1- Esse experimentos seguiram o rigor do método científico? Sim ou ñão?
Sim, leia as descrições. Os resultados e os métodos são evidentes por si sós e os fatos só não ocorreram se os cientistas tiverem inventado tudo. A única investigação cabível é, portanto, a de fraude (dos cientistas, e não dos médiuns heim...). Quem não concluir pela fraude só pode deduzir que os fatos se deram conforme relatados e, claro, terá de encontrar uma explicação para eles.
“O problema com o qual a ciência lida, as idéias que ela usa para investigar esses problemas, até mesmo os resultados científicos, tão alardeados, decorrentes da investigação científica, são todos profundamente influenciados por predisposições que derivam da sociedade na qual nós vivemos. Os cientistas não começam as suas vidas como cientistas e como seres sociais imersos na família, no Estado, na estrutura produtiva, e suas visões da natureza são feitas através das lentes que foram moldadas por suas experiências sociais" (LEWONTIN, 1992, p. 4).Exatamente Leafar, a ciência não é tão verdadeira com os fatos como muita gente pensa cegamente, não. Acabei de ler esse livro, A falsa medida do Homem de
Stephen Jay Gould. Em seu recomendadíssimo livro ele deixa patente sua posição em relação ao assunto, vale a pena você ler. Segue abaixo algumas partes:
"Este livro procura demonstrar a debilidade científica e os contextos políticos dos argumentos deterministas. Contudo, não pretendo estabelecer um contraste entre deterministas perversos, que se afastam do caminho da objetividade científica, e antideterministas esclarecidos, que abordam os dados com mente aberta e, portanto, enxergam a verdade. Em vez disso, critico o mito que diz ser a ciência uma empresa objetiva, que se realiza adequadamente apenas quando os cientistas conseguem libertar-se dos condicionamentos da sua cultura e encarar o mundo como ele realmente é.
Entre os cientistas, foram poucos os ideólogos conscientes que tomaram partido nessa disputa. Os cientistas não têm necessidade de se tornar apologistas explícitos de sua classe ou cultura para refletir esses insidiosos aspectos da vida. Não é minha intenção afirmar que os deterministas biológicos eram maus cientistas ou que estavam sempre errados, mas, antes, a crença de que a ciência deve ser entendida como um fenômeno social, como uma empresa corajosa, humana, e não como o trabalho de robôs programados para recolher a informação pura. Além disso, apresento esta concepção como uma nota de advertência para a ciência, não como um lúgubre epitáfio para uma nobre esperança sacrificada sobre o altar das limitações humanas.
A ciência, uma vez que deve ser executada por seres humanos, é uma atividade de cunho social. Seu progresso se faz por meio do pressentimento, da visão e da intuição. Boa parte das transformações que sofre ao longo do tempo não corresponde a uma aproximação da verdade absoluta, mas antes a uma alteração das circunstâncias culturais, que tanta influência exercem sobre ela. Os fatos não são fragmentos de informação puros e imaculados; a cultura também influencia o que vemos e o modo como vemos. Além disso, as teorias não são induções inexoráveis obtidas a partir dos fatos. As teorias mais criativas com frequência são visões imaginativas aplicadas aos fatos, e a imaginação também deriva de uma fonte marcadamente cultural.
Acho que este argumento, embora ainda constitua um anátema para muitas pessoas dedicadas à atividade científica, seria aceito de bom grado pela maior parte dos historiadores da ciência. Ao propô-lo, contudo, não me coloco ao lado de uma extrapolação hoje bastante difundida em determinados círculos de historiadores: a tese puramente relativista de que a modificação científica apenas reflete a modificação dos contextos sociais, de que a verdade é uma noção vazia de significado quando considerada fora de uma dada premissa cultural, e de que a ciência, portanto, não é capaz de fornecer respostas duradouras.
Na condição de cientista praticante, compartilho o credo de meus colegas: acredito que existe uma realidade concreta e que a ciência pode nos fornecer informações sobre essa realidade, embora o faça muitas vezes de maneira obtusa e irregular. Não foi durante um debate abstraio sobre o movimento lunar que mostraram a Galileu os instrumentos de tortura. As suas ideias ameaçaram o argumento convencional invocado pela Igreja para justificar a estabilidade social e doutrinária: a ordem estática do mundo, com os planetas girando em torno da Terra, os sacerdotes subordinados ao Papa e os servos ao seu senhor. Mas a Igreja não tardou em fazer as pazes com a cosmologia de Galileu. Não havia outra escolha; a Terra realmente gira em torno do Sol.
[...]
Em segundo lugar, muitas questões são formuladas pêlos cientistas de maneira tão restrita que qualquer resposta legítima só pode confirmar uma preferência social. Boa parte do debate sobre as diferenças raciais no que diz respeito à capacidade mental, por exemplo, baseava-se na premissa de que a inteligência é uma coisa que existe na cabeça. Enquanto essa crença não foi eliminada, nenhuma acumulação de dados foi capaz de abalar a firme tradição ocidental de ordenar elementos relacionados na forma de uma cadeia do ser de caráter hierárquico.
A ciência não consegue escapar à sua curiosa dialética. Apesar de estar inserida numa cultura, ela pode se tornar um agente poderoso no questionamento e até mesmo na subversão das premissas que a sustentam. A ciência pode oferecer informações para reduzir o desequilíbrio entre dados e importância social. Os cientistas podem esforçar-se por identificar os pressupostos culturais do seu ofício e indagar como as respostas seriam formuladas a partir de premissas diferentes. Os cientistas podem propor teorias criativas capazes de forçar seus atónitos colegas a rever procedimentos até então inquestionáveis. Mas o potencial da ciência como instrumento para a identificação dos condicionamentos culturais que a determinam só poderá ser completamente desenvolvido quando os cientistas abrirem mão do duplo mito da objetividade e do avanço inexorável rumo à verdade. Na realidade, é preciso que conheçamos bem nossos próprios defeitos antes de apontarmos os de outrem. Uma vez reconhecidos, esses defeitos deixam de ser impedimentos e tornam-se instrumentos do saber” (p. 5, 6).
Fonte:
Stephen Jay Gould. "A Falsa Medida do Homem". Editora Martins Fontes. São Paulo, 1991. Críticas de imprensa" 'A Falsa Medida do Homem' é uma crítica do chamado 'racismo científico', termo que surge associado a trabalhos sobre a raça que são motivados em grande medida por opiniões políticas em vez de observações científicas (...) Numa linguagem rica e cheio de exemplos este é um livro que traz alguma luz para a compreensão de um conceito frequentemente mal entendido."
C.J.S. in Magazine Artes, Setembro 2004
Examinando as Medidas do Homem (Retirardo de um site que fala sobre o livro.
Sabemos que fatores políticos, culturais, financeiros e religiosos sempre justificaram a hierarquização da sociedade. E os “fatos científicos”? Também influíram (influem) na organização social?
Em seu trabalho A Falsa medida do homem (2) , Gould mostra a idéia do determinismo biológico, muito difundida e pesquisada nos séculos XIX e XX, capaz de legitimar diferenças biológicas que justificavam a desigualdade intelectual entre homem e mulher, a escravidão e a colonização dos “homens inferiores”. Para essa legitimação, os cientistas deixaram influir-se, em muitos casos, por opiniões a priori, preconceitos, que levaram a uma interpretação errada dos dados obtidos, ou mesmo a falsificação ou omissão desses dados.
Inicialmente, nos séculos XVIII e XIX, os líderes brancos, intelectuais e cientistas, não duvidavam de uma hierarquização de raças: o homem branco caucasiano no ápice das raças humanas, seguido de índios e negros na ultima posição. Cientistas respeitados defendiam a tese de inferioridade de certas raças que estavam biologicamente determinadas à incapacidade intelectual e, como conseqüência, não poderiam se organizar em sociedade, devendo ser controladas pelos superiores intelectuais: os homens brancos e arianos.
Nessa representação de Gliddon, de 1868, percebemos a hierarquização das raças humanas e “seus parentes inferiores”. O crânio do chimpanzé foi aumentado e a mandíbula do crânio do negro foi distendida, para falsamente classificar o negro próximo ao chimpanzé.
Na imagem acima (Gliddon, 1868), percebemos a tentativa de aproximação do homem negro com o gorila.
Note que, na representação, Gliddon “humaniza” o orangotango (parece que os pelos do orangotango foram escovados) e aumenta o maxilar dos hotentotes, dando a semelhança desses com os símios.