Condenação de historiador abre debate sobre lei do Holocausto
Bethany Bell, de Viena
21/02/2006
17h42-O julgamento do historiador britânico David Irving abriu um debate na Áustria sobre a lei contra a negação do Holocausto no país, que prevê uma pena de até dez anos de prisão.
A lei foi introduzida depois da Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de impedir mais atividades nazistas. A Áustria foi anexada à Alemanha pelos nazistas em 1938, e se envolveu profundamente nos crimes do Terceiro Reich.
Alguns austríacos, como Lothar Hobelt, professor associado de História da Universidade de Viena, acreditam que a legislação nunca deveria ter sido aprovada.
"Esta é uma lei ridícula feita por pessoas ridículas para pessoas ridículas", afirmou Hobelt. "Na verdade, ter uma lei que diz que não se pode questionar uma determinada etapa histórica cria dúvidas sobre ela porque se um argumento tem que ser protegido por força da lei, isso significa que é um argumento fraco."
Mas muitos outros austríacos acreditam que não ter uma lei os tornaria vulneráveis a acusações de que não estavam confrontando o passado nazista do país.
Durante muitos anos, os austríacos se consideravam vítimas, não perpetradores. O legado desta relutância em admitir responsabilidade ainda se faz sentir na Áustria.
Theo Ohlinger, constitucionalista da Universidade de Viena, disse que a lei é uma questão delicada. "É tão claro que o Holocausto existiu que todos que o negam são considerados uns tolos. Mas abolir esta lei poderia sinalizar que a Áustria pode não ser realmente ativa no combate a qualquer atividade Nacional Socialista, e isso é um problema."
Memorial
Antes da Segunda Guerra Mundial, 200 mil judeus viviam em Viena. Atualmente, a comunidade é composta apenas de uns poucos milhares.
O chefe do Rabinato de Viena, Chaim Eisenberg, disse que a negação do Holocausto é perigosa. "Isso tudo é muito feio, desprezível", disse ele.
"Eu não sei se as pessoas deveriam ir para a cadeia, mas deveria haver alguma medida para garantir que isso não aconteça."
Em Viena, na praça Judenplatz, fica um memorial para 65 mil judeus austríacos que morreram no Holocausto.
Hoje em dia, poucos austríacos contestam a ocorrência do genocídio, e a historiadora Tina Walzer diz que o debate avançou.
"A discussão está num nível completamente diferente", disse ela. "Hoje nós estamos falando em pagamento de compensação. Isto é muito mais concreto do que apenas falar sobre 'se o Holocausto aconteceu ou não'."
O fato de que as pessoas ousam debater a lei de negação do Holocausto mostra que os austríacos têm menos receio de confrontar o passado.
Mas sensibilidades ainda estão exaltadas e enquanto isso acontecer, a lei continuará em vigor.
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