Autor Tópico: Quem gosta de poesia?  (Lida 44479 vezes)

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Offline Digão

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #250 Online: 07 de Setembro de 2012, 21:20:56 »
Venham até a borda, ele disse.
Eles disseram: Nós temos medo.
Venham até a borda, ele insistiu.
Eles foram. Ele os empurrou...
E eles voaram.

(Guillaume Apollinaire)

Offline Südenbauer

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #251 Online: 08 de Setembro de 2012, 13:12:30 »
Eu queria trazer-te uns versos muito lindos...
Trago-te estas mãos vazias
Que vão tomando a forma do teu seio.
Usarei esta. :lol:

Offline Filosofo Superficial

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #252 Online: 10 de Janeiro de 2013, 13:53:10 »
Um, Dois, Três

Eu queria um dia fazer uma crônica como uma valsa antiga. Que rodopiasse
pela página como, digamos, um velho comendador de fraque e a sua jovem
amiga. Cheia de rimas
como quimera e primavera. Com passos e compassos, ah quem me dera.
Talco nos decotes, virgens suspirosas e uma sugestão de intriga.
Os parágrafos seriam verso e figurações. No meio um lustre, na tuba um
gordo e em cada peito mil palpitações. Os namorados trocariam olhares. As
tias e os envergonhados nos seus lugares. E de repente uma frase perderia o
fio, soltando sílabas por todos os salões.
A segunda parte me daria um nó.
Os pares param, o maestro espera e ninguém tem dó.
Dou ré, vou lá, já não caibo em mi.
E então decreto - vá fá - é cada um por si!
Um, dois, três.
Um, dois, três.
A minha orquestra seria toda de professores. Um de desenho, três de latim,
cinco de português e todos amadores. O baterista cheiraria coca. O
contrabaixista não parece o Loca? E o gordo da tuba um duque da Bavária
nos seus últimos estertores.
Um cadete rouba o amor da filha de um magnata. Pescoço de alabastro, boca
de rubi e os olhos de uma gata. O namorado, despeitado, urde sua vingança.
É quase meia-noite e segue a contradança. O pai da moça dorme nos seus
sete queixos e sonha com uma negociata.
No avarandado branco, onde vão ver a Lua
A moça e o cadete, que a imagina nua,
Beíjam-se perdidamente a três por quatro.
E o segundo traído sou eu, que não encontro rima para "quatro".
Um, dois, três.
Um, dois, três.
Um violinista, de improviso, olha o relógio e perde um bemol. poucas linhas
para acabar meu espaço e surgir o sol. Lá fora, o par apaixonado. De tanto
amor nem olha para o lado. Não vê o despeitado que se aproxima, quieto e
encurvado como um caracol.
Eu mesmo me concedi esta valsa e, portanto, tenho a decisão. Que arma
usará o traído na sua vil ação? Uma adaga, fina e reluzente? Combina mais
com o requintado ambiente. Mas se errar o passo e o alvo o vilão e, abrindo
um filão, conspurcar o alvo chão?
Um tiro na nuca é mais ligeiro
Mais prático, moderno e certeiro.
Mas, meu Deus, o que é que eu estou fazendo?
Comecei com uma singela valsa e já tem gente morrendo! Um, dois, três.
Um, dois, três.
Eu só queria fazer uma crônica como uma valsa antiga. Que rodopiasse pela
página como um comendador cansado e sua compreensiva amiga. Cheia de
rimas sem compromisso aparente. Nem com couro, nem com prata, nem com
a crise do Ocidente. Decotes bocejando. Virgens sonolentas e nem uma
sugestão de briga.
Um, dois, três.
Etc.

Verissimo, Luis Fernando
"Se vivemos num mundo com tantas dimensões, como podemos fazer a distinção entre Ilusão e Realidade?"

"Enquanto não se escolhe, tudo permanece possível"

Offline Luiz Souto

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #253 Online: 28 de Maio de 2013, 23:50:27 »
Fernando Pessoa

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
 
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

1934

Tenho tanto sentimento

Tenho tanto sentimento
 Que é freqüente persuadir-me
 De que sou sentimental,
 Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
 Que não senti afinal. 
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
 É essa que é dividida
 Entre a verdadeira e a errada. 
Qual porém é a verdadeira
 E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.


Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.
Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.

És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.

 1-1931


O que me dói não é
O que há no coração
Mas essas coisas lindas
Que nunca existirão...
São as formas sem forma
Que passam sem que a dor
As possa conhecer
Ou as sonhar o amor.

São como se a tristeza
Fosse árvore e, uma a uma,
Caíssem suas folhas
Entre o vestígio e a bruma.

5-9-1933


Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Ricardo Reis, 14-2-1933


Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.

Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.

Ricardo Reis, 1-7-1916
Se não queres que riam de teus argumentos , porque usas argumentos risíveis ?

A liberdade só para os que apóiam o governo,só para os membros de um partido (por mais numeroso que este seja) não é liberdade em absoluto.A liberdade é sempre e exclusivamente liberdade para quem pensa de maneira diferente. - Rosa Luxemburgo

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Offline Rocky Joe

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #254 Online: 29 de Maio de 2013, 00:47:54 »
Grande Fernando Pessoa.  :)

Offline Luiz Souto

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #255 Online: 29 de Maio de 2013, 13:31:33 »
Grande Fernando Pessoa.  :)

Grande Pushkin também !
Em homenagem à sua citação:

ЦВЕТОК (de Pushkin)

Цветок засохший, безуханный,
Забытый в книге вижу я;
И вот уже мечтою странной
Душа наполнилась моя:
Где цвёл? когда? какой весною?
И долго ль цвёл? И сорван кем,
Чужой, знакомой ли рукою?
И положен сюда зачем?
На память нежного ль свиданья,
Или разлуки роковой,
Иль одинокого гулянья
В тиши полей, в тени лесной?
И жив ли тот, и та жива ли?
И нынче где их уголок?
Или уже они увяли,
Как сей неведомый цветок?

1828

A FLOR (Trad., André)

Vejo uma flor seca, sem ar

Cá esquecida em um caderno,

E meu espírito prosterno

Num esquisito meditar:

Floriu quando? Onde? Em que estaçāo?

E postergou-se? E é estranha

Ou amiga a māo que a apanha?

E a pôs aqui por que razāo?

Pra recordar um encontro amável

Ou uma separaçāo funesta,

Ou um passeio solitário

Num sítio, à sombra da floresta?

E ele está vivo, ela também?

E a que refúgio se retêm?

Ou eles ambos já mirraram

Como esta flor que aqui deixaram?
Se não queres que riam de teus argumentos , porque usas argumentos risíveis ?

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Offline ReVo

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #256 Online: 29 de Maio de 2013, 19:59:56 »
Bela poesia, Luiz Souto. Obrigado.
Coloca mais poesias.
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Offline Luiz Souto

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #257 Online: 30 de Maio de 2013, 00:22:45 »
СЧАСТЬЕ
Вера Павлова

I.

Стал каждый миг густым, как мед,
Лучистым, как янтарь.
Часам давно потерян счет
И изгнан календарь.

Как ненавистен мне расчет
И чувства про запас!
Свой годовой любви доход
Я прокучу за час.

II.
Не хочу кирпича с крыши -
Я хочу умирать долго.
Я хочу умирать, наблюдая,
Как тело, капля по капле,
Выделяет уставшую жизнь.
Пропустить ее сквозь себя,
как сквозь мелкое-мелкое сито,
И – не скоро – вздохнуть с облегчением,
Не увидев на дне ничего.

III.
Соблюдайте мою тишину.

IV.
Тебя я потеряла где-то здесь.
Я помню, что отсюда никуда
Не выходила, и никто не выходил,
И надо только вспомнить, где, когда
Я видела тебя последний раз
Любимым.

V.
Давай друг друга трогать,
Пока у нас есть руки:
Ладонь, предплечье, локоть…
Давай любить за муки,
Давай друг друга мучить,
Уродовать, калечить,
Чтобы запомнить лучше,
Чтобы расстаться легче.

VI.
Когда бы ни маска, лицо
Давно бы утратило форму.
Когда бы ни это кольцо,
Ни благословленная норма,
Ни светлая эта тюрьма,
Ни вольная эта неволя,
Давно сошла бы с ума
От страха, сомнений и боли…


I. FELICIDADE
Vera Pavlova

Denso como o mel, cada momento,
Raiando como o âmbar.
Há muito perdi a noção do tempo
E exilei o calendário.

Odeio a contagem do que for
E a idéia de poupança!
Meu anual crédito de amor
Dissipo numa andança.

II.
Não quero cair, telha do telhado -
Quero morrer pouco a pouco.
Quero morrer observando
Como o corpo, gota a gota,
Se destaca da vida já cumprida.
Deixar que ela de mim se esvaia,
Como de uma peneira muito fina,
E – não tão logo – suspirar de alívio,
Por nada ver no fundo.

III.
Guardai minha tranqüilidade.

IV.
Perdi a você por aqui, n’ algum lugar.
Lembro que daqui eu não saí para
Lugar algum, e que ninguém saiu.
É preciso apenas recordar por onde, e quando,
Eu vi você pela última vez,
Querido.

V.
Vamos um ao outro nos tocar
Enquanto temos mãos:
Palma, antebraço, cotovelo…
Vamos nos amar pelo tormento
Vamos um ao outro machucar,
Mutilar, deformar, adulterar
Para que melhor nos lembremos
Para que mais nos afastemos.

VI.
Se não houvesse máscara, o rosto
Há tempo teria perdido a forma.
Se não houvesse este anel,
Não haveria a benemérita norma,
Não seria  iluminada esta prisão,
Nem voluntária esta preguiça,
Há tempo teria saído da razão,
De medo, de dúvida e aflição…

Tradução: Aurora Bernardini


Mensagem para a Sibéria
A. Pushkin

Lá nas minas da Sibéria,
que o forte orgulho resista:
de trabalhos e miséria
se alimente a rebeldia.

A Esp'rança, irmã da desgraça,
na treva silente, dá
coragem ao coração.
O grande dia virá.

Amor de amigo vos mando
além da porta sombria;
acorrentados aos catres,
ouvireis a melodia:

Grilhetas hão-de tombar,
muralhas desabarão.
E, na luz da liberdade,
vossa espada em vossa mão.

E para fechar minha poeta russa preferida , Anna Akhmatova

Последний тост

Я пью за разоренный дом,
За злую жизнь мою,
За одиночество вдвоем,
И за тебя я пью,—
За ложь меня предавших губ,
За мертвый холод глаз,
За то, что мир жесток и груб,
За то, что Бог не спас.

27 июня 1934, Шереметьевский Дом

Último brinde

Bebo ao lar em pedaços,
À minha vida feroz,
À solidão dos abraços
E a ti, num brinde, ergo a voz...

Ao lábio que me traiu,
Aos mortos que nada vêem,
Ao mundo, estúpido e vil,
A Deus, por não salvar ninguém.
(1934)

Музыка

              Д. Д. Ш.*

В ней что-то чудотворное горит,
И на глазах ее края гранятся.
Она одна со мною говорит,
Когда другие подойти боятся.

Когда последний друг отвел глаза,
Она была со мной в моей могиле
И пела словно первая гроза
Иль будто все цветы заговорили.

* Д.Д.Шостаковичу

Música
Para Shostakovich

Algo de miraculoso arde nela,
fronteiras ela molda aos nossos olhos.
É a única que continua a me falar
depois que todo o resto tem medo de estar perto.

Depois que o último amigo tiver desviado o seu olhar
ela ainda estará comigo no meu túmulo,
como se fosse o canto do primeiro trovão,
ou como se todas as flores explodissem em versos.
(1958)
Se não queres que riam de teus argumentos , porque usas argumentos risíveis ?

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Offline Muad'Dib

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #258 Online: 05 de Junho de 2013, 18:31:28 »
Eu não tenho o costume de ler poesias mas vira e mexe eu me deparo com coisas como a abaixo e me arrependo de não me interessar tanto.

<a href="http://www.youtube.com/v/WUh7XLxKN1I" target="_blank" class="new_win">http://www.youtube.com/v/WUh7XLxKN1I</a>

O canal desse carinha no youtube é muito bom.

Offline ReVo

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #259 Online: 06 de Junho de 2013, 10:27:40 »
Valeu, Souto.
Acertou em cheio.
Prefiro mesmo as poesias mais curtas.
[]'s

-x-x-x-

NATAL (Fernando Pessoa)

Nasce um Deus. Outros morrem. A verdade
Nem veio nem se foi: o Erro mudou.
Temos agora uma outra Eternidade,
E era sempre melhor o que passou.

Cega, a Ciência a inútil gleba lavra.
Louca, a Fé vive o sonho do seu culto.
Um novo Deus é só uma palavra.
Não procures nem creias: tudo é oculto.
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Offline Italian guy

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #260 Online: 17 de Julho de 2013, 10:15:35 »
Poema de Lampedusa

          Con forsennato orgoglio inver le stelle,/Né sul deserto, dove/E la sede e i natali/Non per voler ma per fortuna avesti;/Ma più saggia, ma tanto/Meno inferma dell'uom, quanto le frali/Tue stirpi non credesti/O dal fato o da te fatte immortali
        Tradução minha, a mais livre possível:
        Com orgulho insensato em direção às estrelas,/Onde, nem no deserto,/ na casa e no nascimento/Por sorte tiveste, mas não por vontade/Embora mais sábia, no entanto/Menos fraca do que o homem, quanto os frágeis/Teus ramos não avaliaste/Ou pelo destino, ou por ti mesmo tornado imortais.

         Giacomo Leopardi é um dos mais herméticos, talvez o mais de todos, poetas italianos.

Offline João da Ega

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #261 Online: 24 de Julho de 2013, 13:53:43 »
СЧАСТЬЕ
Вера Павлова
Muito massa, Luiz Souto

Duas grandes poetisas:

Citar
Fanatismo
Florbela Espanca

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver !
Não és sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida !


Não vejo nada assim enlouquecida ...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida !


"Tudo no mundo é frágil, tudo passa ..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim !


E, olhos postos em ti, digo de rastros :
"Ah ! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus : Princípio e Fim ! ..."

Citar
EMILY DICKINSON

The Dying need but little, Dear,
A Glass of Water’s all,
A Flower’s unobtrusive Face
To punctuate the Wall,

A Fan, perhaps, a Friend’s Regret
And Certainty that one
No color in the Rainbow
Perceive, when you are gone.

Quem morre, Querido, de pouco precisa
Apenas um Copo d’Água
O Rosto discreto da Flor
Pontuando a Parede lisa,

Um Leque, talvez, do Amigo a Mágoa
E a Certeza de que alguém
No Arco-Íris não verá mais cor
Depois que você se for.
"Nunca devemos admitir como causa daquilo que não compreendemos algo que entendemos menos ainda." Marquês de Sade

Offline Lion

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #262 Online: 26 de Julho de 2013, 16:55:31 »


Citar
Ó fragúndio bugalhostro, tua micturição é para mim

Qual manchimucos num lúrgido do mastim

Frêmeo implochoro-o, ó meu perlíndromo exangue

Adrede me não apagianaste e crímidos dessartes?

Ter-te-ei rabirrotos, raio que o parte!

Prostetnic Vogon Jeltz

Offline Luiz Souto

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #263 Online: 27 de Julho de 2013, 14:56:58 »
MEIO ASSIM
Chacal


tava atrasado.
o metrô ia sair.
corri.
a porta se fechou.
metade de mim foi.
outra ficou.

uma que já era,
ficou mais ensimesmada.
olhando o relógio
falando no celular.

a outra, tagarela,
levantava leviana
a saia das moças,
uivando intempestiva.

se alguém
encontrar uma delas,
avise a outra.
eu vou ver
se estou na esquina.


O OUTRO
Chacal

só quero
o que não
o que nunca
o inviável
o impossível

não quero
o que já
o que foi
o vencido
o plausível

só quero
o que ainda
o que atiça
o impraticável
o incrível

não quero
o que sim
o que sempre
o sabido
o cabível

eu quero
o outro


NÚMERO DA PAIXÃO
Chacal

na corda bamba quero ser teu contrapeso
no número das facas assoviar nos teus ouvidos
no globo da morte quero ser teu copiloto
no vai e vem do trapézio quero ser quem te segura
 
quero te acompanhar pelas ruas do rio sorrindo ou chorando
quero me molhar todinho só pra te deixar sequinha nesse temporal
quero te abraçar apaixonado sentir teu coração pulsar
quero te beijar do oiapoque ao chuí, bem te vi
 
porque eu sei que teus cabelos são tempestades que me alucinam
que despencarei cada vez que subir nos teus andaimes
que me esfaquearei transtornado com suas sutis insinuações sobre o
tempo

que me transmutarei em nêspera cada vez que me disseres:
hasta luego, luz del fuego
que vagarei sem esperanças quando não mais fizeres parte
dos meus próximos capítulos
que capitularei enfim, com a cabeça espatifada nos escombros
do meu próprio coração
 
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Offline Luiz Souto

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #264 Online: 27 de Julho de 2013, 15:47:12 »
SANTA MARIA
(Madrugada de 27.1.2013)

Fabricio Carpinejar

Morri em Santa Maria hoje.
Quem não morreu?

Morri
na Rua dos Andradas, 1925.
Numa ladeira encrespada de fumaça.

A fumaça nunca foi tão negra no Rio Grande do Sul.
Nunca uma nuvem foi tão nefasta.

Nem as tempestades mais mórbidas e elétricas desejam sua companhia.
Seguirá sozinha, avulsa,
página arrancada de um mapa.

 
A fumaça corrompeu o céu para sempre.
O azul é cinza,
anoitecemos em 27 de janeiro de 2013.

As chamas se acalmaram às 5h30, mas a morte
nunca mais será controlada.

Morri porque tenho uma filha adolescente que demora a voltar para casa.
Morri porque já entrei em uma boate pensando como sairia dali em caso de incêndio.
Morri porque prefiro ficar perto do palco para ouvir melhor a banda.
Morri porque já confundi a porta de banheiro com a de emergência.
Morri porque jamais o fogo pede desculpas quando passa.
Morri porque já fui de algum jeito todos que morreram.
Morri sufocado de excesso de morte;
como acordar de novo?


O prédio não aterrissou da manhã, como um avião desgovernado na pista.
A saída era uma só e o medo vinha de todos os lados.
Os adolescentes não vão acordar na hora do almoço.

 
Não vão se lembrar de nada.
Ou entender como se distanciaram de repente do futuro.
Mais de duzentos e quarenta jovens sem o último beijo
da mãe, do pai, dos irmãos.
Os telefones ainda tocam no peito das vítimas estendidas no Ginásio Municipal.
As famílias ainda procuram suas crianças.
As crianças universitárias estão eternamente no silencioso.

 
Ninguém tem coragem de atender e avisar o que aconteceu
As palavras perderam o sentido

(Fabrício Carpinejar, 27.01.2013, 22:10)
Se não queres que riam de teus argumentos , porque usas argumentos risíveis ?

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Offline Metatron

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #265 Online: 29 de Julho de 2013, 22:55:58 »
Soneto de fidelidade
Vinícius de Morais

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure

“Quem não quer pensar, é um fanático; quem não pode pensar, é um idiota; quem não ousa pensar, é um covarde”.
(Horace Walpole - Conde de Oxford)

Offline Donatello

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #266 Online: 28 de Dezembro de 2014, 11:32:51 »
Poesia, metalinguagem e 'manifesto tardio' do modernismo e cuti-cutismo lispectoriano perdidos no meio de Perto do Coração Selvagem, de Clarice:

– Papai, inventei uma poesia.
– Como é o nome?
– Eu e o sol. – Sem esperar muito recitou: "As galinhas que estão no quintal já comeram duas minhocas mas eu não vi."
– Sim? Que é que você e o sol têm a ver com a poesia?
Ela então olhou-o por um segundo. Ele não compreendera...
–  O sol está em cima das minhocas, papai, e eu fiz a poesia e não vi as minhocas... – Pausa. – Posso inventar outra agora mesmo: "Ó sol, vem brincar comigo." Outra maior:
"Vi uma nuvem pequena
coitada da minhoca
acho que ela não viu."
Lindas, pequena, lindas. Como é que se faz uma poesia tão bonita?
– Não é difícil, é só ir dizendo.

Offline Sergiomgbr

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #267 Online: 07 de Setembro de 2015, 12:58:47 »
Canção Final

Oh! se te amei, e quanto!
Mas não foi tanto assim.
Até os deuses claudicam
em nugas de aritmética.
Meço o passado com régua
de exagerar as distâncias.
Tudo tão triste, e o mais triste
é não ter tristeza alguma.
É não venerar os códigos
de acasalar e sofrer.
É viver tempo de sobra
sem que me sobre miragem.
Agora vou-me. Ou me vão?
Ou é vão ir ou não ir?
Oh! se te amei, e quanto,
quer dizer, nem tanto assim.

Carlos Drummond de Andrade
Até onde eu sei eu não sei.

Offline Sergiomgbr

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #268 Online: 21 de Setembro de 2015, 17:13:16 »
                                           O povo no ovo

O povo do ovo
O povo do ovo
O povo do ovo

Uiéééééééééé
Uióóóóóóóóóó
Ai ai ai

Ahhhhhhhhhhhhh
o ovo do pooooooooovo
Arghhhhhhhhhhhhh
Urghhhhhhhhhhhhh
Pfffffffffff


O povo do ovo
O povo do ovo
O povo do ovo

Uiéééééééééé
Uióóóóóóóóóó
Ai ai ai

Ahhhhhhhhhhhhh
o ovo do pooooooooovo
Arghhhhhhhhhhhhh
Urghhhhhhhhhhhhh
Pfffffffffff






Até onde eu sei eu não sei.

Offline Larissa

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #269 Online: 22 de Setembro de 2015, 17:38:47 »
Via Láctea
Olavo Bilac
 
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" e eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".
O desejo de salvar a humanidade é quase sempre um disfarce para o desejo de controlá-la.
— H. L. Menckel

Offline Gigaview

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #270 Online: 22 de Setembro de 2015, 20:36:08 »
Os Amores, V: 1-2, 9-26

Era inteso o calor, passava do meio dia;
Estava eu em minha cama repousando.
[…] Eis que vem Corina numa túnica ligeira,
Os cabelos lhe ocultando o alvo pescoço;
Assim entrava na alcova a formosa Semíramis,
Dizem, e Laís que amaram tantos homens.
Tirei-lhe a túnica; de tão tênue mal contava:
Ela lutou todavia por cobrir-se
Com a túnica, mas sem empenho em vencer:
Venceu-a, sem mágoa, a sua traição.
Ficou em pé, sem roupa, ali diante dos meus olhos.
Em seu corpo não havia um só defeito.
Que ombros e que braços me foi dado ver, tocar!
Os belos seios, que doce comprimi-los!
Que ventre mais polido logo abaixo do peito!
Que primor de ancas, que juvenil a coxa!
Por que pormenorizar? Nada vi não louvável,
E lhe estreitei a nudez contra o meu corpo.
O resto, quem não sabe? Exaustos, repousamos.
Que outros meios-dias me sejam tão prósperos!

Ovídio
(traduzido por José Paulo Paes)
Brandolini's Bullshit Asymmetry Principle: "The amount of effort necessary to refute bullshit is an order of magnitude bigger than to produce it".

Pavlov probably thought about feeding his dogs every time someone rang a bell.

Offline Sergiomgbr

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #271 Online: 22 de Setembro de 2015, 21:17:48 »
                              Bossa do Funk


Escuta...

Escuta...

Escuta cheio de bossa

Então escuta,

Escuta...

Escuta...

Escuta cheio de bossa


Se eu lavo eu não cozinho, se eu cozinho eu não lavo

Se eu lavo eu não cozinho, se eu cozinho eu não lavo

Se eu lavo eu não cozinho, se eu cozinho eu não lavo

Se eu lavo eu não cozinho, se eu cozinho eu não lavo


Então escuta,

Escuta...

Escuta...

Escuta cheio de bossa

Então escuta,

Escuta...

Escuta...

Escuta cheio de bossa

Então escuta,

Escuta...

Escuta...

Escuta cheio de bossa
Até onde eu sei eu não sei.

Offline Luiz Souto

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #272 Online: 22 de Setembro de 2015, 23:34:10 »
Esperando os bárbaros
Konstantinos Kaváfis
 
Mas que esperamos nós aqui n'Ágora reunidos?
 
É que os bárbaros hoje vão chegar!
 
Mas porque reina no Senado tanta apatia?
Porque deixaram de fazer leis os nossos senadores?
 
É que os bárbaros hoje vão chegar.
Que leis hão­‑de fazer os senadores?
Os bárbaros que vêm, que as façam eles.
 
Mas porque tão cedo se ergueu hoje o nosso imperador,
E se sentou na magna porta da cidade à espera,
Oficial, no trono, co'a coroa na cabeça?
 
É que os bárbaros hoje vão chegar.
O nosso imperador espera receber
O chefe. E certamente preparou
Um pergaminho para lhe dar, onde
Inscreveu vários títulos e nomes.
 
Porque é que os nossos dois bons cônsules e os dois pretores
trouxeram hoje à rua as togas vermelhas bordadas?
E porque passeiam com pulseiras ricas de ametistas,
e porque trazem os anéis de esmeraldas refulgentes,
por que razão empunham hoje bastões preciosos
com tão finos ornatos de ouro e prata cravejados?
 
É que os bárbaros hoje vão chegar.
E tais coisas os deixam deslumbrados.
 
Porque é que os grandes oradores como é seu costume
Não vêm soltar os seus discursos, mostrar o seu verbo?
 
É que os bárbaros hoje vão chegar
E aborrecem arengas, belas frases.
 
Porque de súbito se instala tal inquietude
Tal comoção (Mas como os rostos ficaram tão graves)
E num repente se esvaziam as ruas, as praças,
E toda a gente volta a casa pensativa?
 
Caiu a noite, os bárbaros não vêm.
E chegaram pessoas da fronteira
E disseram que bárbaros não há.
 
Agora que será de nós sem esses bárbaros?
Essa gente talvez fosse uma solução.
Se não queres que riam de teus argumentos , porque usas argumentos risíveis ?

A liberdade só para os que apóiam o governo,só para os membros de um partido (por mais numeroso que este seja) não é liberdade em absoluto.A liberdade é sempre e exclusivamente liberdade para quem pensa de maneira diferente. - Rosa Luxemburgo

Conheça a seção em português do Marxists Internet Archive

Offline Spencer

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #273 Online: 08 de Maio de 2016, 06:51:31 »
Homenagem às mães:

A LÁGRIMA DE DEUS

Depois que Deus criou a Terra, convocou os mais importantes elementos que nela havia colocado, para  saber como cooperariam, no interesse da  grande harmonia planetária.
Chamou em primeiro lugar o Sol, e este rogou:
- Senhor! Quero ser a majestade do firmamento, que meu brilho e calor aqueçam e ilumine todos os planetas e o espaço ao meu redor . 
E assim foi feito.

Chamou o mar, e este suplicou:
- Divino Poder! Quero com minha imensidão envolver toda a Terra; que os mistérios de minhas profundezas me tornem temido e respeitado por todos, e que meu bramido lembre ao homem o meu poder. 
E assim foi feito.

Chamou o Leão da Selva e este rogou:
- Senhor! Que eu seja o mais imponente, o mais corajoso e o mais forte entre os animais da Selva e que até o homem sinta-se frágil em meus domínios.
E assim foi feito.

Chamou o Homem, e este implorou:
- Senhor! Preciso de força, astúcia, inteligência e coragem para dominar sobre todas as criaturas, preservando minha espécie diante das agruras do planeta hostil, sobre o qual devo viver e trabalhar. 
E assim foi feito.

Então o Senhor chamou a mulher e perguntou-lhe como gostaria de contribuir para que a Obra de Deus resplandecesse na Terra. E esta respondeu:
- Senhor, dá-me a ternura com que eu possa responder à força; dá-me compreensão e tolerância para que eu possa ensinar o amor.  Permita-me, em Teu nome, servir a todas as criaturas com abnegação e humildade.

E o Criador, com um sorriso de contentamento que lhe disfarçava comovida lágrima, disse:
- Então, na Terra serás MÃE !

Spencer

Offline Spencer

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #274 Online: 08 de Maio de 2016, 06:52:26 »
O Final das Dores

Buscando alargar de vez a compreensão
Percebi a gravidade do que me era dado ver
Não mais conjecturas, nenhuma ilusão
Tudo o que o sábio porfia por saber
Vislumbrei num átimo: pura lógica, bendita razão!

Ansiava por golfar os arrancos de vômito
que me sacudiam o corpo exausto, quase inerme,
senti o olhar esgazeado; enlanguesci tal um verme.

Era ela que sombria se aproximava.
Sempre sabida, sempre inesperada.
Para os gozadores é aborrecido empeço,
Para todos, o portal do recomeço.

vislumbrei-te nas vascas do instante final.
Enigmático olhar, peregrinal beleza
Não empunhava a ceifadeira colossal
Nem se cobria com o prosaico capuz.
Emanava de suas mãos, fulgurante luz!

Álgido, o corpo se me eriçou por completo
Mas já não tinha receios nem esgares,
Compreendi que entre o filho pródigo e o predileto
Estamos todos nós; somos milhares.

Nenhuma sentença às chamas infernais
Nem afagos, predileções, ou langores.
Carcomidos dogmas de obscura estupidez
A conduzir a alma por inenarráveis temores
Iludindo-a com o paraíso de um Deus soez.

Antevendo a morte, deves refletir, oh infeliz!
A vida prosseguirá altiva, creias tu, ou não
Deus não consulta o tolo nem lhe permite sermão
Sua inderrogável justiça esclarece e dobra-nos a cerviz
Quando recalcitramos, fere e instaura tribunais
Onde choram os hediondos, os vis, os marginais.

Se és capaz de compreender o que se diz
Não te amedrontes ante as dores temporais
Vê que a vida se repete, são ciclos sazonais
Ama, trabalha, confia, sê feliz
Pois nunca estiveste sós; nunca! jamais!

Spencer

 

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