te mata por uma piada, né?

Merece ir pra cadeia por ser crime de racismo e uma semana de solitária pra deixar de ser babaca.

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Brandolini's Bullshit Asymmetry Principle: "The amount of effort necessary to refute bullshit is an order of magnitude bigger than to produce it".

Pavlov probably thought about feeding his dogs every time someone rang a bell.

Offline Moro

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Re:Você é Charlie?
« Resposta #159 Online: 15 de Janeiro de 2015, 22:02:49 »
Por que a Fernanda Lima não é proibida no Líbano?

Por que mulher pode dirigir na Indonésia?

Por que a mulher pode mostrar o rosto no Egito?

Por que a mulher pode mostrar o cabelo na Turquia?

Por que só na África há circuncisão feminina?

Por quê??



Pasteur, você deve estar brincando.. Só para pegar o caso de "sucesso" do Islã, que é a Turquia, o estado laico está sofrendo pressões cada vez maiores pela implementação de uma teocracia o que é amplamente suportado pela população. Também esse país é citado por Harris como tendo apoiado amplamente 11/09.

Usar isso como critério de radicalização pode ser discutível, mas no mínimo é um indicador.

Quanto a Indonésia.. cara Indonésia? O que você quer que eu fale sobre o regime de Joko Widodo?

Refaça seu argumento, esses países são um contra-exemplo para ele.


Madiba, estou dizendo que há diferenças regionais, sendo que a cultura local determina vários atitudes e não só o Islã. Por exemplo, a circuncisão feminina é uma prática africana e não islâmica, tendo alguns países de maioria cristã que a pratica.

Eu não afirmei o contrário, isso é amplamente conhecido e não só no mundo islâmico. O ponto que estávamos discutindo é a radicalização desses países e se o critério para julgar-los radicais era adequado ou não.

Os números citados são de centenas de milhões de muçulmanos radicais, sendo radicais os que aprovam ataques jihadistas a civis (maioria na turquia por exemplo, quando ocorreu o 11/09, segundo o vídeo que postei do Sam Harris)

Não me soa nada estranho.
“If an ideology is peaceful, we will see its extremists and literalists as the most peaceful people on earth, that's called common sense.”

Faisal Saeed Al Mutar


"To claim that someone is not motivated by what they say is motivating them, means you know what motivates them better than they do."

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I'm not convinced that faith can move mountains, but I've seen what it can do to skyscrapers."  --William Gascoyne

Offline Moro

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Re:Você é Charlie?
« Resposta #160 Online: 15 de Janeiro de 2015, 22:09:48 »
Testando ao máximo a liberdade de expressão(no Canadá).

http://www.prisonplanet.com/muslim-puts-free-speech-to-the-test-jokes-about-holocaust-911.html

Pra mim está valendo.

Como o próprio texto diz, ele está sob investigação e no máximo será preso. Ao contrário dos cartunistas. Então mesmo que a liberdade de expressão não seja aplicada, as leis e punições serão.

Mas não o condeno e não acho que deveria ser preso.

Desprezível um cara que faz piadas como essas. Merece ir pra cadeia só por igualar as duas situações.




A idéia do cara foi genial, trouxe a discussão uma série de coisas extremamente importantes para sustentar se não a legalidade da liberdade de expressão, ao menos a moralidade de algumas delas. Mas foi mal executada.

No meu ponto de vista é diferente fazer piadas sobre judeus sendo cozidos e dizer que Alá é um babaca, como seria diferente fazer uma piada sobre armênios sendo exterminados e dizer que prefere o Thor do que Jesus porque Thor tem martelo e jesus foi pregado.

Em uma primeira vista parecem similares, mas são bem distintos.

Então, foi mal executada porque para fazer uma analogia ao Maomé babão, ele deveria ter colocado Moisés babão.
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Offline Fernando Silva

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Re:Você é Charlie?
« Resposta #161 Online: 17 de Janeiro de 2015, 13:15:59 »
Sacanear deuses e crendices não é a mesma coisa que sacanear pessoas e etnias.

Offline Fernando Silva

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Re:Você é Charlie?
« Resposta #162 Online: 17 de Janeiro de 2015, 13:19:45 »
Citar
Pregadores radicais usam religião para incitar o ódio

Teólogo muçulmano alerta para amplo campo de manipulação de fiéis por clérigos extremistas

O uso do Alcorão para incitar a violência contra ocidentais, ateus, judeus, cristãos, muçulmanos de diferentes correntes religiosas ou intelectuais vistos como adversários do Islã não está limitado a sites jihadistas ou grupos terroristas como al-Qaeda e Estado Islâmico. A incitação pode vir de pregadores em mesquitas radicais, TVs e outras fontes. E essa mensagem minoritária do Islã — que muitas autoridades muçulmanas denunciam como um desvirtuamento da religião — acaba ganhando força em momentos de tensão, como invasões militares ocidentais em países islâmicos ou a publicação de imagens do profeta Maomé.

O recente ataque ao jornal francês “Charlie Hebdo” foi mais um exemplo de como o uso político da fé por incitadores do ódio faz palavras virarem ação. Antes de o semanário satírico desafiar o extremismo, porém, o jornal dinamarquês “Jyllands-Posten” já causara furor no mundo muçulmano ao publicar uma série de caricaturas de Maomé em 2005. As charges, que inicialmente indignaram apenas os muçulmanos locais, só deram origem a manifestações violentas vários meses depois, quando clérigos radicais as usaram para amplificar suas mensagens.

Um deles, o sunita Yousuf al-Qaradhawi, um líder da Irmandade Muçulmana, teve papel central. No dia 3 de fevereiro de 2006, seu sermão, transmitido pela TV Qatar, pedia aos muçulmanos que se unissem em fúria contra a publicação das charges, que ele associou às invasões dos EUA a países islâmicos.

— A nação deve se enfurecer em raiva. É dito que o imã al-Shafi disse: ‘Quem ficou com raiva e não se enfureceu é um idiota.’ Nós não somos uma nação de idiotas. Não somos idiotas para serem montados, mas leões que rugem — disse, incitando a reação ao jornal.
http://oglobo.globo.com/mundo/pregadores-radicais-usam-religiao-para-incitar-odio-15080414#ixzz3P4zlxMUY

Offline Fernando Silva

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Re:Você é Charlie?
« Resposta #163 Online: 17 de Janeiro de 2015, 13:21:07 »
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Recomendação de um budista, sobre as declarações do Papa sobre a liberdade de expressão.

É um erro declarar que liberdade não inclui a liberdade de ofender, afinal quem decidirá o que é ofensa ou não? Como dissociar esta declaração de uma defesa da censura prévia? Mesmo que algo seja absolutamente de mau gosto e pornográfico qual será o tribunal a decidir isto?  Como teremos imprensa livre se cada grupo e religião tem seus critérios à respeito do que é ofensivo ou não? Eu posso saber no meu quadro referencial mas e quanto ao quadro referencial dos outros?

Um mulá islâmico tem uma idéia bem diferente de um padre do que é insulto a fé. Se queremos uma imprensa livre não poderemos ter censura de espécie alguma, se houver injúria, difamação ou calúnia elas devem ser tratadas a luz da lei de reparações posteriores. Qualquer um que pretenda restringir isto apelará para seu quadro referencial e tentará impor seus valores aos outros, isto é o fim da liberdade tão duramente conquistada pela civilização.

Para um budista não há nada que precise ser visto como insulto, somos nós que nos ofendemos, os outros emitem sons que nós interpretamos como tal, um cão a ladrar com fúria nada mais é que um emissor de sons. Não há sentido em reagir com um murro a quem ofenda com palavras nossa mãe, não dar importância alguma é uma resposta mais sábia.

http://opicodamontanha.blogspot.com.br/2015/01/liberdade-e-ofensa.html

Skorpios

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Re:Você é Charlie?
« Resposta #164 Online: 17 de Janeiro de 2015, 13:41:31 »
Para refletir...

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Os assassinatos de Paris: uma armadilha mortal

São Salvador, Bahamas, janeiro/2015 – É triste ver como um continente que foi berço de uma civilização marcha cegamente para uma armadilha: a de uma guerra santa contra o Islã. Para isso bastaram três terroristas muçulmanos e um ataque assassino ao semanário parisiense Charlie Hebdo.

É preciso sair da compreensível onda do “todos somos Charlie Hebdo” para examinar os fatos e entender que estamos em mãos de uns poucos extremistas, nos colocando em seu próprio nível.

A radicalização do conflito entre o Ocidente e o Islã terá consequências terríveis.

O Islã é a segunda religião do mundo, com 1,6 bilhão de pessoas. Os muçulmanos são maioria em 49 países do mundo e constituem 23% da humanidade.

Nesse quadro, os árabes são 317 milhões dos 1,6 bilhão. Quase dois terços dos muçulmanos (62%) vivem na região Ásia-Pacífico.

Estudos do Centro de Pesquisa Pew sobre o mundo muçulmano indicam que os muçulmanos do sul da Ásia são mais radicais quanto à observância e pontos de vista religiosos.

No sul da Ásia, 81% estão de acordo com o castigo corporal severo para os criminosos, contra 57% no Oriente Médio e Norte da África. A favor da execução dos que renunciam ao Islã, estão 76% no Sul da Ásia contra 56% no Oriente Médio.

Portanto, é claro que a história do Oriente Médio explica a especificidade dos árabes no conflito com o Ocidente.

E aqui há quatro razões principais.

Primeiro: todos os países árabes são artificiais. Em maio de 1916, François Georges-Picot, pela França, e Mark Sykes, pela Grã-Bretanha, acordaram a divisão do Império Otomano ao final da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), mediante um tratado secreto que contou com apoio do Império Russo e do reino da Itália.

Assim, os países árabes atuais nasceram como resultado de uma divisão entre França e Grã-Bretanha, sem considerar as realidades étnicas, religiosas ou históricas. Alguns desses países, como o Egito, tinham uma identidade histórica, enquanto isso não acontecia com os outros, como Arábia Saudita, Jordânia, Iraque, ou mesmo os Emirados Árabes Unidos.

Vale a pena recordar que o problema dos 30 milhões de curdos divididos entre quatro países também foi criado pelas potências europeias.

Segundo: as potências coloniais instalaram reis e xeques nos países que criaram. Para dirigir estes Estados artificiais exigiu-se mão de ferro. Portanto, desde o princípio, houve uma total falta de participação da sociedade em um sistema político fora de sintonia com o processo democrático que estava em curso na Europa.

Com a benção europeia, estes países ficaram congelados na época feudal.

Terceiro: as potências europeias nunca investiram no desenvolvimento industrial ou em um verdadeiro desenvolvimento. A exploração do petróleo estava nas mãos de empresas estrangeiras e só depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e o consequente processo de descolonização, o petróleo ficou em mãos locais.

Quando as potências coloniais se retiraram, os países árabes não tinham um sistema político, infraestruturas, nem gestão local modernas. Quando a Itália abandonou a Líbia (sem saber que tinha petróleo), unicamente três líbios tinham formação universitária.

Quarto: nos Estados que não proporcionaram educação e saúde aos seus cidadãos, a piedade muçulmana assumiu a tarefa de dar aquilo que o Estado negava. Foram criadas grandes redes de escolas religiosas e hospitais.

Quando as eleições foram finalmente autorizadas, estas se converteram na base da legitimidade e no voto para os partidos muçulmanos. Tomando o exemplo de dois países importantes, Argélia e Egito, onde os partidos islâmicos ganharam, os golpes militares com a conivência do Ocidente passaram a ser o único recurso para detê-los.

Esta síntese de tantas décadas em poucas linhas é, naturalmente, superficial e omite muitas outras questões. Mas este processo histórico abreviado é útil para a compreensão de como a ira e a frustração se espalham agora por todo o Oriente Médio e a forma que assume a atração para o movimento extremista Estado Islâmico (EI) nos setores pobres.

Não devemos esquecer que este cenário histórico, embora remoto para os jovens, se mantém vivo devido à dominação israelense do povo palestino. O apoio cego do Ocidente a Israel, especialmente dos Estados Unidos, é visto pelos árabes como uma humilhação permanente e a expansão dos assentamentos continua eliminando a possibilidade de um Estado palestino viável.

O bombardeio de Gaza em julho e agosto, que produziu um débil protesto do Ocidente e nenhuma ação real, é a prova clara para o mundo árabe de que a intenção é mantê-los submetidos, aliando-se apenas com corruptos e legitimando governos indesejáveis.

A intervenção ocidental contínua no Líbano, Iraque e Síria, e aviões teledirigidos que bombardeiam por toda parte são vistos pelos 1,6 bilhão de muçulmanos como um Ocidente historicamente comprometido em manter o Islã curvado, como observa em sua conclusão o informe do Centro Pew.

Deve-se recordar que o Islã tem várias práticas internas, e entre elas a divisão entre sunitas e xiitas é a maior. Enquanto entre os árabes pelo menos 40% dos sunitas não reconhecem um xiita como outro muçulmano, fora da zona árabe isto tende a desaparecer.

Na Indonésia, apenas 26% se identificam como sunitas, enquanto 56% se dizem “apenas muçulmano”. No mundo árabe, somente no Iraque e Líbano, onde as duas comunidades viviam lado a lado, a grande maioria dos sunitas reconhecia os xiitas como outro muçulmano.

O fato de os xiitas, que representam apenas 13% dos muçulmanos, serem a imensa maioria no Irã, enquanto a Arábia Saudita lidera a corrente sunita, explica o conflito interno em curso na região, convulsionada pelas duas lideranças.

A Al Qaeda na Mesopotâmia, então encabeçada pelo jordaniano Abu Musab al-Zarqawi (1966-2006), impôs com êxito uma política de polarização no Iraque, atacando os xiitas, que causou uma limpeza étnica de um milhão de sunitas em Bagdá.

Agora o EI, o califado radical que igual ao Ocidente está desafiando todo o mundo árabe, atraiu muitos sunitas do Iraque, que haviam sofrido represálias por parte dos xiitas.

O fato é que centenas de árabes morrem cotidianamente devido ao conflito interno.

Os terroristas que atacaram o Ocidente, em Ottawa, Londres ou Paris, têm o mesmo perfil: um jovem nascido no país, que não provém de países árabes, que não era religioso durante sua adolescência, que de alguma maneira é um solitário errante, e que não encontra trabalho.

Em quase todos os casos esse jovem tinha alguma conta a acertar com a justiça. Só nos últimos anos se converteu em um praticante que aceitou os chamamentos do EI para matar infiéis. Em sua opinião, com isto encontraria uma justificativa para sua vida e se converteria em um mártir em outro mundo.

A reação a tudo isto é uma nova campanha no Ocidente contra o Islã. O último número da revista The New Yorkerpublicou um duro artigo que define o Islã não como uma religião, mas como uma ideologia.

Na Itália, a Liga Norte, o partido direitista anti-imigrantes, condenou publicamente o papa Francisco por convidar o Islã para um diálogo, e o comentarista conservador Giuliano Ferrara disse na televisão que “nos encontramos em uma guerra santa”.

A reação global europeia e norte-americana é de denunciar os assassinatos de Paris como o resultado de uma “ideologia mortal”, como a definiu o presidente da França, François Hollande.

Estudos realizados em toda a Europa indicam que a imensa maioria dos imigrantes se integrou com êxito na economia. Informes da Organização das Nações Unidas (ONU) também demonstram que a Europa, com sua queda demográfica, precisa de uma imigração de pelo menos 20 milhões de pessoas até 2050, se deseja que sobreviva seu modelo de bem-estar social e seja competitiva no mundo.

Porém, o que estamos conseguindo? Os partidos de direita xenófoba condicionam na Europa os governos de Dinamarca, Grã-Bretanha, Holanda e Suécia, e parecem a ponto de ganhar as próximas eleições na França.

Naturalmente, o que aconteceu em Paris foi um crime atroz e a livre expressão de opiniões é essencial para a democracia, mas deve-se acrescentar que pouquíssimos alguma vez leram a Charlie Hebdo e conhecem seu nível de provocação.

Sobretudo porque, como Tariq Ramadan disse no The Guardian, no dia 10 deste mês, em 2008 a Hebdo demitiu um desenhista que fez uma piada sobre um vínculo judeu do filho do presidente Sarkozy.

A Charlie Hebdo é uma voz em defesa da superioridade e da supremacia cultural da França no mundo. Contava com um pequeno número de leitores, que conseguiu vendendo provocações. Exatamente o contrário da visão de um mundo baseado no respeito e na cooperação entre as diferentes culturas e religiões.

Mas agora todos somos Charlie, como todo o mundo está dizendo. Entretanto, radicalizar o choque entre as duas maiores religiões do mundo não é um assunto menor

Devemos lutar contra o terrorismo, seja este muçulmano ou não. É preciso recordar que Anders Behring Breivik, um norueguês que queria manter seu país a salvo da penetração muçulmana, assassinou 91 de seus concidadãos em 2011.

No entanto, estamos caindo em uma armadilha mortal, ao fazermos exatamente o que deseja o islamismo radical. Declarar uma guerra santa contra o Islã equivaleria a empurrar a imensa maioria dos muçulmanos para a radicalização.

O fato de os partidos europeus de extrema direita colherem os benefícios desta radicalização é muito bem-vindo pelos muçulmanos radicais. Eles sonham com uma luta mundial para impor o Islã como a única religião. E não qualquer Islã, mas a interpretação fundamentalista do sunismo.

Em lugar de adotar uma estratégia de isolamento, estamos nos comprometendo com uma política de enfrentamento. As perdas de vidas no 11 de setembro de 2001 em Nova York foram minúsculas em comparação com o que está acontecendo no mundo árabe, onde em um só país, a Síria, 50 mil pessoas perderam a vida em 2014.

Como podemos cair cegamente em uma armadilha, sem nos darmos conta de que estamos participando de um terrível conflito em escala mundial?

* Roberto Savio é fundador da agência IPS e editor da Newsletter Other News.

Offline Gabarito

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Re:Você é Charlie?
« Resposta #165 Online: 19 de Janeiro de 2015, 13:59:51 »
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A barbárie politicamente correta
O envenenamento da verdade é o trunfo do autoritarismo disfarçado de revolução social
GUILHERME FIUZA
18/01/2015 10h00

O chocante atentado em Paris contra uma revista de humor ultrapassa as fronteiras da França e da Europa. É a versão terrorista e sanguinária de uma praga que se espalha por todo o planeta: a caçada à liberdade de expressão fantasiada de revolução anticapitalista.

Por incrível que pareça, o Estado Islâmico, com seu método de tentar calar os oponentes cortando-lhes a cabeça, tem discretos simpatizantes entre “progressistas” do Ocidente – esses zumbis da esquerda que continuam se sentindo nobres e humanitários por detestar os Estados Unidos. No Brasil, o último grande movimento de massas gerou um único e bizarro fruto concreto: uma escória de depredadores boçais que conseguiram até o apoio de sindicatos de professores. Todos supostamente unidos contra o poderio da elite branca – e todos, na verdade, tentando a vida fácil de camelôs da bondade. A revolucionária e destemida Mídia Ninja terminou contratada pela campanha presidencial de Dilma Rousseff.

Chegou-se a ver uma certa esquerda culta fazendo uma defesa envergonhada e meio dissimulada da violência. A palavra “vandalismo”, usada com propriedade para classificar as ações patológicas dos black blocs, acabou virando bordão debochado entre essas tribos antenadas. “Vandalismo” seria um tratamento conservador e reacionário por parte da mídia burguesa, para estigmatizar protestos legítimos e heroicos. Estudantes e intelectuais chegaram a portar broches com a inscrição “vândalo” – para tentar ironizar os críticos do quebra-quebra. Se esse ponto de vista ignorante, irresponsável e complacente com a violência chegou a proliferar entre gente esclarecida de grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro, pode-se imaginar o potencial de sucesso que a propaganda da barbárie politicamente correta tem ao redor do mundo.

Falar em “barbárie politicamente correta” já seria em si uma estupidez – se esse fenômeno não pudesse ser, infelizmente, identificado a olho nu. Quando um cinegrafista da TV Bandeirantes foi morto no centro do Rio de Janeiro por um rojão dos “manifestantes”, uma numerosa turma “progressista” educada e bem alimentada passou a dizer que a mídia capitalista estava explorando um cadáver para coibir os protestos contra o sistema. Se a desonestidade intelectual chega a esse ponto, por que não dizer que a repercussão da morte dos chargistas franceses seja também uma tentativa de vitimizar o capitalismo?

Esse vale-tudo da propaganda ideológica quer fundar uma nova verdade na marra. Os impostores que estão governando o Brasil há 12 anos só não foram enxotados ainda porque montaram um conto de fadas eficiente (tosco, mas incrivelmente eficiente). Quase mensalmente o governo popular solta alguma historinha sobre a ditadura militar e suas vítimas. É uma tragédia real que foi devidamente mercantilizada pelo PT – como a vitamina ideal para seu figurino de vítima. Consegue assim o milagre de mandar e desmandar no país sem perder a aura de combatente contra os poderosos e arbitrários. O ápice do sucesso desse projeto de cinismo assumido foi o discurso de posse da presidente reeleita: com a expressão mais tranquila do mundo, Dilma Rousseff atacou a corrupção e defendeu a Petrobras.

Petrobras cuja CPI seu governo trabalhou para sepultar. Petrobras que foi arrombada por um escândalo gestado sob o governo do PT, com operadores desse roubo bilionário diretamente ligados ao Planalto e ao partido governante. A praga do envenenamento da verdade, que ameaça jornalistas e humoristas no Brasil e no mundo, é o grande trunfo desses projetos autoritários fantasiados de revolução social. Só uma verdade envenenada permite que Dilma faça um discurso defendendo a Petrobras, e o Brasil não perceba a zombaria.

Qualquer humorista brasileiro sabe que nos últimos anos ficou mais difícil satirizar o governo – que em si já é uma sátira. A guerra da informação é uma das principais plataformas desse projeto populista de poder. Já tentaram contrabandear censura à imprensa em programa de direitos humanos – para ver que não fazem cerimônia. Simpatizantes do PT vandalizaram uma editora que publicou reportagem sobre o petrolão. Os fins (postiços) justificam os meios (boçais). Paris não é longe daqui.

 

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