Impressionante uma pessoa com a erudição dela não saber que as duas formas são formalmente corretas.
O problema não é ser "formalmente correto", justificativa que aliás indicaria posição mais próximo de conservadora.
O problema é o ranço ideológico que essa forçação de barra traz. O presidenta parece ser mais licença poética do que algo utilizado por mulheres que presidem de fato.
Do ponto de vista "feminista", utilizar o presidente seria talvez ainda mais coerente, dado também que pelos dicionários o termo "presidenta" pode indicar mulher do presidente, enquanto "presidente" é apenas "pessoa que preside".
Sem contar que livra a pessoa de ter que ficar discutindo essas besteiras ao invés de presidir algo do naipe do judiciário federal.
A fala dela passa a nítida impressão de estar falando sim de correção ortográfica, principalmente na frase "sou amante da língua portuguesa".
Claro, a Carmem Lúcia parece que quis passar mesmo essa impressão.
Talvez ainda mais reforçada pelo uso das palavras amante e estudante, ao contrário de empregar
amanta e
estudanta.
Diferente de postulados de engenharia ou de biologia, dicionários são catálogos de palavras, com frequencia patrocinados, de um dado idioma e as definições "aparentes" utilizadas no dia a dia que podem vir a mudar com alguma constância, não representando alguma verdade absoluta e/ou verificável independentemente. O fato de juízas e pessoas estudantes e profissionais do uso do idioma agirem com estranheza diante de "presidenta" na atualidade pode ser "mais fundamental" quanto à
apropriedade do emprego do vocábulo do que a presença em determinado dicionário. O mesmo que ocorre, por exemplo, com o citado aqui anteriormente: vosmecê.
Acho que o tal "ranço ideológico" está mais nos olhos de quem vê, já que a estranheza no termo tem mais a ver com o fato de a Dilma ter sido a primeira no cargo do que com algum tipo de invencionice ou neologismo por parte dela.
Pode ser mesmo que a birra ande em duas mãos.
Mas o ranço ideológico é claro. Tanto que dói quando a Carmem Lúcia rechaça o uso do termo, indicando que a turma não quer tanto assim que "se escolha como quiser" a maneira com que ser tratado.
Nem a Luiza Trajano (exemplo de representante do capitalismo de compadrio tonto praticado aqui no Tupiquinistão) utiliza o termo.
Dizer que é forçação de barra escrever com A é como reclamar de "muçarela" com c cedilha, que está correto (e é a forma mais antiga e mais reconhecida por dicionários), apenas porque a maioria escreve com SS.
Reclamar de muçarela trata-se de situação bem distinta e daí você incorre em falsa analogia, meu caro Lakatos. Não há bandeira facilmente reconhecida por trás da briga muçarela ou mussarela (embora possamos fazer paródias com o significado de SS e outras), como há no emprego de Presidenta.
O "Presidenta"
parece mesmo apenas licença poética, o que não viria a calhar com a ocupação de uma posição formal e SEM gênero (ou de dois gêneros) como "Presidente". Embora, curiosamente, como ja discutimos, uma das defesas do emprego do termo Presidenta seja justamente a existência "formal" do termo, pra quem não quer ter tanto cuidado aparentemente com formalidades.