Falo da ciência do "embromation" esotérico/religioso, dedicada a estudar a fundo as falhas cognitivas inerentes ao ser humano e servir de base para o desenvolvimento de cada vez mais avançadas tecnologias de engano e confusão.
- O medo das pessoas. Ou suas paixões impossíveis, seus desejos e inseguranças.
Por exemplo - medo de ser responsável por sua ação moral no mundo. Medo de admitir um ser superior a si mesmo. Medo dos mistérios que cercam a morte, o destino, a condição humana. Medo de que realmente exista Uma Verdade, Uma Justiça, Um Bem. É muito mais fácil acreditar que simplesmente se brota aqui e some, do nada para o nada, que não temos de prestar contas a um Criador, que todo esse Universo não é sustentado por um Autor das Coisas e que está à própria mercê. Que o Homem não tem responsabilidade para com este mundo, com seu aperfeiçoamento moral e com toda a humanidade. Enfim, eu poderia me ater a esse tópico e listar as maneiras como o medo é um dos fundamentos desse neo-ateísmo rebelde e melindroso, mas vou me esforçar para não me desviar, pois não é nem este o tema do tópico.
- Obinubilar a racionalidade com a emocionalidade.
Já dizia Hermann Hesse, sobre a projeção - "as coisas que vemos são as mesmas que temos dentro de nós". E chega a ser quase sarcástico o que encontramos, alguns parágrafos após, em teu próprio texto - "Deus é moralmente imperfeito. Criando deliberadamente a imperfeição criou o sofrimento do qual serão vítimas todas as criaturas inocentes. Deus é o único responsável e vilão por todo o mal que há no mundo". Espero que não se sinta ofendido, caro amigo, pois muito o respeito. Só não tive como deixar passar essa brecha que escancara a articulação interna de um neo-ateu, que é absolutamente emocional e irracional, e que, justamente por isso, lê com lentes de melindre e animosidade.
- Indução a estados alterados de consciência. Seja com drogas, com música, com danças, com jejum, com histeria, etc...
Ah, o trabalho, o cafezinho, a televisão, a política, o dinheiro... tudo isso aí é "O" estado de consciência. O resto é alterado. A meditação vazia em que a consciência se silencia para se observar, estado alterado de consciência. O jejum que submete a carne ao espírito, estado alterado. A contemplação através da arte, do corpo, da música, expressões viventes e pulsantes da essência humana, devem ser o "estado alterado" mesmo. Simone Weil, São João da Cruz, Sidarta, Platão, os Sufis, Pitágoras, Saint-Martin, pobres deles, todos alterados, anormais. Normal é o Pedro Reis, o cigarrinho, o cafezinho, o ajustamento a uma sociedade profundamente degenerada e doente. Isso, claro, é o estado normal, o resto é alteração. (Não se ofenda, amigo, é apenas debate.)
- A tendência natural dos humanos de reverenciar a autoridade.
Ah! A autoridade... quer autoridade maior que o dinheiro, o Estado, a Academia, etc etc? Como será que deve ter sido, para sujeitos como Sócrates ou alguns que citei anteriormente, desafiar os Césares do Mundo por se comprometer como uma Verdade e uma Justiça que estão acima do tempo, da contingência e das leis dos homens? Serem encarcerados, torturados, perseguidos, por amarem o Bem e a Beleza. Desafiarem os poderes estabelecidos, os valores dominantes... de fato, me parece que neo-ateus é que apresentam muito maior disposição para se curvar diante de autoridades, especialmente se elas tiverem terno, gravata, cargo político, doutorado em Chicago etc etc.
- E entre tantas outras ferramentas ainda há a retórica. Que vem a ser a arte, a ciência e a tecnologia de substituir a realidade por palavras.
Gostei muito dessa ousada afirmação. Me leva a inferir que o sr.Pedro Reis abarque a natureza disso que chamamos de "Realidade", para dizer que o que a retórica faz é substituir a Realidade por palavras. Gostaria muito que o augusto Pedro nos demonstrasse o que é o Real, apesar de desconfiar que não ousaria, já que teria de cedo ou tarde procurar um fundamento fora de si mesmo que dê sustento e Lógica à Realidade, o que infelizmente alguém seria incapaz de fazer e, simultaneamente, continuar sendo neo-ateu.
Infelizmente não há nada no texto que propõe a questão do tópico além de puro embromation retórico.
Caso não tenha entendido (o que acredito ser o caso, já que confio na honestidade intelectual do amigo), o tópico é sobre a RETÓRICA NEO-ATEIA, especificamente sobre a cobrança de PROVAS da EXISTÊNCIA da Divindade. O que o tópico intui demonstrar é que, procurar PROVAS da DIVINDADE dentro da EXISTÊNCIA é o mesmo que procurar o HARD DISK (o hardware) abrindo suas pastas com um explorer, sendo, a parte mais absurda da retórica neo-ateia, definir "existir" como sinônimo de temporalidade e forma (categoria onde se situam as coisas que tomamos por "existentes" ao nosso redor) - categorias estas que só podem, por definição, serem preenchidas por uma coisa que seja NÃO-DEUS, porque teria de ter FORMA e TEMPO, dois atributos que são na verdade ANTI-ATRIBUTOS, porque ter FORMA é ter LIMITE (e, portanto, ser não-infinito) bem como ter TEMPO é ser NÃO-ETERNO. Logo, através da pergunta "Deus existe?" o neo-ateu planta, na própria pergunta e definições utilizadas, as sementes circulares que confirmarão sua pseudonegação.
O Sr. Levi começa definindo sub repticiamente "existir" como qualquer coisa criada pelo "Criador".
Não. Eu simplesmente me servi da definição senso-comum, nao-ateia, do que seria Existir. Na cabeça de um neo-ateu, existir é estar situado dentro do tempo e do espaço. Ora, dentro do tempo e do espaço só existem coisas contingentes. A definição de EXISTÊNCIA da qual se serve um neo-ateu é por si excluidora de qualquer atributo divino e, sob essa antilógica, é óbvio que a DIVINDADE não existe. Entretanto, essa antilógica revela sua estupidez quando passamos para o plano inteligível. Foi o que demonstrei com o teorema de Pitágoras. O teorema de Pitágoras já era verdadeiro antes de ser descoberto por Pitágoras. Já era verdadeiro antes da existência de toda a humanidade, e será verdadeiro para todo o sempre independente do que se passe no Mundo Sensível, aliás, ainda que o Mundo Sensível se extinguisse para todo o sempre, isso não contaminaria o teorema de Pitágoras, porque ele é verdadeiro no Inteligível. É porque o teorema de Pitágoras, assim como catetos, triângulos, Lógica, Razão, Matemática, Justiça, Moral, Virtude etc etc. estão situadas no MUNDO INTELIGÍVEL que sua validez é Perene e Universal, Objetiva e Absoluta. Essas coisas existem eternamente no plano dos FUNDAMENTOS, porque são coisas NECESSÁRIAS. Sem elas, o próprio MUNDO SENSÍVEL não teria sustento, porque sua perpetuação depende de princípios básicos como a Lógica e a Não-Contradição. Agora, em uma inversão pérfida e perversa, o neo-ateu chama de "existir" o que se encontra no plano das CONTINGÊNCIAS do Mundo Sensível, que é justamente onde Verdades como as anteriormente listadas NÃO PODEM SER ENCONTRADAS. Ele aponta uma lanterna para o lugar onde a coisa definitivamente não estará e nem poderia estar, para depois saltitar e se gabar que não a encontrou e, doravante, não passava de uma quimera.
Que prova pode ser dada que Deus é perfeito? Surpreendentemente o Sr. Levi acredita que a prova seria a imperfeição da Criação. Um tanto patético porque a noção de ser perfeito é simplesmente a ideia de fazer tudo perfeito.
Pelo contrário. Se tudo fosse perfeito, outras coisas além de DEUS participariam também da ideia de PERFEIÇÃO. Ora, só DEUS pode participar da ideia de PERFEIÇÃO, logo, não apenas SÓ DEUS é PERFEITO como QUALQUER OUTRA COISA, qualquer NÃO-DEUS tem NECESSARIAMENTE de ser Imperfeito. O que é Morte? Responda de maneira intuitiva. Morte é Não-Vida. Vida é Não-morte. Morte e Vida definem-se uma pela outra, pressupõem uma à outra. Da mesma maneira, CRIADOR e CRIAÇÃO realizam-se mutuamente. Não apenas isso, como a IMPERFEIÇÃO não seria possível, no mundo Sensível, se a PERFEIÇÃO não fosse concebível, no mundo Inteligível. A Perfeição
É porque a Imperfeição existe, apesar de que a Perfeição nunca venha a se realizar plenamente no Plano da Contingência (Mundo Sensível), precisamente porque ele É tudo o que o Criador Não-É. A Perfeição se realizando no plano da impermanência seria o mesmo que alguém experimentando a própria Morte. Ora, alguém não experimenta a própria morte, porque experimentar a própria morte seria o não-experimentar. Da mesma maneira, a Perfeição começa onde a Imperfeição acaba, e uma não pode ser experimentada dentro da outra. Todavia, assim como sei que, se Vivo aqui, é porque um dia Morrerei, da mesma maneira, se EU existo de maneira impermanente e imperfeita no plano da Contingência, é porque DEUS É eternamente no plano Inteligível, porque uma coisa é necessária à outra.
o que impede este Criador onipotente de criar o universo perfeito que somos capazes de conceber?
Universo Perfeito são anti-definições. Seria o mesmo que eu dizer aqui sobre Vida-Morta ou sobre um Pai-Filho de si mesmo. Ora, o Pai só existe com relação a um Filho, que necessariamente não é ele mesmo, e que necessariamente existe para ele enquanto "Filho", o tendo como instanciação do paterno. Ora, a Morte começa onde a Vida acaba. Da mesma maneira, um Pai existe para um Filho e um Filho para um Pai. Se eu sou um Filho, eu tenho um Pai. Um Universo Perfeito seria um Anti-Universo. A Onisciência e Onipresença da Divindade seriam opressoras demais para abrigar qualquer resquício de vida, liberdade e movimento. Se o Universo fosse Perfeito, não seria um Universo Perfeito, seria a própria DIVINDADE permanecendo tranquila e imanifesta em si mesma. A Contingência, o Movimento e a Liberdade só são possíveis em um mundo em que a divindade inexista, tanto quanto a Vida só é possível dentro de uma contingência em que a Morte inexista. O erro seria você achar que a Morte não existe só porque você só experimenta enquanto Vivo. Ora, por essa pseudodefinição você deveria viver para sempre pelo simples fato de que Viver é sinônimo de Movimento e Realidade, mas você sabe que um dia morrerá, porque a Vida só existe em relação e oposição a esse Outro que, em seu caso, é a Morte. Da mesma maneira, esse mundo Sensível e Contingente tem também seu limite (e que é ao mesmo tempo a raiz de seu sustento e definição), e esse seu OUTRO começa onde acaba o Espaço e Tempo - razão pela qual não é dentro deles que a DIVINDADE pode ser procurada.