O texto é um pouco longo, mas tenham paciência. Vai ajudar muito nos nossos estudos.
PERGUNTAS SOBRE O DILÚVIO DOS DIAS DE NOÉ
Me chamo Mario Salvatore Di Maggio e sou uma das Testemunhas de Jeová em Durban, África do Sul. Tenho 25 anos de idade e sou batizado já por quase 7 anos. Já por mais de 4 anos tenho tido o privilégio de servir como Servo Ministerial, e estou atualmente freqüentando a Congregação Windermere das Testemunhas de Jeová.
A Sentinela de 15 de Janeiro de 1992 com o artigo O Nunca Esquecido Dilúvio me levou a pegar papel e caneta e fazer-lhes algumas perguntas, entre as que acho mais intrigantes, sobre o Dilúvio.
Por favor, irmãos, não me vejam como presunçoso por fazer estas perguntas. Eu tenho orado quanto a isso, lutado com isso, tenho feito cabal pesquisa e falado com outros irmãos sobre isso; ainda assim, continuo confuso e sinto que devo perguntar aos irmãos quanto a por quê nós sustentamos certos pontos de vistas sobre o Dilúvio.
Nós sabemos muito bem quão comum era para os escritores bíblicos descrever eventos do ponto de vista geográfico deles, tanto nas Escrituras Gregas como nas Hebraicas.
Em Colossenses 1:23 Paulo fala das "boas novas que ouvistes e que foram pregadas em toda a criação debaixo do céu". É reconhecido em nossas publicações que uma vez que isto foi escrito em c.60-61 EC, Paulo menciona 'toda a criação debaixo do céu' conhecido para ele naquela época. E com razão, pois naquele tempo o Cristianismo não tinha de forma alguma alcançado as Américas, o Oriente Distante, o sul da África ou a Australásia. As palavras em Romanos 10:18 "...até às extremidades da terra habitada.." devem, obviamente, ser entendidas em sentido relativo.
Em Atos 2:5 nós lemos: "...moravam em Jerusalém judeus, homens reverentes, de toda nação das debaixo do céu." Isto foi escrito em c.61 EC. Aqui também, 'toda nação das debaixo do céu' não pode ser literal uma vez que não havia Sulamericanos, Chineses ou Australianos prosélitos em Jerusalém naquela época. De novo, 'toda nação das debaixo do céu' é para ser entendido como uma frase relativa.
Em Isaías 13:5 nós lemos sobre os Babilônios que "estão chegando desde a terra longínqua, desde a extremidade dos céus". Numa escala global, os Babilônios não estavam distantes, eles estavam literalmente parede com parede com os Israelitas! Ainda assim, relativo à terra conhecida da época, eles eram "desde a extremidade dos céus".
Em Gênesis 41:57, pessoas de "toda a terra" veio comprar alimento de José "porque a fome se apoderara de toda a terra". Significa isso que Aborígines, índios sulamericanos e camponeses do Japão também vieram comprar alimento? Obviamente não, isto seria absurdo. A fome estava limitada ao Egito e às terras imediatamente em volta do Egito, como a Palestina (Gen. 41:54). Mais uma vez vemos que "toda a terra" não significa o planeta inteiro, mas deve ser entendido como as terras imediatamente em volta de onde morava o escritor bíblico.
Tenho certeza que os irmãos já anteciparam qual é a minha primeira pergunta.
Baseado nos exemplos acima, por quê é que entendemos que o Dilúvio foi global e não local? Por que é que frases tais como "... o Dilúvio cobriu a terra inteira..." têm de ser entendida como sendo literal, quando há uma série de outras passagens na Bíblia onde aquela frase têm de ser entendida num sentido relativo?
Por que razão devem as palavras sobre "toda a terra" em Gênesis 6-8 serem entendidas de maneira diferente das palavras em Colossenses 1:23, Romanos 10:18, Atos 2:5, Isaías 13:5, Gênesis 41:57 e outros textos semelhantes?
Diz-se no livro Criação p.25, par.2: "Ao examinar o relato de Gênesis, é útil ter presente que enfoca os assuntos do ponto de vista de pessoas na Terra. Assim, descreve os eventos segundo a aparência que teriam, caso observadores humanos estivessem presentes." Eu sei que estas palavras foram escritas tendo em mente o relato de Gênesis sobre a criação, mas por quê não podem elas se aplicar ao relato do Dilúvio?
Com certeza um enorme dilúvio traria expressões do tipo "eis que estou trazendo o dilúvio de águas sobre a terra, para arruinar debaixo do céu toda carne em que a força da vida está ativa. Tudo que há na terra expirará." (Gen.6:17)
Por quê esperaria Jeová que Noé entendesse estas palavras como significando o inteiro globo e a vida nele, quando Noé sequer sabia que havia um globo? Tudo que existia para Noé era a terra visível e sua vida selvagem local; para ele, essa era "a terra".
Com toda a sinceridade, não concordam que palavras tais como as em Gen.6:13,19 e 7:4,10,19,20,21,23 podem também ser entendidas como falando de um dilúvio local?
Minha pergunta, irmãos, é apenas esta: Se existe a possibilidade de que as palavras de Gen. 6-8 se aplicam a um evento local, por quê nós dizemos que o Dilúvio deve ter sido global?
Há uma série de outras coisas que são muito intrigantes sobre um dilúvio global.
Não há dúvida de que o Altíssimo Deus Jeová têm o poder de fazer ocorrer um dilúvio global.
Ainda assim, se a inteira raça humana estava concentrada no Oriente Médio, por que razão iria Jeová submerger os continentes da Austrália, Antártica, Américas do Norte e do Sul, o Oriente Distante e a África?
A humanidade se espalhou sobre a terra apenas após o dilúvio quando novas línguas foram introduzidas. Antes do dilúvio as pessoas estavam concentradas em relativa proximidade, o que sem dúvida habilitou Noé a empreender uma campanha de pregação bem-sucedida. Uma repentina inundação local seria suficiente para destruir aquele mundo iníquo.
Por favor entenda que por 'inundação local' não me refiro à uma inundação nos padrões de hoje. Para destruir toda a humanidade e toda a vida animal da terra conhecida da época, o Dilúvio teria que ser de um tipo sobrenatural e de proporções imensas, possivelmente engolfando a maior parte da Eurásia. Ainda assim ele seria 'local' do ponto de vista global. Com o tempo, as águas começariam a "recuar" (Gen.8:3) e seriam uniformemente distribuídas pelo globo.
Lendas de Dilúvio não podem ser usadas como prova de um dilúvio global, a razão para isso é evidente. Uma inundação local que destruísse toda a humanidade daria origem às mesmas lendas.
Claro que isto gera a pergunta: Se o Dilúvio foi local, por quê não foi dito a Noé para simplesmente se mudar para um outro lugar?
Primeiramente, que dizer da vida selvagem nativa? A vida selvagem específica daquela área tinha de ser preservada, ou então a fauna natural teria sido extinta. Jeová criou a terra com inúmeros ambientes diferentes, cada qual com seu complemento de fauna e flora. Plantas e animais não foram simplesmente jogados juntos de maneira aleatória - a natureza é muito bem sincronizada, como os maravilhosos artigos da Despertai! ilustram. Se os animais locais não tivessem sido repostos após o dilúvio, a região teria sofrido um desastre ecológico.
Também, construir a arca foi um teste de fé para Noé e um lembrete constante da vindoura catástrofe para as pessoas em volta dele.
Um outro problema está na maneira em que Jeová distribuiu a vida animal neste planeta.
Como sabem, irmãos, cangurus, coalas e os platipuses-de-bico-de-pato nunca existiram na Europa ou em qualquer outro lugar a não ser na Austrália. A vida animal da Austrália (só como exemplo) é particular daquele país. Viajou Noé todo o caminho até a Austrália para recolher estes animais? E, após o Dilúvio, fez Noé todo o caminho de volta para retorná-los? Viajou ele até as Himalaias para buscar o Yak, ou até o Alasca para buscar o urso polar, ou até a América do Sul para recolher o condor?
Ainda na remota possibilidade de esses animais terem vivido no Oriente Médio 4300 anos atrás, como é que explicamos sua distribuição hoje?
Certamente, eles não estavam no Oriente Médio a partir de 1513 AEC, ou então eles teriam sido mencionados em relatos bíblicos; ao contrário, lemos apenas sobre vida selvagem local.
Então, se estes animais exóticos não estavam no Oriente Médio 1500 anos antes de Cristo, eles todos devem ter migrado para seus respectivos países num período de 800 anos após o Dilúvio, não deixando um traço sequer de sua passagem. Nenhum fóssil, nenhum osso, nenhum resto, absolutamente nada! E o que teria o urso coala comido pelo caminho? (Ursos coala comem apenas folhas de eucalípito, que são nativos apenas da Austrália e da Indonésia).
Claro que uma explicação conforme contida no livro Perspicaz p.231, Vol.1 é a de que apenas alguns "tipos" básicos foram levados para dentro da arca. A aumentada radiação depois do desaparecimento da cobertura teria resultado em mais variações genéticas e por conseqüência a abundância de espécies que temos hoje.
Isto requer um enorme esforço de imaginação, irmãos, uma vez que isto significaria que em apenas 1000 anos:
43 "tipos" de mamíferos originaram as 4060 espécies de hoje,
74 "tipos" de pássaros originaram as 8850 espécies de hoje,
10 "tipos" de répteis originaram as 6600 espécies de hoje!
Nem mesmo os mais ardentes evolucionistas fariam tal afirmação! Especialmente uma vez que fósseis de muitas espécies de animais de hoje podem ser vistos em pedras que datam de bem antes do Dilúvio.
Os animais que tiveram rápido congelamento na Sibéria e no Alasca, dos quais fala o livro Perspicaz, Vol.1, p.718, não necessariamente denota uma inundação catastrófica de proporções globais. Ainda assim, com a queda da vasta cobertura sobre a Eurásia, a temperatura do globo poderia ter sido alterada o suficiente para resultar no congelamento instantâneo de cadáveres.
Fósseis marinhos em montanhas altas podem igualmente ser o resultado dos movimentos naturais da terra. Verdadeiros fósseis levam milhões de anos para se formar e com certeza não poderiam datar de apenas 4300 anos atrás.
Em conclusão, irmãos, o que estou dizendo é que depois de extensa pesquisa, não parece haver qualquer prova realmente convincente de que o dilúvio foi global. De fato, a menos que eu esteja deixando de perceber algum dado realmente importante, é difícil de entender por que nós somos tão incisivos em afirmar que o dilúvio foi global.
- As expressões concernentes a "inteira terra" em Gênesis 6-8 não podem constituir provas satisfatórias uma vez que declarações em outros lugares na Bíblia devem ser entendidas como significando local. Deixamos que a Bíblia interprete a sí própria?
- É razoável achar que Jeová Deus destruiria o inteiro planeta e a vida nele se tudo que ele queria era erradicar uma meia-dúzia de pessoas no Oriente Médio?
- Como nós explicaríamos a sobrevivência de vida animal específica e isolada em inúmeros locais em volta do mundo?
Como eu disse no início, irmãos, espero que não me considerem presunçoso por fazer estas perguntas. Eu as vejo como perguntas razoáveis que qualquer um com algum conhecimento da Bíblia e da história natural fariam. Foi apenas por questionar os assuntos e por manter uma mente aberta que vim a conhecer a verdade.
Claro que entendo que minhas perguntas não são de natureza fundamental ou doutrinária. Eu reconheço que o que é importante ter em mente é que o dilúvio aconteceu e que ele serve como um aviso para nós que estamos vivendo neste últimos dias.
No entanto, eu apreciaria que vocês considerassem seriamente estes pontos levantados e que me enviassem uma resposta. Reconheço que os irmãos são pessoas ocupadas e não os incomodaria se não achasse que isto fosse importante.
Eu conheço muitas pessoas de reflexão que apreciam a verdade, mas que se retém porque acham que a crença num dilúvio global é exigir demais da imaginação e da fé deles.
Com amor cristão.
Boas reflexões para todos.
A minha pergunta seria: Porque Deus após criar o mundo resolveu destruí-la?