A URSS tem de ser comparada com o seu equivalente da época, o EUA.
Não com o Brasil.
Mas a URSS só era "equivalente" aos EUA praticamente em termos de poderio militar, e este em parte motivado pela Primeira Guerra Fria.
Talvez fosse mais interessante, sob o aspecto econômico, comparar países mais no nível dos estados constituintes da URSS quando esta se formou. O que talvez anacronicamente possa até ser o Brasil atual, não sei, acho que não, mas sei lá.
Acho que a comparação mais justa seria entre TODO o bloco socialista e o resto do mundo capitalista.
Porque não se pode, por exemplo, separar o mercantilismo do colonialismo. O subdesenvolvimento de Portugal direcionava as riquezas minerais de colônias como o Brasil para a Inglaterra produtora de manufaturas e depois industrializada, mas a exploração destas colônias também dependia do flagelo da escravidão na África.
Comparando todo o mundo socialista com todo o mundo capitalista aí já não vemos o capitalismo ganhando de goleada.
Mas o ponto não é fazer este tipo de comparação: a questão é saber se estes sistemas se sustentam no longo prazo, e mediante quais consequências. E caso sejam insustentáveis, se possuem o potencial de evoluir e tornarem-se sustentáveis proporcionando uma qualidade de vida para a maioria da população melhor do que aquela que experimenta hoje.
No tocante ao comunismo existe o fato inegável de que foi tentado depois e colapsou antes. Existiu por cerca de 70 anos, o que faz dele o modelo econômico aplicado em larga escala de menor tempo de vida histórico. Ajustes e reformas também foram feitas, incluindo algumas ousadas e radicais, mas as únicas reformas que lograram êxito em manter os PCs no poder foram aquelas na direção de abolir na prática os preceitos fundamentais do marxismo.
Mas também não se pode deixar de se ver que atualmente há uma "multi-crise" no mundo: econômica, nas tensões entre Estados, nos choques étnicos e culturais, na ameaça do terrorismo, no crescimento generalizado da violência nos grandes centros urbanos, na distorção do conhecimento e na manipulação da informação, no empobrecimento e mediocrização da cultura popular, no surgimento de novas doenças e no alastramento de antigas doenças como o câncer, na degradação acelerada do meio ambiente.
A maior parte destes problemas, senão todos, são consequências do capitalismo. Embora a humanidade nunca tenha conhecido um período sem guerras ou doenças, a maioria das guerras hoje, como as da Síria ou do Iraque, são conflitos deflagrados por interesses capitalistas. Também o alastramento de determinadas doenças degenerativas está direta ou indiretamente relacionado com o estilo de vida capitalista e a maneira como produzimos e consumimos.
Observo também o poder que o sistema capitalista tem de fazer com que poderosos grupos econômicos subvertam os instrumentos criados para garantir a democracia e obtenham na prática um grande controle do sistema político.
Esse modelo também não parece sustentável a longo prazo porque o capitalismo é gloriosamente eficiente em proporcionar um avanço tecnológico cada vez mais acelerado. O que implica nas disfuncionalidades do sistema estarem adquirindo uma capacidade de infringir danos a nós mesmos e ao ambiente a taxas exponenciais.