Smith e depois Hayek habilmente entenderam como a sociedade é um sistema complexo que tende a se auto organizar dentro de um mercado de relações e trocas humanas, emergindo daí uma ordem espontânea e complexa dentro da sociedade ao cada individuo buscar livremente seus interesses pessoais e torna-los intercambiáveis por meio de produtos tangíveis (bens) e intangíveis (ideias). Porém, a visão capitalista de livre mercado defendida por ambos, onde vigora a ideia de propriedade individualizada dos meios de produção e de criação intelectual (patentes), diminui enormemente a essencial liberdade necessária para que essas trocas ocorram dentro do mercado humano, de modo a diminuir substancialmente o florescimento de todo o potencial da sociedade. A imposição da propriedade privada dos meios produtivos acaba por gerar toda uma enorme gama de burocracia, necessária para resguardar e regular a posse, levando a um complexo e burocrático sistema jurídico e institucional. A democracia produtiva de produtos tangíveis e intangíveis é radicalmente amputada desta forma, inviabilizando um mercado de ideias e produção muito mais livre e, portanto, muito melhor para o surgimento da auto organização social suscitada por estes pensadores liberais. A Democracia Produtiva, implementada pelo acesso menos burocrático possível aos meios de produção e às informações de produção, é sem dúvida um dos principais pilares para o surgimento de uma sociedade dinâmica. Porém, até então, a escassez obrigatória não permitia que o sistema social funcionasse sem a existência da propriedade privada, sendo uma forma de administrá-la mais eficientemente àquela altura, mas que inevitavelmente gera demasiada burocracia produtiva e elevada entropia a todo o sistema econômico. Marx conseguiu entender que a propriedade privada dos meios produtivos era um entrave real ao florescimento da sociedade, geradora de várias consequências indesejáveis como a necessidade de lucro financeiro e de exploração do trabalho humano, elegendo o Estado como o meio pelo qual esta Democracia Produtiva poderia existir na sociedade da forma mais livre e ampla possível. Porém, este acesso livre aos meios de produção não se trata de sua simples estatização, mas principalmente de torná-los de acesso público e amplo, não apenas a uma elite estatal ou governamental.
Outro problema dentro da atual visão capitalista de livre mercado é a noção de preço como o mecanismo ainda ideal para a troca de informações econômicas. De fato, até algum tempo atrás, não havia nenhum outro mecanismo mais eficiente nisto do que o preço. Porém, agora o preço é uma via de informação extremamente pobre para abordar as questões complexas cruciais dentro dos sistemas modernos, principalmente no que se refere ao uso das técnicas mais eficientes na manipulação dos recursos e na sua alocação. Preço, a seu crédito, tem a capacidade de criar valor de troca entre praticamente qualquer conjunto de bens, devido à sua divisibilidade. Isso cria um mecanismo de feedback que conecta todo o sistema de mercado de uma maneira determinada, estreita. Preço, bens e dinheiro trabalham juntos para traduzir preferências subjetivas de demanda em valores de troca semi-objetivos. A noção de "semi" é empregada aqui, pois é apenas uma medida culturalmente relativa, ausentes quase todos os fatores que dão a verdadeira qualidade técnica a um determinado material, bem ou processo. Hoje, dada a complexidade atual da civilização humana, principalmente devido ao seu aumento populacional enorme nos últimos séculos e à evolução da tecnologia, há a necessidade de um canal muito mais eficiente para a circulação das informações relevantes para o cálculo econômico. Os sistemas atuais de Tecnologia da Informação já tornaram-se substancialmente superiores ao preço neste sentido, podendo transmitir os fatores de eficiência técnica ausentes no sistema atual de preços.
Sendo assim, acabar com visão capitalista da propriedade privada dos meios de produção e não com o livre mercado de bens e ideias, além da adoção de novos canais tecnológicos muito mais eficientes do que o preço na transmissão de informações econômicas, é fundamental para destravar a auto organização social humana, tronando-a sustentável diante do seu atual nível de complexidade, que exige uma visão muito mais holística dos processos envolvidos. A adoção da ênfase na eficiência técnica também é de vital importância para a sustentabilidade geral do sistema, ao produzir mais com menos ao mesmo tempo que gera abundância generalizada.