e que isso é neura de gente das ciências exatas que não consegue se conformar com o fato e precisa ficar matando (ou não) o pobre gato?
A questão não é neura; a questão FOI que nos primórdios da MQ, Schrödinger, defensor de uma visão Realista dos Fenômenos Quânticos, e que compartilhava a posição de Einstein quanto à incompletude da MQ, ou seja, de que o Indeterminismo Quântico era tão somente fruto de nosso desconhecimento, propôs um experimento conceitual para mostrar exatamente isso. Para tanto, ele se utilizou de um objeto macro (ele tinha um gato) para mostrar que, de acordo com o formalismo da MQ, em tais circunstâncias, teríamos uma fantasmagórica figura de um gato vivo e morto ao mesmo tempo, até a realização da observação. Não era a questão da chamada influência do Observador sobre os resultados dos experimentos, inclusive, a grande maioria pensa esta questão de maneira errada. Esta história começou, se não me engano, quando ainda o formalismo da MQ não estava totalmente elaborada e, frente ao que mostravam os experimentos quanto ao Quantum ora se manifestar como Onda, ora como Partícula, Pauli comentou que “parecia que o quantum tinha consciência própria e adivinhava, de antemão, o experimento montado, ou que o experimento, por sua vez, definia a natureza do quantum.
Max Born, com a visão de Ondas de Probabilidade, acabou com esta questão. Outro ponto que muito contribui para isso foi uma afirmação, não de todo errada, obviamente, e se não me engano atribuída a Heisenberg. Ela normalmente é apresentada em livros de divulgação com o exemplo de quando medimos a pressão de um pneu e que, com isso, alteramos a pressão inicial. Este exemplo, simplesmente, não procede, uma vez que, aqui, é uma situação claramente CLÁSSICA, e o indeterminismo desta questão é semelhante ao indeterminismo de jogos de azar ou ao de Cias. De Seguro. Esta foi a maneira de pensar de Einstein, Schrödinger, e outros, que mais tarde, desenvolveram modelos a Variáveis Ocultas. A questão é que o Indeterminismo Quântico é de outra natureza, intrínseco à Realidade, e não de natureza da estatística ordinária.
Para compreender melhor, é necessário se conhecer um pouco do formalismo da Mecânica Quântica. Tentando falar de uma maneira a simplificada, temos a famosa Equação de Schrödinger, que dá a Evolução Temporal dos Estados Quânticos. Semelhante ao que ocorre em Física Clássica, essa evolução temporal regida pela equação de Schrödinger é inteiramente DETERMINISTA.
Todavia, há processos físicos aos quais essa equação não se aplica. Isso se dá em certas circunstâncias quando a MQ não atribui um valor a determinadas grandezas, muito embora, ela atribua PROBABILIDADES de que os valores sejam encontrados empiricamente, por meio de medições.
Tecnicamente falando, quando se efetua a medida de uma grandeza A em um sistema num estado ψ que não é Autoestado do Operador Associado A, a MQ não atribui um valor a A .
Contudo, mesmo nessas circunstâncias uma medida da grandeza A sempre produz um resultado. Isso, associado ao fato de que o formalismo prescreve que a partir da medida, o Estado passa a ser um Autovetor de A, o qual possui o resultado obtido como um Autovalor, implica uma TRANSIÇÃO DE ESTADO não regida pela equação de Schrödinger, e esta questão é possível de se demonstrado de maneira bastante rigorosa.
E é exatamente essa Transição de Estado, também chamado de Colapso da Função de Ondas, que é totalmente INDETERMINISTA, ou seja, a obtenção de um determinado valor, e não de um outro qualquer, para a grandeza A, é uma questão de puro ACASO, segundo a MQ.
Como podemos ver, este tipo de Indeterminismo é inerente, intrínseco à natureza da Realidade.
E voltando ao Gato de Schrödinger, como comentei em um post anterior, Gell-Mann e Hartle, entre outros, em um novo formalismo, mostraram que tal estado sobreposto não ocorreria em um OBJETO MACRO, ou mais rigorosamente, ele desapareceria, se tornaria decoerente, graças a uma série de questões que, de uma maneira geral, ele chamou de Mecanismos de Decoerência.
Vale lembrar, contudo, que os Estados Sobrepostos do Quantum existem e devem ser levados em conta, caso contrário, os resultados dão erro. Tais Estados já foram “observados”, e coloco aqui observados entre aspas, no sentido que já foram realizados experimentos que mostram os dois estados coexistindo simultaneamente. Infelizmente, eu li um artigo muito bom sobre isto, tempos atrás, mas não consigo mais encontrá-lo, embora continue a procurá-lo, pois era bastante didático.
E um último comentário a esta observação da Mimi:
É ignorância minha em MQ achar que é ÓBVIO que o resultado do experimento é condicionado pela observação
Não entendi porque ÓBVIO; até onde percebo, não existe nada óbvio em MQ.
Abçs!