Autor Tópico: Sobre a fosfoetanolamina como "cura" (tratamento) para o câncer  (Lida 12570 vezes)

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Rhyan

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Sobre a fosfoetanolamina como "cura" (tratamento) para o câncer
« Online: 17 de Outubro de 2015, 13:33:08 »
Alguns links para quem está desinformado:

Pesquisador descobre que a fosfoamina cura câncer! Será?
http://www.e-farsas.com/pesquisador-descobre-que-a-fosfoamina-cura-cancer-sera.html

Brasileiros curam o câncer e vão receber o Nobel. Muita calma nessa hora!
http://ceticismo.net/2015/08/26/brasileiros-curam-o-cancer-e-vao-receber-o-nobel-muita-calma-nessa-hora/

Decisão da Justiça abre precedente para charlatanismo na medicina
http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2015/10/1694191-decisao-da-justica-abre-precedente-para-charlatanismo-na-medicina.shtml

Sou cientista, mas é insuportável ver minha mãe definhar
http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2015/10/1694188-sou-cientista-mas-e-insuportavel-ver-minha-mae-definhar.shtml


Primeiro ponto, não existe cura para "o" câncer. Segundo, a substância não foi testada em humanos, há apenas testes in vitro e em animais.

Usar essa substância para tentar tratar o próprio câncer sem os estudos necessários colocaria em risco só a vida da própria pessoa ou seria um risco para terceiros de alguma forma?

Esse caso tem alguma semelhança mais forte com a história do Ron Woodroof que inspirou o filme Dallas Buyers Club?

Offline Sergiomgbr

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Re:Sobre a fosfoetanolamina como "cura" (tratamento) para o câncer
« Resposta #1 Online: 17 de Outubro de 2015, 13:52:31 »
Pra quem não tem esperanças só sobram estes tipos de medicamentos. Mas quanto à esta droga, minha intuição é que não é tão sem sentido assim acreditar.
Até onde eu sei eu não sei.


Offline Rlionsan

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Re:Sobre a fosfoetanolamina como "cura" (tratamento) para o câncer
« Resposta #3 Online: 17 de Outubro de 2015, 16:17:05 »
Toda esta polêmica me fez pensar sobre alguns pontos que considero interessantes.

1) O público (incluído aí pessoas com curso superior como Direito) é bastante ignorante quanto à ciência em geral e à medicina em particular.  Só assim para acreditar que uma única substância pudesse curar todos os tipos de câncer.

2) A ignorância se estende à maneira como o conhecimento médico se constrói.  Acreditam que basta alguém ter uma ideia genial de curar a doença X com o remédio Y, dar o remédio para algumas pessoas, perguntar se estão se sentindo melhor, e pronto, vamos começar a vender para todo mundo!  Não tem ideia de como é difícil, na prática, concluir que algum medicamento realmente funciona.
 
3) Parece que todo mundo odeia os laboratórios farmacêuticos (o que é até certo ponto compreensível) e projeta neles poderes extraordinários, acreditando que possam controlar todos os governos, agências reguladoras, universidades e pesquisadores do mundo.  Muitos laboratórios têm sim algumas práticas que vão do eticamente questionável ao criminoso, mas felizmente são muito menos poderosos do que se imagina.  E o problema que temos com eles não é que tentem bloquear terapias eficientes, mas sim o oposto.  Tentam conseguir a aprovação de drogas que não funcionam.

4) A maioria do público tem uma ideia muito vaga do faz a ANVISA em geral, e do que é necessário para aprovar uma droga para uso em particular.  A ANVISA não conduz estudos para avaliar a eficácia de medicamentos.  Seu papel é analisar estudos já feitos para decidir se as evidências a favor de uma nova droga são boas o suficiente para liberá-la para uso.  E as exigências não são poucas.  O que existe de estudos sobre a fosfoetanolamina não chega nem perto do que é exigido para qualquer droga no mercado.  Se a ANVISA liberasse o uso da fosfoetanolamina iria contra normas bem estabelecidas internacionalmente.

5) Se alguém morrer pelo uso da droga, quem será responsável? Espero que isto não aconteça, mas é uma possibilidade.  O poder judiciário, que obriga a USP a distribuir a droga? O pesquisador que desenvolveu a síntese da droga e defende o seu uso em humanos sem estudos que justifiquem isso?  Algo me diz que se isto acontecer todos os que defendem a liberação da fosfoetanolamina vão ficar bem quietinhos, e procurar alguma outra cura milagrosa.
 

Offline Gabarito

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Re:Sobre a fosfoetanolamina como "cura" (tratamento) para o câncer
« Resposta #4 Online: 17 de Outubro de 2015, 16:36:55 »
Eu já tinha visto essa notícia no começo da semana, mas não imaginei que tomaria esse vulto.

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Decisão da Justiça abre precedente para charlatanismo na medicina

CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO
15/10/2015 02h02
Mais opções

É compreensível que doentes terminais de câncer recorram a promessas milagrosas de cura, mas é temerário quando o órgão máximo do Poder Judiciário brasileiro endosse essa busca insana e obrigue o Estado a fornecer tais "poções mágicas".

O caso em questão é a decisão do ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), em liberar o fornecimento da fosfoetanolamina sintética, substância produzida experimentalmente na USP, mas que nunca passou por testes clínicos e muito menos tem o aval da agência reguladora (Anvisa).

A decisão foi acatada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, que antes havia suspendido liminares que autorizavam a entrega da substância. Uma das justificativas do desembargador José Renato Nalini é a de que "não se pode ignorar os relatos de pacientes que apontam melhora no quadro clínico."

Vamos então liberar tudo o que as pessoas relatam como substâncias capazes de curar o câncer? O cogumelo do sol? O bicarbonato de sódio? O suco de babosa? A folha de graviola?

Vamos rasgar os manuais de ética em pesquisa, passar por cima de todas etapas que envolvem o desenvolvimento, a aprovação e a comercialização de um novo medicamento? Vamos fechar as agências regulatórias?

Do ponto de vista jurídico, o caso tem uma contraposição de princípios fundamentais, como bem lembrou Nalini: de um lado está o resguardo da legalidade e da segurança dos remédios, do outro a necessidade de proteção do direito à saúde.

Em relação à fosfoetanolamina, prevaleceu o direito de o paciente ter acesso a uma substância sem respaldo algum da medicina baseada em evidência. Abriu-se aí um perigoso precedente para o charlatanismo.

Estima-se que a quantia de dinheiro gasto no mundo só com o charlatanismo oncológico passe de US$ 1 bilhão.

O desejo de cura para o câncer leva muitas pessoas a procurarem tratamentos não convencionais, a retardarem ou até desistirem dos tratamentos convencionais.

Foi o que ocorreu com o empresário Steve Jobs, fundador da Apple, que retardou a cirurgia do câncer de pâncreas para aderir a um tratamento com ervas, o que teria agravado o seu quadro.

Estimativa da Asco (American Society of Clinical Oncology) mostra que cerca de 80% dos pacientes com câncer recorrem a tratamentos alternativos. A sociedade é enfática: não há nenhum indício de que esses tratamentos contribuam para a regressão ou a cura do câncer.

Além de não contribuir para a melhora, terapias alternativas podem interferir nos resultados das terapias-padrão. Muitas dessas substâncias são metabolizadas no fígado e podem alterar a absorção de quimioterápicos, sua eficácia e a eliminação.

É verdade que há compostos com atividades antitumorais bem demonstradas em laboratório, mas existe um longo caminho para serem usados na prática clínica.

São necessários testes laboratoriais e em humanos, com diferentes tipos de tumores e cenários clínicos controlados. E os resultados comparados aos de drogas existentes. Caso sejam mais eficientes, o laboratório pede o registro às agências reguladoras. Nada disso foi feito no caso da fosfoetanolamina.

O oncologista Drauzio Varella costuma dizer: "Se um dia você ouvir que foi encontrada a cura do câncer, não leve a sério". O problema é quando a Justiça o leva.



5) Se alguém morrer pelo uso da droga, quem será responsável? Espero que isto não aconteça, mas é uma possibilidade.  O poder judiciário, que obriga a USP a distribuir a droga? O pesquisador que desenvolveu a síntese da droga e defende o seu uso em humanos sem estudos que justifiquem isso?  Algo me diz que se isto acontecer todos os que defendem a liberação da fosfoetanolamina vão ficar bem quietinhos, e procurar alguma outra cura milagrosa.

Acredito que um dos principais responsáveis seria o ministro do STF que abriu a porteira, atropelando decisões de tribunais anteriores.
Claro que ele não assumiria a responsabilidade.

Offline Sergiomgbr

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Re:Sobre a fosfoetanolamina como "cura" (tratamento) para o câncer
« Resposta #5 Online: 17 de Outubro de 2015, 16:38:40 »
Toda esta polêmica me fez pensar sobre alguns pontos que considero interessantes.

1) O público (incluído aí pessoas com curso superior como Direito) é bastante ignorante quanto à ciência em geral e à medicina em particular.  Só assim para acreditar que uma única substância pudesse curar todos os tipos de câncer.

2) A ignorância se estende à maneira como o conhecimento médico se constrói.  Acreditam que basta alguém ter uma ideia genial de curar a doença X com o remédio Y, dar o remédio para algumas pessoas, perguntar se estão se sentindo melhor, e pronto, vamos começar a vender para todo mundo!  Não tem ideia de como é difícil, na prática, concluir que algum medicamento realmente funciona.
 
3) Parece que todo mundo odeia os laboratórios farmacêuticos (o que é até certo ponto compreensível) e projeta neles poderes extraordinários, acreditando que possam controlar todos os governos, agências reguladoras, universidades e pesquisadores do mundo.  Muitos laboratórios têm sim algumas práticas que vão do eticamente questionável ao criminoso, mas felizmente são muito menos poderosos do que se imagina.  E o problema que temos com eles não é que tentem bloquear terapias eficientes, mas sim o oposto.  Tentam conseguir a aprovação de drogas que não funcionam.

4) A maioria do público tem uma ideia muito vaga do faz a ANVISA em geral, e do que é necessário para aprovar uma droga para uso em particular.  A ANVISA não conduz estudos para avaliar a eficácia de medicamentos.  Seu papel é analisar estudos já feitos para decidir se as evidências a favor de uma nova droga são boas o suficiente para liberá-la para uso.  E as exigências não são poucas.  O que existe de estudos sobre a fosfoetanolamina não chega nem perto do que é exigido para qualquer droga no mercado.  Se a ANVISA liberasse o uso da fosfoetanolamina iria contra normas bem estabelecidas internacionalmente.

5) Se alguém morrer pelo uso da droga, quem será responsável? Espero que isto não aconteça, mas é uma possibilidade.  O poder judiciário, que obriga a USP a distribuir a droga? O pesquisador que desenvolveu a síntese da droga e defende o seu uso em humanos sem estudos que justifiquem isso?  Algo me diz que se isto acontecer todos os que defendem a liberação da fosfoetanolamina vão ficar bem quietinhos, e procurar alguma outra cura milagrosa.
Bom, mas quanto ao seus pontos eu moderaria pelo menos no que diz respeito a uma droga poder curar todos os tipos de câncer. Ocorre que todos os tipos de câncer são multiplicação anômala de células, então um produto que ou impeça de multiplicar ou mate todas as células multiplicadas, na prática impediria todos os tipos de câncer.
Até onde eu sei eu não sei.

Offline Terráqueo

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Re:Sobre a fosfoetanolamina como "cura" (tratamento) para o câncer
« Resposta #6 Online: 17 de Outubro de 2015, 18:58:26 »
5) Se alguém morrer pelo uso da droga, quem será responsável? Espero que isto não aconteça, mas é uma possibilidade.  O poder judiciário, que obriga a USP a distribuir a droga? O pesquisador que desenvolveu a síntese da droga e defende o seu uso em humanos sem estudos que justifiquem isso?  Algo me diz que se isto acontecer todos os que defendem a liberação da fosfoetanolamina vão ficar bem quietinhos, e procurar alguma outra cura milagrosa.

Sinceramente, meu medo é que o pesquisador seja culpado pela população |(. Ou então que venham com conspirações de "a indústria farmacêutica (como se só houvesse uma) fez isso para impedir que tenham acesso à cura :?", ou "o governo quer matar a população" (e deixar de arrecadar impostos? ::))

A propósito, existe algum teste (seja in vitro ou em animais) que realmente classifique essa substância como possível cura de algum tipo de câncer, e não um possível tratamento mais eficiente? :hein:
« Última modificação: 17 de Outubro de 2015, 19:03:07 por Terráqueo »
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Re:Sobre a fosfoetanolamina como "cura" (tratamento) para o câncer
« Resposta #7 Online: 17 de Outubro de 2015, 19:06:14 »
Pra quem não tem esperanças só sobram estes tipos de medicamentos. Mas quanto à esta droga, minha intuição é que não é tão sem sentido assim acreditar.

Não entrando no mérito de se a atitude da Justiça foi certa ou errada, mas, ela não errou ao passar por cima das normas de segurança e liberar o uso dessa substância?
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Re:Sobre a fosfoetanolamina como "cura" (tratamento) para o câncer
« Resposta #8 Online: 17 de Outubro de 2015, 19:09:09 »
Pra quem não tem esperanças só sobram estes tipos de medicamentos. Mas quanto à esta droga, minha intuição é que não é tão sem sentido assim acreditar.

Não entrando no mérito de se a atitude da Justiça foi certa ou errada, mas, ela não errou ao passar por cima das normas de segurança e liberar o uso dessa substância?
"Errar" é tão over...
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Offline Terráqueo

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Re:Sobre a fosfoetanolamina como "cura" (tratamento) para o câncer
« Resposta #9 Online: 17 de Outubro de 2015, 19:14:03 »
Pra quem não tem esperanças só sobram estes tipos de medicamentos. Mas quanto à esta droga, minha intuição é que não é tão sem sentido assim acreditar.

Não entrando no mérito de se a atitude da Justiça foi certa ou errada, mas, ela não errou ao passar por cima das normas de segurança e liberar o uso dessa substância?
"Errar" é tão over...

É que não sei uma palavra para substituí-la nesse caso. :?
"A Terra é o berço da humanidade, mas ninguém pode viver no berço para sempre" - Konstantin Tsiolkovsky.

Rhyan

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Re:Sobre a fosfoetanolamina como "cura" (tratamento) para o câncer
« Resposta #10 Online: 17 de Outubro de 2015, 19:29:14 »
<a href="https://www.youtube.com/v/aJABe6j5vAI" target="_blank" class="new_win">https://www.youtube.com/v/aJABe6j5vAI</a>

Offline Sergiomgbr

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Re:Sobre a fosfoetanolamina como "cura" (tratamento) para o câncer
« Resposta #11 Online: 17 de Outubro de 2015, 19:29:28 »
Pra quem não tem esperanças só sobram estes tipos de medicamentos. Mas quanto à esta droga, minha intuição é que não é tão sem sentido assim acreditar.

Não entrando no mérito de se a atitude da Justiça foi certa ou errada, mas, ela não errou ao passar por cima das normas de segurança e liberar o uso dessa substância?
"Errar" é tão over...

É que não sei uma palavra para substituí-la nesse caso. :?
Não entrando no mérito de se a atitude da Justiça foi certa ou errada, mas, ela não errou ao passar por cima das normas de segurança e liberar o uso dessa substância?

Se você não entrou no "mérito", ela não errou(nem acertou)...
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Offline Terráqueo

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Re:Sobre a fosfoetanolamina como "cura" (tratamento) para o câncer
« Resposta #12 Online: 17 de Outubro de 2015, 19:34:53 »
Pra quem não tem esperanças só sobram estes tipos de medicamentos. Mas quanto à esta droga, minha intuição é que não é tão sem sentido assim acreditar.

Não entrando no mérito de se a atitude da Justiça foi certa ou errada, mas, ela não errou ao passar por cima das normas de segurança e liberar o uso dessa substância?
"Errar" é tão over...

É que não sei uma palavra para substituí-la nesse caso. :?
Não entrando no mérito de se a atitude da Justiça foi certa ou errada, mas, ela não errou ao passar por cima das normas de segurança e liberar o uso dessa substância?

Se você não entrou no "mérito", ela não errou(nem acertou)...

No sentido pessoal não quis entrar no mérito, mas judicialmente, o ato de descumprir as normas estabelecidas não é reprovável? Esse é o ponto a que me referi.
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Re:Sobre a fosfoetanolamina como "cura" (tratamento) para o câncer
« Resposta #13 Online: 17 de Outubro de 2015, 19:45:54 »
Ahhhhhhhhhh, bommmmmmmmmmmmmmm, nesse caso tudo bem...
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Offline Rlionsan

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Re:Sobre a fosfoetanolamina como "cura" (tratamento) para o câncer
« Resposta #14 Online: 17 de Outubro de 2015, 19:59:11 »
Pra quem não tem esperanças só sobram estes tipos de medicamentos. Mas quanto à esta droga, minha intuição é que não é tão sem sentido assim acreditar.

Não entrando no mérito de se a atitude da Justiça foi certa ou errada, mas, ela não errou ao passar por cima das normas de segurança e liberar o uso dessa substância?
"Errar" é tão over...

É que não sei uma palavra para substituí-la nesse caso. :?
Não entrando no mérito de se a atitude da Justiça foi certa ou errada, mas, ela não errou ao passar por cima das normas de segurança e liberar o uso dessa substância?

Se você não entrou no "mérito", ela não errou(nem acertou)...

No sentido pessoal não quis entrar no mérito, mas judicialmente, o ato de descumprir as normas estabelecidas não é reprovável? Esse é o ponto a que me referi.
Não sou advogado, mas fico pensando sobre isso.  Se essa substância foi liberada com tão poucos estudos, o que impede que um laboratório alegue que suas drogas deveriam ser liberadas também, mesmo sem estudos completos? Poderiam alegar que agora já existe jurisprudência?  A indústria farmacêutica ia pular de alegria se isto acontecesse.

Offline Donatello

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Re:Sobre a fosfoetanolamina como "cura" (tratamento) para o câncer
« Resposta #15 Online: 17 de Outubro de 2015, 20:39:13 »
Toda esta polêmica me fez pensar sobre alguns pontos que considero interessantes.

1) O público (incluído aí pessoas com curso superior como Direito) é bastante ignorante quanto à ciência em geral e à medicina em particular.  Só assim para acreditar que uma única substância pudesse curar todos os tipos de câncer.

2) A ignorância se estende à maneira como o conhecimento médico se constrói.  Acreditam que basta alguém ter uma ideia genial de curar a doença X com o remédio Y, dar o remédio para algumas pessoas, perguntar se estão se sentindo melhor, e pronto, vamos começar a vender para todo mundo!  Não tem ideia de como é difícil, na prática, concluir que algum medicamento realmente funciona.
 
3) Parece que todo mundo odeia os laboratórios farmacêuticos (o que é até certo ponto compreensível) e projeta neles poderes extraordinários, acreditando que possam controlar todos os governos, agências reguladoras, universidades e pesquisadores do mundo.  Muitos laboratórios têm sim algumas práticas que vão do eticamente questionável ao criminoso, mas felizmente são muito menos poderosos do que se imagina.  E o problema que temos com eles não é que tentem bloquear terapias eficientes, mas sim o oposto.  Tentam conseguir a aprovação de drogas que não funcionam.

4) A maioria do público tem uma ideia muito vaga do faz a ANVISA em geral, e do que é necessário para aprovar uma droga para uso em particular.  A ANVISA não conduz estudos para avaliar a eficácia de medicamentos.  Seu papel é analisar estudos já feitos para decidir se as evidências a favor de uma nova droga são boas o suficiente para liberá-la para uso.  E as exigências não são poucas.  O que existe de estudos sobre a fosfoetanolamina não chega nem perto do que é exigido para qualquer droga no mercado.  Se a ANVISA liberasse o uso da fosfoetanolamina iria contra normas bem estabelecidas internacionalmente.

5) Se alguém morrer pelo uso da droga, quem será responsável? Espero que isto não aconteça, mas é uma possibilidade.  O poder judiciário, que obriga a USP a distribuir a droga? O pesquisador que desenvolveu a síntese da droga e defende o seu uso em humanos sem estudos que justifiquem isso?  Algo me diz que se isto acontecer todos os que defendem a liberação da fosfoetanolamina vão ficar bem quietinhos, e procurar alguma outra cura milagrosa.
Bom, mas quanto ao seus pontos eu moderaria pelo menos no que diz respeito a uma droga poder curar todos os tipos de câncer. Ocorre que todos os tipos de câncer são multiplicação anômala de células, então um produto que ou impeça de multiplicar ou mate todas as células multiplicadas, na prática impediria todos os tipos de câncer.

E sua moderação corrobora alguns dos pontos principais dele. A mais evidente é que você não parece ter em mente que uma série de tecidos do nosso corpo precisam de reposição celular constante (daí advém os clássicos efeitos adversos dos quimioterápicos tradicionais: queda de cabelo, diarréia, anemia, baixa imunidade...são todos resultados da atuação antimitótica dos fármacos sobre células que deveriam estar se replicando). Na verdade a moderna oncofarmacologia tem buscado medicamentos cada vez mais específicos, que atuem apenas sobre a célula mutante ou sobre o tecido afetado ou sobre uma única etapa do ciclo mitótico. Se trabalha com microvesiculas que navegam pela corrente sanguínea e só "estouram" liberando o medicamento quando encontram o tecido doente, com marcadores transmembrana, com substâncias que atuem especificamente sobre um fator de transcrição... Como disse o Rliosan (o post dele é irretocável) a ideia de um único medicamento curando todos os tipos de câncer só passa na cabeça de leigos completos no tema.

Offline Sergiomgbr

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Re:Sobre a fosfoetanolamina como "cura" (tratamento) para o câncer
« Resposta #16 Online: 17 de Outubro de 2015, 20:54:37 »
Toda esta polêmica me fez pensar sobre alguns pontos que considero interessantes.

1) O público (incluído aí pessoas com curso superior como Direito) é bastante ignorante quanto à ciência em geral e à medicina em particular.  Só assim para acreditar que uma única substância pudesse curar todos os tipos de câncer.

2) A ignorância se estende à maneira como o conhecimento médico se constrói.  Acreditam que basta alguém ter uma ideia genial de curar a doença X com o remédio Y, dar o remédio para algumas pessoas, perguntar se estão se sentindo melhor, e pronto, vamos começar a vender para todo mundo!  Não tem ideia de como é difícil, na prática, concluir que algum medicamento realmente funciona.
 
3) Parece que todo mundo odeia os laboratórios farmacêuticos (o que é até certo ponto compreensível) e projeta neles poderes extraordinários, acreditando que possam controlar todos os governos, agências reguladoras, universidades e pesquisadores do mundo.  Muitos laboratórios têm sim algumas práticas que vão do eticamente questionável ao criminoso, mas felizmente são muito menos poderosos do que se imagina.  E o problema que temos com eles não é que tentem bloquear terapias eficientes, mas sim o oposto.  Tentam conseguir a aprovação de drogas que não funcionam.

4) A maioria do público tem uma ideia muito vaga do faz a ANVISA em geral, e do que é necessário para aprovar uma droga para uso em particular.  A ANVISA não conduz estudos para avaliar a eficácia de medicamentos.  Seu papel é analisar estudos já feitos para decidir se as evidências a favor de uma nova droga são boas o suficiente para liberá-la para uso.  E as exigências não são poucas.  O que existe de estudos sobre a fosfoetanolamina não chega nem perto do que é exigido para qualquer droga no mercado.  Se a ANVISA liberasse o uso da fosfoetanolamina iria contra normas bem estabelecidas internacionalmente.

5) Se alguém morrer pelo uso da droga, quem será responsável? Espero que isto não aconteça, mas é uma possibilidade.  O poder judiciário, que obriga a USP a distribuir a droga? O pesquisador que desenvolveu a síntese da droga e defende o seu uso em humanos sem estudos que justifiquem isso?  Algo me diz que se isto acontecer todos os que defendem a liberação da fosfoetanolamina vão ficar bem quietinhos, e procurar alguma outra cura milagrosa.
Bom, mas quanto ao seus pontos eu moderaria pelo menos no que diz respeito a uma droga poder curar todos os tipos de câncer. Ocorre que todos os tipos de câncer são multiplicação anômala de células, então um produto que ou impeça de multiplicar ou mate todas as células multiplicadas, na prática impediria todos os tipos de câncer.

E sua moderação corrobora alguns dos pontos principais dele. A mais evidente é que você não parece ter em mente que uma série de tecidos do nosso corpo precisam de reposição celular constante (daí advém os clássicos efeitos adversos dos quimioterápicos tradicionais: queda de cabelo, diarréia, anemia, baixa imunidade...são todos resultados da atuação antimitótica dos fármacos sobre células que deveriam estar se replicando). Na verdade a moderna oncofarmacologia tem buscado medicamentos cada vez mais específicos, que atuem apenas sobre a célula mutante ou sobre o tecido afetado ou sobre uma única etapa do ciclo mitótico. Se trabalha com microvesiculas que navegam pela corrente sanguínea e só "estouram" liberando o medicamento quando encontram o tecido doente, com marcadores transmembrana, com substâncias que atuem especificamente sobre um fator de transcrição... Como disse o Rliosan (o post dele é irretocável) a ideia de um único medicamento curando todos os tipos de câncer só passa na cabeça de leigos completos no tema.
Ainda acho que a minha moderação é procedente.
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Offline Sergiomgbr

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Re:Sobre a fosfoetanolamina como "cura" (tratamento) para o câncer
« Resposta #17 Online: 17 de Outubro de 2015, 20:58:54 »
você não parece ter em mente que uma série de tecidos do nosso corpo precisam de reposição celular constante (daí advém os clássicos efeitos adversos dos quimioterápicos tradicionais: queda de cabelo, diarréia, anemia, baixa imunidade...são todos resultados da atuação antimitótica dos fármacos sobre células que deveriam estar se replicando)
Eu acho um sacrilégio. Como matar uma coceira com um ancinho.
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Offline Gigaview

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Re:Sobre a fosfoetanolamina como "cura" (tratamento) para o câncer
« Resposta #18 Online: 17 de Outubro de 2015, 22:39:50 »
Brandolini's Bullshit Asymmetry Principle: "The amount of effort necessary to refute bullshit is an order of magnitude bigger than to produce it".

Pavlov probably thought about feeding his dogs every time someone rang a bell.

Offline Gabarito

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Re:Sobre a fosfoetanolamina como "cura" (tratamento) para o câncer
« Resposta #19 Online: 18 de Outubro de 2015, 08:56:45 »
Citar
Justiça pré-científica
18/10/2015 02h00

A situação é surreal. Decisões judiciais têm obrigado a USP a produzir e fornecer a pessoas com câncer uma substância cujos efeitos não são conhecidos, que não teve sua eficácia comprovada e, pior, jamais foi submetida a testes de segurança em seres humanos.

As liminares concedidas não só ignoram princípios básicos da pesquisa científica como também colocam em risco a vida dos mais de mil pacientes autorizados a receber um composto a respeito do qual praticamente nada se sabe.

Estudada por um professor do Instituto de Química da USP de São Carlos, a fosfoetanolamina só passou por experimentos em células e animais, nos quais mostrou algum potencial contra certos cânceres.

Noticia-se que o docente, seguro das possibilidades terapêuticas da substância –que não pode ser considerada um remédio–, a distribuía por conta própria. Em 2014, uma portaria da universidade interrompeu o fornecimento.

Iniciou-se, então, uma disputa judicial. Centenas de liminares determinando que a USP providenciasse a droga foram concedidas na primeira instância, mas, em setembro, terminaram suspensas pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.

No começo de outubro, o ministro Luiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, ordenou que um paciente recebesse cápsulas de fosfoetanolamina. Ato contínuo, o presidente do TJ-SP, José Renato Nalini, reconsiderou a suspensão de entrega da substância.

A argumentação dos magistrados denuncia profundo desconhecimento dos protocolos universalmente adotados para o desenvolvimento de fármacos.

Fachin, por exemplo, parece considerar o registro na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) um detalhe desimportante. Não é. Trata-se de garantia de que a droga passou por todos os testes devidos –razão pela qual nem sequer há pedido de registro da fosfoetanolamina na agência.

Nalini, por sua vez, afirma que "não se podem ignorar os relatos de pacientes que apontam melhora no quadro clínico". Ocorre que a ausência de testes controlados torna impossível saber se os alegados progressos decorreram de propriedades do composto.

Mais: sem as pesquisas apropriadas, não se podem descartar efeitos colaterais e graves problemas gerados pela interação com substâncias presentes em medicamentos.

Compreende-se que a luta contra o câncer leve pacientes a buscar todo tipo de tratamento –mas essa é uma questão individual. O Poder Judiciário, entretanto, ao decidir casos dessa natureza, não pode atropelar as normas de validação científica.

Offline André Luiz

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Re:Sobre a fosfoetanolamina como "cura" (tratamento) para o câncer
« Resposta #20 Online: 19 de Outubro de 2015, 00:55:53 »
Pirula tá bravo com este lance ae, já saiu vídeo
Do pouco que entendo de pesquisa e testes de medicamento ele falou com razão


Offline Brienne of Tarth

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Re:Sobre a fosfoetanolamina como "cura" (tratamento) para o câncer
« Resposta #22 Online: 19 de Outubro de 2015, 10:32:18 »
Pelo que eu li, a substância não se propõe a "curar" o câncer, ou a metástase de células em geral; inicialmente usada em cosméticos, a fosfoetalonamina apenas "marca" as células cancerígenas, aumentando sua visibilidade e tornando-as mais "destacadas" para o sistema imunológico do corpo, o qual combateria as células em metástase com maior rapidez, impedindo o alastramento da doença.

Células que sofreram mutação são matreiras, fazem de tudo para sobreviver, mas se forem combatidas com rapidez, podem ser eliminadas pelo nosso sistema imunológico.

E sim, deve passar por todo o processo que qualquer medicamento tem que passar antes de ser distribuído e/ou comercializado.

Câncer

GNOSE

Offline Týr

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Re:Sobre a fosfoetanolamina como "cura" (tratamento) para o câncer
« Resposta #23 Online: 19 de Outubro de 2015, 17:03:51 »
Quem trabalha com justiça, especialmente, eu que sou procurador municipal, sabe que esses juízes já passaram do limite nessas ações de tratamentos médicos. Determinam sem qualquer "razoabilidade" o custeio de tratamentos médicos sabidamente ineficientes e onerosos para o SUS (mesmo sabendo que toda vida é importante). Isso desestabiliza o planejamento, ainda que seja mal feito pelas nossas autoridades, uma vez que retiram orçamento de tratamentos mais simples e enfiam em pacientes terminais, verdadeiramente, um desperdício de recursos públicos.

Esta decisão abre um precedente perigoso, porque vai contra o método científico, põe em xeque a autoridade da ANVISA e brinca com a angústia dos pacientes e famílias que, em alguns casos, podem abandonar o tratamento correto da doença.

Não são novidades, sobretudo, o investimento de recursos públicos com tratamentos alternativos e sem qualquer estudo científicos, como homeopatia, cromoterapia, etc. Daqui a pouco veremos cirurgia espiritual bancada pelo governo.



Offline Jack Carver

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Re:Sobre a fosfoetanolamina como "cura" (tratamento) para o câncer
« Resposta #24 Online: 19 de Outubro de 2015, 22:37:45 »
Pirula tá bravo com este lance ae, já saiu vídeo
Do pouco que entendo de pesquisa e testes de medicamento ele falou com razão
Vi agora, desceu o pau, embora com algumas ponderações. É bom acompanhar alguns comentários do vídeo tbm.  :ok:
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