Na verdade, para os marxistas o aumento no poder do estado é uma mera ferramenta para a tomada do poder pelos proletários. Assim que os proletários instauram sua ditadura, segundo Marx, a propriedade privada e o estado devem ser gradualmente diminuídos até a abolição completa. E só essa última fase sem estado e sem propriedade privada é propriamente chamada de "comunismo".
Então, um país que perpetua um estado forte está conceitualmente tão longe do ideal comunista quanto do ideal capitalista. Ambos são casos de "falha de concretização", o que não significa que os pressupostos teóricos estejam isentos de culpa.
Bem, antes disso então, ainda assim seria uma falha apesar de (ou justamente por) as coisas estarem indo na direção desejada.
Esquisito "comunismo" nesse sentido. A inexistência de propriedade privada fica sendo garantida como? Justiça espontânea através de linchamentos/redistribuições? Ou se supõe que todos passariam a seguir voluntariamente o "princípio da não-apropriação"?
Não sei se ficou implícito ou se realmente falhei em deixar isso claro, mas quando se fala em abolição da propriedade privada no contexto marxista a referência é apenas a meios de produção. Os meios de produção se dividem em
objetos de trabalho (terra e matérias-primas) e
meios de trabalho (armazéns, plantas industriais, máquinas, ferramentas de grande porte, redes de comunicação, etc.). Não há nenhum combate à propriedade de bens de consumo, apesar de esse equívoco ser frequentemente cometido.
Na segunda fase da sociedade comunista, ou seja, após a abolição do estado, Marx sugere que a planificação da economia e as decisões políticas seriam tomadas via democracia direta. Como Marx identificava na luta de classes a raiz de praticamente todos os problemas sociais, como a violência, a ganância, o egoísmo, etc. ele acreditava que na sociedade comunista as pessoas desenvolveriam (ao longo da grande fase de transição, que poderia durar gerações) esse senso de propriedade comum e não teriam tendência a fazer apropriações indevidas. Não tenho certeza, mas se não me engano ele chega a sugerir que a a sociedade comunista iria prescindir de forças de caráter coercitivo, como a polícia, mantendo na pior das hipóteses apenas um exército para se defender de invasões de vizinhos não-comunistas.