Obama anunciou novas sanções à Rússia com base em acusações não comprovadas da CIA de que o governo russo influenciou o resultado da eleição presidencial dos EUA com "actividades maliciosas ciber activadas".
O Departamento de Segurança Interna dos EUA (US Department of Homeland Security, DHS) emitiu um relatório "relativo à declaração de 35 responsáveis russos como persona no grata por ciber actividade maliciosa e assédio".
O relatório é uma descrição de "ferramentas e infraestruturas utilizadas pelos serviços de inteligência russos para comprometer e explorar redes e infraestrutura associada à recente eleição nos EUA, bem como um conjunto de entidades do governo e do sector político e privado".
O relatório não apresenta qualquer evidência de que as ferramentas e infraestruturas foram utilizadas para influenciar o resultado da eleição presidencial. O relatório é simplesmente uma descrição do que se diz serem capacidades russas. diplopundit.net/2016/12/29/...
Além disso, o relatório começa com esta ressalva: "RESSALVA: Este relatório é apresentado 'tal qual' só para propósitos informativos. O Departamento de Segurança Interna (DHS) não dá quaisquer garantias de qualquer espécie respeitante a qualquer informação nele contido". diplopundit.files.wordpress.com/2016/12/jar_16-20296.pdf
Por outras palavras, o relatório não só não apresenta evidência da utilização das ferramentas e infraestrutura russa a fim de influenciar a eleição presidencial dos EUA, como nem mesmo garante a exactidão do que descreve como capacidades russas.
Portanto o relatório DHS torna completamente claro que o regime Obama não tem bases evidenciais para as suas alegações com base nas quais ele impôs mais sanções à Rússia.
O que está a acontecer aqui?
Primeiro há a questão da legalidade das sanções, ainda que houvesse evidência. Não estou certo, mas penso que sanções exigem a actuação de um organismo, tal como o Conselho de Segurança da ONU, e não podem legalmente serem impostas unilateralmente por um país. Além disso, não está claro porque Obama está a chamar de "sanções" a expulsão de diplomatas russos. Nenhum outro país fez algo assim. Durante a Guerra Fria, quando diplomatas eram expulsos por espionagem, isto não era chamado de "sanções". Sanções implicam mais do que expulsões unilaterais ou bilaterais de diplomatas.
Segundo, está claro que Obama, a CIA e o New York Times estão plenamente conscientes de que a alegação é falsa. Também está claro que se a CIA realmente acredita na alegação, a agência de inteligência é totalmente incompetente e não se pode acreditar nela sobre qualquer assunto.
Terceiro, o presidente Trump pode revogar as sanções dentro de 21 dias, uma terceira razão porque as sanções são ridículas.
Então por que o presidente Obama, a CIA e o New York Times estão a fazer acusações que sabem serem falsas e para as quais não produziram nem um fragmento e evidência?
www.nytimes.com/2016/12/29/...
Uma resposta óbvia é que o neoconizado regime Obama está desesperado por arruinar as relações EUA-Rússia até passar o ponto em que Trump já não possa repará-las. Como coloca o New York Times: "As acções do sr. Obama criam claramente um problema para o sr. Trump". A questão que o New York Times levanta é se Trump "alinha-se com seus aliados democráticos no Capital Hill ou seu amigo autoritário no Kremlin".
Pode a política externa de Trump ser controlada por alegações falsas? Segundo o New York Times, Trump abrandou e concordou em ser informado pela CIA acerca do hacking russo agora quando republicanos tais como Paul Ryan, John McCain e Lindsay Graham alinharam-se com Obama e a CIA na aceitação de acusações para as quais nenhuma evidência foi apresentada. Contudo, uma informação sem evidência pareceria simplesmente promover o descrédito da CIA aos olhos de Trump.
Como tenho enfatizado nos meus textos, os factos já não têm mais qualquer papel nos Estados Unidos e seu império. Bastam apenas alegações, quer em processos de tribunais, centros de interrogatório, políticas externa e interna ou salas de aula. Os EUA baseiam mesmo suas invasões militares sobre alegações falsas – "armas de destruição em massa". Na verdade, toda a política externa dos EUA desde o regime Clinton tem sido baseada sobre nada mais do que alegações falsas.
O governo russo já deveria ter aprendido isto nesta altura, mas talvez Moscovo ainda pense que os factos importam nas decisões de Washington.
Possivelmente deveríamos considerar que há mais em andamento do que se pode avistar. Talvez a propaganda acerca da ciber ameaça russa à democracia esteja a ser utilizada para preparar populações americana e/ou europeias para um incidente. A CIA transmutou-se num "estado profundo" que utiliza desinformação e propaganda para alinhar decisões do Congresso, do ramo executivo e de governos estrangeiros com agendas secretas nos bastidores. Muitos livros, tais como The Brothers de Stephen Kinzer e CIA As Organized Crime de Douglas Valentine descreveram algumas destas agendas secretas.
A fim de impedir Trump de restaurar relações normais com a Rússia, um incidente teria de ser grave e irreversível. Ao invés de aceitar a derrota para a sua agenda de hegemonia mundial estado-unidense, os neoconservadores preparam-se para assumir altos riscos. A disposição para tomar riscos é demonstrada pelo esforço público do director da CIA para desacreditar o presidente eleito.
Tal como esperado, a resposta de Putin à provocação mais recente é contida pois as "sanções" parecem superficialmente de pouco significado. Contudo, no caso de alguma coisa perigosa estar abaixo da superfície, o governo russo pode querer considerar colocar suas forças militares em alerta.
http://resistir.info/eua/roberts_30dez16.html