Eu vi um comentário numa dessas notícias sobre a derrota dos emancipacionistas no Pará onde um sujeito favorável dizia algo do tipo: "Pois é, Santarém e Marabá, olhem para a riqueza de Palmas e Campo Grande e chorem pelo que vocês poderiam ter sido." Mas isso e mais uma notícia que li dizendo que se as duas propostas fossem aprovadas, o novo estado do Pará teria taxas de alfabetizeção equivalentes às de São Paulo me fizeram pensar uma coisa: o problema não é a quantidade de estados, o problema é que geralmente o interior dos estados é muito ignorado pelo poder público. A principal diferença entre São Paulo e Pará não está em São Paulo × Belém, está em Campinas × Santarém, Ribeirão Preto × Marabá, etc. São Paulo é essa potência porque as cidades do interior são fortes e quanto mais forte o interior melhores devem ser seus indicadores sociais porque mais serviços de qualidade estão disponíveis para mais gente. Em menor medida temos Minas com suas Uberlândia, Ipatinga, Juiz de Fora, etc., Paraná com Londrina, Maringá, Cascavel, etc., e mais alguns estados, mas você não vê o mesmo desenvolvimento nas grandes cidades do interior dos estados mais pobres.
Qual é o principal pólo de serviços do interior do Piauí? E do Mato Grosso? Se um trabalhador pobre do interior do Amazonas ficar doente ele vai ter que dar um jeito de viajar mais de 1000 km até Manaus para fazer um exame? Esse era um dos argumentos em favor da divisão do Pará, trazer esses serviços para mais perto da população de algumas regiões, mas a falácia é que não deveríamos precisar de novos estados para fazer isso, ou o problema vai se repetir: o estado do Tapajós ainda seria o terceiro maior do Brasil, com certeza Santarém iria se desenvolver muito, mas quem morasse longe de Santarém ia continuar na mesma miséria que está hoje.
Eu não tenho dúvidas de que em termos de desenvolvimento Belém não fica tão longe assim de São Paulo. O que o Pará e muitos outros estados precisam agora é interiorizar o desenvolvimento, não precisamos de novas São Paulo, precisamos de novas Campinas.