O que é existir? A gente chama de existir coisas que se situam dentro do tempo e do espaço. Ora,
I.se uma coisa se situa dentro do tempo, ela é destituída de eternidade
II.se uma coisa se situa dentro do espaço, ela tem forma e, portanto, limite
Ora, então essas duas coisas (forma e temporalidade) às quais eu superficialmente atribuo valor positivo
são na verdade negativas, porque são sinônimo de não-unidade e não-eternidade.
Se uma coisa só existe dentro do Tempo, na verdade ela é Não-Eterna.
Se uma coisa só existe no plano da Forma, na verdade ela é Não-Absoluta.
A Divindade é Una e Eterna, então é necessariamente amorfa e atemporal.
Tentar procurar a Divindade dentro da Existência seria o mesmo que tentar procurar o Host dentro do jogo.
Ora, o jogo inteiro começa, termina e se movimenta dentro do Host.
O Host não pode ser encontrado ou experimentado dentro do Jogo, justamente por ser o que lhe dá sustento.
Além disso, nossos sentidos só percebem as coisas que são de sua própria natureza -
ex: meu olfato só percebe odores, minha audição só percebe sons, etc.
Qual o sentido de procurar a Divindade com meus sentidos? Que só percebem o contingente e o sensível?
Seria como procurar o Host do Jogo dentro das Fases do mesmo jogo.
Como vou tentar perceber ou experimentar a Divindade sem um aparato que lhe seja da mesma natureza?
e, se só a divindade é a divindade, só ela pode se apreender em si mesma.
Tendo em vista tudo isso, porque ainda considerar a Divindade?
Por três razões:
1.NÃO EXISTE FOME SEM COMIDA
Não existiria fome se não existisse comida. Não existiria inverno se não existisse verão, até porque um é o pressuposto e a negação do outro. Não existiria frio se não existisse calor. "1+1=3" é um Erro. Não seria possível existir o Erro "1+1=3" sem existir o Certo "1+1=2". Logo, se aqui no reino da Multiplicidade existe o Tempo, a Forma, a Imperfeição no Sensível, isso significa que necessariamente existe no reino da Unidade a Divindade Absoluta e Eterna, precisamente porque todos aqueles não são senão a negação Desta.
2.A LÓGICA É O FUNDAMENTO DO UNIVERSO
Até mesmo quando um cético ou ateu-materialista tenta negar a Divindade, ele sente a irresistível necessidade de se render à Lógica em cada tentativa de articular seus argumentos, seus discursos, de encadear suas premissas e conclusões. É engraçado porque, apesar de negar um Logos universal, ele mesmo se vê obrigado à LEI da lógica, da qual não pode escapar. E não pode escapar simplesmente porque sabe que A=A e que 1+1=2. Não apenas isso como, quando pede que provem a Divindade, o espera através de argumento, lógica. Justamente por reconhecer intuitivamente (apesar de não querer explicitá-lo) que a Lei e a Lógica são os fundamentos da existência. Só que não existe Lógica fora de um Intelecto. Também não existe Lei fora de sua aplicação. A lógica vem a ser através de um Pensamento. Se a Lógica existe, e ela existe antes de nós como vou demonstrar a seguir, é porque ela já está inerente à estrutura desse universo. Ora, se a Existência tivesse sua raiz/seu fundamento em si mesma, não poderia seguir a Lógica. Se há Lei e Lógica na existência, é porque ela tira seu fundamento de uma Causa Ativa e Inteligente que a sustenta.
3.1+1=2 ANTES QUE VOCÊ APRENDA MATEMÁTICA
A soma dos quadrados dos catetos corresponde ao quadrado da hipotenusa. A soma dos quadrados dos catetos já correspondia ao quadrado da hipotenusa antes de Pitágoras existir. A soma dos quadrados dos catetos vai continuar correspondendo ao quadrado da hipotenusa depois da extinção da humanidade. A soma dos quadrados dos catetos corresponde ao quadrado da hipotenusa independentemente de você saber ou não o que é um cateto e uma hipotenusa.
ORA,
A Geometria, portanto, não é uma invenção humana, mas uma descoberta, como o são a matemática, a ciência etc. 1+1=2 antes de alguém inventar a matemática. Quando inventada, apenas passamos a ter ferramentas para exprimir que 1+1 seja 2 de maneira para nós interpretável e comunicável, mas aquilo a que nos referimos sempre foi e sempre será. Se todos os seres inteligentes fossem extinguidos e só sobrassem seres brutos e irracionais, 1+1 continuaria sendo 2, porque isso é uma realidade em si, eterna, perfeita, que pertence ao Inteligível, e não está sujeita ao erro e transformações do Mundo Sensível.
Se a inteligência tivesse sua raiz (e não fruto) no próprio homem, 1+1 passaria a ser 2 quando da invenção da matemática. Mas não, o homem apenas representa isso, não inventa. Ele representa porque, por seu intelecto mais evoluído que o dos outros seres que conhecemos, começa a tatear um pouco do Reino Inteligível com o qual suspeitamos verdades além e acima de toda a contingência.
É esse mesmo homem, se distinguindo dos animais, inventor da matemática e da geometria, que concebe a Divindade e a Perfeição justamente pelo reconhecimento que seu princípio intelectivo faz das Leis e Inteligência que regem e ordenam o mundo e a natureza.
Ora, mas o mundo e a natureza não são perfeitos. Óbvio! Não são a divindade. Se a divindade criasse a perfeição, criaria a si mesma, e portanto não seria Criadora. Para se fazer Criador, é necessário criar o que seja o Não-Deus, isto é, precisamente, a imperfeição. O pai só existe com relação ao filho. Pai e filho vem a ser mutuamente, constroem-se um ao outro - não existe pai sem filho e nem filho sem pai. O pai, para se fazer pai, precisa fazer o filho, que se torna filho em relação ao pai. Da mesma maneira, a perfeição no Reino Imutável se realiza em contraste com (e pela criação da) imperfeição no Reino Mutável (sensível, da multiplicidade, do tempo, da forma etc).
Se eu sou um ser imperfeito, e se fosse a raiz da própria inteligência e da matemática, como eu poderia conceber a ideia de Perfeição? Se eu fosse a raiz de toda a inteligência, o fruto da ideia da Perfeição não poderia existir, porque ele teria sua raiz em um ente Imperfeito, e que portanto seria incapaz de imaginá-la. Mas apesar de tudo, a ideia da Perfeição existe em mim, ente imperfeito. Se a ideia da Imperfeição existe em mim, ente Imperfeito, é porque intuitivamente sei que, essa minha imperfeição sensível, é prova e evidência da real Perfeição Inteligível, pela primeira ser a negação desta última e só existir em relação à outra.
Se eu existo na Contingência, é porque Deus existe na Necessidade.