Vocês estão levando a questão muito para o lado puramente abstrato do termo "mérito".
Dizer que mérito é um complexo paramétrico da máquina é "levar para o abstrato"???
Estamos falando de mérito no âmbito de meritocracia.
Eu não, e nem poderia. Falo de meritocracia no "âmbito do mérito". Meritocracia existe porque (e não pode deixar de existir exatamente porque) mérito existe, não o contrário. Meritocracia realmente não importa; questão irrelevante; não pode(ria) criar mérito. O problema é só a tentativa de contestação ou mesmo refutação do parâmetro mérito.
Ou seja, o limite está bem definido.
Não.
E meritocracia é um arranjo social para o estabelecimento de hierarquias, em teoria, de forma mais justa. E a consequência prática do estabelecimento de hierarquias é a diferenciação no acesso aos recursos, que são coisas tangíveis que estabelecem não só nossa sobrevivência como também a qualidade da vida que temos, portanto não sendo pouco relevantes como parâmetro de avaliação.
Meritocracia não é uma criação deliberada humana, especialmente não criada por humanos "malvados, ávidos ou inconsequentes".
Uma pessoa, pela lógica (não pela lógica de mercado), não deveria ser recompensada com mais acesso a recursos, ou desmerecida com menos acessos, simplesmente por ser quem é.
Só um princípio arbitrário desconectado da realidade.
Ela não escolheu isto, não foi responsável pelas duas mais básicas variáveis que definem quem é, o que quer e o que pode.
Exatamente. Ela não escolheu, nem ninguém mais, isso para ela. Porque a incapacidade de "escolha" existe em todos sempre de ponta a ponta.
Não é lógico nem justo que alguém desfrute menos do acesso
Até aqui, nada mais que julgamento arbitrário do que "deve(ria) ser", conflitante com a realidade.
aos recursos naturais
Aqui é o ponto chave. Recursos naturais é o que menos se deseja. Os bens cobiçados não são majoritariamente naturais, são produtos de habilidades específicas detidas por alguns, recursos humanos específicos. Se se considerar o produto da genialidade de alguém, após cair em domínio público, um "recurso natural" "justa e logicamente" compartilhável por todos, está-se na contradição de reduzir pessoas a recursos naturais, portanto sem direitos especiais maiores que os de água e pedras.
Exatamente por não ser de "recursos naturais" que fala-se aqui, que tal proposta-sonho não se sustenta em possibilidade.
Aqui, já mais que suficiente para encerrar tudo, há. Mas vou ao fim.
só por que não possui correspondente genético nem ambiental àqueles dos que são escolhidos, ou merecidos ter. É o mesmo que dizer que alguém merece mais por ser branco ou por ser europeu.
Não, nem é o mesmo que dizer que um indivíduo merece mais porque cria algo que outro não criaria nem que vivesse sozinho (não por inexistência ou isolamento de outros) uma longevidade desde o último neadertal até hoje; É! dizer isto!
Dois "médicos que se formam" não são dois equimeritizados. Um assume uma profissão de rotina, sem brilho e qualidade. Outro, pode revolucionar a medicina, mesmo tendo se formado em muito mais desvantajosas condições. A deriva de mérito é inevitável.
Em termos práticos da lógica de mercado, de fato faz sentido o estabelecimento de mérito dada a necessidade de grande hierarquização social neste sistema. Mas será que realmente é obrigatório existir hierarquias, ou tanta hierarquia, para que a sociedade funcione?
Depende do que você define/entende como "obrigatório". É "obrigatório" energia para uma máquina funcionar?
Se sim, então, sim, é a resposta.
Eu, dentro de minha visão influenciada pelo anarquismo, entendo que não. Além de não ser necessário, ainda é prejudicial.
O problema do anarquismo é que ele não pode ser anti(qualquer)arquismo, portanto, autocontradizendo-se.
Ai me parece que está havendo um desencontro semântico. O Peter não quer realmente eliminar ou criticar o mérito, mas ele sonha com uma sociedade inteiramente diferente, desenvolvida sob novos paradigmas, que apenas não seja ela mesma um entrave quase insuperável na busca pela realização de cada individuo, para aqueles que mesmo assim serão poucos, que, no final das contas, terão o mérito de conseguir.
Ele sonha com a versão 'núcleo duro' do tecnocomunismo. Só não está ciente da impossibilidade de realização do sonho.
Se estiver se referindo ao marxismo, ele não é a solução, estabelece também valores baseados no abstrato, com filosofia subjetiva, sem referencial objetivo na realidade observável.
Estou falando bem claramente de (um) **tecnocomunismo**, que, ao gosto do freguês que desejar, pode ser indistinguido, confundido, interpretado... como um ápice de marxismo ultraideal em que um sistema erigido à independência divina e paternal supra todas as necessidades humanas, cumprindo todas as tarefas necessárias.
É claro que não é "a solução", porque nem há "o problema" dessa perspectiva analítica que propões. Esse "o problema" é abstrato (do tipo vazio), filosófico, sem objetividade, irreal.
Tecnocracia, se fala do movimento tecnocrático do início do século XX, também era falho por perpetuar vícios do atual sistema, como classicismo estrutural e hierarquias sem fim.
Não, tecnocracia é meritocrática. O "sistema atual" não é falho. O único "vício" encontrado nele são as frequentes contra-correntes.