Aristóteles e discípulos acreditavam que era possível chegar à verdade através da razão pura. Um filósofo aristotélico partiria do que ele pensava ser alguns princípios fundamentais e chegaria a conclusões sobre qualquer coisa. Fosse física ou metafísica.
Filósofos como Aristóteles e Platão meditaram sobre o que deveria ser a essência da natureza dos astros e dos movimentos celestes, e partindo destas convicções fundamentais propunham aos matemáticos e astrônomos que estabelecessem uma mecânica celeste coerente com suas ideias. Aqui não cabe discutir as razões, mas eles concluíram que os astros só poderiam se mover através de trajetórias circulares e em velocidade constante. Sob influência dos aristotélicos existiu uma corrente na astronomia, que durou possivelmente até a Idade Média, muito preocupada em "salvar os fenômenos".
Salvar os fenômenos significava descrever a realidade sem rejeitar estes tais princípios filosóficos, harmonizar o observável com a filosofia aristotélica. Assim modelos cada vez mais complicados foram concebidos para descrever o sistema solar, sempre com os astros percorrendo trajetórias com movimentos circulares uniformes. E sempre, claro, havia discrepância entre o observado e as previsões do modelo.
Há muito esse tipo de abordagem não tem lugar na Ciência, que se dedica a adequar a teoria aos fatos. E não fatos a teorias. E ninguém mais acredita na razão pura: a experiência já demonstrou exaustivamente que não se compreende o mundo apenas pelo pensamento.
Aristóteles, apoiando-se em uma retórica enormemente mais sofisticada que a do forista Levi, ensinou aos seus contemporâneos que:
- O tempo não teve um começo e é eterno.
- Só o movimento circular é contínuo.
- Que geração e corrupção não tiveram um começo e não terão um fim.
Vejamos um exemplo de como a retórica de Aristóteles produzia a Ciência de Aristóteles ( sobre geração e corrupção ):
A geração das coisas inferiores nunca cessará, como também nunca tem começado. Porque a corrupção antecede e segue toda a geração; e a geração antecede e segue toda a corrupção. Por isso, visto que a corrupção precede qualquer geração e a geração qualquer corrupção, não é possível a corrupção e a geração terem tido início, nem é possível elas terminarem, porque a qualquer geração segue a corrupção e a qualquer corrupção segue a geração. Se, então, a geração e a corrupção terminassem, depois da última geração, teria uma geração, e depois da última corrupção uma corrupção. Que a corrupção precede e segue a geração, Aristóteles provou com uma reflexão sobre os movimentos. A mesma que o levou a inferir que só o movimento circular é contínuo.Porque a corrupção de um é a geração de outro, asseverava Aristóteles.
Mas deixando o pensamento puro e retornando ao mundo das coisas reais, a 3ª lei da termodinâmica contraria a retórica aristotélica.
Há duas falhas fundamentais na filosofia de Aristóteles que também reconhecemos na filosofia leviana ( a filosofia do forista Levi ):
- Aristóteles não definia precisamente os conceitos. Geração e, principalmente, corrupção, por exemplo, são coisas um tanto vagas no argumento acima.
- Não havia a preocupação de testar as ideias, de confronta-las com a realidade. Se alguma coisa parecia fazer sentido para Aristóteles, então só poderia estar certa e ser a verdade. E quando a realidade parecer discrepante da "verdade", trate-se de "salvar os fenômenos" para que os fatos não contradigam a verdade.
A título de curiosidade, mais algumas bobagens do grande Aristóteles:
- Alguns homens nascem para ser escravos.
- A Terra é o centro do universo e está imóvel.
- Quanto mais pesada é uma pedra, mais rápido ela cai.
- O lado esquerdo do corpo é mais frio que o direito.
- Mulheres têm menos dentes que homens.
Quando gênios foram aristotélicos, foram estúpidos:
Galileu provou matematicamente a existência do inferno de Dante. Era cônico e se alargando em direção ao centro da Terra. A ponta do cone se localizava logo abaixo da cidade de Jerusalém. Já Newton calculou que o fim do mundo será em 2060 e Robert Boyle acreditou que daria para fazer a pedra filosofal com xixi.
Os argumentos de Eliphas Levi seguem um padrão aristotélico, com a diferença que filósofos aristotélicos costumam dar menos saltos na lógica para ir de uma assertiva a outra.
O que é existir? A gente chama de existir coisas que se situam dentro do tempo e do espaço.
Eu chamo de existir ser real. E realidade abarca tudo que exista; se outros universos existirem fora desse tempo e espaço, serão reais. Tudo que se situa dentro do tempo e do espaço existe, mas é um erro crasso de lógica inferir que se A implica em B, então Não-A implica em Não-B.
Ora, então essas duas coisas (forma e temporalidade) às quais eu superficialmente atribuo valor positivo são na verdade negativas, porque são sinônimo de não-unidade e não-eternidade.
Se não estou enganado, positivo é quando alguém aponta que algo é assim por tais e tais causas. E negativo é quando alguém garante que algo deva ser por não se encontrar nenhuma razão para que não seja. Exemplo: poderíamos advogar negativamente pela existência de Deus ao apontar uma inexistência aparente de causa para o universo. Não havendo causa, deve haver Deus. O conceito de probabilidade matemática também é filosoficamente negativo: não há nenhuma causa para que o resultado CARA seja mais frequente que o resultado COROA. Logo, argumentamos que não se deva esperar que tal ocorra e dessa presunção extraímos o axioma fundamental da Teoria das Probabilidades.
Então por que forma e temporalidade seriam conceitos negativos? E por que seriam sinônimos de não-unidade e não-eternidade? O que é sinônimo? Sinônimo significa ser a mesma coisa, e na verdade você parece estar querendo dizer não que são sinônimos, mas que forma e temporalidade não possuem os atributos de unidade e eternidade. Por que não? Se o universo fosse eterno existiria dentro do tempo e ainda assim teria a propriedade de ser eterno. Então, o quê, na lógica pura, apoia o seu raciocínio? Além disso é preciso definir o que seria "unidade", porque pelo menos eternidade a gente sabe o que é. Por que a forma não pode ter "unidade"? Não está claro, e um raciocínio frouxo pode nos levar aonde quisermos. Mas nem mesmo um raciocínio rigoroso e correto não nos dirige necessariamente à verdade.
Se uma coisa só existe dentro do Tempo, na verdade ela é Não-Eterna.
Se uma coisa só existe no plano da Forma, na verdade ela é Não-Absoluta.
A Divindade é Una e Eterna, então é necessariamente amorfa e atemporal.
Já demonstramos que se o tempo não tiver fim, não há razão para se dizer que a medida do tempo de existência de qualquer coisa possa sempre ser expressa em um número finito. Em outras palavras, não-eterna. Mas falta explicar o que seria o "absoluto" antes de se pensar em chegar a alguma conclusão sobre as coisas que poderiam ou não ser absolutas.
No entanto o interessante é que isso tudo pretende ser uma prova em favor da existência (no meu conceito de existir) da Divindade.
Mas já parte da premissa que a Divindade existe! Não só existe como você até sabe que é "Una e Eterna". Como você descobriu que a Divindade existe? Como pôde examinar seus atributos, sua natureza, se para você a Divindade é inefável? Basicamente seu argumento é que tudo que existe, existe no tempo e no espaço, e tudo no tempo e espaço é "não-uno" e "não-eterno". Em que pese que esta é uma afirmação sem base, mesmo que estivesse correta, não se poderia a partir disso afirmar que o que não está contido no tempo-espaço é por consequência uno e eterno. Novamente "A implica em B" não infere "Não-A implicando em Não-B"
É um argumento inválido e apresentar contra-exemplos seria facílimo:
Todos os números no conjunto dos inteiros são inteiros. Logo o número contido em um conjunto que não o dos inteiros só pode ser não inteiro.
FALSO! Números inteiros podem ser encontrados no conjunto dos Racionais, dos Reais...
Tentar procurar a Divindade dentro da Existência seria o mesmo que tentar procurar o Host dentro do jogo.
[...]
Além disso, nossos sentidos só percebem as coisas que são de sua própria natureza -
ex: meu olfato só percebe odores, minha audição só percebe sons, etc.
Qual o sentido de procurar a Divindade com meus sentidos? Que só percebem o contingente e o sensível?
Como vou tentar perceber ou experimentar a Divindade sem um aparato que lhe seja da mesma natureza? e, se só a divindade é a divindade, só ela pode se apreender em si mesma.
Devo concluir então que estou tendo a honra de interagir com uma Divindade. Sim, porque você parece ter apreendido a natureza da Divindade. Identificou suas propriedades de una, absoluta e eterna. Entre outras.
É ingênuo pensar que os agnósticos não estão convencidos da existência de uma Divindade porque nunca a viram, nunca a tocaram, nunca sentiram o cheiro da Divindade. Se eu vir, tocar ou cheirar alguma coisa, terei certeza absoluta de não se tratar da "Divindade".
Eu não estou convencido apenas porque nunca me apresentaram razão convincente.
Também não estou convencido que exista vida inteligente fora da Terra. É uma possibilidade, mas em que evidência eu poderia me apoiar para
ME CONVENCER? Antes do convencimento devem vir as razões convincentes, não há motivo para alguém estar convencido de algo para o qual não foi apresentada nenhuma razão convincente. Simples bom senso.
Tendo em vista tudo isso, porque ainda considerar a Divindade?
Boa pergunta.
Por três razões:
Hummm...
1.NÃO EXISTE FOME SEM COMIDA
Você está querendo dizer que tudo que existe, só pode existir como contraponto de um oposto que também exista.
Mas percebes que o oposto de fome não é comida, mas sim a saciedade? Então a comida existe sem que exista o seu contraponto. A comida não precisa da fome para existir. E nem da saciedade. Até existem raras pessoas incapazes de sentir fome ( assim como existem pessoas que não sentem dor ), mas mesmo estas pessoas comem. Mesmo sem fome e sem saciedade poderia existir a comida.
E aí...
Logo, se aqui no reino da Multiplicidade existe o Tempo, a Forma, a Imperfeição no Sensível, isso significa que necessariamente existe no reino da Unidade a Divindade Absoluta e Eterna, precisamente porque todos aqueles não são senão a negação Desta.
Não é intencional como eu julguei inicialmente, mas isso é um primor de retórica vazia. Era assim que o velho Aristóteles concluía que a mulher tinha menos dentes que o homem. E nem se dava ao trabalho de conferir.
Preste bem atenção no que você fez:
Primeiro você observa que algumas coisas só são percebidas e nomeadas como uma consequência de existirem os seus contrastes. De certo se só existisse uma estação do ano, se o clima não variasse ao longo do ano, muito provavelmente não existiria nem um nome para essa estação única. Se não existisse a noite talvez ninguém tivesse dado um nome ao dia.
Mas aí você se confunde com palavras e comete vários equívocos. Primeiramente não se dá conta que este princípio geral que está enunciando ( de nada existir sem sua negação ) não sucede desses fatos. O inverno é apenas um padrão climático, e ele existe ou não independentemente dos homens lhe darem um nome. Existe independentemente de os homens o perceberem. Existe independentemente de variar para outros padrões ou não. Não foi o verão que fez existir o inverno, a variação do clima apenas obrigou os homens a nomear os diferentes padrões e prever seus períodos. Mas uma coisa ser percebida como consequência de existir seu contraste, é
TOTALMENTE diferente de uma coisa
EXISTIR SÓ PORQUE existe o que lhe contrasta. Por exemplo: na lua só existe uma estação do ano ( e no sol também ), e ninguém deu um nome para esse padrão de temperaturas, ventos, secura ou umidade, etc... Mas isso significa que o padrão não existe? Um mero jogo de palavras lhe fez dar um enorme salto na lógica.
Então o guarda-chuva não existe sem a negação do guarda-chuva... É isso? A pedra só existe porque há também a não pedra. Suponho então que se o universo fosse todo pedra simplesmente não existiria. Estaria lá, seria uma grande pedra, mas não existiria até surgir a não pedra.
Veja como você audaciosamente enunciou um princípio geral que é como uma espécie de Lei da Física, mas vai muito além do que a Física ousa e se estende até como um princípio geral a reger este e outros mundos. Só que diferentemente da gravidade ou da conservação de energia, você nem sequer se dá ao trabalho de apresentar uma maneira de testa-lo. Acha que é suficiente esse monte de palavrório e raciocínio desleixado que confunde o perceber de uma coisa com a própria existência da coisa.
Em segundo lugar é óbvio que nem tudo só é definido como consequência de existir seu contraste. A negação do inverno é o verão, da noite o dia, do bem o mal. E o que pra você é a negação da Economia, o não jogo de xadrez, o objeto ou conceito que é negação de um macaco hidráulico? Onde está o não-universo que fez os homens perceberem o universo?
E você está querendo provar a Divindade e até inferir seus atributos só com base nesse princípio geral, nessa Lei da Metafísica, que nem lei, nem princípio e nem geral é.
2.A LÓGICA É O FUNDAMENTO DO UNIVERSO
Esse é um ponto mais interessante e profundo. Eu diria que mais provavelmente o universo se conforma a certas regularidades, não é como um desenho animado onde qualquer coisa aleatória pode acontecer.
A lógica foi a ferramenta que a evolução desenvolveu nos humanos para que estes fizessem deduções sobre a realidade. Intuitivamente nosso cérebro conhece uns poucos axiomas da Lógica, bastante simples, e os combina segundo regras também simples para construir raciocínios complexos. Sabemos que uma coisa é igual a ela mesma, que nada deve ser verdadeiro e falso ao mesmo tempo, que se a verdade de A implica na verdade de B, e B na verdade de C, então A implica em C e coisas assim... Mas não há razão para afirmar que a lógica é o fundamento do universo, mas sim que seres inteligentes desenvolveram a Lógica como ferramenta em função das regularidades específicas deste universo. Nada me garante que não exista algum universo onde A seja diferente de A e algo possa ser tanto verdadeiro como falso. Nesse universo mentes seriam construídas com alguma outra lógica. E até mesmo para o nosso universo essa é uma afirmação arriscada porque fenômenos como o detectado na experiência da dupla fenda podem colocar em xeque a presunção intuitiva de que o raciocínio lógico seja capaz de apreender totalmente os fundamentos deste universo.
3.1+1=2 ANTES QUE VOCÊ APRENDA MATEMÁTICA
Não.
Esse equívoco de que os números existem atrasou o desenvolvimento da Matemática em alguns séculos. Pitágoras até acreditava que só números inteiros podiam existir e fez matar um de seus pupilos quando este demonstrou que raiz de 2 não poderia ser expresso como um número racional. Na Idade Média a resolução de equações algébricas esbarrou na crença de que os números eram uma descoberta e não uma ferramenta que poderia ser inventada. Isso fez muitos rejeitarem a ideia de desenvolver uma álgebra para raízes de números negativos, porque raíz de número negativo
NÃO EXISTIA. Afinal, assim como 1 + 1 = 2, você deve achar evidente que se um número positivo é multiplicado por ele mesmo o resultado é positivo. E se um número negativo é multiplicado por ele mesmo o resultado também é positivo. Então não existe um número que multiplicado por ele mesmo dê negativo porque é contrário a alguma propriedade matemática fundamental do universo, não é?
Bem, não existe até o momento em que alguém invente. Mas alguns matemáticos medievais não ousaram inventar por acreditarem que número era uma descoberta, não uma invenção.
Se a inteligência tivesse sua raiz (e não fruto) no próprio homem, 1+1 passaria a ser 2 quando da invenção da matemática. Mas não, o homem apenas representa isso, não inventa. Ele representa porque, por seu intelecto mais evoluído que o dos outros seres que conhecemos, começa a tatear um pouco do Reino Inteligível com o qual suspeitamos verdades além e acima de toda a contingência.
Sinto muito mas está completamente errado. Completamente errado porque os fundamentos que a mente humana utilizou para desenvolver a matemática foi sua capacidade intrínseca de artificialmente organizar a realidade tanto destacando porções dessa realidade como se fossem coisas separadas, individualizadas ( que são percebidas pela mente como unidades desse tipo de coisa ), como relacionando e agrupando estas porções artificialmente individualizadas por semelhanças, abstraindo as diferenças entre estas coisas como se as diferenças não existissem. Portanto artificialmente.
Não existiria a ideia de um número 1 representando a unidade de alguma coisa se a mente humana não fosse capaz de interpretar a realidade através dessa ilusão de destacar objetos individualizados do grande todo uno que é a realidade. Não existiria a ideia de conjuntos, nem de contagem, se a mente humana não tivesse este atributo de agrupar unidades por semelhanças que só existem em um nível abstrato.
Creio que a mente da "Divindade" não deva ser tão iludida e limitada quanto a nossa.
Você deve concordar que tato, odores, sons, imagens, etc, não são a realidade mas apenas representações de uma realidade externa à mente que nunca saberemos como verdadeiramente é. Da mesma forma se a sua mente pudesse apreender o universo como realmente é, provavelmente você experimentaria um único turbilhão de energias do qual você mesmo seria parte. Uma árvore só é uma árvore na sua abstração, na realidade não existe limite entre árvore e não árvore. A todo instante folhas caem, a árvore incorpora carbono ou água ou devolve oxigênio. Em um nível mais profundo toda a matéria de que é composta a árvore é energia sendo parte de um único e indivisível turbilhão de energia que é o universo.
Para poder existir e pensar, sua mente cria uma ilusória representação desta realidade em imagens, texturas, sons, odores, etc... Mas esta ilusória representação inclui a ilusória individualização - separação - de porções da realidade, assim como o ilusório relacionamento entre estas ilusórias individualizações, que é de onde a Matemática retira o conceito de conjuntos.
Nem conjuntos nem unidades existem, são criações da mente humana, entes abstratos assim como formas e cores. Os fundamentos da Matemática partem de abstrações, de expedientes da mente para interpretar a realidade que não são a realidade em si.
A Matemática tem sua raiz no próprio Homem. Uma unidade de uma coisa que pertence a um conjunto, acrescendo este conjunto de outra unidade desta coisa, denota 2 coisas desse tipo pertencendo ao conjunto, apenas porque sua mente foi construída já formatada com os conceitos de unidade e conjunto. Ilusões que necessariamente não devem existir para a inteligência da Divindade, que deve ser capaz de apreender diretamente o real, sem a necessidade de intermediação de sentidos e esquemas mentais imperfeitos.