Isso não tem nada de estranho ou incomum, a menos que alguém acredite que [...] ateus são imunes a crença socialmente disseminada em grandes sociedades [...]
Há um caso, entre inúmeros, que ilustra como crenças culturalmente arraigadas podem agir poderosamente - e de formas ainda não bem compreendidas - sobre indivíduos.
No início da década de 30, quando o esporte começou a se tornar um interesse de massa mas ainda perseguia o ideal de ser puramente amador, a Ciência tentava responder uma difícil pergunta: qual seria o limite físico do homem?
Quanto peso, por mais bem treinado, um atleta poderia levantar? Quão rápido poderia um homem correr?
De alguma forma chegou-se a um consenso entre especialistas de que o tempo de 4 minutos era o limite humano, a marca instransponível, para a prova de 1 milha. Os fisiologistas garantiam saber que nenhum ser humano bateria esta marca, e que se o fizesse morreria. Era um limite fisiológico.
O treinador da Universidade da Califórnia em 1935, Brutus Hamilton, era ainda mais detalhista ao dizer que "Ninguém pode correr uma milha em menos de 4:01.66."
Todo o meio esportivo e científico acreditava então.
Foi quando surgiu um estudante de medicina de Oxford, que era também um atleta, e resolveu desafiar este limite. Seu nome era Roger Bannister.
Tendo as excelentes instalações esportivas da universidade à sua disposição, e também os laboratórios, Bannister foi um pioneiro no desenvolvimento do treinamento científico no atletismo. Claro, usando a si mesmo como cobaia.
Treinava na esteira do laboratório, experimentava diferentes métodos de treinamento e registrava meticulosamente as respostas fisiológicas de seu organismo.
Tudo feito no mais absoluto segredo. E não por medo de ser imitado por seus adversários,
mas porque, para a mentalidade da época, que valorizava o ideal Coubertain e a pureza do amadorismo, não eram bem vistos os atletas que obtinham resultados através do máximo esforço de preparação. O grande atleta seria alguém naturalmente dotado de forma especial.
É importante saber que seus métodos eram desconhecidos porque em 6 de maio de 1954, na própria pista de Oxford, Bannister finalmente baixou a "impossivel marca" cruzando a linha em 3 min, 59seg e 04dec.
Não morreu mas seu batimento levou 3 horas para voltar ao normal e sua visão ficou borrada. Ele quase desmaiou ao completar a prova, apesar de ter contado com a ajuda de coelhos, e de corredores de apoio que ajudavam a cortar a resistência do vento.
A notícia do feito histórico correu o mundo como seria de se esperar.
Até aqui é só a história de mais um recorde quebrado, mas a parte interessante é que apenas 45 dias depois o australiano John Landy quebrou o recorde de Bannister sem a menor dificuldade e cruzou a chegada sorrindo. E sem usar coelhos!
Quase imediatamente já havia vários corredores atingindo marcas abaixo dos impossiveis 4 minutos sem que tivessem feito o tipo de preparação cientifica de Bannister. Já em 57 o recorde não era mais de Landy ou Roger Bannister, mas de um outro inglês.
Ou seja, ao que parece o tipo de treinamento inovador de Roger Bannister não foi relevante. O que impedia os especialistas de ponta de alcançarem a marca era simplesmente um bloqueio inconsciente devido a crença difundida e arraigada da impossibilidade do feito.
https://en.wikipedia.org/wiki/Mile_run_world_record_progressionhttps://en.wikipedia.org/wiki/Roger_Bannister