Para se ver como mesmo na crítica há um componente ideológico, os próprios excertos são interessantes. Não li a obra e não a conheço, exceto pelo que está apresentado nos artigos do fórum e em alguns outros lugares que discutiram a matéria, e basear uma crítica em cima de fragmentos descolados do texto original fica difícil, porém:
Componentes ideológicos existem em quase todo pensamento e formas de expressão, como em artigos, livros e até notícias, que deveriam relatar apenas os fatos.
Portanto, a ideologia é livre num país democrático.
Como eu já disse antes, louve-se quem glosou o livro e condene-se quem o aprovou.
Concordo que, não havendo apologia ao crime e a práticas criminosas, qualquer autor pode escrever o que bem entender e qualquer editor pode publicar o que quiser.
A Constituição defende o livre pensamento e forma de expressão.
Mas o que se critica no caso em questão é a qualidade do texto e também uma forma de pensamento enviesado, DIRECIONADO a mentes ainda em formação.
O texto está repleto de erros de português, falhas de concordância e gramática, e flagrantes deslizes de estilo. É um texto que não chega a ser medíocre, o da mediana, mas bem abaixo disso. A redação do autor é sofrível para quem se deseja educador de história, o mau gosto e a atmosfera rasteira permeiam tudo. Você mesmo concorda que a linguagem é reprovável e muitas vezes execrável. Por si só isso já é um motivo forte para a sua reprovação no PNLD.
Mas tem também a parte do socialismo risonho, salvador, alvissareiro, e do capitalismo que traz favelas, que faz o homem comer o homem e da raiz de todos os males. Você esqueceu de analisar esses trechos bem reveladores:
“Terras, minas e empresas são propriedade privada. As decisões econômicas são tomadas pela burguesia, que busca o lucro pessoal. Para ampliar as vendas no mercado consumidor, há um esforço em fazer produtos modernos. Grandes diferenças sociais: a burguesia recebe muito mais do que o proletariado. O capitalismo funciona tanto com liberdades como em regimes autoritários.”
“Terras, minas e empresas pertencem à coletividade. As decisões econômicas são tomadas democraticamente pelo povo trabalhador, visando o (sic) bem-estar social. Os produtores são os próprios consumidores, por isso tudo é feito com honestidade para agradar à (sic) toda a população. Não há mais ricos, e as diferenças sociais são pequenas. Amplas liberdades democráticas para os trabalhadores.” Sobre Mao Tse-tung: “Foi um grande estadista e comandante militar. Escreveu livros sobre política, filosofia e economia. Praticou esportes até a velhice. Amou inúmeras mulheres e por elas foi correspondido. Para muitos chineses, Mao é ainda um grande herói. Mas para os chineses anticomunistas, não passou de um ditador.”
Só para os chineses anticomunistas que Mao é considerado ditador?
Então, criancinhas, Viva Mao!
Foi correspondido pelas mulheres que amou (coitadas delas...). Fica parecendo descrição de herói.
“Uma parte significativa da população cubana guarda a esperança de que se Fidel Castro sair do governo e o país voltar a ser capitalista, haverá muitos investimentos dos EUA. (…) Mas existe (sic) também as possibilidades de Cuba voltar a ter favelas e crianças abandonadas, como no tempo de Fulgêncio Batista. Quem pode saber?”
Capitalismo que traz favelas e pobreza.
No socialismo cubano, isso não existe, claro.
“É claro que a população soviética não estava passando fome. O desenvolvimento econômico e a boa distribuição de renda garantiam o lar e o jantar para cada cidadão. Não existia inflação nem desemprego. Todo ensino era gratuito e muitos filhos de operários e camponeses conseguiam cursar as melhores faculdades. (…) Medicina gratuita, aluguel que custava o preço de três maços de cigarro, grandes cidades sem crianças abandonadas nem favelas… Para nós, do Terceiro Mundo, quase um sonho não é verdade? Acontecia que o povo da segunda potência mundial não queria só melhores bens de consumo. Principalmente a intelligentsia (os profissionais com curso superior) tinham (sic) inveja da classe média dos países desenvolvidos (…) Queriam ter dois ou três carros importados na garagem de um casarão, freqüentar bons restaurantes, comprar aparelhagens eletrônicas sofisticadas, roupas de marcas famosas, jóias. (…) Karl Marx não pensava que o socialismo pudesse se desenvolver num único país, menos ainda numa nação atrasada e pobre como a Rússia tzarista. (…) Fica então uma velha pergunta: e se a revolução tivesse estourado num país desenvolvido como os EUA e a Alemanha? Teria fracassado também?”
Será que esse texto é adequado para quem ainda não entende direito das coisas?
Quer dizer que a didática para se abordar temas dessa natureza é comentar a inveja que uma classe tem (tinha) desse ou daquele país? Será que não estamos induzindo sentimentos de revolta e até ódio de bandidos e mocinhos?
Você contou os erros básicos de português? Isso tudo, num pequeno apanhado de todo um livro.
E não só erro de português. O estilo, a linguagem, o vocabulário, a abordagem...
Deus do céu! É coisa de redação de adolescente.
Você aprovaria um livro desses?
Você está defendendo algo abaixo do medíocre quando o país tem melhores professores e autores de livros de história do que o autor do livro em debate, que é filiado ao PT desde 1981, conforme a
página do TSE? Claro que filiação partidária não invalida ninguém de escrever livros e tê-los entre as compras do MEC, mas o próprio PT deve ter gente melhor qualificada para a função.
Por exemplo, eu vejo você mesmo, Derfel, muito mais capacitado do que esse Mario Furley Schmidt para escrever um livro de história para o ensino médio.