Autor Tópico: O aborto deve ser permitido no país?  (Lida 37419 vezes)

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Offline Barata Tenno

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Re:O aborto deve ser permitido no país?
« Resposta #425 Online: 22 de Março de 2013, 22:36:13 »
E o que os religiosos e conservadores fazem também é "convencimento",  eles tem idéias diferentes da sua,  você tem certeza de que esta certo e eles tem certeza que estão certos. O ponto principal da discórdia é  decidir a partir de quando o direito da mulher decidir deve se sobrepor ao direito do embrião. Não é um assunto tãosimples quanto vvocê faz parecer.

Podemos partir do momento que os médicos estão defendendo no projeto do novo Código Civil, doze semanas de gestação. E nunca quis fazer parecer que o assunto fosse simples, porque não é.

A defesa do CFM é um ótimo princípio, mas não é nada definitivo, ja que o conceito de vida humana e quando ela começa ainda não é algo que ja é consenso nem entre os médicos, nem entre os cientistas, quanto mais entre a sociedade.
He who fights with monsters should look to it that he himself does not become a monster. And when you gaze long into an abyss the abyss also gazes into you. Friedrich Nietzsche

Offline _tiago

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Re:O aborto deve ser permitido no país?
« Resposta #426 Online: 24 de Março de 2013, 09:58:59 »
Nesse caso, e somente nesse caso, não poderíamos considerar a "frequência de ocorrência" como o fator decisivo pra se permitir o aborto e utilizar a proposta dos médicos apenas como um prazo aceitável? De outra forma: ao que parece, o aborto é uma prática comum, e assim sendo, não poderíamos apenas legalizá-la com o intuito de amparar as mulheres que hão de se utilizar do método? Desde que, inclusive, respeitem o prazo de 12 semanas de gestação proposta pelo CFM?

Offline Pilantrólogo

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Re:O aborto deve ser permitido no país?
« Resposta #427 Online: 29 de Novembro de 2014, 18:30:48 »
Esses dias publicaram nesse portal (http://www.diariodocentrodomundo.com.br/fiz-aborto-nao-tenho-traumas-nao-sou-criminosa/) um artigo sobre uma moça/senhora que decidiu interromper uma gestação.
O site, que geralmente conta com comentaristas equilibrados, foi inundado por indivíduos com "talento excepcionalmente refinado para argumentação" se posicionando contra a descriminalização do ato.
Em outras palavras: A seção de comentários virou uma fossa. :enjoo:
"(...) the future is already here. It's just not very evenly distributed." - William Ford Gibson

Offline Pasteur

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Re:O aborto deve ser permitido no país?
« Resposta #428 Online: 21 de Fevereiro de 2015, 19:05:50 »
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Médico chama polícia após atender jovem que fez aborto

Depois de socorrer uma jovem de 19 anos com hemorragia pós aborto, o médico que a atendeu decidiu chamar a polícia. A mulher chegou ao Hospital de São Bernardo do Campo (Grande São Paulo) na manhã de segunda (16) e, à tarde, saiu de lá presa.


O Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo) apura o caso. Para o órgão, o médico violou o sigilo médico.

O delegado Aloizio Pires de Araújo diz que a jovem foi autuada em flagrante e liberada após pagar R$ 1.000 de fiança. Se condenada, poderá ficar até três anos na prisão.

“Também está sujeita a penas alternativas, mas vai ter a ficha marcada a vida inteira.”

O aborto é crime no Brasil, exceto em casos previstos em lei, como risco à vida da mãe.

Foi a própria jovem quem, no quarta mês de gestação, provocou o aborto, na casa de uma amiga. Tomou quatro comprimidos de Cytotec, remédio para úlcera usado como abortivo que pode causar a perda do útero e até a morte.

“Comecei a passar mal”, disse à Folha a jovem, que pediu para não ser identificada.

“Avisei meu parceiro da gravidez, mas ele não quis saber. Não tinha condições de ter um filho sozinha.”
Ela diz que foi chamada de “otária” por policiais. “E o médico disse que Deus me perdoaria”.

No hospital, Mahmud Daoud Mourad, clínico geral e pediatra, disse à Folha, após inicialmente negar ter atendido a jovem, ter sido “obrigado por lei a denunciar”.

O Cremesp entende que ele violou o artigo 73 do Código de Ética Médica, que estabelece normas de sigilo profissional.

O conselho cita ainda o parecer 24.292, de 2000, que estabelece normas de conduta específicas para o caso: “Diante de um abortamento (..) não pode o médico comunicar o fato à autoridade policial ou mesmo judicial, em razão de estar diante de uma situação de segredo médico”.

“O que esse médico fez, se fez, foi uma excrecência”, afirma Antonio Pereira, conselheiro do órgão. “Não se pode prender uma pessoa que te pediu ajuda.”

O conselho abrirá sindicância para apurar a conduta do médico, que poderá ter seu registro cassado.
Também o Ministério da Saúde possui norma técnica que preza pelo “atendimento humanizado em situação de abortamento” com “privacidade e confidencialidade das informações”.

A defensora pública Juliana Garcia Belloque, que atua com situações similares, explica que inquéritos por aborto no Brasil são raros, mas, dos pouco existentes, a maioria é denunciada por médicos.

http://www.maispb.com.br/80959/medico-chama-policia-apos-atender-jovem-que-fez-aborto.html


Putz, que médico escroto! Misturou o exercício da medicina com a religião (acho que muçulmana) e fez cagada.

Deixou a coitada que pediu socorro na mão da polícia/justiça. Muitas podem morrer por causa de casos como esse, abortando com vigaristas.

Agora deve responder ao Cremesp...

Offline Gaúcho

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Re:O aborto deve ser permitido no país?
« Resposta #429 Online: 03 de Fevereiro de 2016, 11:09:15 »
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Ex-ministro da Saúde apoiará pedido de aborto legal por microcefalia no STF
José Gomes Temporão diz que se colocou à disposição de grupo que coordena ação no Legislativo; 'Brasil vive momento em que cinismo, mentira e hipocrisia têm que terminar'.

O ex-ministro da Saúde José Gomes Temporão (PSB-RJ) diz que apoiará a ação pelo direito legal ao aborto de fetos com microcefalia, que deve ser levada ao Supremo Tribunal Federal nas próximas semanas.



"Me coloquei à disposição (do grupo que levou a questão ao Judiciário) e vamos continuar em contato", diz Temporão, ministro entre 2007 e 2011, no segundo governo Lula. "Eu apoio que isso seja levado ao Supremo e que se levante a discussão."

Nas palavras do médico, atual diretor executivo do Instituto Sul-americano de Governo em Saúde (ISAGS), o projeto "já nasceria derrotado" caso a discussão acontecesse na Câmara dos Deputados. "Jamais passaria. Este é talvez o mais reacionário corpo de deputados e senadores da história republicana", diz.

Daí vem a escolha pelo poder Judiciário. "O Brasil vive um momento na política em que o cinismo, a mentira e a hipocrisia têm que terminar no contexto do aborto. Temos que enfrentar a realidade e deixar de fingir que não estamos vendo o que acontece. Abortos ilegais são feitos todos os dias nas camadas mais ricas da sociedade."

Como a BBC Brasil revelou na última quinta-feira, o mesmo grupo de advogados, acadêmicos e ativistas que articulou a descriminalização do aborto de fetos anencéfalos no STF, acatada em 2012, se organiza para levar ação similar à Suprema Corte em meio à epidemia de microcefalia que se espalha pelo país.

À frente da ação, a professora Debora Diniz diz que a interrupção de gestações "é só um dos pontos de uma ação maior", que também cobra políticas que erradiquem o mosquito Aedes aegipty, vetor do zika vírus, e garantias de acompanhamento e tratamento de crianças com deficiência ou má-formação por conta da doença.

'Que país é este?'

Durante seu mandato como ministro, Temporão defendeu publicamente, por diversas vezes, o direito à escolha pelo aborto legal como questão de "saúde pública". Na época, chegou a afirmar que a discussão era conduzida no país "de forma machista".

"A presidente Dilma nunca falou sobre o assunto e nenhum dos ministros que me sucedeu tocou no tema. Eu me arrisquei, botei meu rosto no debate e nunca recuei", diz hoje, se definindo como um "homem militante da causa feminista".

"A questão tratada nesta demanda ao Supremo se refere aos direitos da mulher", prossegue Temporão. "Caso seja comprovada esta relação entre zika e microcefalia, a mulher deve ter o direito de [decidir] levar a gravidez adiante ou não."

O avanço da microcefalia e do zika vírus nas Américas foi declarado como emergência internacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em reunião em Genebra nesta segunda-feira. Segundo a organização, o zika seguirá se alastrando rapidamente pelo continente e poderá afetar até 4 milhões de pessoas neste ano, com até 1,5 milhão de vítimas no Brasil.

A OMS ainda investiga a "potencial" relação entre o vírus e os casos de microcefalia, diz Bruce Aylward, diretor-executivo da instituição.

"Nesta etapa, o que precisamos é obter mais evidências científicas e de saúde pública que deem substância à questão que irá ao Supremo", argumenta Temporão. "Há robustas evidências epidemiológicas e clínicas, mas ainda não há comprovação determinada e absoluta. Por isso coloquei que é muito importante ouvir e ler mais sobre o tema."

O ex-ministro, que atendeu ao telefonema da reportagem em um hotel em Quito, no Equador, cita diversas vezes o médico Drauzio Varella, que afirmou à BBC Brasil nesta terça-feira que a proibição do aborto no Brasil "pune quem não tem dinheiro".

"Que país é este que faz vista grossa para que a classe média faça o aborto e coloca na cadeia aquelas que ousam fazer, mas são pobres?", indaga Temporão, afirmando que o Brasil e a maioria dos países da América Latina estão entre os "mais atrasados do mundo" na legislação sobre o aborto legal.

'Falsa impressão'

Para o médico, que não quis comentar a gestão do atual ministro da Saúde, Marcelo Castro (PMDB-RJ), "é um absurdo que a sexta economia do mundo tenha índices tão altos de infestação" pelo vírus.

"Basta comparar bairros mais ricos e mais pobres, a diferença (na incidência da doença) é gritante. Isso coloca em risco de maneira diferenciada essas mulheres", afirma.

Temporão afirma que haveria "uma falsa impressão" de que epidemia seria fruto da "negligência das pessoas". Para o ex-ministro, a principal culpa é do Estado, que não ofereceria "coleta de lixo, fornecimento correto de água e esgotamento sanitário" de forma adequada.

Cerca de 80% dos focos no Nordeste não estão lá por culpa das famílias. Elas não têm acesso a água de forma contínua, por isso estocam. O Brasil enfrenta surtos permanentes de zika, dengue e chikungunya há 30 anos porque estas questões não foram atacadas."

http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2016/02/ex-ministro-da-saude-apoiara-pedido-de-aborto-legal-por-microcefalia-no-stf.html
"— A democracia em uma sociedade livre exige que os governados saibam o que fazem os governantes, mesmo quando estes buscam agir protegidos pelas sombras." Sérgio Moro

Offline Entropia

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Re:O aborto deve ser permitido no país?
« Resposta #430 Online: 28 de Outubro de 2016, 19:08:54 »
Pensando comigo aqui cheguei em algumas dúvidas... Essa discussão toda sobre aborto, definicao de onde "comeca" a vida humana, onde deve ser o limite legal para abortar e etc, existiria se a demanda por aborto fosse ínfima? Se apenas uma dúzia de gatos pingados realizasse ou tivesse a intencao de abortar, toda essa discussao filosófica viria a tona? É óbvio que se a demanda fosse baixa até as próprias clínicas clandestinas seriam ínfimas, mas onde eu quero chegar é: Toda essa discussao sobre vida e aborto nao seria só uma forma de "racionalizar" o tamanho da demanda que temos hoje?

Offline Skeptikós

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Re:O aborto deve ser permitido no país?
« Resposta #431 Online: 28 de Outubro de 2016, 20:28:12 »
Assuntos polêmicos, como eutanásia, casamento homossexual, aborto, entre outros, não precisam possuir grande demanda (muitas pessoas desejando praticar estes atos), já que mesmo pessoas que não pretendem cometer suicídio assistido, se casar com uma pessoa do outro sexo ou abortar, também podem possuir fortes sentimentos sobre estes assuntos, em decorrência da formação-influência religiosa, política e etc. que possuem, o que as levam a defender vigorosamente o seu ponto de vista sobre estes assuntos.
"Che non men che saper dubbiar m'aggrada."
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Dante, Inferno, XI, 93; cit. p/ Montaigne, Os ensaios, Uma seleção, I, XXV, p. 93; org. de M. A. Screech, trad. de Rosa Freire D'aguiar

Offline Gauss

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Re:O aborto deve ser permitido no país?
« Resposta #432 Online: 28 de Outubro de 2016, 20:44:20 »
Para mim, todo esse tipo de discussão filosófica é irrelevante, pois as pessoas continuarão fazendo. É melhor legalizar e deixar as clínicas abrirem e fazerem isso de maneira segura e sanitária do que deixar as mulheres (em maioria de baixa renda) fazendo isso com o açougueiro da esquina e tendo sérias complicações, como infecções que levam inclusive a morte.
Citação de: Gauss
Bolsonaro é um falastrão conservador e ignorante. Atualmente teria 8% das intenções de votos, ou seja, é o Enéas 2.0. As possibilidades desse ser chegar a presidência são baixíssimas, ele só faz muito barulho mesmo, nada mais que isso. Não tem nenhum apoio popular forte, somente de adolescentes desinformados e velhos com memória curta que acham que a ditadura foi boa só porque "tinha menos crime". Teria que acontecer uma merda muito grande para ele chegar lá.

Offline Entropia

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Re:O aborto deve ser permitido no país?
« Resposta #433 Online: 28 de Outubro de 2016, 21:00:13 »
Assuntos polêmicos, como eutanásia, casamento homossexual, aborto, entre outros, não precisam possuir grande demanda (muitas pessoas desejando praticar estes atos), já que mesmo pessoas que não pretendem cometer suicídio assistido, se casar com uma pessoa do outro sexo ou abortar, também podem possuir fortes sentimentos sobre estes assuntos, em decorrência da formação-influência religiosa, política e etc. que possuem, o que as levam a defender vigorosamente o seu ponto de vista sobre estes assuntos.

Nao é bem aí que eu quero chegar. No caso do aborto, a discussao gira em torno se é ou nao é assassinato, uma questao moral séria. A questao é que se todo mundo tivesse uma moral mais rígida pra nao interromper a gravidez, o que resultaria em menor demanda. Essa questao seria sequer considerada? Procurar por um "limite" para existência da vida humana? Metendo também a ciência no meio?] Ou essa discussao filosófica só vai longe pra que, como é inviável suprimir toda a demanda pelo aborto e associado ao fato de que a prática em si nao causa muitos danos a sociedade, se tenha uma "justificativa moral" para a realizacao do ato?

Para mim, todo esse tipo de discussão filosófica é irrelevante, pois as pessoas continuarão fazendo. É melhor legalizar e deixar as clínicas abrirem e fazerem isso de maneira segura e sanitária do que deixar as mulheres (em maioria de baixa renda) fazendo isso com o açougueiro da esquina e tendo sérias complicações, como infecções que levam inclusive a morte.

Há uma coisa a se considerar nesse "continuarao fazendo". Existe muita coisa ruim que as pessoas vao continuar fazendo (Roubar, matar) e nem por isso isso é legalizado. A questao aqui é que o aborto nao traz tantas consequência como o Roubo ou um assassinato para o indivíduo ou sociedade ou mercado e aí isso se torna mais "aceitável". Eu particularmente sou a favor desde que a pessoa pague pelo procedimento, a menos em casos de extrema pobreza. Falo isso pelo simples fato de que nao se pode obrigar a quem considera o aborto assassinato a custear com impostos um procedimento "gratuito" pelo estado.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:O aborto deve ser permitido no país?
« Resposta #434 Online: 28 de Outubro de 2016, 21:30:19 »
No caso do aborto, a discussao gira em torno se é ou nao é assassinato, uma questao moral séria. A questao é que se todo mundo tivesse uma moral mais rígida pra nao interromper a gravidez

Pessoas que consideram errado interromper a gravidez não têm necessariamente uma moral mais rígida generalizadamente, não sei se foi isso que quis sugerir, em vez de uma moral especificamente rígida quanto a isso.



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resultaria em menor demanda. Essa questao seria sequer considerada? Procurar por um "limite" para existência da vida humana?

Bem, fica mais ou menos implícito que as pessoas já considerariam universalmente "vida humana" desde a concepção ou talvez desde a ovulação, então essa questão só seria levantada de forma mais puramente filosófica, deve ter filósofo se perguntando praticamente tudo o que é possível se perguntar, como hobby e profissão.

Mas, ainda assim, talvez mesmo essa sociedade hipotética eventualmente esbarrasse com o potencial do uso médico de células tronco, e isso despertasse um debate similar, embora talvez fosse ser algo mais universalmente rejeitado quase logo de cara, um status comparável ao que eugenia e "eutanásia econômica" têm hoje (mas não em suas origens).



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Metendo também a ciência no meio?] Ou essa discussao filosófica só vai longe pra que, como é inviável suprimir toda a demanda pelo aborto e associado ao fato de que a prática em si nao causa muitos danos a sociedade, se tenha uma "justificativa moral" para a realizacao do ato?

Aqui me parece que você está questionando se a justificativa moral/filosófica é algo pensado posteriormente à demanda, e não a precedendo, assim de fato racionalizando, "algo que sabem ser errado". É isso? Acho que até pode ser essa a ordem das coisas em muitos casos, mas vai variar individualmente.

Até por que existem diferentes justificações morais para a aceitabilidade do aborto. A única que considero razoável é a analogia com morte cerebral, mas radicais feministas algumas vezes têm a noção de que a "soberania" sobre o próprio corpo é o fator mais importante, praticamente dizendo nas entrelinhas "não importa se for infanticídio", e, em alguns mais raros casos, até dizendo mesmo, com todas as letras.

Em nível "histórico" deve ter sido isso mesmo, a demanda vindo bem antes da justificação moral, principalmente quanto mais se retroceder na história, já que até infanticídio mesmo já foi mais aceitável. Mas isso não significa que toda as as possíveis justificativas pensadas ao aborto "herdam" isso de forma que as invalide coletivamente.

Offline Gauss

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Re:O aborto deve ser permitido no país?
« Resposta #435 Online: 28 de Outubro de 2016, 22:00:30 »
Para mim, todo esse tipo de discussão filosófica é irrelevante, pois as pessoas continuarão fazendo. É melhor legalizar e deixar as clínicas abrirem e fazerem isso de maneira segura e sanitária do que deixar as mulheres (em maioria de baixa renda) fazendo isso com o açougueiro da esquina e tendo sérias complicações, como infecções que levam inclusive a morte.

Há uma coisa a se considerar nesse "continuarao fazendo". Existe muita coisa ruim que as pessoas vao continuar fazendo (Roubar, matar) e nem por isso isso é legalizado. A questao aqui é que o aborto nao traz tantas consequência como o Roubo ou um assassinato para o indivíduo ou sociedade ou mercado e aí isso se torna mais "aceitável". Eu particularmente sou a favor desde que a pessoa pague pelo procedimento, a menos em casos de extrema pobreza. Falo isso pelo simples fato de que nao se pode obrigar a quem considera o aborto assassinato a custear com impostos um procedimento "gratuito" pelo estado.
Foram bons pontos levantados, e você mesmo respondeu o que eu iria falar para você quanto a comparação com roubo ou assassinato.

Também acho que não se pode obrigar os contribuintes que não concordam com o aborto a custear a prática. Como o sistema falido do SUS é um fardo que teremos que carregar para sempre, a não ser que façam uma nova constituição, devemos levar em consideração que supostamente haveria aborto pelo Sistema Público. Mas veja bem, por exemplo: os contribuintes que não fumam e tem aversão ao tabagismo (como eu), continuam contribuindo para sanear custos de tratamentos para doenças relacionadas ao tabagismo, como o câncer bucal ou até mesmo o câncer de pulmão (que nem sempre são causados pelo tabagismo, mas a maioria dos casos são). É inviável saber o que cada contribuinte pensa e como o dinheiro dele deve ser aplicado pelo estado baseado em suas concepções. Atualmente já contribuímos para manter coisas que não concordamos. Infelizmente as coisas são assim.

Nao é bem aí que eu quero chegar. No caso do aborto, a discussao gira em torno se é ou nao é assassinato, uma questao moral séria. A questao é que se todo mundo tivesse uma moral mais rígida pra nao interromper a gravidez, o que resultaria em menor demanda. Essa questao seria sequer considerada? Procurar por um "limite" para existência da vida humana? Metendo também a ciência no meio?] Ou essa discussao filosófica só vai longe pra que, como é inviável suprimir toda a demanda pelo aborto e associado ao fato de que a prática em si nao causa muitos danos a sociedade, se tenha uma "justificativa moral" para a realizacao do ato?
É uma questão científica também, sim. Aqui tem uma boa reportagem(?) ou artigo(?), sei lá, sobre o assunto. Há diferentes pontos de vida em várias áreas da Ciência. E nenhum é igual.
http://super.abril.com.br/ciencia/vida-o-primeiro-instante/
Citação de: Gauss
Bolsonaro é um falastrão conservador e ignorante. Atualmente teria 8% das intenções de votos, ou seja, é o Enéas 2.0. As possibilidades desse ser chegar a presidência são baixíssimas, ele só faz muito barulho mesmo, nada mais que isso. Não tem nenhum apoio popular forte, somente de adolescentes desinformados e velhos com memória curta que acham que a ditadura foi boa só porque "tinha menos crime". Teria que acontecer uma merda muito grande para ele chegar lá.

Rhyan

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Re:O aborto deve ser permitido no país?
« Resposta #436 Online: 28 de Outubro de 2016, 22:19:01 »
Comparar com o assassinato é tão bizarro. Nem a lei vê assim. Deveria ser visto como assassinato também em caso de estupro e risco de vida para a mãe para ser coerente.

Offline Entropia

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Re:O aborto deve ser permitido no país?
« Resposta #437 Online: 28 de Outubro de 2016, 22:49:04 »
Bem, fica mais ou menos implícito que as pessoas já considerariam universalmente "vida humana" desde a concepção ou talvez desde a ovulação, então essa questão só seria levantada de forma mais puramente filosófica, deve ter filósofo se perguntando praticamente tudo o que é possível se perguntar, como hobby e profissão.

Mas, ainda assim, talvez mesmo essa sociedade hipotética eventualmente esbarrasse com o potencial do uso médico de células tronco, e isso despertasse um debate similar, embora talvez fosse ser algo mais universalmente rejeitado quase logo de cara, um status comparável ao que eugenia e "eutanásia econômica" têm hoje (mas não em suas origens).

Nao precisaria ser necessariamente pessoas com essa visao, mas algo como se tivesse um incentivo para nao abortar. O estado ou entao instituicoes voluntárias te pagassem pra adotar o filho para que você levasse a gravidez até o fim.


Aqui me parece que você está questionando se a justificativa moral/filosófica é algo pensado posteriormente à demanda, e não a precedendo, assim de fato racionalizando, "algo que sabem ser errado". É isso? Acho que até pode ser essa a ordem das coisas em muitos casos, mas vai variar individualmente.

Até por que existem diferentes justificações morais para a aceitabilidade do aborto. A única que considero razoável é a analogia com morte cerebral, mas radicais feministas algumas vezes têm a noção de que a "soberania" sobre o próprio corpo é o fator mais importante, praticamente dizendo nas entrelinhas "não importa se for infanticídio", e, em alguns mais raros casos, até dizendo mesmo, com todas as letras.

Em nível "histórico" deve ter sido isso mesmo, a demanda vindo bem antes da justificação moral, principalmente quanto mais se retroceder na história, já que até infanticídio mesmo já foi mais aceitável. Mas isso não significa que toda as as possíveis justificativas pensadas ao aborto "herdam" isso de forma que as invalide coletivamente.

Exato, é isto mesmo. Eu penso que a discussao mais pro lado filosófico só serve pra "amenizar" a situacao e deixar menos peso moral. Eu nao acho que qualquer pessoa normal que visse um embriao se desenvolvendo fora do corpo de uma mulher e visse uma pessoa aleatoriamente esmagar a célula iria ver essa atitude como "correta" ou ao menos "nao errada". A situacao muda de foco quando esse embriao está dentro do seu corpo, sob sua responsabilidade, usando dos seus recursos. Por mais que se esperneie, vai haver uma diferenca, a vida humana que o embriao/feto pode ter vai ser eventualmente ser colocada em detrimento de algum outro fator, como o sofrimento da mulher no caso de estupro, ou um provável caso de anencefalia/microcefalia. Eventualmente se fará vista grossa a esse "assassinato", pois nao causa nenhuma maior consequência ao mundo externo. E a coisa muda de forma quando o feto se parece mais com um bebê, tendo SNC e sendo sujeito a sofrimento. Por isso eu levanto a questao do mérito dessa discussao mais filosófica.


Foram bons pontos levantados, e você mesmo respondeu o que eu iria falar para você quanto a comparação com roubo ou assassinato.

Também acho que não se pode obrigar os contribuintes que não concordam com o aborto a custear a prática. Como o sistema falido do SUS é um fardo que teremos que carregar para sempre, a não ser que façam uma nova constituição, devemos levar em consideração que supostamente haveria aborto pelo Sistema Público. Mas veja bem, por exemplo: os contribuintes que não fumam e tem aversão ao tabagismo (como eu), continuam contribuindo para sanear custos de tratamentos para doenças relacionadas ao tabagismo, como o câncer bucal ou até mesmo o câncer de pulmão (que nem sempre são causados pelo tabagismo, mas a maioria dos casos são). É inviável saber o que cada contribuinte pensa e como o dinheiro dele deve ser aplicado pelo estado baseado em suas concepções. Atualmente já contribuímos para manter coisas que não concordamos. Infelizmente as coisas são assim.

Eu acho que no caso do aborto isso é algo mais simples de defender e verificar. No caso de tabagismo, alcoolismo, dependências químicas em geral se tem o caso de que a pessoa sujeita as consequências destas drogas está correndo risco de vida. Por mais que essas coisas tenham sido causadas unicamente por elas, é mais ""aceitável"" que o dinheiro de impostos seja aplicado nisso, pois se trata de salvar uma vida. No caso do aborto, é um procedimento pra encerrar alguma coisa nao-nociva dentro do seu corpo. Fazer com que fosse gratuito no sistema público seria como oferecer cirurgias plásticas estéticas gratuitas para todos. Novamente, excetuando-se nos casos de miséria, risco de vida...

« Última modificação: 28 de Outubro de 2016, 22:51:59 por Entropia »

Offline Buckaroo Banzai

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Re:O aborto deve ser permitido no país?
« Resposta #438 Online: 28 de Outubro de 2016, 23:37:24 »
Bem, fica mais ou menos implícito que as pessoas já considerariam universalmente "vida humana" desde a concepção ou talvez desde a ovulação, então essa questão só seria levantada de forma mais puramente filosófica, deve ter filósofo se perguntando praticamente tudo o que é possível se perguntar, como hobby e profissão.

Mas, ainda assim, talvez mesmo essa sociedade hipotética eventualmente esbarrasse com o potencial do uso médico de células tronco, e isso despertasse um debate similar, embora talvez fosse ser algo mais universalmente rejeitado quase logo de cara, um status comparável ao que eugenia e "eutanásia econômica" têm hoje (mas não em suas origens).

Nao precisaria ser necessariamente pessoas com essa visao, mas algo como se tivesse um incentivo para nao abortar. O estado ou entao instituicoes voluntárias te pagassem pra adotar o filho para que você levasse a gravidez até o fim.

Acho que sem pessoas terem essa visão, sempre haveria esse discussão, mesmo com esses incentivos. E ela ainda poderia ser talvez ter alguma vida com células tronco, também.


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Aqui me parece que você está questionando se a justificativa moral/filosófica é algo pensado posteriormente à demanda, e não a precedendo, assim de fato racionalizando, "algo que sabem ser errado". É isso? Acho que até pode ser essa a ordem das coisas em muitos casos, mas vai variar individualmente.

Até por que existem diferentes justificações morais para a aceitabilidade do aborto. A única que considero razoável é a analogia com morte cerebral, mas radicais feministas algumas vezes têm a noção de que a "soberania" sobre o próprio corpo é o fator mais importante, praticamente dizendo nas entrelinhas "não importa se for infanticídio", e, em alguns mais raros casos, até dizendo mesmo, com todas as letras.

Em nível "histórico" deve ter sido isso mesmo, a demanda vindo bem antes da justificação moral, principalmente quanto mais se retroceder na história, já que até infanticídio mesmo já foi mais aceitável. Mas isso não significa que toda as as possíveis justificativas pensadas ao aborto "herdam" isso de forma que as invalide coletivamente.

Exato, é isto mesmo. Eu penso que a discussao mais pro lado filosófico só serve pra "amenizar" a situacao e deixar menos peso moral.

Mas mesmo a condenação é filosófica. A discussão, quaisquer que sejam as possíveis conclusões, é inerente a haver essa possibilidade teórica até.



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Eu nao acho que qualquer pessoa normal que visse um embriao se desenvolvendo fora do corpo de uma mulher e visse uma pessoa aleatoriamente esmagar a célula iria ver essa atitude como "correta" ou ao menos "nao errada".

"Aleatoriamente" é algo estranho, fica parecendo uma performance punk pós-modernista radical feminista. Mas, num estágio tão preliminar de desenvolvimento, é natural se perguntar se isso é significativamente diferente de você esmagar um óvulo já removido duma mulher, e um espermatozóide (ou jogar fora esperma, para facilitar a operação e visibilidade), em vez de promover uma fecundação.


Tirando "aleatoriamente" do assunto, eu particularmente já acho estranho a noção de achar que se deve guardar para sempre embriões em excesso produzidos para fertilização in-vitro, só piorando com não se poder usá-los para pesquisa ou aplicação como tratamento de células tronco. Preserva-se a "vida" de células inconscientes congeladas em detrimento de amenizar sofrimento humano real.



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A situacao muda de foco quando esse embriao está dentro do seu corpo, sob sua responsabilidade, usando dos seus recursos. Por mais que se esperneie, vai haver uma diferenca, a vida humana que o embriao/feto pode ter vai ser eventualmente ser colocada em detrimento de algum outro fator, como o sofrimento da mulher no caso de estupro, ou um provável caso de anencefalia/microcefalia. Eventualmente se fará vista grossa a esse "assassinato", pois nao causa nenhuma maior consequência ao mundo externo. E a coisa muda de forma quando o feto se parece mais com um bebê, tendo SNC e sendo sujeito a sofrimento. Por isso eu levanto a questao do mérito dessa discussao mais filosófica.

Mas qual é a alternativa? O que me parece, num resumo caricatural da história, é que primeiro as pessoas abortavam talvez sem nem ter passado pela cabeça qualquer coisa que desse peso na consciência. Estabeleceu-se a prática. Mais tarde, palpito que algum momento após  melhor tratamento às crianças já nascidas já ser mais consolidadamente um dever moral, algumas pessoas vieram a se perguntar se aborto era certo. E então daí necessariamente decorrem os questionamentos filosóficos sobre se isso é certo ou errado, que originam diversas linhas de pensamento com diversos possíveis graus de contrariedade ou tolerância.

A alternativa seria o que, dar por "decreto filosófico" que é errado e não discutir/pensar mais o assunto?








Melhor texto que eu já devo ter lido sobre o tema, já que o link que foi passado por aí anteriormente deve estar fora do ar:

"Aborto: é possível ser “pró-vida” e “pró-escolha” ao mesmo tempo?", por Carl Sagan e Ann Druyan

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...

É errado abortar uma gravidez? Sempre? Às vezes? Nunca? Como decidir? Escrevemos este artigo para melhor compreender que visões disputam tais questões e para ver se nós mesmos encontramos uma posição que nos satisfaça. Não haveria um caminho do meio? Foi preciso pesar os argumentos de ambos os lados em relação a sua consistência e propor exemplos-teste, alguns destes puramente hipotéticos. Se em alguns destes testes parecemos ir muito longe, pedimos aos leitores e leitoras que sejam pacientes conosco – estamos tentando forçar as várias posições até seu limite para ver sua fragilidade e onde falham.

Em momentos contemplativos praticamente todos nós reconhecemos que a questão não é unilateral. Muitos militantes de divergentes pontos de vista, ao que parece, sentem certa inquietação e dificuldade ao confrontarem o que está por trás dos argumentos de seus opositores (Isto acontece em parte porque tais confrontos são evitados). O assunto certamente toca questões profundas: Quais são nossas responsabilidades para uns com os outros? Devemos permitir que o Estado se intrometa nos aspectos mais íntimos e pessoais de nossas vidas? Quais são as fronteiras da liberdade? O que significa sermos humanos?

...

https://espacosevolutivo.wordpress.com/2013/07/17/aborto/

Offline Entropia

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Re:O aborto deve ser permitido no país?
« Resposta #439 Online: 29 de Outubro de 2016, 18:41:57 »
Mas mesmo a condenação é filosófica. A discussão, quaisquer que sejam as possíveis conclusões, é inerente a haver essa possibilidade teórica até.

"Aleatoriamente" é algo estranho, fica parecendo uma performance punk pós-modernista radical feminista. Mas, num estágio tão preliminar de desenvolvimento, é natural se perguntar se isso é significativamente diferente de você esmagar um óvulo já removido duma mulher, e um espermatozóide (ou jogar fora esperma, para facilitar a operação e visibilidade), em vez de promover uma fecundação.


Tirando "aleatoriamente" do assunto, eu particularmente já acho estranho a noção de achar que se deve guardar para sempre embriões em excesso produzidos para fertilização in-vitro, só piorando com não se poder usá-los para pesquisa ou aplicação como tratamento de células tronco. Preserva-se a "vida" de células inconscientes congeladas em detrimento de amenizar sofrimento humano real.

Eu parto do princípio de que em geral, terminar-se com uma vida(sem que haja alguma coisa que torne viver pior, como sofrimento) é errado. Eu citei o exemplo do embriao se desenvolvendo por causa disso. O "aleatoriamente" pode ser tirado da discussao, imagine que fosse alguém querendo fazer uma demonstracao que matasse o embriao pra ver a reacao das pessoas. Eu imagino que ninguém iria se sentir confortável com essa situacao, onde uma potencial vida humana está se desenvolvendo inocentemente e alguém chega sem mais nem menos para matá-la. O que seria o caso de alguém que simplesmente nao quer ter um filho e vai abortar, a diferenca está que este ser está dentro da mulher e de responsabilidade dele pós-parto, além de trazer alteracoes psicológicas e fisíológicas durante a gestacao para a mulher, mas ainda sim, é tirar "porque eu quero". E esse seu exemplo da fertilizacao in-vitro, eventualmente alguma justificativa assim vai ser utilizada para que os embrioes nao fiquem acumulando, de forma a racionalizar matá-los ou usá-los em experimentos. Novamente a demanda entra na equacao.


Mas qual é a alternativa? O que me parece, num resumo caricatural da história, é que primeiro as pessoas abortavam talvez sem nem ter passado pela cabeça qualquer coisa que desse peso na consciência. Estabeleceu-se a prática. Mais tarde, palpito que algum momento após  melhor tratamento às crianças já nascidas já ser mais consolidadamente um dever moral, algumas pessoas vieram a se perguntar se aborto era certo. E então daí necessariamente decorrem os questionamentos filosóficos sobre se isso é certo ou errado, que originam diversas linhas de pensamento com diversos possíveis graus de contrariedade ou tolerância.

A alternativa seria o que, dar por "decreto filosófico" que é errado e não discutir/pensar mais o assunto? 

Nao, eu questiono o mérito porque a quantidade de relativizacao necessária para essa questao é tao grande que ao meu ver é meio que irrelevante, porque de uma forma ou outra a demanda por aborto, as diferentes circunstâncias da gravidez como estupro, má formacao do feto e risco de vida, irao se sobrepor a qualquer "delimitacao moral" do aborto. Meio que "Essa discussao toda é meio inútil já que isso vai continuar ocorrendo de uma forma ou outra e nao há moral universal pra lidar com isso."




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Offline Buckaroo Banzai

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Re:O aborto deve ser permitido no país?
« Resposta #440 Online: 29 de Outubro de 2016, 19:24:21 »
Mas mesmo a condenação é filosófica. A discussão, quaisquer que sejam as possíveis conclusões, é inerente a haver essa possibilidade teórica até.

"Aleatoriamente" é algo estranho, fica parecendo uma performance punk pós-modernista radical feminista. Mas, num estágio tão preliminar de desenvolvimento, é natural se perguntar se isso é significativamente diferente de você esmagar um óvulo já removido duma mulher, e um espermatozóide (ou jogar fora esperma, para facilitar a operação e visibilidade), em vez de promover uma fecundação.


Tirando "aleatoriamente" do assunto, eu particularmente já acho estranho a noção de achar que se deve guardar para sempre embriões em excesso produzidos para fertilização in-vitro, só piorando com não se poder usá-los para pesquisa ou aplicação como tratamento de células tronco. Preserva-se a "vida" de células inconscientes congeladas em detrimento de amenizar sofrimento humano real.

Eu parto do princípio de que em geral, terminar-se com uma vida(sem que haja alguma coisa que torne viver pior, como sofrimento) é errado. Eu citei o exemplo do embriao se desenvolvendo por causa disso. O "aleatoriamente" pode ser tirado da discussao, imagine que fosse alguém querendo fazer uma demonstracao que matasse o embriao pra ver a reacao das pessoas.

Ou, como eu coloquei, pessoas tentando engravidar, seja por FIV ou naturalmente, ambas as coisas que tendem a resultar em abortos, mais do que nascimentos.



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Eu imagino que ninguém iria se sentir confortável com essa situacao, onde uma potencial vida humana está se desenvolvendo inocentemente e alguém chega sem mais nem menos para matá-la.

Sinceramente, sem haver já forma "humanóide" (corpo com membros e cabeça que remetem a pessoas), e muito menos atividade cerebral análoga àquela ausente na morte cerebral, não sentiria absolutamente nada, a não ser vontade de balançar a cabeça em reprovação de alguém que quer só "causar". Mas fundamentalmente, moralmente não me é diferente de alguém menstruar/não fecundar.

Mas com formas já reconhecivelmente humanas as coisas vão mudando de figura, pode haver grande desconforto mesmo se tratando mesmo da destruição de um boneco de borracha, não de um embrião ou feto. Aqui a analogia com a morte cerebral é mais forte, mesmo que uma pessoa esteja cerebralmente morta, mesmo um indigente, sem nenhum conhecido presente, não é aceitável que tenha o seu corpo violentado por vandalismo punk. Para as pessoa próximas, pode haver dificuldade em aceitar a situação mesmo de simplesmente desligar o suporte à vida vegetativa do corpo. E, para quem não queira ter um filho, também deve ser similarmente consideravelmente mais difícil do que em estágios que antecedem essa anatomia reconhecível. Mesmo fetos/embriões com anencefalia, e talvez até em algum grau, embora provavelmente menor, com acefalia.



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O que seria o caso de alguém que simplesmente nao quer ter um filho e vai abortar, a diferenca está que este ser está dentro da mulher e de responsabilidade dele pós-parto, além de trazer alteracoes psicológicas e fisíológicas durante a gestacao para a mulher, mas ainda sim, é tirar "porque eu quero". E esse seu exemplo da fertilizacao in-vitro, eventualmente alguma justificativa assim vai ser utilizada para que os embrioes nao fiquem acumulando, de forma a racionalizar matá-los ou usá-los em experimentos. Novamente a demanda entra na equacao.

Sim, a demanda certamente é "catalizador" da discussão, embora ela pudesse ocorrer em qualquer cenário imaginável, mesmo que sem aplicação prática em mente.


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Mas qual é a alternativa? O que me parece, num resumo caricatural da história, é que primeiro as pessoas abortavam talvez sem nem ter passado pela cabeça qualquer coisa que desse peso na consciência. Estabeleceu-se a prática. Mais tarde, palpito que algum momento após  melhor tratamento às crianças já nascidas já ser mais consolidadamente um dever moral, algumas pessoas vieram a se perguntar se aborto era certo. E então daí necessariamente decorrem os questionamentos filosóficos sobre se isso é certo ou errado, que originam diversas linhas de pensamento com diversos possíveis graus de contrariedade ou tolerância.

A alternativa seria o que, dar por "decreto filosófico" que é errado e não discutir/pensar mais o assunto? 

Nao, eu questiono o mérito porque a quantidade de relativizacao necessária para essa questao é tao grande que ao meu ver é meio que irrelevante, porque de uma forma ou outra a demanda por aborto, as diferentes circunstâncias da gravidez como estupro, má formacao do feto e risco de vida, irao se sobrepor a qualquer "delimitacao moral" do aborto. Meio que "Essa discussao toda é meio inútil já que isso vai continuar ocorrendo de uma forma ou outra e nao há moral universal pra lidar com isso."

Acho que não, me parece que você está simplesmente assumindo como inquestionavelmente verdadeira uma posição "pró-vida" e supondo que qualquer demanda por aborto será sempre atendida, o que obviamente não é verdade. É o comportamento "do outro lado do espelho" ao de feministas radicais simplesmente dizerem que qualquer rejeição ao aborto é simplesmente forma de dominar as mulheres, que isso é o que importa, mesmo que um óvulo fecundado não seja significativamente "mais humano" do que um não-fecundado, que hoje aceitam que não precisa ser salvo através da fecundação.

Offline Entropia

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Re:O aborto deve ser permitido no país?
« Resposta #441 Online: 15 de Novembro de 2016, 15:03:48 »
Eu estou colocando minha opniao pessoal na perspectiva dessa discussao filosófica em específico. Eu parto do pressuposto que é indesejável se terminar com uma vida, mesmo que seja uma potencial vida humana a partir de uma célula. Nao tô assumindo como verdadeira a opniao "pró-vida" porque ela se quebra em diversas situacoes como estupro, por exemplo. Você relativiza de um lado pra colocar a vida do embriao/feto acima da vontade da mae e de outro lado pra colocar a vontade da mae como prioridade.

Uma mulher pode achar que houve de fato um assassinato se alguém lhe der algum remédio ou substância abortiva que resulte na morte de um filho que ela queria ter, só ver como ficam certas mulheres em caso de aborto espontâneo, o estado emocional delas.(Agora uma dúvida, pelo que a pessoa que causou o aborto contra a vontade da mae seria processada?)  Por outro lado, se fosse uma gravidez indesejável esse nao seria o caso. E do outro lado, é diferente quando a mulher engravida por "Irresponsabilidade" do casal, onde se tem gente dizendo "Bem feito, agora aguenta" e abortar é visto como a "morte de um ser inocente", mas se for por estupro aí tudo bem, embora o embriao/Feto continue sendo inocente. É muita relativizacao e é por isso que considero boa parte disso sem sentido.

Eu concordo que o critério de 12 semanas é o melhor e é o que é mais bem aceito científicamente, mas vivo pensando em uma situacao que, embora seja viagem, acho válida. Caso o sistema nervoso se desenvolvesse em um tempo menor do que o tempo necessário para que a mae descobrisse que estava grávida, o critério do sistema nervoso ainda seria usado e com isso seria "imoral" e ilegal abortar em basicamente qualquer estágio da gravidez, ou seria relaxado? Esse exemplo me faz pensar que, embora mais razoável, o critério do sistema nervoso é apenas "menos arbitrário". O que nao significa que eu nao concorde com ele.


Offline Freya

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Re:O aborto deve ser permitido no país?
« Resposta #442 Online: 15 de Novembro de 2016, 20:36:51 »
O critério das 12 semanas (fechamento do tubo neural) é para garantir que o embrião não sinta dor ou quaisquer outras sensações decorrentes do sistema nervoso central, eu acho.

Vida em potencial existe desde a fecundação. Aliás, os próprios gametas são vida humana em potencial, a questão é definir quando essa vida se tornaria um indivíduo merecedor da tutela estatal.

Offline Pasteur

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Re:O aborto deve ser permitido no país?
« Resposta #443 Online: 15 de Novembro de 2016, 21:52:55 »
Para mim, todo esse tipo de discussão filosófica é irrelevante, pois as pessoas continuarão fazendo. É melhor legalizar e deixar as clínicas abrirem e fazerem isso de maneira segura e sanitária do que deixar as mulheres (em maioria de baixa renda) fazendo isso com o açougueiro da esquina e tendo sérias complicações, como infecções que levam inclusive a morte.

Argumento poderoso!  Todo o resto é perfumaria!

Offline DDV

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Re:O aborto deve ser permitido no país?
« Resposta #444 Online: 15 de Novembro de 2016, 22:10:46 »
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Médico chama polícia após atender jovem que fez aborto

Depois de socorrer uma jovem de 19 anos com hemorragia pós aborto, o médico que a atendeu decidiu chamar a polícia. A mulher chegou ao Hospital de São Bernardo do Campo (Grande São Paulo) na manhã de segunda (16) e, à tarde, saiu de lá presa.


O Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo) apura o caso. Para o órgão, o médico violou o sigilo médico.

O delegado Aloizio Pires de Araújo diz que a jovem foi autuada em flagrante e liberada após pagar R$ 1.000 de fiança. Se condenada, poderá ficar até três anos na prisão.

“Também está sujeita a penas alternativas, mas vai ter a ficha marcada a vida inteira.”

O aborto é crime no Brasil, exceto em casos previstos em lei, como risco à vida da mãe.

Foi a própria jovem quem, no quarta mês de gestação, provocou o aborto, na casa de uma amiga. Tomou quatro comprimidos de Cytotec, remédio para úlcera usado como abortivo que pode causar a perda do útero e até a morte.

“Comecei a passar mal”, disse à Folha a jovem, que pediu para não ser identificada.

“Avisei meu parceiro da gravidez, mas ele não quis saber. Não tinha condições de ter um filho sozinha.”
Ela diz que foi chamada de “otária” por policiais. “E o médico disse que Deus me perdoaria”.

No hospital, Mahmud Daoud Mourad, clínico geral e pediatra, disse à Folha, após inicialmente negar ter atendido a jovem, ter sido “obrigado por lei a denunciar”.

O Cremesp entende que ele violou o artigo 73 do Código de Ética Médica, que estabelece normas de sigilo profissional.

O conselho cita ainda o parecer 24.292, de 2000, que estabelece normas de conduta específicas para o caso: “Diante de um abortamento (..) não pode o médico comunicar o fato à autoridade policial ou mesmo judicial, em razão de estar diante de uma situação de segredo médico”.

“O que esse médico fez, se fez, foi uma excrecência”, afirma Antonio Pereira, conselheiro do órgão. “Não se pode prender uma pessoa que te pediu ajuda.”

O conselho abrirá sindicância para apurar a conduta do médico, que poderá ter seu registro cassado.
Também o Ministério da Saúde possui norma técnica que preza pelo “atendimento humanizado em situação de abortamento” com “privacidade e confidencialidade das informações”.

A defensora pública Juliana Garcia Belloque, que atua com situações similares, explica que inquéritos por aborto no Brasil são raros, mas, dos pouco existentes, a maioria é denunciada por médicos.

http://www.maispb.com.br/80959/medico-chama-policia-apos-atender-jovem-que-fez-aborto.html


Putz, que médico escroto! Misturou o exercício da medicina com a religião (acho que muçulmana) e fez cagada.

Deixou a coitada que pediu socorro na mão da polícia/justiça. Muitas podem morrer por causa de casos como esse, abortando com vigaristas.

Agora deve responder ao Cremesp...



O médico violou feio o código de ética médica, que proíbe a divulgação de qualquer informação obtida durante o atendimento sem o consentimento do paciente (o famoso sigilo médico).

Tanto é que se um médico for chamado pra testemunhar, ele pode declarar seu impedimento alegando isso.

No caso em questão, o médico só estaria justificado se o aborto ainda não tivesse ocorrido e a sua denúncia pudesse impedi-lo (pra salvar uma vida). Mas o fato já estando consumado, não há justificativa na denúncia.


Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

"O maior vício do capitalismo é a distribuição desigual das benesses. A maior virtude do socialismo é a distribuição igual da miséria." (W. Churchill)

 

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