Transporte Ferroviário
'Trem-Bala' de Lula deve cortar o Vale
Projeto de linha de alta velocidade entre Rio e SP prevê desapropriação de áreas na região; custo é de US$ 8 bi
Max Ramon
São José dos Campos
O governo federal pretende construir no Vale do Paraíba o primeiro trem de alta velocidade da América do Sul --um ousado projeto avaliado em US$ 8 bilhões e com potencial de geração de mais de 140 mil empregos durante o período de obras.
Segundo o Ministério dos Transportes, o 'trem-bala' sairá da estação da Luz, em São Paulo, e seguirá até a estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro.
O trajeto, de 400 quilômetros de extensão, deverá ser percorrido em menos de uma hora e meia, a uma velocidade média de 280 km/h.
Ontem, o ministério informou que a concorrência pública para a construção e operação do trem de alta velocidade será aberta ainda no primeiro semestre deste ano. Pelo menos três consórcios de empresas (dois alemães e um italiano) já teriam demostrado interesse pelo projeto.
Inspirado nos modernos trens-balas já construídos em países como Alemanha, Espanha, França e Japão, o projeto brasileiro aposta na relação custo-benefício para atestar a sua viabilidade. Conforme informou o Ministério dos Transportes, uma passagem do primeiro trem brasileiro de alta velocidade custaria cerca de US$ 50 (R$ 115).
Atualmente, o preço médio da passagem na ponte aérea São Paulo-Rio é de R$ 150 --a viagem dura 50 minutos. De ônibus, o passageiro gasta menos (algo em torno de R$ 70) para percorrer o mesmo trajeto, em cinco horas e meia.
O PROJETO - Idealizado por um grupo de trabalho nomeado pelo Ministério dos Transportes em 2004, o primeiro trem-bala brasileiro contará com quatro trilhos. Cada trem terá capacidade para até 850 passageiros e as viagens serão realizadas a cada meia hora, segundo o governo federal.
Em seu trajeto, o trem de alta velocidade cortará vários municípios do Vale do Paraíba --o Ministério dos Transportes ainda não divulgou por quais cidades passará a futura ferrovia. Entretanto, já é certo que não haverá nenhuma parada na região, e por questões técnicas.
Para atingir 150 km/h, por exemplo, um trem-bala necessita de uma distância considerável --pelo menos 10 quilômetros em linha reta ou curvas muito suaves, e em superfícies planas. Da mesma forma, precisa de um longo trecho de desaceleração. Por isso, para ser eficiente, o trem de alta velocidade não poderia fazer paradas no Vale.
Segundo o Ministério dos Transportes, o prazo para a conclusão do projeto é de sete anos. O trem-bala deverá ser construído por meio de PPP (Parceria Público-Privada), contando com investimentos do governo federal e de empresas, que poderão explorar o sistema por até 30 anos.
Até o final de 2006, o Ministério dos Transportes pretende iniciar a desapropriação das áreas que serão cortadas pelo trem de alta velocidade.
Até ontem, a pasta não havia divulgado se os municípios afetados pela construção da ferrovia receberão alguma contrapartida em dinheiro --seja do próprio governo ou da futura concessionária.
CRÍTICAS - O projeto de construção do primeiro trem-bala brasileiro foi duramente criticado por José Alex Sant'Anna, doutor em Engenharia de Transportes pela USP. Para ele, a proposta é inviável, 'técnica e economicamente'.
"As ferrovias são coisas do século 19 que atingiram o seu auge no século 20. Então, o tempo de investir nelas já passou. Acho que precisamos ser realistas", afirmou Sant'Anna, que atualmente é professor do Programa de Pós-Graduação em Transportes da UnB (Universidade de Brasília).
"O eixo São Paulo-Rio é a única região do país que ainda poderia receber investimentos nessa área por possuir demanda. Entretanto, o projeto esbarra no custo. Os cálculos apresentados pelo governo federal são surrealistas."
Análise
Malha ferroviária está subutilizada
São José dos Campos
Enquanto o governo federal projeta o 'Trem-Bala' entre Rio e São Paulo, a maior parte da malha ferroviária do Vale do Paraíba está subutilizada, de acordo com especialistas no setor. Vários ramais que serviam ao transporte de carga e passageiros também foram abandonados.
São os casos da malha ferroviária que ligava Cruzeiro a Passa Quatro (MG) e do trecho entre São José dos Campos e Mogi das Cruzes.
Nessa ligação, 20 quilômetros entre o distrito de São Silvestre, em Jacareí, e Mogi foram reativados há três anos e vêm sendo operados pela Votorantim no transporte de papel e celulose.
Segundo o presidente da ANPF (Associação Nacional de Preservação Ferroviária), Fábio Barbosa, os cerca de 250 quilômetros operados pela MRS Logística entre São Paulo e a divisa com o Rio de Janeiro estão subutilizados.
"O contrato de concessão prevê somente o transporte de carga. Com isso, várias estações no Vale que ficaram sob domínio da Rede Ferroviária Federal foram abandonadas", afirma Barbosa, que cita o caso da Estação de Guaratinguetá.
A concessão de parte da malha ferroviária à iniciativa privada foi feita em 99, no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
EXTENSÃO -De acordo com o Boletim Estatístico da Secretaria dos Transportes do Estado de São Paulo, a malha ferroviária estadual possui uma extensão de 5.104 quilômetros.
Desse total, 2.434 quilômetros são administrados pela Ferroban, consórcio de empresas privadas que herdou a concessão da malha pertencente à antiga Fepasa (Ferrovia Paulista S/A), criada pelo governo estadual em 1971.
A rede da Fepasa foi incorporada à malha federal em 1998 e foi transferida a operadores privados no ano seguinte.
A primeira ferrovia em São Paulo foi inaugurada em 16 de fevereiro de 1867 para escoamento da produção de café.
Raio X
O Trem-Bala SP-RJ
Trajeto - 400 quilômetros (ligará a Estação da Luz, em São Paulo, à Estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro, atravessando todo o Vale do Paraíba)
Tempo médio de viagem - 1h26, a uma velocidade média de 280 km/h
Preço estimado da passagem - US$ 50 (cerca de R$ 115)
Investimento previsto - US$ 8 bilhões (cerca de R$ 18,5 bilhões)
Estágio atual do projeto - Até junho, o governo federal deverá abrir a concorrência pública para a execução da obra. Simultaneamente, deverá ser iniciado o processo de desapropriação das áreas por onde passará a futura ferrovia
Prazo de conclusão- sete anos
Fonte: Ministério dos Transportes
http://www.valeparaibano.com.br/sjc/tremba1.htmlSe a idéia realmente sair do papel, é uma boa. Porém a curto e médio prazo o dinheiro seria melhor aplicado na reestruturação da malha viária para escoamento da produção da indústria.
Mas de qualquer forma, vai ser legal viajar de trem-bala entre Rio e SP....