Toda esta polêmica me fez pensar sobre alguns pontos que considero interessantes.
1) O público (incluído aí pessoas com curso superior como Direito) é bastante ignorante quanto à ciência em geral e à medicina em particular. Só assim para acreditar que uma única substância pudesse curar todos os tipos de câncer.
2) A ignorância se estende à maneira como o conhecimento médico se constrói. Acreditam que basta alguém ter uma ideia genial de curar a doença X com o remédio Y, dar o remédio para algumas pessoas, perguntar se estão se sentindo melhor, e pronto, vamos começar a vender para todo mundo! Não tem ideia de como é difícil, na prática, concluir que algum medicamento realmente funciona.
3) Parece que todo mundo odeia os laboratórios farmacêuticos (o que é até certo ponto compreensível) e projeta neles poderes extraordinários, acreditando que possam controlar todos os governos, agências reguladoras, universidades e pesquisadores do mundo. Muitos laboratórios têm sim algumas práticas que vão do eticamente questionável ao criminoso, mas felizmente são muito menos poderosos do que se imagina. E o problema que temos com eles não é que tentem bloquear terapias eficientes, mas sim o oposto. Tentam conseguir a aprovação de drogas que não funcionam.
4) A maioria do público tem uma ideia muito vaga do faz a ANVISA em geral, e do que é necessário para aprovar uma droga para uso em particular. A ANVISA não conduz estudos para avaliar a eficácia de medicamentos. Seu papel é analisar estudos já feitos para decidir se as evidências a favor de uma nova droga são boas o suficiente para liberá-la para uso. E as exigências não são poucas. O que existe de estudos sobre a fosfoetanolamina não chega nem perto do que é exigido para qualquer droga no mercado. Se a ANVISA liberasse o uso da fosfoetanolamina iria contra normas bem estabelecidas internacionalmente.
5) Se alguém morrer pelo uso da droga, quem será responsável? Espero que isto não aconteça, mas é uma possibilidade. O poder judiciário, que obriga a USP a distribuir a droga? O pesquisador que desenvolveu a síntese da droga e defende o seu uso em humanos sem estudos que justifiquem isso? Algo me diz que se isto acontecer todos os que defendem a liberação da fosfoetanolamina vão ficar bem quietinhos, e procurar alguma outra cura milagrosa.