Autor Tópico: Quem gosta de poesia?  (Lida 44478 vezes)

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Offline Madame Bovary

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #225 Online: 19 de Outubro de 2011, 00:23:14 »
Güstaff, muito bacana a sua poesia. Já que você gosta de escrever, seria legal que você lesse alguma coisa sobre teoria. Assim fica mais fácil para você organizar melhor suas poesias em estruturas diferentes. Faz toda a diferença: versos que não ficaram bons como soneto podem, de repente, se transformar em um execente haicai.

Ter conhecimento das diversas estruturas te dá até mais liberdade na hora de criar seus versos.  :ok:
.
Olho, e as coisas existem.
Penso e existo só eu.

.

Skoob

Filmow

Offline TMAG

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #226 Online: 28 de Outubro de 2011, 13:42:15 »
Dois ótimos poemas retirados de uma antologia do Expressionismo alemão, aproveitem.


Programa
Wilhelm Klemm
(1915)

Não queremos poesia,
Queremos mágicas, artifícios,
Procuramos tapar na existência fatais vazios
E apesar de imenso esforço, uma atrofia.

Mas o que sabem vocês outros da secreta elevação,

Dos sagrados e histéricos soluços da garganta a chorar,
Quando, consumidos pelo haxixe da alma em imersão,
Beijamos o primeiro degrau, para além de cujo limiar
Os deuses moram?


O visiotário
Jakob van Hoddis
(1918)

Lâmpada, não esquente.
Da parede saiu um braço magro de mulher.
Era pálido e tinha veias azuis.
Os dedos estavam carregados de preciosos anéis.
Quando beijei a mão, assustei-me:
Estava viva e quente.
Arranhou-me o rosto.
Peguei uma faca de cozinha e cortei algumas veias.
Um grande gato lambeu graciosamente o sangue do chão.
Entretanto um homem de cabelos arrepiados subiu
Por um cabo da vassoura encostado à parede.

''O objetivo dos Governos é sempre o mesmo: limitar o indivíduo, domesticá-lo, subordiná-lo, subjugá-lo.'' - Max Stirner

Skorpios

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #227 Online: 01 de Novembro de 2011, 07:40:21 »
Não sei se alguém já postou e estou com preguiça de procurar...

DESEJOS

Desejo a vocês...
... Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho.
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.

[Carlos Drummond ]

Offline cavecanem

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #228 Online: 03 de Dezembro de 2011, 02:43:14 »
animula vagula blandula,
hospes comesque corporis,
quae nunc abibis in loca
pallidula rigida nudula
nec, ut soles, dabis iocos!


Hadrianus, musicalidade, concisão e coloquialidade de imperador em suas last words, como quer a tradição.


Alma minha, brandinha, vagabunda,
do corpo acompanhante e moradora,
a que paragens vais subir agora,
assim lívida, e rígida, e tão nua?
Deixarás de gozar o que hoje gozas.


tradução de David Mourão-Ferreira
"Por necessidade de recolhimento, livrei-me de Deus, desembaracei-me do último chato." Cioran

Offline ReVo

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #229 Online: 03 de Dezembro de 2011, 05:05:35 »
Güstaff,
Gostei muito da sua poesia,
posso compartilhar e creditá-lo como "Güstaff"?
"Most men love money and security more, and creation and construction less, as they get older." John Maynard Keynes

"Plus ça change, plus c´est la même chose." Giuseppe Tomasi di Lampedusa

Offline Sergiomgbr

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #230 Online: 03 de Dezembro de 2011, 13:37:45 »
animula vagula blandula,
hospes comesque corporis,
quae nunc abibis in loca
pallidula rigida nudula
nec, ut soles, dabis iocos!


Hadrianus, musicalidade, concisão e coloquialidade de imperador em suas last words, como quer a tradição.


Alma minha, brandinha, vagabunda,
do corpo acompanhante e moradora,
a que paragens vais subir agora,
assim lívida, e rígida, e tão nua?
Deixarás de gozar o que hoje gozas.


tradução de David Mourão-Ferreira
Não sei se foi a tradução, mas é muito divina.
Até onde eu sei eu não sei.

Offline ReVo

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #231 Online: 04 de Dezembro de 2011, 00:29:10 »
Güstaff, muito bacana a sua poesia. Já que você gosta de escrever, seria legal que você lesse alguma coisa sobre teoria. Assim fica mais fácil para você organizar melhor suas poesias em estruturas diferentes. Faz toda a diferença: versos que não ficaram bons como soneto podem, de repente, se transformar em um execente haicai.

Ter conhecimento das diversas estruturas te dá até mais liberdade na hora de criar seus versos.  :ok:

Querida Madame,

Você indicaria algum bom livro para estudo?
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Offline cavecanem

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #232 Online: 07 de Dezembro de 2011, 13:40:13 »
animula vagula blandula,
hospes comesque corporis,
quae nunc abibis in loca
pallidula rigida nudula
nec, ut soles, dabis iocos!


Hadrianus, musicalidade, concisão e coloquialidade de imperador em suas last words, como quer a tradição.


Alma minha, brandinha, vagabunda,
do corpo acompanhante e moradora,
a que paragens vais subir agora,
assim lívida, e rígida, e tão nua?
Deixarás de gozar o que hoje gozas.


tradução de David Mourão-Ferreira
Não sei se foi a tradução, mas é muito divina.

Normalmente eu não teria dúvidas quanto ao significado da expressão 'divina' para adjetivar uma poesia, mas num fórum cético... :P

A tradução consegue preservar o significado literal e é bastante fiel a certas intenções da linguagem original.
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Offline TMAG

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #233 Online: 14 de Dezembro de 2011, 13:46:15 »
 

O utopista
(Murilo Mendes)

Ele acredita que o chão é duro
Que todos os homens estão presos
Que há limites para a poesia
Que não há sorrisos nas crianças
Nem amor nas mulheres
Que só de pão vive o homem
Que não há um outro mundo.


Reflexão n°.1
(Murilo Mendes)

Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho
Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio
Nem ama duas vezes a mesma mulher.
Deus de onde tudo deriva
E a circulação e o movimento infinito.


Ainda não estamos habituados com o mundo
Nascer é muito comprido.


Corte transversal do poema
(Murilo Mendes)

A música do espaço pára, a noite se divide em dois pedaços.
Uma menina grande, morena, que andava na minha cabeça,
fica com um braço de fora.
Alguém anda a construir uma escada pros meus sonhos.
Um anjo cinzento bate as asas
em torno da lâmpada.
Meu pensamento desloca uma perna,
o ouvido esquerdo do céu não ouve a queixa dos namorados.
Eu sou o olho dum marinheiro morto na Índia,
um olho andando, com duas pernas.
O sexo da vizinha espera a noite se dilatar, a força do homem.
A outra metade da noite foge do mundo, empinando os seios.
Só tenho o outro lado da energia,
me dissolvem no tempo que virá, não me lembro mais quem sou.


Tercinas sobre a fugacidade de tudo
(Hugo von Hofmannsthal)

I

Inda lhes sinto o hálito na face:
pode lá ser que este correr de dias
para sempre e de todo assim passasse?

Ninguém entende coisa tão estranha,
cruel demais pra queixas e agonias:
que deslizando, nada se detenha.

E que o meu próprio eu, imperturbado,
de um menino pequeno até mim venha,
cão de estranheza inquieto e tão calado.

Mais: que eu fosse há cem anos, e sabê-lo,
que cada avô dos meus, amortalhado,
esteja tanto em mim como o cabelo,

sendo um comigo como o meu cabelo.


II

As horas! Onde nós o azul claro
do mar vemos e a morte se nos fez
leve e sem medo, em festa e sem reparo,

como meninas só de palidez
e grandes olhos sempre se resfriam,
e à tarde olham perdidas, na mudez

de ver que a vida, enquanto adormeciam
seus membros, lhes fluiu silente e langue
em árvore e erva, e tímidas sorriam,

como uma santa enquanto verte o sangue.


III

Nossa matéria aos sonhos é igual
e os sonhos abrem olhos à maneira
de umas crianças sob o cerejal.

Das copas, ouro pálido se esgueira
da lua-cheia e a vasta noite alcança...
senão, sonhos não há à nossa beira.

Vivem aí qual riso de criança,
e como a lua-cheia sobem, descem,
quando desperta sobre a fronde avança.

O mais íntimo se abre a quanto tecem;
quais mãos-fantasma sempre num tristonho
espaço estão em nós e vida oferecem.

E os três são um: homem e coisa e sonho.

''O objetivo dos Governos é sempre o mesmo: limitar o indivíduo, domesticá-lo, subordiná-lo, subjugá-lo.'' - Max Stirner

Offline Sergiomgbr

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #234 Online: 14 de Dezembro de 2011, 17:00:49 »
animula vagula blandula,
hospes comesque corporis,
quae nunc abibis in loca
pallidula rigida nudula
nec, ut soles, dabis iocos!


Hadrianus, musicalidade, concisão e coloquialidade de imperador em suas last words, como quer a tradição.


Alma minha, brandinha, vagabunda,
do corpo acompanhante e moradora,
a que paragens vais subir agora,
assim lívida, e rígida, e tão nua?
Deixarás de gozar o que hoje gozas.


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Não sei se foi a tradução, mas é muito divina.

Normalmente eu não teria dúvidas quanto ao significado da expressão 'divina' para adjetivar uma poesia, mas num fórum cético... :P

A tradução consegue preservar o significado literal e é bastante fiel a certas intenções da linguagem original.
Onde o ceticismo alterca com o divino?
Até onde eu sei eu não sei.

Offline cavecanem

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #235 Online: 14 de Dezembro de 2011, 22:41:39 »
animula vagula blandula,
hospes comesque corporis,
quae nunc abibis in loca
pallidula rigida nudula
nec, ut soles, dabis iocos!


Hadrianus, musicalidade, concisão e coloquialidade de imperador em suas last words, como quer a tradição.


Alma minha, brandinha, vagabunda,
do corpo acompanhante e moradora,
a que paragens vais subir agora,
assim lívida, e rígida, e tão nua?
Deixarás de gozar o que hoje gozas.


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Não sei se foi a tradução, mas é muito divina.

Normalmente eu não teria dúvidas quanto ao significado da expressão 'divina' para adjetivar uma poesia, mas num fórum cético... :P

A tradução consegue preservar o significado literal e é bastante fiel a certas intenções da linguagem original.
Onde o ceticismo alterca com o divino?

Somente não alterca quando o descarta desde o princípio ou toma como acepção única o sentido de 'sublime'.

De qualquer forma, Adriano era um helenista, e qualquer alusão a divindades e paragens do além são apenas funções do estilo.
"Por necessidade de recolhimento, livrei-me de Deus, desembaracei-me do último chato." Cioran

Offline TMAG

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #236 Online: 10 de Fevereiro de 2012, 16:06:07 »
The Hollow Men

T. S. Eliot
 
Mistah Kurtz—he dead.

      A penny for the Old Guy

      I

We are the hollow men
We are the stuffed men
Leaning together
Headpiece filled with straw. Alas!
Our dried voices, when
We whisper together
Are quiet and meaningless
As wind in dry grass
Or rats’ feet over broken glass
In our dry cellar

Shape without form, shade without colour,
Paralysed force, gesture without motion;

Those who have crossed
With direct eyes, to death’s other Kingdom
Remember us—if at all—not as lost
Violent souls, but only
As the hollow men
The stuffed men.

      II

Eyes I dare not meet in dreams
In death’s dream kingdom
These do not appear:
There, the eyes are
Sunlight on a broken column
There, is a tree swinging
And voices are
In the wind’s singing
More distant and more solemn
Than a fading star.

Let me be no nearer
In death’s dream kingdom
Let me also wear
Such deliberate disguises
Rat’s coat, crowskin, crossed staves
In a field
Behaving as the wind behaves
No nearer—

Not that final meeting
In the twilight kingdom

      III

This is the dead land
This is cactus land
Here the stone images
Are raised, here they receive
The supplication of a dead man’s hand
Under the twinkle of a fading star.

Is it like this
In death’s other kingdom
Waking alone
At the hour when we are
Trembling with tenderness
Lips that would kiss
Form prayers to broken stone.

      IV

The eyes are not here
There are no eyes here
In this valley of dying stars
In this hollow valley
This broken jaw of our lost kingdoms

In this last of meeting places
We grope together
And avoid speech
Gathered on this beach of the tumid river

Sightless, unless
The eyes reappear
As the perpetual star
Multifoliate rose
Of death’s twilight kingdom
The hope only
Of empty men.

      V

Here we go round the prickly pear
Prickly pear prickly pear
Here we go round the prickly pear
At five o’clock in the morning.

Between the idea
And the reality
Between the motion
And the act
Falls the Shadow
                                For Thine is the Kingdom

Between the conception
And the creation
Between the emotion
And the response
Falls the Shadow
                                Life is very long

Between the desire
And the spasm
Between the potency
And the existence
Between the essence
And the descent
Falls the Shadow
                                For Thine is the Kingdom

For Thine is
Life is
For Thine is the

This is the way the world ends
This is the way the world ends
This is the way the world ends
Not with a bang but a whimper
''O objetivo dos Governos é sempre o mesmo: limitar o indivíduo, domesticá-lo, subordiná-lo, subjugá-lo.'' - Max Stirner

Offline João da Ega

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #237 Online: 14 de Março de 2012, 09:43:47 »
Gosto muito da poesia sem enfeites, como João Cabral de Melo Neto e Drummond. Deste, curto muito a ironia fina, e um certo pessimismo, à la Machado.

Os Ombros Suportam o Mundo

Carlos Drummond de Andrade

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.


Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.


Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

"Nunca devemos admitir como causa daquilo que não compreendemos algo que entendemos menos ainda." Marquês de Sade

Offline Sergiomgbr

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #238 Online: 14 de Março de 2012, 19:38:08 »
Visitando a eternidade

Hoje de madrugada quis olhar um pouco a paisagem de mim
Fazia tempo que eu não me detinha amiúde com algo assim
já tinha dito a mim mesmo que era só uma tarefa burocrática
afinal, já havia me rendido ao estupor das novidades
então dormí.
Até onde eu sei eu não sei.

Offline Barata Tenno

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #239 Online: 14 de Março de 2012, 19:50:08 »
Minha poesia favorita é:

Não gosto de poesia
Não sei por que
Não me pergunte
Não
Não gosto


Ja disse antes, essa é a melhor poesia de todos os tempos.
He who fights with monsters should look to it that he himself does not become a monster. And when you gaze long into an abyss the abyss also gazes into you. Friedrich Nietzsche

Offline Sergiomgbr

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #240 Online: 14 de Março de 2012, 21:03:12 »

Sim e não.

O sim é o proton, o não é o eletron do átomo
o mais simples dos átomos tem ao menos um sim e um não mas o não é
o instigante eletron e fica alí rodeando o sim.

O sim é a virtude, o não é o pecado que arrasta consigo a tentação
 o sim é um paspalho anuente, o não desafia e é irreverente, desdenha,
desconversa, retruca, resiste.

Por quê dizes não mil vezes? O que queres é certo, é mais!
« Última modificação: 14 de Março de 2012, 21:18:01 por sergiomgbr »
Até onde eu sei eu não sei.

Offline João da Ega

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #241 Online: 18 de Março de 2012, 21:15:46 »
Quando eu tava no primeiro ano do ensino médio (o então chamado 2º grau) achava poesia uma coisa pra menininha sonhadora... aqueles versinhos com flor pra cá, beija-flor prá lá etc.
Mas aí, no capítulo sobre pré-modernismo, vi esse poema abaixo. Na época eu curtia uns Black Sabbath, Iron Maiden e congenêres. E vi que Augusto dos Anjos era mais foda  que Ozzy Osbourne. :caveira: Tempos depois, li que a banda mineira Sepultura utilizou parte desse poema em uma música.

Versos Íntimos
Augusto dos Anjos


    Vês! Ninguém assistiu ao formidável
    Enterro de tua última quimera.
    Somente a Ingratidão - esta pantera -
    Foi tua companheira inseparável!

    Acostuma-te à lama que te espera!
    O Homem, que, nesta terra miserável,
    Mora, entre feras, sente inevitável
    Necessidade de também ser fera.

    Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
    O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
    A mão que afaga é a mesma que apedreja.

    Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
    Apedreja essa mão vil que te afaga,
    Escarra nessa boca que te beija!



off topic: se tiver nerd aqui em gramática (será que todos são das exatas?):
prá seguir a tal norma padrão, não deveria ser Vê! ao invés de Vês! (1º verso da 1ª estrofe) já que está no imperativo?
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Offline Geotecton

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #242 Online: 18 de Março de 2012, 21:16:45 »
Minha poesia favorita é:

Não gosto de poesia
Não sei por que
Não me pergunte
Não
Não gosto
Ja disse antes, essa é a melhor poesia de todos os tempos.

Hehehehehehehehe.
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Offline A Mosca

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #243 Online: 15 de Junho de 2012, 23:29:32 »
Quando eu tava no primeiro ano do ensino médio (o então chamado 2º grau) achava poesia uma coisa pra menininha sonhadora... aqueles versinhos com flor pra cá, beija-flor prá lá etc.
Mas aí, no capítulo sobre pré-modernismo, vi esse poema abaixo. Na época eu curtia uns Black Sabbath, Iron Maiden e congenêres. E vi que Augusto dos Anjos era mais foda  que Ozzy Osbourne. :caveira: Tempos depois, li que a banda mineira Sepultura utilizou parte desse poema em uma música.

Versos Íntimos
Augusto dos Anjos


    Vês! Ninguém assistiu ao formidável
    Enterro de tua última quimera.
    Somente a Ingratidão - esta pantera -
    Foi tua companheira inseparável!

    Acostuma-te à lama que te espera!
    O Homem, que, nesta terra miserável,
    Mora, entre feras, sente inevitável
    Necessidade de também ser fera.

    Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
    O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
    A mão que afaga é a mesma que apedreja.

    Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
    Apedreja essa mão vil que te afaga,
    Escarra nessa boca que te beija!



off topic: se tiver nerd aqui em gramática (será que todos são das exatas?):
prá seguir a tal norma padrão, não deveria ser Vê! ao invés de Vês! (1º verso da 1ª estrofe) já que está no imperativo?


Na 1ª estrofe, o discurso ainda não está no Imperativo. Mas na segunda pessoa singular do Indicativo. Ou seja, não é uma ordem. Mas, sim, uma constatação. Perceba que há o "enterro de uma quimera", há uma consumada desilusão... O verbo toma uma forma imperativa por decorrência desta constatação (de si para si, por isso: Versos Íntimos).   
E muito embora Augusto dos Anjos tenha sua importância seminal para o Modernismo e recebido menosprezo de Olavo Bilac por sua linguagem, deveras excêntrica, ele em nada deixou a desejar aos poetas parnasianos.
Além da verossimilhança provocada quando se ler a sua "singularíssima Obra" - o livro Eu e Outras Poesias -, o leitor goza também de uma forma perfeita: um Soneto Petrarquiano de versos decassílabos (Clássico), com rimas ricas e raras.
Se alumia, então é lanterna...

Offline A Mosca

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #244 Online: 15 de Junho de 2012, 23:33:38 »
Aproveitando o ensejo, o meu preferido...

Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundíssimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

Augusto dos Anjos
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Offline A Mosca

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #245 Online: 18 de Junho de 2012, 18:59:23 »
CARTA DO DR. HANNIBAL LECTER AO DETETIVE DO FBI WILL GRAHAM:

Meu caro Will,
Você já deve estar curado, pelo menos do lado de fora. Espero que não esteja muito feio. Que coleção de cicatrizes você tem! Nunca esqueça quem lhe deu as melhores. E seja grato. Nossas cicatrizes têm o poder de nos lembrar que o passado foi real.
Vivemos em uma época primitiva, não, Will? Nem selvagens, nem sábios. O meio termo é a sua maldição. Uma sociedade racional me mataria ou me utilizaria de alguma forma. Você sonha muito, Will? Penso sempre em você.
Seu velho amigo,
Hannibal Lecter.

Acho que o personagem mais intrigante que conheço. Puxa, sensacional narrativa...  :)

 


Se alumia, então é lanterna...

Offline Unknown

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #246 Online: 18 de Junho de 2012, 23:49:27 »
E o que isso tem a ver com poesia?

"That's what you like to do
To treat a man like a pig
And when I'm dead and gone
It's an award I've won"
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Offline A Mosca

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #247 Online: 19 de Junho de 2012, 13:36:33 »
Olá, Unknown!

Poesia pode classificar-se em três categorias básicas: épica, dramática ou lírica. A consideração de poesia e poema como sinônimos é corriqueira, porém, estudiosos conceituam os termos com distinção.
Inda que não regida por uma regra formal severamente limitante, a poética é essencial e inequivocamente, presente quando se trata de Literatura. Por exemplo, no texto em questão, observa-se certa carga de lirismo; o eu lírico expõe sentimentos e impressões sobre o mundo que o rodeia.
Quanto à forma, para efeito didático, um poema do Mário Quintana vem bem a calhar...

Carta

Meu caro poeta,
Por um lado foi bom que me tivesses pedido resposta urgente, senão eu jamais escreveria sobre o assunto desta, pois não possuo o dom discursivo e expositivo, vindo daí a dificuldade que sempre tive de escrever em prosa. A prosa não tem margens, nunca se sabe quando, como e onde parar. O poema, não; descreve uma parábola tracada pelo próprio impulso (ritmo); é que nem um grito. Todo poema é, para mim, uma interjeição ampliada; algo de instintivo, carregado de emoção. Com isso não quero dizer que o poema seja uma descarga emotiva, como o fariam os românticos. Deve, sim, trazer uma carga emocional, uma espécie de radioatividade, cuja duração só o tempo dirá. Por isso há versos de Camões que nos abalam tanto até hoje e há versos de hoje que os pósteros lerão com aquela cara com que lemos os de Filinto Elísio. Aliás, a posteridade é muito comprida: me dá sono. Escrever com o olho na posteridade é tão absurdo como escreveres para os súditos de Ramsés II, ou para o próprio Ramsés, se fores palaciano. Quanto a escrever para os contemporâneos, está muito bem, mas como é que vais saber quem são os teus contemporâneos? A única contemporaneidade que existe é a da contingência política e social, porque estamos mergulhados nela, mas isto compete melhor aos discursivos e expositivos , aos oradores e catedráticos. Que sobra então para a poesia? - perguntarás. E eu te respondo que sobras tu. Achas pouco? Não me refiro à tua pessoa, refiro-me ao teu eu, que transcende os teus limites pessoais, mergulhando no humano. O Profeta diz a todos: "eu vos trago a verdade", enquanto o poeta, mais humildemente, se limita a dizer a cada um: "eu te trago a minha verdade." E o poeta, quanto mais individual, mais universal, pois cada homem, qualquer que seja o condicionamento do meio e e da época, só vem a compreender e amar o que é essencialmente humano. Embora, eu que o diga, seja tão difícil ser assim autêntico. Às vezes assalta-me o terror de que todos os meus poemas sejam apócritos!
Meu poeta, se estas linhas estão te aborrecendo é porque és poeta mesmo. Modéstia à parte, as disgressões sobre poesia sempre me causaram tédio e perplexidade. A culpa é tua, que me pediste conselho e me colocas na insustentável situação em que me vejo quando essas meninas dos colégios vêm (por inocência ou maldade dos professores) fazer pesquisas com perguntas assim: "O que é poesia? Por que se tornou poeta? Como escrevem os seus poemas?" A poesia é dessas coisas que a gente faz mas não diz.
A poesia é um fato consumado, não se discute; perguntas-me, no entanto, que orientação de trabalho seguir e que poetas deves ler. Eu tinha vontade de ser um grande poeta para te dizer como é que eles fazem. Só te posso dizer o que eu faço. Não sei como vem um poema. Às vezes uma palavra, uma frase ouvida, uma repentina imagem que me ocorre em qualquer parte, nas ocasiões mais insólitas. A esta imagem respondem outras. Por vezes uma rima até ajuda, com o inesperado da sua associação. (Em vez de associações de idéias, associações de imagem; creio ter sido esta a verdadeira conquista da poesia moderna.) Não lhes oponho trancas nem barreiras. Vai tudo para o papel. Guardo o papel, até que um dia o releio, já esquecido de tudo (a falta de memória é uma bênção nestes casos). Vem logo o trabalho de corte, pois noto logo o que estava demais ou o que era falso. Coisas que pareciam tão bonitinhas, mas que eram puro enfeite, coisas que eram puro desenvolvimento lógico (um poema não é um teorema) tudo isso eu deito abaixo, até ficar o essencial, isto é, o poema. Um poema tanto mais belo é quanto mais parecido for com o cavalo. Por não ter nada de mais nem nada de menos é que o cavalo é o mais belo ser da Criação.
Como vês, para isso é preciso uma luta constante. A minha está durando a vida inteira. O desfecho é sempre incerto. Sinto-me capaz de fazer um poema tão bom ou tão ruinzinho como aos 17 anos. Há na Bíblia uma passagem que não sei que sentido lhe darão os teólogos; é quando Jacob entra em luta com um anjo e lhe diz: "Eu não te largarei até que me abençoes". Pois bem, haverá coisa melhor para indicar a luta do poeta com o poema? Não me perguntes, porém, a técnica dessa luta sagrada ou sacrílega. Cada poeta tem de descobrir, lutando, os seus próprios recursos. Só te digo que deves desconfiar dos truques da moda, que, quando muito, podem enganar o público e trazer-te uma efêmera popularidade.
Em todo caso, bem sabes que existe a métrica. Eu tive a vantagem de nascer numa época em que só se podia poetar dentro dos moldes clássicos. Era preciso ajustar as palavras naqueles moldes, obedecer àquelas rimas. Uma bela ginástica, meu poeta, que muitos de hoje acham ingenuamente desnecessária. Mas, da mesma forma que a gente primeiro aprendia nos cadernos de caligrafia para depois, com o tempo, adquirir uma letra própria, espelho grafológico da sua individualidade, eu na verdade te digo que só tem capacidade e moral para criar um ritmo livre quem for capaz de escrever um soneto clássico. Verás com o tempo que cada poema, aliás, impõe sua forma; uns, as canções, já vêm dançando, com as rimas de mãos dadas, outros, os dionisíacos (ou histriônicos, como queiras) até parecem aqualoucos. E um conselho, afinal: não cortes demais (um poema não é um esquema); eu próprio que tanto te recomendei a contenção, às vezes me distendo, me largo num poema que vai lá seguindo com os detritos, como um rio de enchente, e que me faz bem, porque o espreguiçamento é também uma ginástica. Desculpa se tudo isso é uma coisa óbvia; mas para muitos, que tu conheces, ainda não é; mostra-lhes, pois, estas linhas.
Agora, que poetas deves ler? Simplesmente os poetas de que gostares e eles assim te ajudarão a compreender-te, em vez de tu a eles. São os únicos que te convêm, pois cada um só gosta de quem se parece consigo. Já escrevi, e repito: o que chamam de influência poética é apenas confluência. Já li poetas de renome universal e, mais grave ainda, de renome nacional, e que no entanto me deixaram indiferente. De quem a culpa? De ninguém. É que não eram da minha família.
Enfim, meu poeta, trabalhe, trabalhe em seus versos e em você mesmo e apareça-me daqui a vinte anos. Combinado?
Mário Quintana

 :ok:
« Última modificação: 19 de Junho de 2012, 14:09:43 por A Mosca »
Se alumia, então é lanterna...

Offline A Mosca

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #248 Online: 21 de Junho de 2012, 16:23:07 »
HABEAS PINHO – Poema escrito por Ronaldo Cunha Lima

Na Paraíba, alguns elementos que faziam uma serena foram presos. Embora liberados no dia seguinte, o violão foi detido. Tomando conhecimento do acontecido, o famoso poeta Ronaldo Cunha Lima (ex-governador e ex-senador) enviou uma petição ao Juiz da Comarca, em versos, solicitando a liberação do instrumento musical.

Senhor Juiz.
Roberto Pessoa de Sousa
O instrumento do “crime”que se arrola
Nesse processo de contravenção
Não é faca, revolver ou pistola,
Simplesmente, Doutor, é um violão.
Um violão, doutor, que em verdade
Não feriu nem matou um cidadão
Feriu, sim, mas a sensibilidade
De quem o ouviu vibrar na solidão.
O violão é sempre uma ternura,
Instrumento de amor e de saudade
O crime a ele nunca se mistura
Entre ambos inexiste afinidade.
O violão é próprio dos cantores
Dos menestréis de alma enternecida
Que cantam mágoas que povoam a vida
E sufocam as suas próprias dores.
O violão é música e é canção
É sentimento, é vida, é alegria
É pureza e é néctar que extasia
É adorno espiritual do coração.
Seu viver, como o nosso, é transitório.
Mas seu destino, não, se perpetua.
Ele nasceu para cantar na rua
E não para ser arquivo de Cartório.
Ele, Doutor, que suave lenitivo
Para a alma da noite em solidão,
Não se adapta, jamais, em um arquivo
Sem gemer sua prima e seu bordão
Mande entregá-lo, pelo amor da noite
Que se sente vazia em suas horas,
Para que volte a sentir o terno acoite
De suas cordas finas e sonoras.
Liberte o violão, Doutor Juiz,
Em nome da Justiça e do Direito.
É crime, porventura, o infeliz
Cantar as mágoas que lhe enchem o peito?
Será crime, afinal, será pecado,
Será delito de tão vis horrores,
Perambular na rua um desgraçado
Derramando nas praças suas dores?
Mande, pois, libertá-lo da agonia
(a consciência assim nos insinua)
Não sufoque o cantar que vem da rua,
Que vem da noite para saudar o dia.
É o apelo que aqui lhe dirigimos,
Na certeza do seu acolhimento
Juntada desta aos autos nós pedimos
E pedimos, enfim, deferimento.  

DESPACHO DO JUIZ

O juiz Roberto Pessoa de Sousa, por sua vez, despachou utilizando a mesma linguagem do poeta Ronaldo Cunha LIma: o verso popular.

Recebo a petição escrita em verso
E, despachando-a sem autuação,
Verbero o ato vil, rude e perverso,
Que prende, no Cartório, um violão.
Emudecer a prima e o bordão,
Nos confins de um arquivo, em sombra imerso,
É desumana e vil destruição
De tudo que há de belo no universo.
Que seja Sol, ainda que a desoras,
E volte á rua, em vida transviada,
Num esbanjar de lágrimas sonoras.
Se grato for, acaso ao que lhe fiz,
Noite de luz, plena madrugada,
Venha tocar á porta do Juiz.

 :hihi:
Se alumia, então é lanterna...

Offline Digão

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Re:Quem gosta de poesia?
« Resposta #249 Online: 30 de Agosto de 2012, 13:28:25 »
Aproveitando a deixa d'A Mosca, um pouco de Mário Quintana:


Descobertas

Descobrir Continentes é tão fácil como esbarrar com um elefante:
Poeta é quem encontra uma moedinha perdida...


As covas

O bicho,
Quando quer fugir dos outros,
Faz um buraco na terra.

O homem,
para fugir de si,
fez um buraco no céu.


A oferenda

Eu queria trazer-te uns versos muito lindos...
Trago-te estas mãos vazias
Que vão tomando a forma do teu seio.

 

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