Aposto que muitas das pessoas que dizem que não deveríamos fazer charges retratando Maomé, por questão de "bom senso" ou "prudência" (e argumentos ad baculum diversos), ficariam histéricas se lhes fosse sugerido que homossexuais deveriam se abster de viadagem em público, pra não ofender os muçulmanos e "pedirem" uma esperada resposta violenta.
2. E digo mais: esse pedidos de prudência significam a vitória do terror.
Não porque prudência não seja aconselhável em um contexto geral mas porque, como talvez diria o papa Francisco, nem fudendo que acatarei porra de ordens de filhos da puta terroristas.
O bom senso e a prudência devem valer para os dois lados.
Todas as grandes cidades do ocidente possuem comunidades muçulmanas expressivas que parecem ajustadas ao "way of life" local, seguindo seu próprio "way of living". Os conflitos que poderíamos considerar preocupantes, sem a ação de radicais, são raros ou inexistentes o que evidencia tolerância e controle de incompatibilidades culturais, inclusive as religiosas por ambos os lados. A maioria dos conflitos expressivos não parecem ser de natureza religiosa, mas em decorrência de fatores políticos e econômicos, como acontece na Alemanha com a invasão de imigrantes de maioria muçulmana.
A perturbação dessa ordem, acredito que surge de dois fatores principais. O primeiro é a falta de bom senso e prudência dos muçulmanos radicais que tentam impor de todas as formas seu "way of living" ao "way of life" dos países que os acolheram. A lei existe para resolver esses conflitos quando tudo passa dos limites ou regular normas de convivência. Quem não se enquadra é punido. O segundo é a falta de bom senso e prudência dos radicais "ocidentais" em relação ao "way of living" muçulmano colocando-os como a escória invasora que deve ser afastada de qualquer maneira da sociedade. A lei também se encarrega desses casos e corrige e controla os abusos decorrentes desse posicionamento. Os exageros de ambos os casos são casos de polícia.
O terrorismo é um caso a parte. Não é um caso de polícia, é um caso para as agências de inteligência. Os atos de terror não tem nada a ver com a imposição do "way of living" muçulmano, tanto que são veementemente condenados pela sociedade muçulmana ajustada ao "way of life" das sociedades que as acolheram. O bom senso das comunidades muçulmanas já fez entender e aceitar o humor com o Maomé retratado mesmo considerando qualquer retrato de Maomé ofensivo. Os radicais descontentes não aceitam e podem recorrer às leis locais para processar e punir aqueles que os agridem.
A liberdade de expressão é um elemento do "way of life" ocidental mas o bom senso e prudência deveriam fazer parte de um processo de auto-regulação, ou mesmo de simples reflexão, que observe os impactos no equilíbrio da convivência apesar das garantias institucionais que estabelecem essa liberdade na forma de leis. Perdão pelo tom religioso e simplório, mas seria algo parecido como avaliar se devemos fazer com o próximo aquilo que não gostaríamos que fizessem conosco.
A resposta ao terrorismo também foi equivocada. Quem recebeu a resposta foi a comunidade muçulmana de maioria pacífica que está sendo agredida e colocando em risco o seu equilíbrio de convivência. A resposta ao terrorismo deveria ser dada através de um combate com inteligência, focado na rede terrorista, numa guerra silenciosa com armas de pontaria certeira.