Comunismo no sentido marxista não foi alcançado, isso não é ad hoc, é a leitura explícita do que Marx descreveu. Quando usamos a palavra "comunista" para descrever países como URSS, Cuba e Coreia do Norte estamos usando termo em sentido amplo, popular, e não no sentido técnico que adquiriu na era moderna. Na terminologia marxista, esses países seriam mais propriamente chamados de socialistas.
Mas o socialismo seria o último passo para chegar ao comunismo. Se esses países nem conseguiram passar desse passo, então tem algo errado, não?
Sim, pode-se argumentar com propriedade que a causa de os países não terem alcançado o comunismo seja a presença de erros na própria teoria marxista. Não estou tentando livrar a cara de Marx, mas apenas dizendo que comunismo nunca foi de fato alcançado.
Ok. (mas nem mesmo a Coreia do Norte é comunista?)
Não. Pra ser comunista tem que ter:
a) abolição da propriedade privada dos meios de produção: terra, indústrias, armazéns, máquinas, redes de comunicação, etc. pertencem à coletividade, não têm um dono "pessoa física".
b) abolição do estado: os trabalhadores governam por democracia direta. É nesse ponto que todas as tentativas falharam miseravelmente.
Quando tentam abolir o Estado, este se defende e até se agiganta. Até o comunismo vê o Estado como um inimigo.
E digo que assim que removerem o Estado, os trabalhadores voltam com os meios de produção, posses, remuneração, pois estes são removidos e mantidos assim pelo Estado contra a vontade das pessoas.
Neste caso, ao abolir o Estado, ao invés de virar comunista, existe o risco de termos uma nação anarco-capitalista.
Não sou especialista, mas uma coisa que vejo é uma certa ingenuidade de Marx em relação ao comportamento humano. Ele descrevia o processo de implantação em duas partes: na primeira, os proletários se revoltam e tomam o poder da burguesia, estatizam os meios de produção e passam a governar com mão de ferro, expulsar dissidentes e planificar a economia. Após isso, ele acreditava que naturalmente as pessoas iriam desenvolver um senso de cooperação, aumentar sua produtividade devido ao fim da exploração e que gradualmente o estado iria se tornando desnecessário, até chegar o ponto de sua abolição ser possível. Sobraria apenas uma estrutura mínima para o planejamento da economia, funcionando com ampla participação popular e de forma democrática. Uma vez que ele identificava a raiz de quase todos os problemas da humanidade na luta de classes, achava que sem essa divisão iria naturalmente desaparecer o egoísmo, a cobiça, a inveja, a desonestidade, etc.
Tenho uma certa reserva parecida em relação ao anarco-capitalismo: não consigo conceber todo mundo agindo racionalmente, tomando decisões sábias baseadas nas informações do mercado, pensando em benefícios a longo prazo e evitando agir impulsivamente, etc. que são pressupostos básicos para a coisa funcionar.