Deus nos livre de vir a existir a palavra "sófite-uere". Sofituer, ou uarever que bi.
A palavra já existe no idioma falado; é a forma que pronunciam "software", com cinco sílabas: [sɔ.fɪ.te.'wɛ.ɾe] ou [sɔ.fɪ.tʃɪ.'wɛ.ɾɪ] dependendo do sotaque. Assim como "mouse", a maioria pronuncia um [e] ou [ɪ] final devido à escrita...
Aliás. Se fossem adaptar para as regras ortográficas do português, acredito eu que ia virar algo como "softeuére". Sem o "i", mesmo porque o povão ia colocar um /i/ epentético ali mesmo. O.o
Para "mouse" deveríamos usar "controle-camundongo", ou "camundongo de controle". Controlo, em Portugal, talvez ainda "murganho electrónico de controlo".
Se quer evitar o estrangeirismo, "ponteiro de computador" então. Pronto.
Mas existe a expressão 'só fite o erê', que nada mais é do que " tão somente olhe o menino".
Puta merda, dei uma risada alta aqui ao ler isso
Empréstimo é retornável; não se trata disso o que ocorre.
Mesmo que empréstimo pressuponha devolução, o termo técnico
é "empréstimo lingüístico". Se fosse fazer jus à palavra, talvez "escambo"?
E de certa forma, alguns empréstimos retornam... bom, a palavra "fetiche" aparece no português por causa disso
Natural e comum, sem dúvida. Saudável... sempre, invariavelmente?
Digamos que o processo em si seja saudável; alguns eventos podem não ser saudáveis.
É uma pergunta 'retoricável', porque, na vida, sempre pode terminar por restar o 'relaxar e gozar'. Minhas rugas e cabelos brancos que aparecem são "naturais, comuns e (há quem assim "entenda"!) saudáveis". Mas, meu filho, não se iluda, é uma maldição chamada velhice chegando. Qualquer indivíduo são quer interromper ou escapar do processo.
Ah, eu não quis dizer que é saudável
porque é natural; são três afirmações separadas.
O processo é saudável porque permite formação rápida de vocabulário prático para novas coisas e conceitos.
Sim, isso ocorre com tudo, de sequestros a escravidão, "não há nada com que o ser humano não se acostume, dado tempo suficiente", máxima sempre válida do Aluísio. Mais tarde, ninguém ou quase faz ideia de todo sangue, suor, lágrimas, perdas e danos que o antecederam.
Só que nessa caso - idioma - lida-se com um produto da comunidade para a comunidade; o valor da coisa [no caso, o verbete] será apenas o que tal comunidade der para a mesma. Então, a partir do momento que aceitam o que era estrangeirismo como parte do vocabulário legítimo, o problema desaparece.
Sim, agora dê-nos a lista das alternativas natas que foram preteridas pelas alienígenas em cada um dos casos. Junte um pouco de relato histórico, se possível.
Tanto quanto produtos de ("lugares de") "pouco prestígio" adentram "lugares de grande prestígio". Agregar termos é uma coisa; substituir os próprios por outros é outra bem diferente.
Mas a maioria dos empréstimos não pretere o vocabulário nativo; no máximo, acomoda a palavra antiga em um novo significado.
Tendo dito isto...
Palito: "pauzinho". A palavra nativa perdeu um uso, mas ainda é corrente. A emprestada especializou-se para apenas um uso - "hastezinha usada nos dentes ou para segurar alimentos".
Provavelmente, ocorreu entre os séculos XIV e XVII. Antes disso e teria perdido o /l/; depois disso e não teria se espalhado por todos os dialetos do português.
Abajur: do francês abat-jour (quebra-dia). Originalmente, sinônimo de quebra-luz, mas no uso corrente é um tipo de luminária
com um quebra-luz. Deve ser do século XVIII, quando houve a "moda" do quebra-luz.
Cerveja: essa é velha; emprestada já pelo latim como "ceruisia" /ker.wi:.sja/. Eu "chuto" que é do século II, talvez III; a Guerra da Gália já era passado morto, mas ainda havia muitos falantes nativos de gaulês.
Note que a palavra só aparece nos idiomas neolatinos mais ocidentais (Portugal, Espanha), mas os idiomas orientais (Itália, Croácia [dálmata], Romênia) também recorreram a empréstimos para "cerveja". O que sugere que não havia uma palavra nativa.
(*bjera, de algum idioma germânico > "birra" no italiano, "bere" no romeno. O francês emprestou as duas, bière [maltada] e cervoise [sem malte], mas deu sentidos diferentes a ambas. E brincando com a coisa do "escambo": os romanos trocaram a bjera>birra [cerveja] germânica por uinum>Wein [vinho]. Bêbados...
)
Máquina: outro empréstimo antigo, do grego (mekhané=artifício/dispositivo) para o latim (machina). O equivalente local (artificium), a palavra emprestada ganhou sentido novo.
Guerra: ou do franco, ou do godo "warrum". Essa talvez foi a única da lista que deslocou a palavra original, "bellum". Acredito eu que o deslocamento foi causada porque bellum/bella [guerra/guerras] passaram a ser homófonos de bellum/bellam [belo/bela], e que por isso os falantes evitaram a palavra original. Se o empréstimo não tivesse ocorrido, provavelmente iam empregar um neologismo, como fizeram quando "cozer" e "coser" tornaram-se homófonos (e surge "cozinhar").
Não é o idioma, mas a influência de supremacia dos falantes de um sobre os do outro, quando ele suprime um termo já existente na língua original.
Mas como eu expliquei, não é necessário algum tipo de supremacia. No máximo, a maior visibilidade do inglês dá mais "chances" para as palavras inglesas entrarem em outros idiomas... e só.
Então que eles conversem entre eles sozinhos; e eu não preciso ouvir a conversa.
Pra isso, precisaria isolar
a comunidade lingüística, não só os idiomas... e hoje em dia não dá mais para fazer como o Japão uma vez fez e isolar-se do resto do mundo.
Quem no mundo será tão ignorante a tal ponto?... Será que existe?... Eu até não duvido não, pensando bem...
Muuuuuuuuuuuita gente adora abrir exceções especiais...
"Só no português mesmo que acontece isso."
Geralmente são os mesmos que pegam coisa ou regional ou universal e dizem que é "típica de brasileiro!"/"típica de português!".
Lindo!
Quando é o seu idioma sendo fonte, você não reclama, néééé?
Não é "representativa", é o termo/expressão na língua portuguesa, simplesmente.
Não, não ambas e não exatamente ou totalmente "na prática", porém na ignorância, aqui sim, de muitos que nem fazem ideia dessa questão.
Não é só na ignorância... mesmo quem sabe a palavra original liga a "coisa" à sigla e ponto, só depois vai lembrar do nome completo, CPF, RG e atestado de sanidade mental do ácido
Não, não vão lembrar de "á dê ene" os que só conhecem do que veem na TV e não sabem do que se trata mais além do que os filmes de ficção apresentam. "Moléculas", faça o favor! Mostre as palavras por extenso para muitos e não saberão do que se trata.
...tá, assumindo que saibam do que se trata...
Um acometido de 'estocolmo' sente-se da mesma forma. Mas quando alguém que desconhece o que há além da sigla tem as palavras apresentadas, não terá mínimos elementos de chance de associar o 'olho' com as calças.
Seria equivalente à síndrome de Estocolmo se eu defendesse algo como chamar de "di én i".
Mas é aquela coisa... o falante não saber que há um certo ácido desoxirribonucléico não é algo do idioma em si, mas da educação científica no geral. Que no mundo como um todo, é beeeeem ruinzinha.
Claro que não é, a língua não tem vida própria e não se esforça para ser comunicada. É uma instabilização e dificultação constante para os comunicantes.
Mas a língua tem uma "vida". Não como um espécime, e sim como uma espécie - o idioma surge através de outro idioma, gera idiomas-filhos, pode ser extinto com ou sem descendentes...
E, assim como é interessante para nós manter o maior número possível de espécies biológicas, é também o de manter o maior número de espécies lingüísticas. Ou idiomas.
Sim, 'deformantum deformatus deformatis', ou seja, aquilo que se deforma de princípio, deforma-se até o fim. Tu que é linguista nem precisaria da minha tradução. hahahahahahahahahah...
Só que "deformação" pressupõe que "não deveria ser assim". Nesse sentido, não é deformação... é mais como "reformação", como quando você pega um objeto de argila ainda fresca e coloca em outra forma.
O ponteiro aparece na tela. O dispositivo é um 'apontador' (sem falar das outras funções), mais apropriadamente denominado.
Os dois podem ser chamados de "ponteiro", tanto o ícone na tela que gato adora quanto o periférico. Assim como "caneta ponteiro" fala do objeto em si, sabe?
Sinal de desprezo?...
Não, é só pra não chamar de "coisa".
Sempre soube que a origem é a apresentada pelo chefe serjão -- a similaridade morfológica com o animal. E já de origem inglesa, língua natal dos desenvolvedores.
A esclarecer.
A analogia entre "mouse" [bicho] e "mouse" [periférico] aparece na língua inglesa pelo que você falou: o periférico lembrar o bicho.
Só que os dialetos europeus não chamam o periférico de "rato" por parecer com o bicho, ou seria "camundongo" [analogia mais próxima], "seta" [associação com a setinha na tela], ponteiro/apontador [descrição]... chamam de "rato" porque essa é a tradução mais comum de "mouse". Ou seja: a analogia rato[bicho]/rato[periférico] foi apenas transposta de um idioma a outro.