Alguns
Rubayât ( quadras)
Omar Khayyam (1040 -1125)
Todos sabem
que meus lábios nunca
murmuraram uma oração.
Não procurei nunca
dissimular os meus pecados.
Ignoro se existem realmente
uma Justiça e uma
Misericórdia.
Mas, se existem, não
desespero delas: fui sempre
um homem sincero.
Que vale mais?
Fazer exame de consciência
sentado na taverna,
ou prosternado na mesquita?
Não me interessa saber
se tenho um Senhor
e o destino que me reserva.
Procura ser
feliz ainda hoje,
pois não sabes o que te reserva
o dia de amanhã.
Toma uma urna cheia de
vinho, senta-te ao clarão do
luar e monologa: "Talvez
amanhã a lua me procure
em vão."
O Corão,
chamado o Livro supremo,
pode ser lido de vez em
quando; mas ninguém se
deleita na sua leitura,
sempre que o lê.
Na taça cheia de vinho está
gravado um texto, de tão
adorável sabedoria, que a
boca, à falta dos olhos,
lê sempre com delícia.
Além da
Terra, além do Infinito,
eu procurava em vão o Céu
e o Inferno.
Mas uma voz me disse:
"O Céu e o Inferno estão em
ti mesmo."
Deixemo-nos
de palavras vãs.
Levanta-te e dá-me
um pouco de vinho.
Esta noite tua boca é a mais
bela rosa do mundo e basta
para todos os meus desejos.
Dá-me vinho.
Que ele seja corado como as
tuas faces, e o meu remorso
será leve como as tuas tranças.
A brisa da
primavera renova
as rosas e, na sombra azul
do jardim, acaricia
o rosto de minha amada.
A despeito da ventura que
já gozei, sou tão feliz hoje
que não me lembro de ontem:
esqueço o passado...
É tão imperioso o prazer
deste momento...
Perderei
ainda muito tempo,
querendo encher o mar com
pedras?
Desprezo igualmente
os libertinos e os devotos.
Kháyyám, quem te poderá
assegurar que irás para o Céu
ou para o Inferno?
Que significam essas duas
palavras?... Conheces alguém
que já tenha visitado
esses países misteriosos?
Kháyyám!
Não se aflijas por seres
um grande pecador!
É inútil a tua tristeza.
Depois da morte virá o
Nada ou a Misericórdia.
Nas igrejas,
nas sinagogas e nas
mesquitas buscam refúgio
os que temem o inferno.
Mas o homem que conhece
os segredos de Deus não
cultiva no seu coração as
sementes do terror e da
súplica.
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