Discordo. Acredito que você está tomando a palavra "expressão" como sinônimo de "comunicação", mas são conceitos diferentes.
Novamente... acho que não, ou "quase"...
Comunicação é a transferência de ideias entre diferentes pessoas, então sua eficácia pode ser medida pela semelhança entre a ideia original do emissor e a ideia recebida pelo destinatário. Se o destinatário não recebe ou não sabe interpretar corretamente a ideia do emissor, podemos dizer que a comunicação foi mal sucedida.
Expressão é a manifestação de um estado físico, emocional, psicológico diante de alguma realidade. Se eu vejo um carro pegando fogo, digo "puta que pariu!" como forma de expressar meu espanto, mesmo que eu esteja sozinho e não esteja tentando me comunicar com ninguém. Quando falamos de expressão estética/artística, portanto, estamos muito mais próximos desse cara dizendo "puta que pariu!" (expressão) do que de um cara tentando descrever a cena que viu para um repórter que acabou de chegar (comunicação). A comunicação é uma relação entre dois agentes, a expressão diz respeito a apenas um.
"Liberdade de expressão" não é nada além de "liberdade de comunicação", não (só) liberdade de "expressão emocional".
Mas mesmo sem esse uso específico, são praticamente a mesma coisa. A diferença talvez seja de "comunicação" talvez denotar a expressão efetiva, em vez de apenas o "sinal", independentemente do seu entendimento ou mesmo recepção. Também se usa mais "expressão" para referenciar a sinalização motora de emoções, apesar disso não ser outra coisa senão comunicação instintiva, mesmo que possa "disparar" sem haver outro indivíduo para "receber o sinal".
E a expressão artística dificilmente pode ser comparada a isso, já que diferentemente de uma mera sinalização reflexiva de um estado emocional, é algo mais deliberado, e que bem comumente é feito com o propósito de exibição para outros, e não só como uma catarse privada, estrebuchar e gritar entre portas fechadas, jogar tinta contra a parede, pratos no chão, para depois limpar tudo e fingir que nada aconteceu.
Feita essa distinção entre expressão e comunicação, até poderíamos dizer talvez que a arte formal é superior como forma de comunicação, pois se eu quero descrever (comunicar) um fato através de um quadro, uma batalha por exemplo, as pessoas entenderão com muito mais clareza o que aconteceu se eu pintar algo parecido com a "Batalha do Avaí" do Pedro Américo do que se eu pintar algo parecido com "Guernica", de Picasso. Mas se minha intenção principal não é comunicar, e sim expressar o "puta que pariu!" que me veio a mente ao presenciar os fatos, uma arte conceitual pode ser uma ferramenta mais poderosa, e não faria a mínima diferença para esse objetivo se ninguém entender o que expressei. Lembrando que essa divisão não é tão polarizada, mesmo a arte com finalidade descritiva possui um grau de simbolismo e expressão, e mesmo a arte conceitual possui algum potencial de comunicação.
Acho que essa "separação" descrita aí é mais de arte abstrata e representativa, não comunicação/expressão, embora haja também gradação (como você colocou, apesar das divergências).
Você pode querer comunicar/expressar algo de conteúdo mais objetivo e claramente definido, ou pode querer comunicar algo abstrato, como uma emoção, ou simplesmente "beleza", ou qualquer que seja a rotulação estética que julga que uma criação visual, sonora, tátil, odorífica, gustativa, causa em alguém.
Acho que a parte estética provavelmente nem é significativa em casos como esse, mas é mais o lado "pegadinha" da coisa mesmo, algo inusitado, que é o que acho que deveriam tentar defender se não estiverem tentando engabelar ninguém. Talvez possa ser de qualquer forma propositalmente uma "expressão obscura e indecifrável", o que OK, tudo bem, mas é ainda passível de crítica como algo inferior a outras obras, seja por impressionar mais técnica de execução ou no fundamento conceitual, em como comunica algo em vez de ser essa "expressão propositalmente incompreendida".
O que seria "defender"? Defender que o que um artista conceitual faz é arte não passa por esse tipo de argumento, pois como defendi, arte está correlacionada com expressão e processo criativo e não com o impacto ou a interpretação que irá gerar em terceiros. A comunicação decorrente da arte é apenas um "plus" que pode ou não estar presente, que pode ou não ser o foco do artista.
Defender como algo que não seja completamente banal. Como algo que faz mais sentido se ir ver exibido num museu do que um cesto de lixo (ou um monte deles emplilhados piramidalmente como latas em supermercados), ou uma pia de banheiro, ou um pneu velho, uma gaiola com hamsters, ou vômito (obras para as quais o termo "conceitual" começa a ser bastante questionável). Ou mesmo em matéria de "«processo» criativo". Que criatividade há nisso? O "processo criativo" fica parecendo quase que só pensar em coisas que ainda não foram colocadas numa instalação como "arte". "Um carrinho de bebê cheio de cinzeiros, já teve? Não? Ótimo, criei".
Para que "arte" seja "alguma coisa", e não "qualquer coisa" (ou nada, pois dá no mesmo).
De preferência não coisas como "nesse trabalho eu continuo minha exploração profunda sobre a expressão inexpressiva, e sobre a inexpressividade da expressão".
Agora se você está levando a discussão para o lado político, ou seja, se a arte conceitual que não comunica nada com clareza e nem se faz entender pelo público deve ser financiada pelo Estado, ser patrocinada por verbas públicas, etc. acredito que é uma questão totalmente diferente e desvinculada da discussão acima. Defendo que nesse contexto ninguém deve ser obrigado a financiar o que não quer, e se eu e a maioria das pessoas não vemos nenhuma relevância em uma performance como a mencionada no título do tópico, então acredito que ela não deva gozar de nosso apoio financeiro compulsório.
Toda a origem da confusão é a disseminação do conceito de arte vinculado a um juízo de valor. Quando a gente passa a considerar que arte é um conceito neutro, podemos reconhecer que coisas que não gostamos e não entendemos também são arte, mas nem por isso são boas, relevantes ou dignas de nosso dinheiro.
Acho que essa "neutralidade" da arte está muito próxima de "nulidade".
Se qualquer coisa pode ser chamada de "arte", nada é "arte". Você pode ainda admitir que coisas que não gostamos e não entendemos são arte, mas ainda assim ter alguma delimitação mais significativa do que realmente é arte, além do "autor" ter assim declarado, ou, conseguido ser exibido/publicado como tal. Como música, em vez de uma partitura definindo silêncio por N minutos. Ainda que sim, seja arte, como piada, ou talvez como pegadinha. Mas não como música.